sábado, 29 de junho de 2019

UMA BREVE HISTORIA DA EPILEPSIA




Uma Breve História da Epilepsia (por Antônio Samarone)

No cristianismo medieval, epilépticos eram rejeitados e temidos, sob a suspeita de estarem endemoniados. Na Grécia antiga a epilepsia era chamada de morbus sacer (doença sagrada). Na Idade Média virou o morbus demoniacus (doença do demônio). O epiléptico possuí três santos protetores: São Valentino, São Sebastião e São Vito. A leitura do evangelho era recomendada durante as crises da doença. Era vista como uma doença contagiosa.

Hipócrates rejeitava qualquer explicação sobrenatural das doenças. A epilepsia era um transtorno humoral, uma flutuação na produção de fleugma pela pituíta, que se encontra na base do cérebro. A epilepsia era um bloqueio fluídico dos ventrículos. A explicação de Hipócrates foi reforçada por Galeno e permaneceu aceita até o final da Idade Moderna.

Paracelso (1493 – 1541) foi o primeiro a contestar a explicação humoral.

Na Idade Média a epilepsia era vista como uma punição condigna de algum pecado ou falta terrível. O médico suíço Tissot afirmava que a epilepsia era consequência do vicio solitário, da masturbação.

A Bíblia relata a cura de dois epilépticos, vistos como exorcismo de um demônio. “Um espírito apoderou-se dele e ele incontinenti chorou; e foi rasgado pelo espírito que, espumando, abandonou o corpo infantil” (Lucas 9:39) e “Mestre, eu trouxe ante Ti meu filho, que tem um espírito ensandecido e que dele se apossou, o dilacerou e o fez espumar e ranger os dentes e o atormenta” (Marcos 9:14 – 29).

A epilepsia já foi associada a genialidade. Vários heróis foram epilépticos: Alexandre Magno, Petrarca, Maomé, Pedro, o grande, Napoleão Bonaparte e Júlio César. A mitologização dos gênios epilépticos foi intensa: Buffon, Flaubert, Dostoievski, Helmholtz e Van Gogh.

Dostoievski escreveu sobre a sua experiencia com a aura extática, um evento raro em epilépticos do lobo frontal, com momentos de êxtase antes das convulsões e atenção convergindo para temas transcendentais como Deus e a morte. Dostoievski atribuía a sua doença à sentença de prisão e ao exílio na Sibéria.

Cesare Lombroso (1836 – 1909) apontava a conexão da epilepsia com o crime. “Anormalidades atávicas nos crânios dos condenados e degenerados demonstravam a ligação do crime com a epilepsia, considerada uma doença atávica.”
    
No início do século XIX a epilepsia ainda estava sob os cuidados dos alienistas.”. Dizia Esquirol: “quatro quintos dos meus pacientes epilépticos são afetados por mania, demência, fúria, idiotia e desordem de caráter. A epilepsia quando associada a insanidade nunca melhora.”

Nos manicômios do século XIX os epilépticos eram agrupados com os insanos. Esquirol quis separá-los com receio do contágio.

Morel (1860) acreditava existir uma epilepsia mascarada, sem convulsões, chegou a definir um caráter epiléptico. O individuo seria pegajoso, obsequioso, imprevisível, super religioso, irritável e vingativo.

A obsessão da medicina era encontrar uma lesão anatômica que pudesse explicar as doenças. No final do século XIX, a epilepsia já tinha se tornado uma doença neurológica. A correlação entre lesões cerebrais e convulsões da epilepsia foi estabelecida. Eram alterações no cérebro produzindo descargas elétricas irregulares.

Jean Martin Charcot, em seu “Lês Démoniques dans l’ Art (1887), tentou demonstrar, aqueles que antigamente foram considerados místicos, profetas, possuídos pelo demônio, eram portadores de doenças neurológicas, como epilepsia e histeria.

A epilepsia continua uma doença grave. Entretanto, a medicina já sistematizou os sintomas clínicos, a natureza foi esclarecida, a medicação é efetiva e seus efeitos podem ser controlados. A maioria dos epilépticos participam normalmente da vida social. Os estigmas estão desaparecendo.

