sábado, 30 de dezembro de 2023

NÃO HÁ NADA DE NOVO.


 Não há nada de novo!
(por Antonio Samarone)

As reuniões semanais dos itabaianistas, às quintas-feiras, no início da noite, na Praça Luciano Barreto Junior, em Aracaju, só tem uma exigência: a pauta será sempre no “pretérito-mais-que-perfeito”.

Para os que esqueceram a gramática, só tratamos do passado distante. A confraria é quase um consulado arqueológico.

Além do lazer, do bom papo, das ironias e da confraternização, a reunião é uma prevenção eficaz contra as demências. As histórias podem ser repetidas, mas não deixará de ser novidade.

Não existem histórias novas, a gente apenas desconhecia.

As reuniões das quintas é eivada de saudosismo. Voltamos a conversar pessoalmente, sem WhatsApp, com direito a disputa pela palavra. Quem tem a preferência? Falar alto não resolve.

A vez da fala é de quem atrai os olhares, a atenção dos demais. Não existem inscrições prévias, nem coordenadores.

Em Esparta, o Conselho de Anciões (Gerousia) tinha muitos poderes. Entre nós é apenas uma assembleia de conversadores. Gente que não quer esquecer.

Qual o segredo da longevidade dessa confraria? Primeiro, as divergências morrem ali. A confraria não pretende mudar a realidade, converter os incrédulos, convencer os que pensam diferente na política, nem atrair torcedores para o Fluminense.

Com o envelhecimento, a atrofia cerebral é uma realidade. Estamos resistindo!

Entretanto, o que resta do cérebro pode realizar as mesmas funções. Essa possibilidade é variada entre as pessoas. A limitação vai da demência ao pleno vigor cognitivo. Entretanto, existem pessoas onde a cognição fica mais afiada. Cada um pensa que é essa exceção.

Lembro-me de uma canção nordestina que afirma num verso: “cabeça grande é sinal de inteligência, eu agradeço a providência ter nascido lá” (lá, é em Itabaiana).

Não é bem assim! Mas o susto é grande, quando enxergamos que o nosso cérebro está encolhendo.

Calma, gente! Existem meios de preservação da memória. As neurociências descobriram novidades: o cérebro é móvel, maleável, vivo, cria novos circuitos e resiste. A derrota é a acomodação. Vamos pró curar, coisas novas.

As reuniões da Confraria das quintas mostram outra verdade: a memória coletiva permanece. O que um não lembra o outro lembra. Quando alguém pergunta: lembram de fulano? Quem não lembrava, quando a narrativa começa, a lembrança retorna.

O que ninguém lembra, não existiu.

Com essas reuniões, eu passei a simpatizar com o conceito de inconsciente coletivo, de Jung. Os arquétipos são visíveis. O enredo das narrativas tem a mesma linha, independente de quem conte as histórias. As graças e as desgraças são as mesmas.

Por isso, as reuniões são terapêuticas!

Antonio Samarone – médico sanitarista.

sexta-feira, 29 de dezembro de 2023

A MARCA DE DEUS


 A Marca de Deus...
(por Antonio Samarone).

A ciência é uma narrativa humana. Somos a medida de todas as coisas.

Acabo de ler um livro instigante de Marcelo Gleiser, “A Criação Imperfeita”. Um cientista que não diviniza a ciência, nem abraça o obscurantismo. Um texto acessível aos curiosos.

O medo das trevas, do escuro, do breu povoou a minha infância... Brincávamos de quem ia mais longe, em direção ao escuro. Eu sei, Deus já havia criado a luz, mas só estava garantida durante os dias. As noites precisavam de luzes artificiais. Os meninos de hoje perderam esse medo.

A escuridão cósmica me assusta!

A luz é um tipo de onda eletromagnética que se propaga a uma velocidade constante de 300 mil km/seg. Outro mistério: por que a essa velocidade e por que constante.

Porque não enxergamos o restante das ondas eletromagnéticas, somente a radiação com comprimentos de onda entre 380 e 750 nanômetros, chamada de luz.

Depois descobriram que a luz também são fótons, matéria e energia ao mesmo tempo. A fuga da vida rural, em boa parte, é uma fuga a essa escuridão cósmica do campo. Bem ou mal, as cidades são iluminadas, no início com lampiões, hoje com led.

A origem do universo, da vida, em especial da vida inteligente, continua um mistério, tanto para a ciência como para as religiões.

As duas versões partem do nada. A questão do que existia antes do nada é especulação. O que vem antes, tanto no Big Bang da ciência, como na gênese bíblica, requer uma na crença.

No Big Bang, temos um caldo energético (eterno), que em determinado momento (14 bilhões de anos) começa a se expandir, formando os átomos, a matéria, planetas, estrelas, a vida e a vida inteligente. Bem, e antes da explosão?

As religiões, apontam para a existência anterior de um deus, um demiurgo eterno, sobrenatural, principio criador de todas a coisas. Os deuses são sobrenaturais, não precisam da razão para existirem. E antes? Antes era o verbo...

A crença de que existe uma ordem oculta mediando a natureza, permanece uma crença. A incerteza é uma propriedade da matéria. Essa busca é um devaneio da razão.

A ciência descobriu que toda a diversidade da natureza está interligada e possui uma origem única. As religiões, procuram religar essa diversidade, com uma explicação divina; a ciência busca um código secreto da natureza.

A verdade, é que existe uma realidade fora da apreensão cognitiva. A ciência procura, sem sucesso, descobrir esse código secreto da natureza. Entretanto, somos capazes de acreditar em algo, mesmo sem qualquer evidência.

Crença por crença, acredito que a existência de vida inteligente tem um propósito. A vida inteligente está restrita a esse asteroide insignificante chamado Terra. O Cosmo é vazio, infinito, escuro, frio e indiferente. Existimos nessa solidão cósmica.

O livro me ensinou duas outras coisas, que sem a sua leitura eu morreria sem saber:

1. Em números arredondados, 75% da matéria que existe no cosmo é composta de hidrogênio, enquanto o hélio, o segundo elemento mais abundante, contribui em 24%. O resto dos elementos da Tabela Periódica, do lítio ao carbono e ao urânio, contribui com apenas 1% da matéria total. A química da vida é minoria absoluta!
2. Sabemos é que a energia escura toma em torno de 73% da energia total do Universo. O resto é composto de matéria escura (com 23%) e os nossos humildes prótons e elétrons (com apenas 4%). Sendo assim, chegamos à revelação mais chocante da cosmologia moderna, que 96% da composição material do cosmo é desconhecida!

Aprendi no livro de Glaiser, que a busca permanente da verdade alivia o sofrimento, trata-se de uma “pró-cura”.

Antonio Samarone – médico sanitarista.

terça-feira, 26 de dezembro de 2023

UM POETA DE BATA LONGA


 Um Poeta de Bata Longa.
(por Antonio Samarone)

Um dia desses, eu afirmei que a poesia estava escasseando em Sergipe. Mexi num salseiro. O que apareceu de poetas inspirados e com a foice na mão, foi promissor: “estamos aqui, disseram eles!”

Pensando bem, eu exagerei! Esqueci até o dr. Rômulo, um poeta de nascença.

Rômulo de Oliveira Silva é filho do goleiro Lessa e dona Lene. Para quem ainda não conhece, Rômulo nasceu na Vila Operária da Passagem, em Neópolis. Veio para a Villa de Santo Antonio e Almas de Itabaiana, com 7 anos. É um dos nossos.

Dona Lene criou os seus filhos com rédea curta. O dr. Rômulo é homem de fino trato, culto, Íntegro, um conservador a moda antiga.

A Vila Operária da Fábrica de Tecidos do Comendador Peixoto, possuia atrativos culturais. A boa música, o cinema e teatro. Dona Marlene (a mãe do poeta), era iniciada nas belas artes. Rômulo teve de quem herdar a sensibilidade poética.

Nessa passagem de sua obra, o dr. Rômulo resumiu a sua diáspora:

“Quando dobrei pela última vez o entroncamento da Vila Operária da Passagem onde nasci, ainda com sete anos de idade – acompanhando a minha mãe e com a minha irmã na boléia de um velho caminhão Chevrolet, dirigido pelo motorista Zé de Ana, com destino a uma cidade que eu nunca havia ouvido falar, Itabaiana – eu jamais imaginaria que estava cumprindo uma saga migratória que havia sido iniciada pelo meu avô Pedro de Jeremoabo, pelas minhas tias velhas de Gararu, e pelo meu pai, de Caruaru.”

Eu, um adepto do conceito junguiano do inconsciente coletivo, busco os fundamentos da riqueza e da diversidade do pensamento do dr. Rômulo, nessa sua origem. Poeta, filosófo, médico e escritor. São muitas heranças, são muitas culturas.

Como entender um conservador humanista e democrata? Um choque, para um esquerdopata da minha estirpe. Eu sempre associei o iluminismo e o humanisno, as teses da esquerda. Gente, eu estava errado, existe pelo menos uma exceção. Deve ter outras.

