sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

PENA DE MORTE


A Pena de Morte. (por Antonio Samarone)

O Brasil decretou a pena de morte para pretos e pobres, sem julgamento. Execução sumária! Basta uma condição, eles serem considerados suspeitos. A justificativa é que se trata de bandidos e traficantes armados.

Para os bandidos da classe dominante, de colarinho branco, a pena é outra. No geral, quando respondem, o fazem em liberdade. Quando condenados, ainda podem aliviar as penas com a “delação premiada”.

Modular a pena pela classe social do criminoso é uma tradição da Idade Média.

Na França antiga, as execuções eram diferentes, de acordo com o tipo do delito e o status social do réu. A cabeça dos Nobres eram cortadas com sabre; a dos Plebeus, com o machado. Os ladrões eram condenados a roda de despedaçamento ou a forca; os regicidas eram esquartejados, e os heréticos, sempre queimados vivos.

O brilhante e humanitário médico Joseph-Ignace Guillotin, jacobino, adepto da igualdade na Revolução Francesa, criou a guilhotina, para evitar sofrimentos inúteis. Uma morte sem dor. Todos os delitos passaram a ser punidos com a mesma pena, independente da condição social.

Desde junho de 1791, uma lei, iniciativa do deputado Le Peletier de Saint-Fargeau, determinou que "todo o condenado à morte na França, teria a sua cabeça decepada".

Em 04 de abril de 1792, a primeira máquina foi erguida na Place de Grève, em Paris. A guilhotina foi usada pela primeira vez para executar um ladrão de estrada, 21 dias depois de instalada.

A guilhotina foi amplamente utilizada durante a Revolução Francesa. Conhecida primeiro como a “máquina”. Após a decapitação de Luís XVI, tornou-se conhecida também como “la louisette” ou “le louison”, mas o nome “la guillotin” (Guilhotina) prevaleceu.

Circula uma fofoca que o próprio Guillotin foi guilhotinado. Não é verdade, foi um seu homônimo. O médico Joseph Guillotin, que além de ter inventado a guilhotina, foi o responsável pela disseminação na França da vacina contra a varíola, morreu por causa natural, o carbúnculo, em 26 de março de 1814.

Antonio Samarone.

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

PRIMEIRA CAMPANHA CONTRA A POLIOMIELITE EM SERGIPE


A primeira Campanha de vacinação contra a Poliomielite, em SERGIPE (abril de 1962).
(por Antonio Samarone)
Diante de um surto de paralisia infantil no Estado de Sergipe, no final de Março de 1962, compareceu ao Estado o Dr. Getúlio Moura Lima, Diretor do Departamento Nacional da Criança, ligado ao Ministério da Saúde, visando fornecer as condições para realização da primeira campanha em massa de vacinação contra a pólio, em Sergipe...
Por iniciativa do SESC – serviço Social do Comércio, houve uma vacinação contra paralisia infantil em Sergipe, em fevereiro de 1958, onde foram imunizados com a vacina SALK, os filhos dos comerciários de 0 a 4 anos. Essa vacinação foi feito sob orientação do Dr. Walter Cardoso. A vacina Sabin, somente seria lançada no mercado entre 1961-62.
Em 1962, ocorreu a primeira Campanha de Vacinação em massa, contra a poliomielite.
Em abril de 1962 foi organizada uma comissão, formada pelas autoridades sanitárias do Estado, para iniciar a campanha de combate à paralisia infantil.
A comissão foi formada pelo Secretário da Educação e Saúde, Dr. Antonio Garcia; pelo Delegado do Departamento Nacional da Criança, Dr. João Cardoso; pelo Diretor do Departamento de Saúde Pública, Dr. Juliano Simões; e pelos Representantes da Saúde do Município, Dr. Adel Nunes; da LBA, Dr. Sílvio Santana; do DNERU, Alexandre Menezes, do Parreiras Horta, Teotonilo Mesquita e do Dr. João Batista, pelo Serviço Cooperativo do Estado.
A previsão era a de aplicar 25 mil doses da vacina Sabin, num período de vinte dias. As vacinas foram fornecidas pelo Ministério da Saúde.
Foi também criada uma comissão de mobilização, formada pelos médicos Paulo Carvalho, José Machado de Souza, Gileno Lima, Walter Cardoso e dois acadêmicos de medicina.
Ficou definido que entre os dias 24 a 29 de abril de 1962, todas a crianças de Sergipe entre quatro meses e seis anos de idade, deveriam ser vacinadas em Aracaju. Houve uma grande mobilização em todo o Estado.
A campanha foi coordenada pelo Dr. João Cardoso Nascimento Junior.
Os locais de vacinação foram descentralizados pelas unidades de Saúde existentes em Aracaju naquele momento. Foram 22 locais escolhidos: Postos de Saúde do Palácio Serigy, Dona Jove (B. Industrial), Dona Sinhazinha (B. Grageru), Carlos Menezes (B. Santo Antonio), Antonio Alves (Atalaia), LBA, Centro Professor Martagão Gesteira (Hospital de Cirurgia), Posto Médico do Mosqueiro. Os demais locais de vacinação foram instalados em Escolas e outros prédios públicos.
Exatamente na data prevista, 24 de abril, as 07 horas, o Governador Luiz Garcia abriu a campanha, colocando as gotinhas na boca da primeira criança. No primeiro dia foram imunizadas mais de oito mil crianças.
Somente de Itabaiana, o Prefeito Euclides Paes Mendonça trouxe mais de mil crianças, em quarenta veículos.
Eu estava nessa comitiva. Mesmo com oito anos, e a vacina sendo indicada até os seis anos, minha mãe achava que seria bom eu me proteger, e me empurrou em um dos ônibus. Talvez por isso, no final faltaram vacinas.
Das 30 mil doses enviadas pelo Ministério, até penúltimo dia já tinham sido aplicadas 29.854 doses. Na sexta-feira, dia 29 de abril, dois ônibus de Campo do Brito e Itabaiana voltaram sem ter conseguido vacinar as crianças. A vacina acabou.
Essa foi a minha segunda visita a Aracaju. Com um ano de idade, fui trazido às pressas para retirada de um tumor no peito, no Hospital de Cirurgia, e fui salvo pelas mãos do Dr. Airton Teles, filho de Itabaiana.
Voltei aos oito anos para me vacinar.
Nessa viagem, quando a marinete passava pela Av. Maranhão, perto do antigo aeroporto, alguém gritou: olhe um avião! Eu ouvi a “zoada”, e como nunca tinha visto um avião, incontinente, botei a cabeça para fora pela janela. Além de não avistar nada, o chapéu novo, de couro, comprado só para a viagem, voou de minha cabeça. Eu nem vi a invenção de Santos Dumont e ainda por cima perdi o meu chapéu.
Fui vacinado na LBA, em abril de 1962.
Antonio Samarone.