Por outro lado, não teremos mais Dostoievskis...

Antônio Samarone.
Fonte principal: Berrios & Porter

quinta-feira, 27 de junho de 2019

O LIBERALISMO EM SERGIPE



O Liberalismo em Sergipe. (por Antônio Samarone)

A novidade da última eleição foi o surgimento de um eleitorado de direita, na verdade, de extrema direita. Uma das características desse eleitorado é a pouca experiencia na política. São ideologicamente noviços. Gente alheia as lides políticas. Sempre tiveram os seus interesses garantidos, sem precisar envolver-se nas disputas.

Surgiu uma militância de direita, visível nas redes sociais e em manifestações de rua. Como consequência, surgiram outros líderes no campo conservador. Políticos defendendo teses, doutrinas, professando ideologias, pregando o novo.  Antes, a força da direita tradicional estava no poder econômico, no prestígio familiar e pessoal e nas estruturas de poder (na máquina). Os novos líderes precisaram acrescentar um discurso ideológico.

Em Sergipe, um dos novos, é um médio empresário que entrou na política com um discurso econômico liberal, muitos dados na cabeça, boa capacidade de comunicação e a certeza de que ele é o verdadeiro novo. Ele parece acreditar no que prega e se acha a solução. O mundo empresarial de Aracaju está encantado.

O que prega o novo líder liberal?

São ideias simplificadas do liberalismo econômico, da crença na mão invisível do mercado, no estado mínimo, no darwinismo social, e na gestão empresarial do que sobrar do público. Ele repete por onde anda, como se fosse uma verdade bíblica: - “não existe almoço grátis”! Nada de políticas sociais como direito, equânimes, universais e gratuitas. Quem paga essa conta, ele pergunta!

A tese é reduzir os impostos, entregar saúde, educação, meio-ambiente, abastecimento, mobilidade, habitação e saneamento ao mercado. A solução é o livre mercado, a privatização! Quem quiser ter acesso a assistência médica que procure os planos de saúde. Aqui ele dá um exemplo: “o SUS é municipalizado, mas a prefeitura fez um plano de saúde, no IPES, para os seus funcionários. Ou seja, mesmo quem presta o serviço público não quer usá-lo.”

A questão parece simples, transformar a prefeitura numa grande empresa gerida com a lógica do mercado. Uma gestão moderna e inteligente. Diz o novo líder: “é mais barato conceder um bolsa de estudos aos meninos pobres para que eles se matriculem numa escola particular, do que manter uma onerosa rede municipal de ensino.”

Do mesmo modo, continua o novo líder, torna-se mais em conta contratar um plano de saúde para os necessitados, do que manter uma rede pública de assistência médica. “O poder público pode até continuar com as vacinas, matando mosquito, distribuindo camisinha, cuidando da tuberculose e da lepra, pois não acredito que essas atividades interessem a livre iniciativa”.   

“Está na hora da indústria da construção civil assumir diretamente o comando da política de habitação e urbanismo da cidade, sem intermediários, sem melindres.” O que é bom para a cidade? A resposta é técnica, afirma o novo líder.

O novo líder liberal adverte: “sou um liberal na economia, não confundir com liberal nos costumes!”
Quando se pergunta onde essa gestão empresarial da vida pública deu certo, e o que fazer com quem não pode pagar o tal almoço, as respostas não são claras.

O discurso é que a política é nociva, passível de corrupção e demagógica. A nova política não é política, entenderam? A definição de prioridades é tarefa dos técnicos, de quem entende. Por exemplo: a escola que queremos é a “sem partidos”, afirma ele de boca cheia.

Os analistas políticos em Aracaju o apontam como candidato à prefeitura, por um partido novo, com essa nova política.

O desempenho do novo líder não passou despercebido em Brasília. Existem rumores que ele em breve ocupará um cargo federal em Sergipe, indicado pelo novo governo Bolsonaro. Uma questão de justiça!