O dr. Rômulo de Oliveira Silva, um angiologista conceituado, retribui a sua formação em escolas públicas, com a sua dedicação ao SUS. Nunca deixou os ambulatórios municipais da Rua de Bahia. Prestando o mesmo serviço que presta em sua clínica particular.

O dr. Rômulo sempre foi um menino estudioso. Nunca perdeu esse vício. Achando que a filosofia tinha uma sabedoria oculta, meteu a cara nos filósofos. Fez o curso, na UFS.

Portanto, peço desculpas ao poeta de batas longas, dr. Rômulo, e a tanto outros poetas, invisíveis à minha visão caolha. Só a poesia salva!

“Ouvi galos cantar de dia/ Durante um eclipse total do sol./ Uma lição muito pouco percebida/ Nem sempre que escurece – é noite;/ Nem sempre que amanhece – é dia.” – Alberto Carvalho.

Eu ouvia o galo cantar, só não sabia onde!

Antonio Samarone (médico sanitarista)

segunda-feira, 25 de dezembro de 2023

A ALMA DO ARACAJU


 A Alma do Aracaju.
(por Antonio Samarone)

Nesse Natal, recebi alguns amigos das Minas Gerais, dos tempos da Residência Médica, na UFMG. Na despedida, fiz uma pergunta de rotina: o que eles acharam do Aracaju? Eles riram, e disseram coisas que eu não gostei.

“Na verdade, achamos a cidade bonitinha, limpinha, arrumadinha, mas sem uma marca cultural. Sem identidade! Nada que chame a atenção. Não parece uma cidade nordestina. A praia muito comum, com a água barrenta. Uma culinária sem identidade. Aracaju parece uma cidade média, do interior de São Paulo.”

“O monumento mais visitado é um caranguejo de fibra, na orla da Atalaia.”

Reagi indignado! Como desmentí-los?

Qual é a música, dança, artes plásticas, cinema, teatro, folclore, literatura, poesia que caracterizam Aracaju? Nos destacamos em quê? Quais os nossos nomes nacionais? O nosso último intelectual reconhecido nacionalmente foi Joel Silveira, morreu em 2007.

Quais os nomes que se destacam no esporte? O último nome nacional foi Maguila.

Nem na política. Nada! Nenhum destaque nacional, nem de direita, nem de esquerda. Os últimos nomes nacionais do Aracaju foram Albano Franco, Carlos Brito e Déda. Dois do interior.

Eu fiquei acuado para rebater aos mineiros. Nenhum prato típico, nenhuma música de sucesso, um livro, um atleta, um cientista, um religioso (mesmo da Universal), um curandeiro, um médico, um jurista.

Eu preciso de um aracajuano que se destaque nacionalmente, seja lá em que for. Esses mineiros precisam de uma resposta à altura. Preciso de destaques em qualquer coisa: sinuca, briga de galo, porrinha ou carteado.

Senti a falta de Luiz Antonio Barreto. Só ele responderia á altura, a esses mineiros desaforados. Quem nunca se viu, botar defeitos em terra alheia? Mesmo sendo recebidos com fidalguia.

Luiz Antonio Barreto, sobre Aracaju, tinha resposta para tudo.

Depois me conformei. A bela e acolhedora Aracaju não gera o sentimento de bairrismo. Nunca ouvi ninguém dizer de peito erguido: “Eu sou do Aracaju”!

Eu amo Aracaju! Gosto do seu jeito acanhado, provinciano e humilde. A música baiana realiza anualmente uma festa por aqui, e a gente ainda chama de Pré-Caju. Somos uma gracinha de cordialidade.

Entretanto, quando sou perguntado, você é de onde? Eu encho a boca: sou de Itabaiana, nascido e criado. O bairrismo é por Itabaiana.

Entenderam?

O aracajuano desconhe os prazeres e a doçura do bairrismo.

Antonio Samarone (médico sanitarista)

domingo, 24 de dezembro de 2023

CHÁS, TISANAS E INFUSÕES.


 Chás, tisanas e infusões...
(por Antonio Samarone)

A botica do dr. Flodualdo, ficava no segundo trecho da Monsenhor Constatino. A residência na Rua de Vitória. Era a Unidade Básica, dos moloeques do Beco Novo.

Um quarto sortido de remédios, em boa parte, manipulados pelo alquimista. Quem podia, pagava alguma coisa.

O dr. Flodualdo, um prático em farmácia, dominava os saberes ancestrais. Em uma pequena estante, lembro-me de uma Coleção de Várias Receitas, datada de 1766, e da famosa “Grande Farmacopeia Brasileira, de Chernoviz, em dois volumes.

Se dizia, que o dr. Flodualdo sabia fazer a Triaga Basilica, a maior descoberta dos jesuítas.

Na Botica de dr. Flodualdo existiam os medicamentos prontos, como os xaropes, tinturas, emplastos e unguentos. E os medicamentos magistrais, preparados conforme receita ou formula prescrita por médicos.

O dr. Flodualdo prescrevia os banhos terepêuticos..

Os banhos com certas ervas, eram de serventia indiscutíveis. Tantos os banhos gerais, como os pediluvios (lava pés), manilúvios e semicúpios (banhos de assentos).

Os banhos podiam ser frios, frescos, tépidos e quentes. Durante a Peste de Covid, os manilúvios voltaram a ser prescritos.

Os semicúpios frios aliviam as hemorróidas ardidas.

Os banhos de cinza quente, foram abandonados pelas dificuldades logísticas, apesar da eficácia, em certas doenças de pele. A cinza de charuto, era um santo remédio na tynea corporis (impinge).

Os banhos de sal grosso, para afastar os encostos e mazelas espirituias. Os banhos de rosa, para estimular a sensibilidade na lua de mel, prescrito com afrodisíaco.

Ainda hoje, quando bate a enxaqueca, stress, tédio, enfado, eu apelo para um belo banho. Quente, frio, ou alternado. Os resultados são evidentes.

O dr. Flodualdo preparava dois licores de jurubeba, um aperitivo e outro digestivo. O aperitivo tinha a fama de abrir o apetite. Esses, em não tinha acesso. Ele herdou os saberes jesuíticos.

A industria farmacêutica sepultou esses saberes, para infelicidade dos viventes e padecentes.

Antonio Samarone – Médico sanitarista.

sábado, 23 de dezembro de 2023

O PRIMEIRO ANIVERSÁRIO

 O Primeiro Aniversário.
(por Antonio Samarone).

Não esqueço a sexta feira, 14 de janeiro de 1966, quando fui pela primeira convidado para uma festa aniversário. Eu tinha 12 anos.

Em minha casa éramos muitos, não se comemorava essas datas. Mamãe mal lembrava a data de nascimento de cada filho.

Conhecia poucos aniversariantes e nunca constava em suas listas de convidados.

Eu era bolsita da Escola do Padre, um colégio pago. Desta feita, a professora Maria Perreira deu o recado: Dona Maria de Durval, convida todos voces para o aniversário de Melcíades. Houve uma dúvida: “os bolsistas também”? Também! Todos...

Bateu em mim uma grande curiosidade: O que é uma festa de aniversário? Vai ter salgadinhos para todos, pode se comer a vontade o que quiser, vai ter raspadinha, quebra-queixo, pipoca, rolete de cana, sorvete de coco, algoodão doce e cocada puxa?

Nunca tinha ido a um aniversário, não era convidado e não tinha vocação para penetra. Mamãe era rígida: não apareça onde não foi convidado. E assim eu me comportava. Mamãe me ensinava a ter vergonha e brio.

Com a surpresa desse convite, vinheram as dúvidas: e vão me deixar entrar? Eu digo o quê, na porta?

Foi fácil, a senha de entrada era simples: eu sou amigo de Melcíades. E era mesmo. Jogava em seu time de futebol: o Bahia de Melcíades. Quem não acreditar, eu tenho as fotos.

Melcíades Souza completava 9 anos. Era o menino mais rico da cidade. O pai, Durval do Açúcar, era um benemérito da molecada. Em dias de futebol, a gente ficava de olho no Beco Novo. Quando seu Durval apontava, terno de linho, sem gravata, fumando um Suerdieck, era a maior gritaria. Seu Durval está vindo! Viva!

Não sei de onde aparecia tanto moleque, um centena, todos mal vestidos, pés descalços, meninos vadios, que viviam soltos. Seu Durval, me bote, me bote, todos gritavam ao mesmo tempo. O Barão do Acúcar não fazia cara feia. Ordenava ao porteiro do velho Etelvino Mendonça: “deixe os meninos entrar e vá contando”. Não importava quantos. Seu Durval pagava para todos os carentes.

Seu Durval do Açúcar era a nossa festa! Seu Durval era um homem de bolso fundo, quando metia a mão, saia os bolos de dinheiro.

E quem me convida pela primeira vez para um aniversário? O filho de Durval do Açúcar!