O IMPALUDISMO EM ARACAJU




Os miasmas do Aracaju – impaludismo ou sezão.
(por Antonio Samarone)
Desde a fundação, os baixios pestilentos do Aracaju eram infestados de mosquitos. Aracaju era zona endêmica de malária, e outras pestes. As que mais matavam eram a bexiga, as câimbras de sangue e a tísica ou peste branca.
Um grande agravo em Aracaju foi a infestação pelo Anopheles gambiae, mosquito de origem africana. O melhor vetor da doença no mundo, que no final da década de 1930, invadiu a Capital de Sergipe. Grandes investimentos foram realizados em Aracaju para erradicar esse mosquito.
Os recursos da Fundação Rockeffeler para a erradicação do “gambiae”, um transmissor da malária de habitat domiciliar, custearam o aterro de várias lagoas, bem como a construção e drenagem dos famosos canais do Aracaju.
A Organização Mundial da Saúde lançou em 1957 as bases para a Campanha Mundial de Erradicação da Malária, que incluía uma fase preparatória, com a identificação de todas as áreas malarígenas e seus imóveis em condições de receber a aplicação do inseticida, seguida de uma fase de ataque, com a borrifação semestral de DDT nos imóveis.
Em seguida, o tratamento de todos os moradores com sintomas, coleta de amostras de sangue para confirmação laboratorial e aplicação de medidas de controle de criadouros dos mosquitos (drenagem, aplicação de larvicidas). Nesta fase era obrigatória a observação do princípio de cobertura total.
Em fevereiro de 1965, o Dr. José Leite Primo, coordenador do Departamento de Erradicação da Malária em Sergipe, declarou publicamente: a malária está controlada em Sergipe. Durante o ano de 1964 foram notificados apenas 39 casos, quase todos importados da Bahia, e somente 03 casos oriundos do território sergipano.
A principal ação foi o uso intensivo do DDT (diclorodifeniltricloretano) no combate ao mosquito transmissor da malária.
A doença encontrava-se na fase de vigilância. A malária é uma doença infecciosa, causada por um protozoário unicelular, do gênero Plasmodium e transmitida de uma pessoa para outra, por meio da picada de um mosquito do gênero Anopheles, por transfusão de sangue ou compartilhamento de agulhas e seringas infectadas com plasmódios.
Durante o ano de 1964 foram borrifados com DDT setenta mil unidades domiciliares em Sergipe, por duas vezes, sendo consumidos sessenta toneladas do inseticida, para a erradicação da malária.
O DDT foi a maior arma.
Depois da borrifação, foram examinada 40.108 pessoas febris e constatada a doença em apenas 42, e somente 03 casos foram adquiridos em Sergipe.
O DDT (dicloro-difenil-tricloroetano), uma substância produzida em 1874, por um laboratório de Estrasburgo, França, e que teve sua propriedade como inseticida descoberta pelo Químico Paul H. Müller, em 1939, o que lhe agraciou o prêmio Nobel de Medicina, de 1948.
O DDT foi o primeiro pesticida moderno, eficaz para a erradicação de vários tipos de artrópodes. Foi eficiente no combate à malária, febre amarela e ao tifo.
No Brasil, o DDT foi o responsável pela erradicação do Aedes aegypti, em 1955. Depois retornou e nos inferniza até hoje. Foi o DDT que acabou com a malária em Aracaju.
O DDT ao lado da penicilina, foram consideradas as duas descobertas mais impactantes no combate as doenças infecciosas, festejadas mundialmente.
Durante décadas, o produto foi largamente usado até a comprovação que, além de provocar câncer, ele demora de 4 a 30 anos para ser degradado. O DDT tem efeito prolongado, move-se facilmente pelo ar, rios e solo e acumula-se no organismo dos seres vivos, no caso do homem na glândula tireoide, fígado e rim.
Em poucas décadas o DDT caiu em desgraça, passando a ser considerado um veneno de elevada toxidade. Por esse elevado risco, o DDT foi banido de vários países como a Hungria (1968); a Noruega e a Suécia (1970); e a Alemanha e os Estados Unidos (1972).
O Brasil, baniu o DDT somente em 2009, proibindo sua a fabricação, importação, exportação, manutenção em estoque, comercialização e uso. No Brasil, o uso do DDT foi intensivo e indiscriminado, quase em controle.
Trabalhadores da Saúde Pública (DENERU, SUCAM) foram contaminados, sem uma devida avaliação das sequelas.
Em Itabaiana, inventaram uma pomada artesanal (vaselina + DDT), muito usada no tratamento das infestações do Tunga penetrans (bicho de porco, bicho de pé). Era um “santo remédio”.
Antonio Samarone.