Antônio Samarone.  

sábado, 22 de junho de 2019

GENTE SERGIPANA - DURVAL PRADO



Gente Sergipana - Durval Prado (1905-1968).

Nascido em Capela, Sergipe, foi óptico até se formar em Medicina aos 31 anos, em 1934, pela FMUSP. Livre docente em 1942, recebeu também o Prêmio Moura Brasil pelo seu trabalho “Noções de óptica, refração ocular e adaptação de óculos”. Professor de oftalmologia da USP. Doutor em 1934, e livre docente em 1940.

O sergipano Durval Prado, professor, livre docente de clínica oftalmológica da Universidade de Medicina de São Paulo (USP), e diretor clínico de oftalmologia da Santa Casa de Misericórdia.

Em 1942, Durval Prado publicou “Noções de óptica, refração ocular e adaptação de óculos”. Um clássico, da literatura médica. Foi o primeiro livro escrito no Brasil, dedicado exclusivamente à refração clínica, receituário de óculos e lentes de contato, até hoje sucessivamente reeditado.

Durval Prado, faleceu em 1968.

Antônio Samarone.

Esse verbete está incompleto. Se familiares ou amigos tiverem mais informações sobre Durval Prado, repasse-me, para o necessário registro.

sexta-feira, 21 de junho de 2019

A INDÚSTRIA DA CARNE E A SAÚDE PÚBLICA


A Indústria da Carne e a Saúde Pública. (por Antônio Samarone)

Ao longo da história a humanidade domesticou trinta espécies de gado e criou uma incrível variedade de raças. A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) já documentou cerca de oito mil raças.

Por outro lado, a produção industrial intensiva desenvolveu algumas raças, geneticamente modificadas, visando maximizar a produção e as características úteis do ponto de vista comercial, como o crescimento rápido, o aproveitamento eficiente da forragem e o maior rendimento.

O resultado dessa estratégia: raças de alto desempenho geneticamente padronizadas, que demandam forragens ricas em proteínas, produtos farmacêuticos caros e instalações climatizadas para sobreviver. Um ataque a biodiversidade!

O porco criado em Itabaiana por pequenos sitiantes é um clone produzido nos USA, que em três meses já está pronto para o abate. Quatro empresas no mundo cobrem dois terços do total da pesquisa e do desenvolvimento de suínos e bovinos no mundo. Dirá o leitor menos atento: que bom, só assim teremos mais carne para o consumo.

Ocorre que a baixa diversidade genética das raças comerciais aumenta a sua vulnerabilidade a pragas e doenças. Por isso, os produtores empregam grandes quantidades de fármacos (antibióticos e hormônios), tanto para evitar doenças como para promover o rápido crescimento do animal. Os porcos que recebem antibióticos precisam de 10 a 15% menos alimentos para atingir o peso de mercado.

Nos Estados Unidos, a produção pecuária consumiu 13 mil toneladas de antibióticos em 2009, o que representa quase 80% de todos os antibióticos utilizados no país. As pesquisas apontam esse uso industrial dos antibióticos como o principal responsável pelo aumento da resistência bacteriana. Segundo a OMS, atualmente são administrados mais antibióticos a animais saudáveis do que a humanos doentes. Assim nascem as superbactérias.

Os pesticidas e herbicidas despejados sobre as culturas e pastagens deixam vestígios na carne, no leite e nos ovos. No Brasil, o herbicida glifosato (Roundup) da Monsanto é usado largamente na produção de soja. Além de afetar a biodiversidade, contaminar a água, o glifosato modifica o sistema hormonal humano é teratogênico e cancerígeno. Esse crescimento da incidência das neoplasias não decorre unicamente do envelhecimento.

Portanto, a carne plastificada dos supermercados, embaladas à vácuo a -4 graus, esterilizadas, mantidas artificialmente vermelhas, distribuídas pela indústria da carne representam elevados riscos para a saúde pública, bem maiores que os matadouros, marchantes e a comercialização em feiras livre.