Fui muito bem recebido. Dona Maria, a mãe de Melcíades, uma mulher alva, bem vestida, parecia uma rainha, me tratou como se eu fosse um Príncipe. Não perguntou quem eu era, filho de quem, morava onde. Nada. Fui tratado com fidalguia.

Mesmo assim, passei a festa acanhado. Mamãe me educou rigidamente. "Não avance em nada, não fique olhando para a comida, coma pouco e não demonstre gula. Não me faça passar vergonha."

Eram tantas as proibições, que eu fiquei atordoado, com medo de esquecer alguma. O mais dificil, foi disfarçar que não era marinheiro de primeira viagem.

O simbolismo desse convite (aos 12 anos) me marcou: eu passei a achar que tinha jeito, que o mundo, mesmo desigual, me cabia.

Depois, esperei mais sete anos para um segundo convite: aos 19 anos, fui convidado para o casamento de Zé de Nedo.

Que eu lembre, só!

Melcíades Souza, depois se tornou o maior talento de minha geração: arquiteto, pintor, músico, urbanista. A arquitetura de Itabaiana tem a marca de Melcíades. Aí, já é outra história. Depois eu conto.

Antonio Samarone. (médico sanitarista)

sexta-feira, 22 de dezembro de 2023

FELIZ NATAL


 Feliz Natal!
(por Antonio Samarone)

Eu sempre tive uma encrenca com as festas onde sou obrigado a ser feliz. O Natal é um exemplo. Todos: parentes, amigos e o povo em geral, nos desejam um feliz natal.

Não me alegro nem com os natais antigos, nem com nos atuais.

O natal comemorava o solstício de inverno, no hmesfierio Norte. Os romanos celebravam a chegada do inverno (solstício de inverno). Eles cultuavam o Deus Sol (natalis invicti Solis).

A Igreja Cristã romana aproveitou a tradição pagã e atribuiu a data, o aniversário do nascimento de Cristo. Escolheram o 25 de dezembro. Uma boa escolha.

O capitalismo trouxe o Natal de volta ao paganismo. O deus sol virou o deus mercado. Papai Noel foi a maior criação de marketing do planeta. Deu certo. O Natal tornou-se uma imposição universal de consumo. Ou quase universal.

Entenderam? A felicidade é o livre acesso ao consumo. O Natal é o Paraíso na Terra.

Não me alegro nem com o Natal cristão: presépios, missa do galo, roupa nova e ceia. Nem com Natal do mercado: Papai Noel, árvores, luizinhas de Led, bolas de vidros, presentes e ceia.

Parece que os presentes e as ceias são comuns aos dois. Muda o protagonista: Cristo ou Papai Noel.

Ví numa loja de santos para presentes, um Cristo vestido de Papai Noel. Deus me perdoe: uma heresia. Segundo a proprietária, vendeu bastante.

Quando posso, assisto a Missa do Galo do Vaticano, pela televisão. Gosto das missas cantadas em latim. Adorava o Papa João de Deus cantando o “Pater Noster”. O meu bom Francisco canta menos.

Tenho muita dificuldade em escolher presentes. Eu não desejo nada, fora da banal necessidade. Não tenho fantasias de consumo. Imagine, descobrir as fantasias alheias.

Herdei essa insensibilidade de mamãe, que era pragmática: “eu prefiro presente em dinheiro, que eu compro o que estiver precisando.”

Soube que o Banco Central vai criar o pix/presente, em forma de uma ordem de compra. Só vale para comprar presentes, não serve para pagar as prestações atrasadas, nem conta de água e luz. O capitalismo pensa em tudo.

Em minha infância, era comum se presentear os meninos com dinheiro. “Olha aqui as suas festas”, diziam os adultos. Essa moda continua nos condominios e bancas de feiras, tem sempre uma “caixinha”, esperando as “festas”.

Nada disso me alegra!

Os meus neurônios dopaminérgicos não respondem a esses estímulos. Acho os Natais muito previsíveis, uma alegria programada, sem novidades.

A felicidade é uma emoção que vem de surpresa e dura pouco. O Natal é mês inteiro de felicidade. Não consigo!

Antes eu ficava entediado, melhorei, hoje assisto a felicidade dos outros. Sem me meter. No Natal, nem fico alegre nem triste.

Participo dos rituais natalinos normalmente, como todo mundo.

Dou e recebo presentes, decoro a casa com luizinhas, que acendem e apagam de 33 formas e ritimos diferentes, tem um Papai Noel no Jardim, tomando sol e chuva, uma árvores de natal na sala e a ceia desse ano, será cheia de novidades.

Não estou botando defeitos no Natal, só não me traz a felicidade prescrita.

Sou mais feliz com as fogueiras de São João.

Antonio Samarone – Médico Sanitarista.

quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

ITABAIANA, CIDADE DOS MILAGRES (2)


 Itabaiana, cidade dos milagres (2).
(por Antonio Samarone)

No Brasil, a instituição igreja católica se enfraqueceu nos últimos anos. Itabaiana não fugiu a regra. Entretanto, a religiosidade não foi abalada. Pode ter mudado de foco.

Entre os católicos, as manifestações de devoção a Santa Dulce dos Pobres cresceu rapidamente. Não sei explicar. O fenomeno é visível. Estou constatando.

Em Itabaiaiana, a força de Santa Dulce é crescente.

Irmã Dulce faleceu em 1992. Foi canonizada em 2019, faz pouco tempo. Entretando, o primeiro milagre (2001), foi em Itabaiana. Esse milagre foi reconhecido pela Santa Sé, em 2003. O Papa era João Paulo II.

Talvez esse milagre tenha despertado a religiosidade ancestral do Itabaianense, centrada em torno dos milagres. Um milagre novo!

Por que o milagre foi em Itabaiana? Na visão religiosa, nada acontece por acaso. A força espiritual da religiosidade não é uma abstração.

No mesmo ano da santificação (2019), Itabaiana construiu o Oratório de Santa Dulce. Foi celebrada a primeira missa e realizada a primeira peregrinação: saindo da Maternidade São José até a Ermida da Santa.

Em 2019, iniciou-se o Movimento Campistas de Assis em Itabaiana. No momento, está em construção, numa reserva de Mata Atlântica na tríplice fronteira (Itabaiana, Moita Bonita e Malhador), uma estrutura de apoio aos acampamentos, locais adequados as orações.

Em breve, Itabaiana atrairá milhares de pessoas em busca da evangelização.

Eu fui conhecer o acampamento dos Campistas de Assis, para mim uma novidade. Uma estratégia de evangelização integrada à natureza. Os fiéis ficarão em barracas, nas matas proximas. São trilhas sagradas.

Em 2020, foi inaugurada em Itabaiana a Casa Santa Dulce. Eu também fui conhecer, para não falar por ouvir dizer.

A Casa acolhe 240 pessoas abandonadas. Gente estropiada pela vida. Essas pessoas levam uma vida digna, cumprindo a sua sina, acolhidas pela caridade.

Surgiu em Itabaiana, uma congregação leiga de devotos, denominada Missionários e Protetores de Santa Dulce. São eles, sempre em parceria, que tem assumido a coordenação da grande obra de caridade de Santa Dulce.

A Casa Santa Dulce em Itabaiana é mantida pelos devotos de boa vontade.

No Brasil, não existem instituições públicas para essa gente. Em Itabaiana não existe “morador de rua”, a caridade cristã acolheu. Eu vi!

Em 2021, foi aprovada a Lei estadual 8.917, transfromado Itabaiana na Capital do primeiro milagre. Os devotos fizeram a generalização: Itabaiana virou a cidade dos milagres.

Em 2022, inciou-se o projeto Sopa de Santa Dulce no Riacho Doce, uma parceria entre os Missionários e Protetores de Santa Dulce e Rotary Nova Geração. São distrubuídas cem cestas básicas.

Em 2023, surge a lojinha Santa Dulce do Riacho Doce, um bazar permante de vendas de imagens, amuletos e relicários da Santa.

Um fato importante, Santa Dulce foi entronizada co-padroeira da igreja de Santa Clara, uma joia arquiteônica de Melcíades.

Em 2023, ocorreu a segunda peregrinação até a Ermida, no pé da Serra de Itabaiana, nas proximidades do Parque dos Falcões. Essa foi gigante.

Não posso deixar de destacar o papel de um peregrino ilustre, um homem que conhece o mundo, familiarizado com o Caminho de Santiago, na Espanha. Esse itabaianense mora em Salvador, mas o coração permanece no pé da Serra.

Esse mesmo peregrino criou a trilha da fé (Salvador – Itabaiana), invistiu na infraestrutura cultural da cidade, com recursos próprios. Ele enxergou antes, a força da religiosidade em Itabaiana.

A hora é de somação.

Eu não citei os nomes dos coordenadores dessa cruzada de fé e caridade, em Itabaiana. Eles preferem o anonimato. Não querem holofotes.

Devo ter esquecido fatos importantes dessa trajetória de fé, que marcará a história de Itabaiana.