A PAIXÃO PELOS EXAMES



A paixão pelos exames. (por Antonio Samarone)
Rosa Maria, 67 anos, viúva, seis filhos, nascida e criada na Sambaíba. Rosa tinha um verdadeiro fascínio pelos exames de laboratório. Ela tratava-os com intimidade, apenas como exames.
Rosa não deixava o Dr. Valadão sossegado. Queria exames quando sentia qualquer mal-estar, para saber os motivos. Queria quando estava bem, para saber se existia algo de errado que ela não estivesse percebendo e, algumas vezes, queria só porque tinha passado muito tempo do último exame.
A mesma paixão Rosa Maria devotava aos exames instrumentais. Ela fazia semestralmente uma endoscopia digestiva alta, para avaliar o estomago, um ecocardiograma, uma TAC (Tomografia Axial Computadorizada), para saber se existe sinais de algum tumor escondido no pulmão ou no cérebro e uma ressonância magnética, para antecipar algum sinal precoce de Alzheimer.
Se houvesse dúvidas, Rosa Maria pedia para repetir os exames.
Mesmo assim, Rosa Maria só vivia reclamando: “Nunca mais fiz um exame, preciso me cuidar”. Rosa era uma sofredora, um padecimento antigo, que os remédios da medicina apenas atenuavam. O diagnóstico, cada médico dizia uma coisa.
Rosa pagava uma pequena fortuna ao Plano Plus de Saúde Bradesco, para ter de tudo quando precisasse. Entre a saúde e a salvação, ela priorizava a saúde.
Nesse domingo de carnaval, Rosa Maria morreu de repente. Passou um vento. O médico que assinou o atestado de óbito, depois de revisar todos os exames, que ela guardava embaixo do colchão, assinalou: “morte por causa ignorada.” Uma decepção para a família, logo ela, que tanto se cuidava, a medicina não sabia a causa morte.
Em meio as incertezas da família, Seu Belisário, rezador afamado na Itabaiana Grande, sentenciou: “Rosa Maria morreu de raiva guardada.” Ela nunca teve nenhuma doença grave, era sã psíquica. Ela padecia dessa raiva guardada, um ódio antigo, uma mágoa incurável, que lhe causava um grande sofrimento, e terminou matando-a.
Tem coisas que a tecnologia médica ainda não alcança só com exames, disse o rezador Belizário.
Descanse em Paz, Dona Rosa Maria de Oliveira, do velho tronco dos ferreiros das Flechas.
Antonio Samarone.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

HOSPITAIS EM SERGIPE


Hospitais em Sergipe (Por Antonio Samarone)

A lei 446, de 12 de novembro de 1902, definiu o orçamento do Estado de Sergipe para o ano de 1903. O orçamento total era da ordem de 1.594:620$543. Estava previsto para a saúde pública 14.862$000, ou seja, uma insignificância menor que um por cento; como termo de comparação, para as Prisões estava destinado 48.428$000, isto é, cerca de quatro vezes superior à saúde pública.

No início do século XX, existiam sete hospitais funcionando em Sergipe (Aracaju, Capela, Estância, Rosário, Maroim, Lagarto e Laranjeiras), todos administrados por instituições de caridade.

Em Itabaiana, somente em 30 de março de 1941 foi inaugurado o Hospital de Caridade de Itabaiana, que pouco tempo depois passou a denominar-se Hospital Regional Rodrigues Dória.

A construção do Hospital arrastou-se por vários anos, tendo sido iniciado antes de 1930. Finalmente, com a ajuda do Prefeito Sílvio Teixeira a obra foi concluída. O primeiro médico a dirigir clinicamente o Hospital foi o Dr. Gileno Almeida Costa.

