Somos caboclos.
(por Antonio Samarone)
Cresci ouvindo dizer que Itabaiana não tinha pretos, que a nossa descendência tinha sangue holandês, com forte influência judaica. O nosso tino para o comércio, vinha dessas raízes.
Os meus amigos de infância eram negros, ou quase negros. Me criei no Beco Novo. Não me alertava para a contradição. “Itabaiana não tinha negros. Um ou outro, mesmo assim, vieram de fora.”
Talvez, fossem poucos no Colégio Murilo Braga.
Nesse meu retorno, estou procurando averiguar. Já identifiquei cinco quilombos: Carrilho, Dendezeiro, Tabocas, Tabuleiro dos Caboclos e Barro Preto.
Ontem eu fui ao Barro Preto, conversei com Dona Júlia (80 anos), nascida e criada na localidade, e com a sua filha Nina, uma líder da comunidade. (Vejam a foto). Sair convencido: o Barro Preto foi local de refúgio dos escravizados da Zona do Cotinguiba.
A Serra de Itabaiana tem o Riacho dos Negros e o Salão dos Negros. Uma forte evidência.
Foram os pretos, com a Tribo Boymé, que fundaram o Tabuleiro dos Caboclos (atual Bairro São Cristóvão), uma comunidade de ceramistas, onde nasceu o futebol em Itabaiana.
A comunidade do Barro Preto orgulha-se de sua origem.
Ao contrário, a cultura itabaianense teve forte influência negra. A nossa castanha assada do Carrilho, que tanto nos orgulha, é uma herança negra indiscutível.
Antonio Samarone. Secretário de Cultura de Itabaiana.

Nenhum comentário:
Postar um comentário