No Proximo sábado, 23 de dezembro, será celebrada uma missa no local onde será contruido o Complexo Missionário dos Protetores de Santa Dulce, no povoado Lagamar. Uma obra maravilhosa, que mudará a realidade da devoção na Região.

Um Complexo de Fé (eu já chamo de Santuário) gigantesco, num espaço de 60 mil m². Uma Santa Dulce de 70 metros, a maior do Brasil.

A obra cultural do Complexo, será coordenada pelo artista plástico Félix Sampaio, um nome internacional. Será uma oportunidade de integrarmos os artistas locais ao projeto.

Com o Complexo de fé, Itabaiana atrairá dezenas de milhares de fieis, em busca da salvação.

Deus me perdoe! Naturalmente, será criado um polo de atração turístico. Não se trata da exploração comercial da fé. É uma cosequência.

A realidade aponta para a criação de um novo polo de desenvovimento econômico em Itabaiana: O turismo religioso ambiental. Aqui entra o Poder Público, criando a infraestrutura necessária ao polo turistico.

O grupo político no poder em Itabaiana, enxerga com clareza essa realidade. Está pronto para fazer a sua parte.

A igreja católica está pronta para assumir essa caminhada de fé, caridade e devoção. O caminho apontado pelo Para Francisco.

O turismo religioso ambiental em Itabaiana, será um impulso ao crescimento do comércio. Criar-se-á novos empregos. Abre-se possibiliaddes de novos investimentos, em equipamentos necessários ao turismo.

Mais um milagre de Santa Dulce dos Pobres.

Antonio Samarone. Secretário de Cultura de Itabaiana.

terça-feira, 19 de dezembro de 2023

ITABAIANA, CIDADE DOS MILAGRES (1).


 Itabaiana, cidade dos milagres (1).
(por Antonio Samarone)

“Nada é mais difícil de suportar que uma sucessão de dias belos” - Gooethe

Os primeiros sesmeiros do Vale do Jacarecica (1606), trouxeram a imagem de Santo Antonio no bornal. Uma imagem de madeira, pequena. Antonio era o santo nacional em portugal.

Denomiram a comunidade fundada de Arraial de Santo Antonio.

Como se percebe, a religiosidade itabaianense é ancestral, acompanhou a alma dos primeiros colonos. A religiosidade é um arquetipo poderoso, um atributo do povo, passado de geração a geração, parte do inconsciente coletivo.

Religiosidade não se cria por decreto, para viabilizar um projeto de turismo. Não adianta montar toda uma infreestrutura, investir no marketing para atrair turistas, se a santidade a ser visitada não está na alma do povo.

A prosperidade de Asa Branca, pela beatificação interesseira de Roque Santeiro, só deu certo na novela de Dias Gomes. Os mais velhos ainda lembram.

Em Itabaiana, a religiosidade é visceral.

Santo Antonio é um taumaturgo franciscano. O Santo escolhido pelos primeiros colonos em Itabaiana, foi um milagreiro. Existem vários caminhos para se alcançar a santidade, o milagre é um deles.

O santo padroeiro poderia ter sido um mártir ou um doutor em teologia. Foi um milagreiro!

O homem pós moderno é um tolo, um avexado que não acredita em milagres, só cultiva o que pode ser abreviado. O homem abreviou até as narrativas. O seu milagre é o big data e a inteligência artificial.

A ciência confirma os milagres. São variações raras de eventos da natureza. São essas variações imprevisiveis (milagres), que possibilitaram a origem da vida e a evolução de Darwin. Tantos nas versões narradas pelas cosmogonias religiosas como nas científicas.

O milagre está previsto nas leis naturais. Quem estudou estatistica sabe, que certos eventos estão fora da curva normal.

Certas doenças o prognóstico é fatal, a pessoa evolui rapidamente para morte. A medicina sabe, não vende ilusões. Entretanto, em casos rarrísimos, o caminho contraria a medicina e o sujeito escapa daquela doença. É fato! Hipócrates sabia: “A vida é curta e a arte é longa, o julgamento é dificil (nem nunca, nem sempre) e a experiencia enganosa.” Nesta brecha entra o milagre.

Santo Antonio também foi uma proteção contra a heresia calvinista dos holandeses.

Segundo Serafim Leite, com os primeiros colonos em Itabaiana, além de Santo Antonio, chegaram três ordens religiosas: jesuítas, franciscanos e beneditinos.

A Ordem de São Bento (beneditinos) criou a “Irmandade das Santas Almas do Purgatório”, e comprou o sítio na Caatinga Ayres da Rocha, ao padre Sebastião Pedroso de Goes, para construir a Villa. O padroeiro dessa Irmandade é o Arcanjo São Miguel, que protege as almas, livrando-as do fogo eterno.

O lema da ordem de São Bento é “Ora e Labora”, ou seja, reza e trabalho.

Em 1581, os beneditinos chegaram ao Brasil. Antes deles, os jesuítas e os franciscanos estavam envolvidos no projeto da Santa Sé de catequização, conversão dos nativos e assistência espiritual dos colonos.

Quando o Arraial de Santo Antonio se transformou em Villa, foi denominada: “Villa de Santo Antonio e Almas de Itabaiana”. Um acordo entre os franciscanos (Santo Antonio) e os beneditinos (São Miguel), padroeiro da ordem de São Bento e protetor das almas.

Vamos facilitar a compreenção:

A criação da Villa de Santo Antonio e Almas de Itabaiana (1675), contemplou as duas Ordens Monásticas. Santo Antonio (o milagreiro) e Almas (referência a São Miguel). Itabaiana é a majestosa Serra, que ali já se econtrava.

A serra foi avistada por Américo Vespúcio, em 1501.

No altar principal da matriz de Itabaiana sempre existiu as duas imagens (Antonio e Miguel), lado a lado. E é assim até hoje.

A religiosidade acompanhou o primeiro português que por aqui chegou, para criar gado e depois plantar coentro e quiabo. Essa religiosidade é centrada na espera dos milagres do Santo protetor.

A religiosidade em Itabaiana é fortalecida pelos milagres. Herança de Santo Antonio.

Gente que perdeu o tempo e a oportunidade de se casar, por exemplo, voltava a ter esperanças no matrimônio, pela intervenção dos milagres do Santo. “Só casa por milagre”, ouvi muito esta sentença.

Eu cresci sabendo que poderíamos perder qualquer festa, menos a procissão de Santo Antonio. Os meus irmão são todos Antonio. Mamãe, nem pensava: nasceu filho homem, era Antonio! Lá em casa, somos quatro.

O glorioso Santo Antonio, protegeu muita gente e aliviou muitos sofrimestos. Em Itabaiana ele se tornou até o padroeiro dos motoristas. No resto do mundo é São Cristóvão.

No próximo texto, contarei a saga de Santa Dulce dos Pobres, em Itabaiana.

Antonio Samarone – Secretário Municipal de Cultura.

segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

O QUE HOUVE COM A BIENAL DE ITABAIANA?

 

O que houve com a Bienal de Itabaiana?
(por Antonio Samarone)

Esse ano não houve brilho. Não é crítica, apenas uma constatação.

A bienal de Itabaiana espantava o mundo cultural de Sergipe pela força, diversidade e riqueza dos seus artistas, poetas e escritores. Esse ano, as coisas murcharam.

A bienal desse ano ignorou a cultura de Itabaiana. Os palestrantes, a temática e os artistas quase todos de fora. Uma contradição: essa Bienal foi organizado pela Academia de Letras e deu as costas a própria Academia.

Não houve uma Bienal de Itabaiana, o que houve foi uma Bienal em Itabaiana.

A centralização, mesmo as bem intencionadas, é inimiga das manifestações culturais.

A Bienal de Itabaiana era um evento coletivo, uma manifestação espontânea de sua gente, dos seus estudantes, professores, escritores, poetas, cordelistas, cantores e músicos. Esse ano, eu soube, foi preciso trazer estudantes de fora, para não deixar os auditórios vazios.

Um palestrante ilustre, meu amigo, disse-me de forma peremptória: “Itabaiana vai ter dificuldade em recuperar o brilho da sua Bienal. Talvez, o erro desse ano pode ter sido fatal.”

Outro intelectual, profundo conhecedor da vida cultural de Itabaiana, justificou: “se não fosse assim, centralizada, a Bienal corria o risco de não acontecer. Por isso, todos os erros são perdoáveis. Na próxima, vamos consertá-los!"

Manifesto a minha preocupação como membro da Academia que organizou a Bienal, como itabaianense e Secretário de Cultura do Município. Não busco culpados, não é isso. Humildemente, espero somação, reflexão sobre o que deu errado, para não repetirmos na próxima Bienal.

Existe um esforço em mostrar ao mundo a força cultural de Itabaiana. Não somos fortes somente na economia, no comercio, nos caminhões, no futebol, no ouro, nas castanhas e na religiosidade. Também somos muito fortes na cultura.

A Bienal de Itabaiana não tem dono, nem padrinho. Não precisa de tutela.

A Bienal de Itabaiana é patrimonio imaterial dos ceboleiros. Viva a nossa Bienal.