Registro os bons serviços prestados à população pelos funcionários Flodualdo, Tereza, Alberício e Josué. Quem precisasse tomar uma injeção, encanar um braço, sarjar uma maldita, drenar um tumor, suturar um pequeno corte, arrancar um unha, estavam eles lá, atentos e disponíveis.

Também forneciam remédios de graça para verme, doença do mundo, pano branco, sarna e impinge.

Esse hospital funcionou até 1977, quando a filantropia e a caridade saíram de moda.

Antonio Samarone.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

ITABAIANA - MATERNIDADE SÃO JOSÉ


Itabaiana - Maternidade São José (por Antônio Samarone)

O Centro de Ação Social Católica de Itabaiana, dirigido pelo Pe. Artur Moura Pereira, inaugurou em 01 de setembro de 1959 a Maternidade São José, com 22 leitos para gestantes indigentes e 02 para pensionistas.

Todos os equipamentos da Maternidade foram doados pela Legião Brasileira de Assistência (LBA). Foi indicado como primeiro diretor da nova Casa de Saúde o médico humanitário Pedro Garcia Moreno.

Durante o primeiro ano de funcionamento foram internadas nessa Maternidade 282 mulheres; sendo 218 partos, 55 atendimentos a abortos, 07 para observação, 02 extração de placenta; foram 211 crianças nascidas vivas, 14 nascidas mortas, 01 parto cirúrgico e 01 óbito materno.

Na solenidade de inauguração estavam presentes: o Bispo diocesano, Dom José Vicente Távora; o Diretor do Departamento Estadual de Educação, Pe. José Araújo Mendonça; o representante da LBA em Sergipe, Dr. Carlos Melo; o médico itabaianense Dr. Airton Teles, o Pe. Artur Moura Pereira, D. Maria Pereira e Antonio Oliveira (Tonho de Dóci).

A solenidade foi abrilhantada pela banda de música de Campo do Brito.

Em 11 de fevereiro de 1967, foram aprovados os Estatutos da Maternidade São José, como uma sociedade civil, sem fins lucrativos, que visava prioritariamente o atendimento da gestante desamparada. A primeira direção foi constituída pelas Irmãs Rafaela Pepee, Marta Hulshen, Evência Vasconcelos e Maria Ivência Lobo.

O Colégio e Educandário Dom Bosco foi fundado em 01 de março de 1963.

Antônio Samarone.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

A LOUCURA EM SERGIPE


A Loucura em Sergipe (por Antônio Samarone)

O Jornal Correio de Aracaju, edição de 23 de fevereiro de 1943, divulgou com grande ênfase uma carta do Dr. Garcia Moreno, Diretor da Colônia de Psicopatas, anunciando importantes incorporações tecnológicas da psiquiatria sergipana. Observem os termos mais esclarecedores da missiva:

“Comunico que desde outubro de 1942 o nosso Hospital Colônia de Psicopatas inclui em seus trabalhos rotineiro, ao lado da aplicação mais antiga dos métodos de Sakel e Meduna (insulina e cardiazol), a convulsoterapia de Cerletti e Bini”.

“Possuímos um aparelho de eletrochoque terapia fabricado pela Offener Electronies, dos Estados Unidos, do tipo mais moderno e portador das mais recentes inovações técnicas, de notáveis vantagens práticas (máquina de curar louco). Custou ao Governo Estado perto de treze mil cruzeiros e chegou a Aracaju por via aérea, o aparelho pesa menos de oito quilos”.

“Quase quarenta pacientes já foram, entre nós, submetido ao método de Cerletti, num total de crises convulsivas que andam perto de novecentas”.

A convulsoterapia elétrica era apontada como um grande avanço para psiquiatria pelas seguintes vantagens: baixo custo; rapidez na aplicação; e substituir a convulsoterapia cardiozóliza, muito temida pelos pacientes devido à elevada freqüência de fratura de costelas.

Continua Dr. Garcia Moreno em sua carta:

“Aqui, como em outras partes, duas a três aplicações semanais de uma corrente elétrica de 450 miliampere, durante 0,2 segundos através do cérebro, tem em pouco mais de um mês reconduzido a vida psíquica normal homens e mulheres”.

“Como se vê, a psiquiatria não é mais uma especialidade médica de literatos e filósofos. Não na medicina moderna, afora a cirurgia, setor de maiores ousadias técnicas. Como se vê, o doente mental encontra hoje recursos terapêutico tão eficientes quanto os que beneficiam as demais especialidades médicas”.

Antônio Samarone.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

AS GRANDES MURALHAS...



As Grandes Muralhas... (Por Antônio Samarone)

Em meados do século XX, Itabaiana era uma cidade de camponeses, artesãos e negociantes. Com a chegada da BR - 235 e do Colégio Murilo Braga, emergiram os caminhoneiros e os intelectuais. A cidade se desenvolveu, veio a riqueza.