Não se trata de “achismos” ou opinião pessoal. Os detalhes, as pesquisas, a fundamentação podem ser encontradas no “Atlas da Carne”, da Fundação Heinrich Böll. http://actbr.org.br/uploads/arquivo/1123_atlasdacarne.pdf

Antônio Samarone.


quarta-feira, 19 de junho de 2019

Gente Sergipana - Mestrinho do Acordeom


Gente Sergipana - Mestrinho do Acordeom.
Cantor, compositor, sanfoneiro, produtor e arranjador.
Uma reencarnação artística de Sivuca (e Dominguinhos - juntos). Mandaram Sivuca de volta, com o endereço: entregar em Itabaiana, e não botaram o CEP. Resultado, o Correio Divino entregou em Itabaiana Grande, de Sergipe. Como se sabe, Sivuca era de Itabaiana da Paraíba. Os ceboleiros agradecem.
Edivaldo Junior Alves de Oliveira (o Mestrinho) nasceu em 18 de Dezembro de 1988, em Itabaiana, de Sergipe. Neto de tocador de oito baixos (Manezinho do Carira) e filho de um grande artista e sanfoneiro (Erivaldo de Carira).
Eita, irmão do sanfoneiro Erivaldinho e da cantora Thaís Nogueira. E a mãe adorava sanfona. Ainda aparece gente dizendo que “Sergipe não é o país do forró”.
Obras de Mestrinho: Além do céu e mar, Aperto de mão, Arribação, Chamego bom, Entre nós e Imprevisivelmente. Deve ter mais, que eu não sei...
Antônio Samarone.

sexta-feira, 14 de junho de 2019

A NOVA ÁGUA BENTA


A Nova Água Benta. (por Antônio Samarone)

A água benta é um dos sacramentais mais populares da igreja católica. A água benta era colocada nas entradas das igrejas para nos persignarmos, numa pia gótica, onde o cristão tinha acesso a duas ou três gotas, contadas, para fazer o sinal da cruz na testa. Eu pensava que vinha de Roma e que a água era benzida pelo Papa.

Mamãe sempre guardou um frasquinho com água benta em casa. Nunca se sabe, o satanás é traiçoeiro. Ela nunca revelou onde conseguia, era segredo.

A água benta simboliza o suor de Nosso Senhor Jesus Cristo no horto e o preciosíssimo sangue que molhou seu rosto, na agonia.

Para que serve a água benta?

Afugenta o satanás; apaga os pecados veniais; dissemina sombras, nuvens, fantasias e astúcias diabólicas; acaba com as distrações da oração; nos aproxima das graças do Espírito Santo; e nos Infunde a virtude da benção divina.

Ontem, na Colina de Santo Antônio, percebi uma grande mudança. O benzimento da água é feito ali mesmo, em grandes baldes plásticos. E a água benta passou a ser aspergida sobre os fiéis, com uma trincha, num barrufo santo.

Eu gostei, além das virtudes sacramentais, a água benta passou a refrescar o rebanho. Me aproximei para aproveitar os respingos. Pensei comigo, se duas gotas apagam os pecados veniais, imagine um banho, deve apagar até os pecados mortais. Percebi que os demônios saíram de perto.

Antônio Samarone.

terça-feira, 11 de junho de 2019

GENTE SERGIPANA - ANÍSIO DÁRIO (PITI)


Gente Sergipana – Anísio Dário Rabelo Lucas (Piti) (69 anos).
(por Antônio Samarone)

Piti nasceu em 23/07/1950, na Rua das Flores, em Itabaiana. Filho de Dona Helena Rabelo e do D. Renato Mazze Lucas. A mãe é do Carira, filha do primeiro Prefeito da cidade, gente de educação refinada; o pai, um médico comunista, contista, pescador, psiquiatra e clínico.

Anísio Dário recebeu esse nome em homenagem a um negro operário, comunista, assassinado pelo Governo de Sergipe, na Rua João Pessoa, em 1947. Piti teve três irmãos: Wladimir (falecido), Tania e Raimundo.

Em tempos sombrios, Anísio Dário passou a ser chamado de Piti, para não despertar a atenção. Piti viveu em Itabaiana até os cinco anos, quando o pai se mudou para Aracaju.