Antonio Samarone – Secretário de Cultura de Itabaiana.

domingo, 17 de dezembro de 2023

GENTE SERGIPANA


 Gente Sergipana.
(Por Antonio Samarone).

O cardiologista Lauro Fontes pertence a antiga legião dos médicos humanistas, que cuida dos doentes. Os atuais médicos de mercado, voltam-se para as doenças. Quem não entender a diferença, vai ficar assim, o espaço aqui é pequeno para explicar.

Lauro Fontes é um fidalgo de origem e de formação. Por parte do pai, é um Martins Fontes; por parte de mãe, descende dos senhores do açúcar de Rosário do Catete.

Lauro Fontes é um poeta bissexto.

O seu livro de memórias é uma boa surpesa. Lauro fala de quase tudo, dos medos, das vitórias, das derrotas, das brigas familaires. Um escrita leve e profunda.

As memórias de Lauro Fontes, tem passagens de pura literatura:

“O meu avô era um homem de poucas palavras, não beijava os netos, mas se alegrava muito quando chegávamos à sua casa. Sempre sentado em uma cadeira de balanço, calças arregaçadas, permitindo ver nas suas pernas as sequelas da erisipela, isto porque ele tinha muitas varízes.”

Lauro Fontes nasceu no Aracaju, na Rua São Cristóvão.

Lauro, em suas memórias, não esconde a violência do pai. Após uma queda do menino Lauro, cabeça sangrando, o pai aponta uma arma para a sua cabeça: “Pare de chorar! Pare de chorar! “Eu, todo urinado de medo e dor, silenciei. Ô Amélia, ponha borra de cefé na cabeça dele. Disse ele a minhã mãe.”

“Nesta mesma casa, em uma noite de terror, por motivos irrelevantes, por volta das 20 horas, iniciou-se uma discussão entre meus pais e, em seguida, veio o pior: meu pai começou a agredir a minha mãe com socos e tapas...”

Lauro, foi várias vezes espancado pelo pai, por motivos fúteis. Porém, não se transformou em um homem violento, pelo contrário, é uma pessoa doce, gentil e atenciosa.

As memórias de Lauro Fontes trata do cotidiano, das relação familiares, da escola, dos desejos dos meninos daquele tempo. Isso foi ontem, mas quanta diferença. Os meninos de hoje são cheios de vontades.

Lauro na infância, como os meninos daquele tempo, criava passarinhos. Criar é eufemismo, prendía os pássaros.

Constatei que os briquedos e as traquinagens de Lauro eram os mesmos dos meninos do Beco Novo, onde vivi até os 15 anos.

Em 1968, Lauro Fontes foi reprovado no vestibular. Um choque que mudou a sua vida. Os estudos viraram uma obsseção. Passou no ano seguinte.

No livro de memórias, ele conta em detalhes a sua primeira aula na faculdade. Eu já puxei pela memória, e não faço a menor ideia da minha primeira aula na faculdade. Lembro-me da primeira aula no abc.

Lauro conta os olhares, os pensamentos, os sonhos do seu primeiro encontro com Angêla Marinho Barreto, com quem casou. Angêla foi minha colega de turma na faculdade.

No final dessa primeira parte de sua memória, Lauro perdoa o pai, entende as circunstancias.

O livro acabou! Como acabou?

Eu li na esperança de conhecer a vida de Lauro na familia Barreto, a vida profissional, as aventuras da vida adulta, e quem sabe, até as reflexões atuais.

Lauro, já existe o tomo II e eu desconheço? Passe-me com urgencia. Se não existe, trate de escrevê-lo. Quero conhecer a sua visão da medicina, em sua clínica diária.

Antonio Samarone (médico sanitarista)

sábado, 16 de dezembro de 2023

DOENTE NÃO TEM O QUE QUERER.


 Doente não tem o que querer...
(por Antonio Samarone)

Ao aproximar-me dos setenta, oscilo entre duas sentenças: a velhice como a melhor idade ou como um naufrágio. Eu, por enquanto gosto, mas vejo o naufrágio se aproximando. O mar é cada vez mais revolto.

Na teoria, existe um direito do doente. Qualquer intervenção médica precisa da autorização do enfermo. Conversa fiada! O idoso perde a autonomia naturalmente. Quando adoeçe, a dependência é absoluta.

Em boa parte, a velhice é um retorno a infância. Quando eu resistia ao óleo de rinse, mamãe, com a chinela na mão, alertava: “menino não tem o que querer, tape o nariz e tome, de um gole.”

Descubro agora, o velho também não tem o que querer. Diante da diabetes a impotência é avassaladora.

Se não bastasse o sofrimento da diabetes, as redes sociais estão infestadas de saídas milagrosas para quase tudo. Por onde anda a vigilância sanitária, que permite? Um charlatão, disfarçado de terapeuta natural, garantiu no You Tube, que visgo de jaca é um santo remédio para a diabetes.

Antes de submeter-me as restriçoes, tentei saídas milagrosas: leite de manga verde, em jejum, suco de giló, ao amanhecer, casca de abacaxi, azeite de castanha e caroço de manjelão. A última que me ensinaram: leite de dromedário com limão siciliano.

Caí na risada. Em minha infância existia o abc dos animais. Cada letra, um bicho. E o “D” era de dromedário. Não sei se esse primo do camelo ainda existe, nem onde adquirir o seu leite. Soube que na China vende.

O diabetes se alastrou, resutado da transição alimentar dos últimos 50 anos, com a imposição dos alimentos industrializados e processados. Somos uma geração de gordos. O meu pâncreas abriu o bico, não suportou a demanda.

O diabetes é o preço!

Como em qualquer doença, a convivencia com a diabetes impõe pesadas restrições. A renúncia à gula e aos prazeres da mesa é um tormento. Tem mais, precisamos abrir mão do sagrado sedentarismo, de passar o dia tomando fresca numa rede.

A gula era o último pecado capital disponível aos velhos. Nem isso.

O meu prato preferido é arroz com galinha de capoeira. Nem isso. Ontem, em meu aniversário, comi a galinha com salada. Imagine.

Tomar diariamente insulina no bucho, cria a ilusão que estamos resolvendo a mazela.

A diabetes é um câncer silencioso, destroi o corpo por dentro, aos poucos. Na verdade, é uma vasculite, afeta os vasos sanguineos. Como o corpo não funciona sem o sangue, os órgão vão sucumbindo um a um, sem ordem prévia e sem regras.

Claro, estou tentando tomar as medidas para cumprir as restriçoes. Não é fácil! Não adianta pressão. Cada um tem o seu tempo.

 
Aviso aos que torcem contra: seja qual for o resultado, a minha sensação é que tudo já deu certo.

Antonio Samarone – Médico sanitarista.

sexta-feira, 15 de dezembro de 2023

O POETA E DRAMATURGO HUNALD


 O poeta e dramaturgo Hunald...
(por Antonio Samarone)

Um colega médico, parteiro aposentado, me fez uma pergunta de sopetão: hoje, a sua alma vibra mais em Itabaiana ou em Aracaju?

Fiquei dúvidas. São coisas diferentes. Itabaiana me pariu e amamentou, vivi a minha mocidade; Aracaju, me acolheu e formatou, me deu cidadania.

Existe uma diferença de gênero. Itabaiana é feminina, vem da Serra, dize-se a Itabaiana; Aracaju é masculina, vem do Riacho, na Colina do Santo Antonio, dize-se o Aracaju. É o que está nas certidões de nascimentos.

Eu cheguei no Aracaju em 1974, para estudar. Fui me enturmando. Representei o povo, no Parlamento municipal. O que me honrou.

Para relembrar a década de 1970, em Aracaju, eu desencavetei a “Morte no Estúario”, do poeta Hunald. Um livro profundo sobre o cotidiano dos anos de chumbo, no Aracaju.

Os dedos duros, os lambe botas, a célula comunista do Cacique=Chá, as pescarias de Mazze Lucas e as poesias de hunald.

Tudo meio “luscus/fuscus”, onde todos os gatos eram pardos.

Hunald é um poeta de versos avermelhados. Esse livro tem um estilo antigo, anterior a linguegem do WhatsApp. Os parágrafos são longos, a narrativa não tem verdades antecipadas, o diálogo flui sem querer chegar a lugar nenhum. Aparentemente.

Hunald ensaiou com o Mestre Euclídes uma peça de Guerra: “A minha rainha é republicana/ oi sergipana que te deu rima fui eu/ quem vai mais eu assubir a serra/ O Treme-Terra sou eu.”. Zé Culote, um samango do Mosqueiro, alertou ao poeta sobre os riscos de prisão.

O poeta caiu na obscura clandestinidade. Por uns dias...

O livro do poeta Hunald, Morte no Estuário, é claro sobre os medos, sonhos, dúvidas do dia a dia, de uma cidade cheirando a Província. Hunald era exemplo, para a juventude subversiva, recém chegada da Aldeia, deslumbrada com a Capital.