Nesse primeiro período, havia uma acentuada igualdade: nem éramos muito ricos, nem muito pobres. A terra era bem dividida, o dinheiro também. A cidade era urbanisticamente misturada. O Beco Novo, onde moravam os pobres, terminava na Praça da Igreja, onde moravam os ricos.

Ricos, remediados e pobres, na hora das brincadeiras de prender e soltar, “pé em barra”, das peladas de futebol, dos banhos nos tanques, de roubar manga, íamos todos juntos, ou quase juntos. As festas eram as mesmas. Santo Antônio era dos pobres, mas também protegia os ricos. Todos torcíamos pelo Itabaiana.

Itabaiana cresceu, os ricos aumentaram e os pobres também. O talentoso Melcíades (o nosso Gaudí), criou uma arquitetura típica, um novo estilo urbano. Os ricos construíram o bairro Morumbi. Já não éramos mais a misturada comuna primitiva.

Recentemente, um criativo empresário segregou ricos de pobres, criou grandes condomínios. Dividiu a cidade com grandes muralhas. Muito muro, cerca elétrica e guardas. “Cada macaco em seu galho”, dizem os entusiastas dessa Itabaiana. Hoje uma parte da cidade está cercada!

Urbanisticamente, somos duas Itabaianas. Uma dentro dos muros e outra fora. A Itabaiana de dentro, pode circular livremente pela de fora. Mas a Itabaiana de fora, para circular nos condomínios cercados, precisa se identificar na portaria, dizer o que vai fazer, quem vai visitar e receber o sinal verde.

Não estou fazendo juízo de valor, apenas descrevendo uma realidade.

Dirão os mais apressados: “Mas esse apartheid não foi inventado em Itabaiana”.

Eu sei!

Ocorre em Itabaiana que, o idealizador das “grandes muralhas” quer ser Prefeito, será candidato e deve apresentar “propostas” para a Itabaiana do futuro. É o que se espera.

Todos dentro dos muros? Cercar tudo, como nas cidades medievais?

Eu não sei. Prefiro aguardar!

Que Itabaiana queremos construir e para quem? É essa a minha curiosidade.

Antônio Samarone.

domingo, 16 de fevereiro de 2020

PARIR OU NÃO PARIR...


Parir ou não parir... (por Antônio Samarone)

Segundo a OMS, o parto é um processo fisiológico e natural que pode ser vivenciado sem complicações pela maioria das mulheres e bebês. Desde 1985, a comunidade médica internacional considera que a taxa ideal de cesárea (parto cirúrgico) fique entre 10% e 15%.

Como andam os partos em Sergipe?

Entre o parto à fórcipe, o parto cirúrgico, o parto normal e o parto natural existem distâncias e uma convergência: os partos no Brasil precisam ser humanizados.

O que é o parto natural?

O parto natural é o realizado sem intervenções ou procedimentos desnecessários durante o período do trabalho de parto, no parto ou pós-parto. E com o atendimento centralizado na mulher. No parto natural, a saída do bebê ocorre pelo canal da vagina, sem qualquer intervenção cirúrgica.

O parto natural é o parto normal sem intervenções, como anestesias, episiotomia (corte cirúrgico feito no períneo) e indução. O tempo da mãe e do bebê são respeitados e a mulher tem liberdade para se movimentar e fazer aquilo que seu corpo lhe pede.

Em Sergipe, os partos normais caminham para a extinção.

Em 1997, dos 43.530 partos em Sergipe, 35.075 foram partos normais (via vaginal), 7.884 cesáreas (cirúrgicos) e 571 ignorados (sem informações). A proporção de partos cirúrgicos foi de 18%, um pouco acima do preconizado pela OMS, mas dentro de um limite.

Em 2007, dos 36.920 partos em Sergipe, 26.170 foram partos normais, 10.686 cesáreos e 64 ignorados. Não se assustem com a redução dos partos, foi isso mesmo, os nascimentos diminuíram. O que chama a atenção é que a proporção de partos cirúrgicos, aumentou para 29%.

Em 2017, dos 35.061 partos em Sergipe, 19.697 foram partos normais, 15.356 cesáreos e 8 ignorados. A proporção de partos cirúrgicos elevou-se para 43%, quase a metade.

Em Sergipe, o crescimento dos partos cirúrgicos avançou de 18% em 1997, 29% em 2007, para 43% em 2017. Se a tendência continuar, em quantos anos teremos todos os partos cirúrgicos.

Quem quiser parir pela via vaginal, sentir as dores do parto, que se apresse, em Sergipe pode virar coisa do passado.

Antônio Samarone.

sábado, 15 de fevereiro de 2020

O COMUNISMO LÁ E CÁ.


O comunismo lá e cá... (por Antônio Samarone)

A China construiu e botou em funcionamento um hospital com 1.600 leitos, em 8 dias.

Essa maternidade em Aracaju (foto), que está sendo construída no bairro 17 de março, se arrasta há 5 anos.

A obra, orçada inicialmente em R$ 11.357.195,75, foi iniciada no dia 8 de junho de 2015. O Ministério da Saúde (MS), liberou a primeira parcela em setembro de 2015, no valor de R$ 50 mil e a segunda parcela no dia 29 de dezembro de 2015, no valor de R$ 1.110.640,00.