Piti estudou em escola pública. Iniciou no Colégio Tobias Barreto e concluiu no Atheneu Sergipense. Formou-se em odontologia pela UFS, em 1982.

Foi dentista do IPES e pelo estado, trabalhou no Parque dos Faróis, Sobrado, Lavandeira e na Mussuca. Trabalhou também em Neópolis, Ilha das Flores, Brejo Grande e Propriá. Nunca deixou de atender quem estava na fila. Passava do horário, e Piti, sempre com um sorriso no rosto, atendia quem precisasse. Um dentista de alma fraterna.

Foi apaixonado pelo Clube Sportivo Sergipe, daqueles que acompanha a charanga, quando o time ganha.
   
Piti foi casado com Maria Auxiliadora, e deixou dois filhos: Wladimir e Ludmilla.  

O irmão, Mundinho, resumiu com precisão quem foi Piti (Anísio Dário):

“O irreverente. O brincalhão. O de bem com a vida. Nos deixou. Deus levou-o para animar os momentos de felicidades do Céu.”

“Torcedor do Clube Sportivo Sergipe. Torcedor do Vasco da Gama. Dentista sem horário para atender a todos, principalmente os mais humildes. Fica a saudade, dos irmãos, de sua mãe e dos muitos amigos que ele soube fazer.”

“Descanse em paz e que o bom Deus o tenha em um bom lugar.”

Antônio Samarone.

segunda-feira, 10 de junho de 2019

JARDIM BOTÂNICO EM ITABAIANA


Jardim Botânico em Itabaiana.

Com o brilho da exposição de Burle Marx no Jardim Botânico de Nova Iorque o tema me voltou a mente. Por que não existe jardim botânico em Sergipe? No mundo temos 1700 jardins botânicos e no Brasil são 36 registrados. Existem outros: jardins botânicos municipais, de universidades, particulares não registrados, mas que cumprem os seus objetivos. Em Sergipe temos um Parque Nacional, que ainda não saiu do papel, um horto abandonado e algumas reservas. Aracaju já possuiu um horto florestal.

O primeiro jardim botânico no Brasil foi criado por Maurício de Nassau, em Pernambuco. Nassau trouxe o cientista alemão George Marcgrave, em 1636, para coletar espécies nativas. Os resultados foram publicados na “História Naturalis Brasiliae”, em 1648.

Em 13 de junho de 1808, no dia do seu aniversário, Dom João VI, criou o Jardim Botânico Rio de Janeiro. Em 1996 passou a Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, hoje considerado como o mais importante do país.

Em 1809, ao invadir a Guiana Francesa, Dom João VI trouxe como despojos espécies frutíferas como: abacateiro, caramboleira, fruta-pão, jambeiro, jaqueira, lichieiro, nogueira-moscada e tamarindeiro.

Andei procurando alguns Prefeitos, inclusive o de Aracaju, para apresentar a proposta de criação de um jardim botânico em Sergipe. Até agora, sem sucesso. Um deles chegou a ironizar: mas o que é mesmo jardim botânico? Fazendo um esforço para não o mandar à merda, disse-lhe: excelência, a resolução nº 339 do CONAMA, normatiza o funcionamento do Jardim Botânico. Esse mesmo político teve o deboche de me perguntar: venha cá, você acha que jardim botânico dar voto?

O Jardim Botânico é uma área constituída por coleções de plantas vivas cientificamente reconhecidas, organizadas, documentadas e identificadas, com a finalidade de estudo, pesquisa e documentação do patrimônio florístico do País, acessível ao público, servindo à educação, à cultura, ao lazer e à conservação do meio ambiente.

Num esforço de convencimento, apelo para com o argumento que um jardim botânico poderia proteger espécies silvestres, ou raras, ou ameaçadas de extinção, especialmente no âmbito local e regional, bem como resguardar espécies econômica e ecologicamente importantes para a restauração ou reabilitação de ecossistemas. Várias espécies das nossas restingas estão ameaçadas.