O texto do Poeta é saboroso:

“A tarde não sabia que caminhava. O piano não sabia que tocava. O vento não sabia quer soprava. E o rio, o rio não sabia que nadava. Dêem esta ausente consciencia às coisas e estarão mortas. Somente o homem sabe ser portador do seu silencio. E aí é que germina a sua pergunta: por que caminho?”

Nunca soube como me aproximar. Não conheço a sua obra, em profundidade. Mas lembrava-me da Morte no Estuário. Uma mapa psicologico da década de 1970. Com as partidas de Hunald, Araripe e Santos Souza a poesia em Sergipe encolheu. Como poeta assumido, de carteirinha, sobrou Jozailto. E outros que eu não conheço.

Sobre a década de 1970, em Aracaju: todos podiam ser comunistas.

Lembro-me que denunciaram até um desembargador papa hóstias, responsabilizado-o de comandar os programas de educação de base, da Rádio Cultura. Eram as ideias de Paulo Freire.

Findei a leitura na mesma dúvida que iniciei. Onde a minha alma vibra mais? O importante é que continua vibrando!

Saudades do poeta Hunald.

quinta-feira, 14 de dezembro de 2023

ESTAMOS COM OS PÉS SOBRE AS MINAS. (Pensar Itabaiana (8)


 Estamos com os pés sobre as Minas...
(por Antonio Samarone)

O mapa das Minas de Prata da Serra de Itabaiana, de Melchior Dias Caramuru, foi encontrado numa catacumba da Igreja Velha. Um pescador local, por conta própria, começou a cavar nas redondezas, buscando minhocas, e econtrou um baú recheado de novidades.

No Baú tinha os documentos já publicados por Vladimir Carvalho e uma cópia surrada do mapa das minas de prata da Serra de Itabaiana, de Melchior Caramuru.

Em cartas manunscritas, do governador de Pernambuco Dom Luiz de Souza, está assinalado:

"Partirão da Bahia os dous governadores com Melchior Dias, que os levou direito á serra de Itabayana". Itabaiana! Era pois aí a serra encantada? Sim, era, aí, em Itabaiana, a famosa serra da prata! "

"Chegando a Itabayana disse Melchior Dias aos governadores que Suas Senhorias estavam com os pés sobre as minas. “Estavam com os pés sobre as minas!”

"Faltava agora, e tão-somente, que o Caramuru indicasse a lombada onde deveriam roncar os alviões. Um gesto do sertanista, um simples gesto - e eis afinal desvendadas as jazidas de prata.”

Só que o Caramuro morreu sem entregar o mapa das minas, queria receber primeiro as honrarias.

De nada adiantou esconder o mapa, agora ele foi achado pelo pescador tucudo.

O Mapa está em péssimas condições. Escrito em latim vulgar e com os traços geográficos apagados. Resolvemos entregá-lo a um célebre historiador da Mangabeira, o que de melhor temos por aqui.

A Serra de Itabaiana mudou pouco geográficamente, nos últimos 500 anos. Entretanto, um Decreto do Presidente Lula, de 15 de junho de 2005, transformou a Serra no Parque Nacional Serra de Itabaiana.

O Parque Nacional Serra de Itabaiana tem o objetivo básico de preservar os ecossistemas naturais existentes, possibilitando a realização de pesquisas científicas e o desenvolvimento de atividades de educação ambiental e de turismo ecológico.

Entenderam, pelo decreto, o Parque Nacional Serra de Itabaiana visa promomover o Turismo ecológico.

Ainda não fizeram as desapropriações, e eu nem sei se precisa. Uma vasta reserva de mata atlántica já foi restaurada espontanemente.

O decreto, em seu artigo 5º, determina: Fica estabelecido prazo de cinco anos, a partir da data de publicação, para elaboração do Plano de Manejo do Parque Nacional Serra de Itabaiana.

Eu não sei dizer se esse plano de manejo já existe. Se não, vamos fazê-lo. O importante é que o decreto pensou no turismo ambiental. Não creio que o Governo Federal seja obstáculo, pelo contrário, será um parceiro importante.

A decifração do mapa da mina de Belchior Caramuru tem sido surpreendente. O mapa aponta profeticamente um futuro turístico para a Serra. Essa é a verdadeira Mina.

Nas entrelinhas do mapa, o historiador patricio descobriu o Parque dos Falcões e um Pulmão, que pode ser um futuro Jardim Botânico. Uma curiosidade: o mapa refere-se a um mosntro de ferro, supostamente um moderno teleférico.

O que mais assusta é a atualidade do mapa de Belchior Caramuru. Existem sinais claros de religiosidade espalhados pelo mapa. Por coincidência, os Missionários e Protetores de Santa Dulce, vão construir no pé da Serra, um imenso complexo religioso, em devoção a Santa dos Pobres.

Já existe uma Ermida da Santa, no pé da Serra.

Existem no mapa indícios da presença de um carneiro de ouro derretido, que virou lenda. Como o povo tem a memória curta, segundo políticos, esta lenda está quase esquecida. Entre o fato e a lenda, publique-se a lenda.

Eu vou aguardar que o insigne historiador da Mangabeira conclua, para eu não botar o carro na frente dos bois.

Creio que o mapa da minas de Belchior Dias Morreia (neto de Caramuru), pode apontar coisas boas para o futuro de Itabaiana.

Eis a Serra encantada, pronta para o turismo religioso ambiental.

Antonio Samarone – Secretário da Cultura de Itabaiana.

quarta-feira, 13 de dezembro de 2023

QUEM FOI MURILO BRAGA?

Quem foi Murilo Braga?
(por Antonio Samarone)

O meu amigo Wagner Bravo, pertence a uma pequena legião dos que pensam com originalidade. Apesar do nome, é um manso, daqueles previstos nos evangelhos, que dominarão a Terra.

Wagner, professa uma ironia inteligente.

Wagner disse-me por telefone: “Eu gosto tanto de alguns textos seu, que fico em dúvida se é você mesmo quem escreve.” Eita! Foi uma crítica ou um elogio? Eu adorei.

Wagner, por curiosidade, me fez uma pergunta: quem foi esse Murilo Braga? Talvez seja o nome pessoal de um Colégio, mais conhecido em Sergipe. O Colégio formou várias gerações. Quem foi o famaso Murilo Braga. (foto)

Itabaiana tem a mania, não sei porquê, de nomear os seus logradouros com nomes nacionais pomposos. Nomes que nunca ouviram falar em Itabaiana, nem fizeram nada pela cidade.

As ruas mais antigas de Itabaiana, que já foram: rua das Flores, do Sol, do Cisco, da Vitória, do Canto Escuro, do Cacete Armado, o Beco dos Lírios, entre outros nomes poéticos, passaram a receber os nomes do Barão do Rio Branco, Marechal Deodoro, Floriano Peixoto, Quintino Bocaiauva.

Seja lá quem tenha sido, pega bem dizer: Eu moro na Avenida Quintino Bocaiuva. Valoriza até os imóveis.

Nomeamos uma praça central em Itabaiana, de João Pessoa, um personagem histórico secundário, até na Paraíba. E se não bastasse, chamamos o nosso campo de futebol de Garrastazu Médice. Felizmente trocamos, hoje é Etelvino Mendonça.

Etelvino Mendonça foi quem levou a primeira bola para Itabaiana, goleiro do primeiro time da cidade e, como Intendente, mandou murar o campo de futebol, no Tabuleiro dos Caboclos.

E por que o Colegio de Itabaiana se chamou Murilo Braga?

Murilo Braga de Carvalho nasceu em Luzilândia, no Piauí, em 08 de dezembro de 1912. Foi Diretor-Geral do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (Inep), órgão do Ministério da Cultura, de 13 de fevereiro de 1946 a 28 de abril de 1952. Um burocrata de carreira, a quem coube, espalhar escolas rurais pelo País.

A Escola Normal Rural Murilo Braga, em Itabaiana, fundada em 29 de novembro de 1949, foi uma dessas escolas Rurais. A chegada do curso ginasial, iniciou o desenvolvimento de Itabaiana.

Murilo Braga faleceu tragicamente em 1952, em acidente áereo. O avião “President” da Pan Am, caiu na Selva e corpo do educador passou 20 dias para ser resgatado, gerando uma comoção nacional.

Murilo Braga foi mais famoso pela morte que pela vida.

Entretando, não lembrei de nenhum nome de educador sergipano, injustiçado, por não ter sido escolhido para nomear a Escola Rural e Normal de Itabaiana.

A decisão de levar o Ginásio para Itabaiana, foi do Governador José Rollemberg Leite, em seu primeiro Governo (1947 – 1951).

Itabaiana deve esse reconhecimento.

Antonio Samarone – Secretário de Cultura de Itabaiana.
 

terça-feira, 12 de dezembro de 2023

PENSAR ITABAIANA (7)


 Pensar Itabaiana (7).
Por Antonio Samarone

O caminho para o desenvolvimento em Itabaiana, no inicio do Século XXI, passou por mudanças políticas em Itabaiana. Como veremos mais abaixo.