A obra hoje já está em 17 milhões (o aumento do saco de cimento), e a prefeitura não sabe quando entrega.

Por que a construção da maternidade da Prefeitura está sendo empurrada com a barriga?

Em Aracaju são realizados por mês 1.665 partos (dado de 2017). Cerca de mil partos/mês pelo SUS. A rede pública atende em duas maternidades: a Nossa Senhora de Lurdes (79 leitos) e a Santa Izabel (89 leitos). Ou seja, os mil partos/mês pelo SUS são atendidos pelos 168 leitos existentes. Não se tem notícia de fila para parir em Aracaju. Está funcionando!

Recentemente, o Estado gastou uma pequena fortuna para reformar a antiga maternidade Hildete Falcão Batista (62 leitos). Continua fechada para partos.

A Universidade Federal de Sergipe está concluindo uma maternidade com 118 leitos, com previsão de entrega para maio de 2020 (isso mesmo, esse ano).

Ou seja, já existem prontos mais 180 leitos de maternidade para o SUS, em Aracaju, superior aos leitos já existentes e que está dando conta. Como o número de partos não vai aumentar, nem os recursos repassados pelo Ministério da Saúde, com a oferta de novos leitos, vai precisar dividir o orçamento pelos partos realizados em cada maternidade, inviabilizando o financiamento de todas elas.

Você pensa que a falta de planejamento parou por aí? Não! A bem gerida Prefeitura de Aracaju está construindo essa outra maternidade. Com as seguintes especificações:

A maternidade da Prefeitura terá 50 leitos de média complexidade, 10 leitos de Unidade de Terapia Intensiva Neonatal, 10 leitos de Unidade de Cuidado Intermediário Neonatal Convencional, cinco leitos de Unidade de Cuidado Intermediário Neonatal Canguru, 50 alojamentos conjuntos (mãe e bebê agrupados); duas salas cirúrgicas com três leitos de recuperação pós anestésica; três leitos de cuidados intermediários; dois leitos de estabilização; nove leitos de aplicação de medicação e observação, e oito quartos PPP.

Deus benza! 

Resta saber quem pagará a conta para ela funcionar. Vai dividir os repasses do Ministério da Saúde com as demais maternidades de Aracaju. Na Saúde construir é fácil, o difícil é manter em funcionamento.

Talvez por isso, a construção da maternidade da Prefeitura se arraste a passos de tartaruga.


Antônio Samarone. 

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

ATEU E À TOA...


Ateu e à-toa... (por Antônio Samarone)

Itabaiana sempre foi uma terra de carolas, papa-hóstias, com poucos ateus declarados. O ateísmo era uma aposta arriscada. E se Deus existisse? Os descrentes preferiam a dúvida, ou até mesmo uma crença da boca para fora. Nesse campo dominava o oportunismo: é melhor acreditar, pois existindo a gente está coberto.

Itabaiana respirava Trento. Um terra de muitos padres e freiras.

Ateu por convicção, materialista puro-sangue, só Zeca Cego, camponês e comerciante, que nasceu e se criou num sítio, perto do povoado Cova da Onça. Em Itabaiana existiam agnósticos, céticos, epicuristas, indiferentes, panteístas, maçons, macumbeiros, niilistas, excomungados, incrédulos, hereges, mas ateu mesmo, só ele.

Zeca Cego era um típico ateu de aldeia. Um ateísmo visceral, solitário! Um Aldeão que leu Hegel e Feuerbach, Marx e Lenine, e mandou cunhar no frontispício de sua casa: “A religião é o ópio do povo.”

Zeca Cego nunca recebeu um sacramento, nem por formalidade. Era pagão e se casou só no civil. Ele era um convicto, um missionário do ateísmo: “Graças a Deus, Deus não existe”. Seu Zeca citava Bakunin: “Se Deus realmente existisse, era preciso fazê-lo desaparecer.”

Posso afiançar que se o manifesto de Zeca Cego tive sido publicado naquele tempo, ele teria sido excomungado em Santa Missão. E a Congregação para a Doutrina da Fé tinha ratificado. Condenaram Leonardo Boff por bem menos.

De lá para cá, o ateísmo cresceu. Dom Orani João Tempesta, cardeal brasileiro, disse a semana passada que o Brasil corre o perigo de se tornar país ateu. O religioso sabe o que está falando.

Zeca Cego, quando jovem, embrenhou-se na leitura dos filósofos iluministas, livros emprestados pelo Dr. Florival. Uma leitura apressada, confusa, mas o suficiente para ele acreditar na razão. Ele repetia com frequência: “Deus não existe, se ele existisse, isso seria evidente e notório. Não haveria mistérios, tudo seria as claras.”

Zeca Cego repetia a tese central do ateísmo: “Como é que um ser tão perfeito criou um universo tão miserável, tão cheio de males, vícios e maldades, em que os homens sofrem e morrem?” Por mais que Santo Agostinho tenha explicado, Zeca Cego nunca se convenceu.

Por que Deus concede a sua graça a alguns e não a todos? Essa pergunta, Zeca Cego repetia obsessivamente. Ele assimilou do Manifesto do Abade Jean Meslier, que datava de 1729. Não sei como esse manifesto chegou as mãos dele.

O movimento dos Sem Deus nunca prosperou em Itabaiana. 
  
Uma pena que Zeca Cego não tenha lido Nietzsche, pelo menos não comentou em seu manuscrito. “Deus está morto e nos o matamos. Com que água haveremos de nos purificar?

“Frustrado de mil maneiras por seus limites diante da natureza, da sociedade e da morte, o homem deve sobrepujar seus sofrimentos pela crença na imortalidade bem-aventurada. Disso nascem as necessidades religiosas.” – Freud.

Se Deus não existisse, seria preciso inventá-lo.

Antônio Samarone.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

MEUS PIOLHOS



Meus Piolhos. (por Antônio Samarone)

“Futucando bem/ Todo mundo tem piolho/ Ou tem cheiro de creolina/ Todo mundo tem um irmão meio zarolho/ Só a bailarina que não tem...” -Chico Buarque

Antigamente em Itabaiana, os meninos eram infestados de piolhos. Quase todos. O piolho, era uma praga universal nas escolas. A gente se acostumava com as coceiras. Nem percebíamos. Até gostávamos.

Tudo coçava: piolho (Pediculus capitis), pulga (Pediculus humanus), caseira (oxiúros), chato (Phthirus púbis), bicho de pé (Tunga penetrans), sarna (Sarcoptes scabiei) sovaqueira e chulé. Quando se pisava numa cama de sapo, até a alma coçava.

O ciclo do piolho inicia-se com a postura. Os ovos necessitam de 4 a 14 dias para eclodirem em larvas (as lêndeas), que atingem o estágio adulto em 2 semanas. A maturidade sexual ocorre em 4 horas, com cópula imediata. Sobrevivem de 3 a 4 semanas. Cada piolho põe cerca de 90 ovos. Minha mãe sabia tudo isso.

Os piolhos sempre acompanharam os homens. Já foram encontrados em múmias egípcias de 3.000 anos a.C., em pentes da época de Cristo encontrados nos desertos de Israel e em múmias do Peru pré-colombiano.

Formas de combate:

Catação manual – o piolhento colocava a cabeça no colo da catadora, para um cafuné sanitário pouco higiênico. Se catava um a um, piolho a piolho. Depois se matava o piolho na unha. As lêndeas eram jogadas num pano, que ficava sobre as pernas da catadora. Um boa catadora tinha cuidado para extrair o inseto sem puxar o fio de cabelo.

A minha mãe não era uma catadora paciente, os fios de cabelo não escapavam. Para mim era uma sessão de tortura, que eu reagia balançado a cabeça. Mamãe me acalmava com cascudos. Acho que ela fazia de propósito. Já perdoei a muito tempo.

Passar banha de porco e depois o pente fino, permitia uma retirada mecânica. Às vezes era suficiente, às vezes não. Nos meninos, podia-se apelar para a raspagem da cabeça. Dava muito na vista, todo mundo sabia que a cabeça foi raspada por causa dos piolhos. Depois rasparam a minha cabeça pela aprovação no vestibular. Achei estranho!
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A aplicação de Neocid era um recurso radical contra os piolhos. Aplicava-se o veneno na cabeça do infeliz, cobria-lhe a cabeça com um pano de algodão branco, e horas depois, ao retirar, o pano estava forrado de piolhos. Dava até para contar. A operação precisava ser repetida, o veneno não matava nem os ovos, nem as lêndeas.

Ainda me lembro do som emitido quando se apertava a lata de Neocid, um pof-pof específico, para o veneno sair por um buraquinho na dobra da tampa. Aplicava-se com a lata fechada.

O Neocid antigo era da Bayer, um inseticida em pó à base dos organofosforados, comercializado numa lata (foto) contendo 50 gramas do produto. A mesma composição química do “chumbinho”. Um detalhe macabro: havia uma informação na lata indicando que o veneno era inofensivo para os humanos e animais domésticos.

Hoje se sabe que esse veneno é cancerígeno e teratogênico.

Os piolhos estão voltando!

Recebi um WhatsApp de um amigo, pedindo ajuda para debelar uma infestação de piolhos numa escola na comunidade onde ele mora. A escola está empesteada. Além da lepra, sífilis e tuberculose, os piolhos também voltaram.

Antônio Samarone.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

PARA ONDE MARCHA EDVALDO NOGUEIRA?



Para onde marcha Edvaldo Nogueira? (por Antônio Samarone)

A coluna de hoje da jornalista Rita Oliveira, informa que Edvaldo não tem compromisso em indicar um vice do bloco de direita que governa com ele o município de Aracaju. O que mudou? Era tido como certo que o vice sairia do colete dos Mitidieres.

“A política é uma encenação, o que parece não é e o que é não parece.” (manuscrito de Zeca Cego).