Em setembro de 2001, o jovem empreendedor Jamyson Machado, inaugurou o Portal Itnet. Criado inicialmente como um portal de notícias e provedor de internet, foi um grande passo tecnólogico para a Itabaiana, transformado-se depois em um moderno sistema de comunicação.

Itabaiana criou uma Bienal do Livro e fundou a sua Academia de Letras. São consequências da chegada do Ginásio Murilo Braga, em 1950. A Bienal está em sua sétima edição e acontecerá no próximo nesse final de semana.

Em abril de 2013, a Incorporadora Ethos, do arquiteto Edson Passos, inaugurou o Residencial Chiara Lubich, uma revolução na política urbana e habitacional em Itabaiana.

Somente em 2013, a politica em Itabaiana iniciou uma mudança estrutural. Valmir dos Santos Costa, Valmir de Francisquinho, chegou à Prefeitura de Itabaiana.

Foi o fim da velha política, centrada no mando e no clientelismo. Pela primeira vez, o poder político voltou-se para o desenvolvimento, em parceria com os interesses da sociedade civil e da economia local.

Em 2014, foi sancionada a lei 13.044, que dá a cidade de Itabaiana o título de Capital Nacional do Caminhão. A Feira anual do caminoneiro, se tornou um evento empresarial importante.

Em junho de 2017, começou a Funcionar o Shopping Peixoto, empreendeminto de Messias, por sua conta e risco. Não foram as grandes redes nacionais, como em Aracaju.

Em 2018, o Assaí, rede nacional de atacadistas, começou a funcionar em Itabaiana. Não pensem que está sozinho, quatro empresas atacadistas locais fazem a concorrência, em pé de igualdade.

A gestão voltou-se para as questões urbanas, o embelezamento da cidade, o apoio ao nascente mercado imobiloiário. A cidade expandiu-se em direção a modernidade.

A nova Itabaiana, nasceu dessa junção do poder politico com o empreendedorismo imobiliário criativo.

Um fato histórico: a participação do poder público estadual no desenvolvimento de Itabaiana tem sido reduzida, com exceção, para as duas primeiras gestões de João Alves Filho.

Mesmo quando a intenção é boa, as iniciativas não funcionam. Por exemplo: não precisava de grandes estudos para descobrir que Itabaiana precisa de um CEASA. Poi é, o Estado contruiu um, más até hoje não funciana. O CEASA de Itabaiana virou um palco de festas.

Na atualidade, desconheço qualquer iniciativa estadual em Itabaiana. desculpe-me, ia esquecendo: soube que estão trocando o gramado do Eltevino Mendonça, com o risco de não ficar pronto em 2024. Parece, que o Itabaiana pode disputar a Copa do Nordeste no Batistão, para contrariedade da sua apaixonada torcida.

Os resultados do crescimento de Itabaiana estão expressos no Censo de 2023.

Em setembro de 2023, Itabaiana possuia uma frota de 71.928 veículos. Para faciltar a comparação, Lagarto possuia no mesmo período, 57.131 veiculos registrados e Estância 30.339 veiculos.

Em Itabaiana, 70% da população é motorizada; na Capital, Aracaju, esse mesmo indice é apenas 56%. Claro, isso é uma média, pois tem gente que possui mais de veiculo.

Claro, esse é um indicador importante de prosperidade.

Em setembro de 2023, em Itabaiana, a frota era de 3.594 caminhões.

Uma curiosidade: os recenceadores do IBGE encontraram 11 pessoas com mais de cem anos, em Itabaiana, dois homens e nove mulheres. Quem são?

Um crescimento populacional surpreendente. Itabaiana tornou-se a maior cidade do Interior e um polo metropolitano de desenvolvimento.

Voltando a política.

A vitória de Valmir de Francisquinho nas eleições de 2022 (anulada no Tapetão), foi a vitória desse projeto de desenvolvimento em Itabaiana, testado e aprovado.

O discurso eleitoral de Valmir foi centrado em suas duas gestões na Prefeitura de Itabaiana. “Eu fiz em Itabaiana e vou fazer no Estado”, dizia Valmir. A população do Estado reconhecia a força de Itabaiana e acreditou em Valmir. Não eram promessas vazias.

Não foi um discurso abstrato, ideológico. Foi uma esperança prática. A prova, é que Valmir foi votado na mesma proporção nos divergentes eleitorados de Lula e de Bolsonaro.

Os desavisados se perderam nas análises. O fenomeno eleitoral de Valmir de Francisquinho, era visto como inexplicável.

Os conhecedores da política sergipana, diziam embasbacados: Como, um projeto político gestado no interior, será vitorioso?

Sozinho, contra toda a política dominante, contra o status quo, sem o apoio da grande imprensa, dos demais poderes e nem do poder econômico.

Daremos um jeito! E o jeito foi dado.

O resultado do Censo de 2023, como vimos acima, atestou que o modelo de desenvolvimento de Itabaiana tinha dado certo.

Entretanto, esse modelo tem limites. A economia local não prospera isolada. O crescimento do comércio de Itabaiana precisa de novos aportes de investimento, de dinheiro novo e do crescimento do mercador consumidor.

Itabaiana precisa planejar novos caminhos de desenvolvimento sustentável, para continuar crescendo.

Quais são esses caminhos? São essas respostas que precisamos encontrar. O atual grupo político em Itabaiana, liderado por Valmir de Francisquinho, entende a importancia dessa questão. O Prefeito Adailton Souza, está antenado com o futuro de Itabaiana.

Itabaiana vibra e prospera. A cidade é punjante. Só que não podemos nos embriagar com as aparências. Ìtabaiana precisa construi novos caminhos, novas alternativas de desenvolvimento.

Para onde vamos? Que Itabaiana queremos construir?

Antonio Samarone – Secretário Municipal de Cultura.

PENSAR ITABAIANA (6)


 Pensar Itabaiaana (6).
Por Antonio Samarone.

No final do século XX (1980 – 2000), Itabaiana manteve o ritmo de transformação de uma sociedade mercantil pujante. A população urbana passou de 5.746 habitantes em 1950, para 55.472 no ano 2.000, ou seja, um crescimento de 10 vezes.

Em 1989, ocorreu uma mudança política. Luciano Bispo de Lima chegou a Prefeitura, pondo fim a uma hegemonia de 22 anos, da antiga UDN, sob o comando de Francisco Teles de Mendonça (Chico de Miguel).

Trocou-se seis por meia dúzia. A política continuou cuidando da política, de costa para a Sociedade. A economia continuou a crescer por conta própria, com reduzida contribuição dos líderes políticos. Nesse período, em Itabaiana, economia e a política seguiam lógicas e objetivos distintos.

Itabaiana passava por dificuldades na área de segurança. A fama de cidade violenta continuava.

O sucesso comercial de Itabaiana era visto com desconfiança pelo resto do Estado. Atribuia-se as ilegalidades com o fisco e até ao envolvimento com outras irregularidades. O certo é que Itabaiana continuava crescendo, mesmo sem o apoio dos líderes políticos da época.

Nem a chegada do PT, em 1981, mudou alguma coisa na política local. A célula do PT em Itabaiana, recebeu o batismo de Lula, que fez um discurso no cinema Popular (o fundado por Zeca Mesquita.

Ninguém imaginava na época, que aquele metalúrgico barbudo se transformaria no atual estadista.

Mesmo morando em Minas Gerais, nas férias, eu frequentei a casa do ilustre e culto professor José Costa, quartel general da nossa romântica subversão. Vibrei, com a adeão de Scala, um trabalhador da limpeza pública. Finalmente, deixavamos de ser, em Itabaiana, apenas um Partido de estudantes.

O conceituado historiador itabaianense José de Almeida Bispo, foi o primeiro Presidente do Diretório Municipal do PT, em Itabaiana.

Em agosto de 1987, Itabaiana ganhou a Radio Capital do Agreste.

Em Março de 1987, entraram em operação os projetos de irrigação Jacarecica I e o da Ribeira, intensificando a produção de hortliças e melhorando a qualidade de vida da Zona Rural, em Itabaiana.

Novos empresários se destacavam em Itabaiana: Josias e Messias Peixoto, Conceição da Lindolar, Zé Carlos de Zé de Dona, Beleléu, Edson Passos, Luis Bispo, Edivaldo, Cunha, Fábio Moura, Ricardo Passos, Nailze Bispo, Irami Almeida, Fefi e Milton. Devo ter esquecido de muita gente.

Em fevereiro de 1992, o empresário José Carlos Machado, fundou a Rádio FM Itabaiana, um impulso poderoso ao desenvolvimento de Itabaiana.

Nesse período, as minha lembranças pessoais são escassas. Fui estudar fora. Vaguei por este País em busca do conhecimento.

Voltei, depois de 49 anos, para ajudar a Cultura de Itabaiana.

Em 1997, Itabaiana vira referência de boa comida: a Churrascaria de Pirata começa funcionar.

Voltaremos, com o incio do Século XXI, no próximo texto da série Pensar Itabaiana.