No primeiro turno das eleições presidenciais em Aracaju, Jair Bolsonaro teve 39% dos votos, contra 28% de Haddad e 12% de Ciro Gomes. Ficou claro que a direita tem uma base forte e que Aracaju é uma cidade dividida ideologicamente. Pau a pau!

Com a permanente ameaça de rompimento do PT, Edvaldo Nogueira se aproximou pragmaticamente da velha direita e compôs um governo conservador, um centrão, de olho nesse eleitorado de Bolsonaro em Aracaju.

A surpresa foi o aparecimento de uma candidata orgânica desse eleitorado, um nome novo, que terá a preferência desse bloco.

Edvaldo percebeu que pegou o bonde errado. Ainda tem jeito ou a Inês já é morta?

Às pressas, Edvaldo enviou um emissário para convencer Henri Clay a aceitar à vice, para salvar as aparências. Edvaldo voltou a jurar amores pela esquerda. Esse namoro com a direita não era para valer.

Quais são as dificuldades para Edvaldo reconstruir um candidatura pela esquerda?

Edvaldo saiu do PC do B e foi para o PDT, liderado por Fábio Henrique, que em Sergipe não é um partido de esquerda. Henri Clay já está discutindo com o PSOL a criação de uma nova esquerda, e o PT já tem Marcio Macedo como candidato. Sobrou quem? O PSB dos Valadares nunca pensou em aliar-se com Edvaldo.

Não está fácil para Edvaldo reconstruir uma candidatura pela esquerda!

Contudo, em política tudo é possível, até boi voar...

Antônio Samarone.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

ZECA CEGO - REMINISCÊNCIAS



Zeca Cego (reminiscências). (por Antônio Samarone)

Segundo o manuscrito, Zeca Cego conheceu Prestes pessoalmente, em Crateús, no Ceará.

Em janeiro de 1926, de passagem por Crateús, Seu Zeca assistiu à entrada da Coluna Prestes na cidade, sob o comando do Capitão João Alberto. Trocou algumas palavras com o Cavaleiro da Esperança. Se ofereceu para ser recrutado, mas os revoltosos o acharam muito novo. Ele só sabia atirar de garrucha.

A paixão de Zeca Cego pela Coluna Prestes foi profunda e vitalícia. De forma quase instintiva, Seu Zeca foi o primeiro comunista que se tem notícia em Itabaiana.

Zeca Cego possuía uma grade de cerais na feira de Itabaiana. Ele vendia feijão no litro. No peso, só a carne. Não se pesava nem cereais, nem farinha. A farinha era vendida na medida (quarta, terça, litro).

Zeca Cego descia a rua do Futuro, com um livro debaixo do braço, brandindo uma dialética comunista mal assimilada, numa linguagem incompreensível para uma comunidade de camponeses semialfabetizados. Zeca Cego também recitava poesia.

Seu Zeca era um comuna que nunca perdeu uma procissão de Santo Antonio. Era assim em Itabaiana: comunistas e católicos apostólicos romanos. Ninguém perdia uma Santa Missão.

Existia uma unanimidade em Itabaiana: Zeca Cego era meio doido. Eu nunca acreditei!

Continua o manuscrito de Zeca Cego em outro trecho:

“No caminho da Pedreira morava Seu João Barraca, que passava o tempo lendo, sentado numa cadeira de balanço, com um pé no assento. Seu João lia muito. Entre as suas leituras preferidas estava uma velha edição do 18 de Brumário”.  

Seu João Barraca era irmão de Seu Euclides (foto), o guarda noturno, e do notório rezador Manoel Barraca, o pajé do Tabuleiro dos Caboclos. Seu João era o pai de Cosme e Damião, craques do Itabaiana.” 

Soube que o Cosme ainda é vivo!

Antônio Samarone.

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020

O PARQUE MARITUBA



O Parque Marituba. (por Antônio Samarone)]

O decreto 40.515, publicado no DO de 22/01/2020, criou o Parque Estadual Marituba, entre os municípios da Barra dos Coqueiros e Santo Amaro.

O Parque Marituba terá uma área de 1754,33 hectares, ou seja, mais de 5 mil tarefas. Uma área significativa, para as dimensões de Sergipe. O decreto determina que as áreas particulares serão desapropriadas.

Segundo o decreto, o Parque Marituba visa proteger o ecossistema costeiro de relevância ecológica e inclui parte do aquífero Marituba.

O decreto é sucinto, não diz muita coisa. Apenas cria um Parque Estadual e revoga às disposições em contrário. (se é que existam).

Ia esquecendo, o decreto garante que o “Complexo Industrial Portuário de Sergipe” (aquele que não anda), e que fica na área do futuro Parque Marituba, continua permitido.

O que levou realmente o desinteressado governo Belivaldo a tomar essa iniciativa, eu não sei. Tudo foi muito silencioso. Espero, de boa-fé, que tenha sido mesmo “razões ambientais”.

Devem existir estudos e uma proposta detalhada do que será o Parque Estadual Marituba. Pedir que divulguem, já seria um abuso.

Espero que saia do papel!

Antônio Samarone.