Antonio Samarone – Secretário da Cultura de Itabaiana.

domingo, 10 de dezembro de 2023

NATAL, QUE NATAL?


 Natal, que Natal?
(por Antonio Samarone)

Fui à abertura do Natal em Itabaiana. A Praça da Igreja estava lotada, em torno da árvore de Natal e da iluminação de Led. Muitas luzinhas. Ficou bonito.

O povo gosta de folia. Muitos velhos e algumas crianças. Não vi os jovens. Por onde andam? Será se eles sabem que é Natal. Existem festas na vida virtual da Internet? Não sei.

Na Praça, estava o povo em carne e osso, para ouvir os dobrados da centenária Filarmônica.

Uma surpresa: encontrei Zé de Dalina.

Em Itabaiana tínhamos uma meia dúzia de doidos de estimação, Zé era um deles. Gente, Zé de Dalina está vivo, talvez seja o último. As doenças mentais já são outras, não existem mais os doidinhos.

Só Zé Dalina sobreviveu. Estropiado, cadeirante, faltando um perna, esquecido! Zé de Dalina, não lembra mais nem da idade. Deve beirar aos cem anos.

A beleza é que Zé de Dalina abriu um sorriso, quando a velha banda de música começou a tocar. Em Itabaiana o povo tem orgulho da sua Filarmônica. Vibra e aplaude os acordes do maestro Valtênio.

A boa música é popular em Itabaiana. Eu vi o povo aplaudindo-a.

Fiz uma viagem aos Natais do passado, da Praça de Santa Cruz. Não me lembro de quando as feirinhas de Natal, passaram para a atual Praça de Eventos. Acho que nem existem mais.

O Natal era um tempo de roupas novas!

Os meninos guardavam dinheiro durante o ano, em cofres de barro, para esperdiçar nos brinquedos da festa de Natal. As barcas do pai de José Costa, a onda de Zelito, o balanço de Seu Olavo, o pai de Carrasco; e o trivolí de Miguel Fagundes.

Eu achava uma glória pungar no trivolí, quando ele já estava nas últimas voltas. Quase parando. Os meninos iam nos cavalinhos e as meninas nas cadeiras. Não pegava bem as meninas escanchadas nos cavalos.

Hoje, o Natal é um visual luminoso que o povo assiste. Não se brinca mais. Onde estão as bancas de jogo de baralho, os bingos de goiabada e a banca do preá? Onde estão as maças do amor, o algodão doce, o quebra queixo de seu Oscar, a pipoca de seu Carlos, o rolete enfiado na taquara, a raspadinha, a gasosa e os sorvetes nas caixas de isopô?

Luzinhas coloridas de Led, não enchem barriga!

Acabaram até o serviço de autofalante, que tocava boleros e mandávamos mensagens para as paqueras. “Fulano de Tal, oferece a alguém, apaixonadamente, essa gravação.” E tome os boleros de Silvinho e Núbia Lafayete.

Eu ouvi falar em Papai Noel, aos 14 anos. Ele um desconhecido no Beco Novo. No Natal, era obrigatória a missa do galo, depois a feirinha. A minha ansiedade era que a missa acabasse logo.

Mamãe nunca soube que existia ceia de Natal, em casa.

Na feirinha, depois da meia noite, quando sobrava um dinheirinho, íamos comer arroz com galinha de capoeira, vendido em pequenas bancas, depois do Bar de Dedé Cachaça.

A galinha era cozida ali mesmo, em tachos de cobre, comprados aos ciganos.

Servia-se um prato feito, cheiroso, suculento, enxarcado com a graxa das penosas e coberto com a farinha da Matapoã ou das Flechas.

Comia-se em pé. Eu não sabia usar garfo e faca, comia com uma colher funda.

Neste ano, já encomendei esse arroz com galinha, com o mesmo tempero, o mesmo cheiro e o mesmo sabor das antigas festas de Natal, da Praça de Santa Cruz. Dona Joelma, uma chefe de cozinha das Queimadas, me garantiu que sabe fazer.

A minha ceia era esse arroz com galinha, das bancas do meio da feiras de Natal. Ainda salivo, só com as lembranças.

Feliz Natal, novos e antigos, os de Led e os de gambiarra.

Antonio Samarone – Secretário de Cultura de Itabaiana.

sábado, 9 de dezembro de 2023

PENSAR ITABAIANA (5)

 

 

 

Pensar Itabaiana (5) - (por Antonio Samarone)

A década de 1970, foi o tempo da ascensão do futebol em Itabaiana. Em 07 de março de 1971, foi inaugurado o Estadio Presidente Médice.

Inciamos a caminhada para o Penta campeonato sergipano. Em 24 de novembro de 1971, o tricolor serrano empatou com Ferroviário-CE em 1 a 1 e tornou-se Campeão do Nordeste, o único título nacional do futebol sergipano.

O futebol de Itabaiana mostrava a Sergipe, a força do crescimento da sua economia. Entretanto, sem a ousadia de Zé Queiroz, nada teria acontecido. O futebol sergipano era um jogo de cartas marcadas. As arbritagem eram parciais. As dificuladades para o futebol do interior eram imensas.

Zé Queiroz enfrentou, montou grandes times, trouxe juiz padrão FIFA para as decisões, contratou Valed Perry, assessor jurídico da CBF, pintou e bordou.

A força de Itabaiana se mostrava com o futebol. Na política, nada, estadualmente, sempre subalternos. Era clara a dicotomia: fortes na economia, fracos na política. Foi assim até 2012, com a chegada de Valmir de Francisquinho à prefeitura de Itabaiana.

A Copa do Mundo de 1970, eu assisti na porta da casa de Zé Madorna, do lado de fora, onde já existia televisão colorida.

Em 1963, foi fundada a Associação Comercial  de Itabaiana e, em 1969, chegou o Rotary. A civilidade urbana estava chegando, junto ao capital mercantil.

Naquela época, quem era bem sucedido no comércio, comprava uma fazenda no Sertão, para criar gado na solta, sem maiores tecnologias. Para ser rico, precisa ser fazendeiro. O pequeno comércio não dava esse status.

E os grandes do comércio tinham saído de Itabaiana: Mamede e Pedro Paes Mendonça, Gentil e Noel Barbosa, Oviedo Teixeira e Albino Silva da Fonseca. Empresários fortes que permaneceram em Itabaiana nessa época, lembro-me de Arrojado, Joazinho Tavares, Durval do Açúcar, Zezé Benvenuto, Miguelzinho Peixoto e Totó.  

Na década de 1970, iniciou-se a mudança do perfil agrícola de Itabaiana. Culturas tradicionais como o algodão, milho, feijão e mandioca começam a desaparecer. Itabaiana assumiu a sua vocação pela produção de hortaliças. Somos a capital brasileira do coentro. Os baianos sabem disso.

Um fato esquecido na década de 1970, mas que definiu a vida de muito estudante pobre. O curso cíentífico (atual 2º grau), acabava de chegar a Itabaiana (1969), um esforço de José Augusto Machado, o filho de Zé da Manteiga. Antes, quem terminava o ginásio e não tinha condiçoes financeiras de ir estudar em Aracaju, interrompia os estudos.

Eu me salvei. Entrei no científico do Murilo Braga em 1971. Os professores eram os estudantes universitários de Itabaiana: Arnaldo Fominha, Manteiguinha, Zé Costa, Edgar, Guga e tantos outros que agora eu não estou lembrando. Eu trabalhava pelo dia, no armazém de cereais de João Francisco da Cunha (Niu), e pela noite, lutava pela cidadania, enfiando a cara nos estudos.

Em 1974, passei no vestibular (segundo colocado em odontologia), e no ano seguinte, passei de novo, dessa vez em medicina. Foi um assombro para muitos. Ouvi na bodega de Belisário: o filho de Elpídio da Rua do Fato, passou em medicina. Boa parte, não acreditou. Um tia, morreu sem aceitar. Ela dizia onde chegava: “Quem já viu, um filho de pataqueiro vai ser médico.” (sem cota)

Na década de 1970, o comercio de Itabaiana continuva crescendo e os caminhões aumentando. A política local no mesmo rame/rame. O mesmo clientelismo e as mesmas paixões políticas. Nada de novo, a disputa continuava entre abelhas X mangangás (pebas X cabaús).

A cidade se desenvolvia pelo competencia da sociedade cívil: caminhoneiros, comerciantes e (agora) os estudantes universitários. Eramos os filhos do ginásio público. Lotamos a UFS, em todos os cursos e em todas as turmas.

O Reitor da UFS (1976 – 1980) Aloíso Campos, me disse certa vez, ao pé do ouvido: “os itabaianenses são diferenciados.” Eu acreditei.

Em 1978, foi inaugurada a Radio Princesa da Serra, dando um alavancada no desenvolvimento de Itabaiana. Mais uma iniciativa de Zé Queiroz. Esse fato precisa ser estudado.

Antonio Samarone – Secretário da Cultura de Itabaiana.