Ontem surgiu uma luz. Estava passeando no povoado Agrovila, em Itabaiana, e encontrei o Prefeito Valmir de Francisquinho e puxei conversa. Ele começou a falar que Itabaiana possui 74 povoados, dos quais, 24 já possuem pavimentação (asfalto ou paralelepípedo), saneamento e água encanada. É um avanço.

Eu ponderei da necessidade de obras duradouras na esfera cultural e do meio ambiente. E falei sobre o Jardim Botânico. Ele me ouviu e, pelo brilho dos olhos, tenho certeza que ele entendeu tudo. Espero que ele avalie, pense e tome essa decisão acertada.

Antônio Samarone.    

sábado, 8 de junho de 2019

A VIOLÊNCIA NO TRÂNSITO


A Violência no Trânsito. (por Antônio Samarone)

A cada quinze minutos morre um brasileiro e quatro ficam com sequelas definitivas, em decorrência dos acidentes de trânsito. Em 2017, foram 36.429 mortes.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) iniciou um esforço mundial para reduzir essa epidemia, e apontou cinco medidas básicas de prevenção, embasadas cientificamente, para reverter o quadro da mortalidade: redução da velocidade; utilização adequada de capacete por motociclistas; uso de cadeirinha para criança; combate ao uso de bebidas alcoólicas e direção; uso do cinto de segurança.

Impressionante a estupidez do Governo Brasileiro, das cinco medidas preventivas recomendadas pela OMS, ele atacou três medidas frontalmente e uma quarta secundariamente. Só não mexeu até agora na obrigatoriedade do uso do cinto de segurança. Acho que esqueceu...

Elimina os radares, liberando a velocidade; desobriga as cadeirinhas, deixando ao cargo dos pais; permite o uso de capacete inadequado, sem viseira. Não mexe na proibição do álcool, porém libera o uso de arrebite e outras drogas pelos caminhoneiros. Parece sacanagem!

A partir de 2015, com a obrigatoriedade dos exames toxicológicos para a renovação da CNH dos motoristas profissionais, houve uma redução no uso de substâncias psicoativas pelos caminhoneiros e uma queda do número de acidentes. Isso ele acaba!

Os estudos apontam que as cadeirinhas reduzem em até 80% as chances das crianças de até sete anos, morrerem em um acidente de trânsito. Será se disseram isso ao Presidente?

Na “indústria de multa” só é punido quem comete infração. Se a pessoa obedece a velocidade prevista para a via sinalizada, qual o incomodo dos radares? É a mesma coisa que ficar incomodado com as câmaras antifurto dos supermercados.

Quando Aracaju limitou a velocidade máxima a 60 km/h, houve reações. Um radialista atacava diariamente os 60 km. Hoje os benefícios são reais. Os atropelamentos foram reduzidos em 47%. São evidências indiscutíveis.

Achar que a impunidade ficará impune é ilusão. O preço cobrado à sociedade será a superlotação dos setores de traumatologia nos hospitais de urgência. As principais vítimas serão os mais frágeis: pedestres, ciclistas, motoqueiros...

Se existisse uma indústria de multas como fala o Presidente, teríamos uma forma civilizada de enfrentá-la: deixar de cometer infrações. Sem infração não haveria multa. A indústria fecharia suas portas em pouco tempo e decretaria falência, com zero de arrecadação.

Portanto, favorecer a impunidade agrava a insegurança no trânsito. Um retrocesso do processo civilizatório que só beneficia os infratores contumazes.

Antônio Samarone.

sexta-feira, 7 de junho de 2019

A VIOLÊNCIA EM SERGIPE (dados oficiais)



A Violência em Sergipe (dados oficiais)
(Por Antônio Samarone)

O Ministério da Saúde acaba de publicar dos dados sobre homicídios de 2017, coletados dos “atestados de óbitos”. Existem outras fontes. Os índices de homicídios são bons indicadores de violência.

Se matou muito em Sergipe nos últimos cinco anos (2013 – 2017). Foram 6.143 pessoas assassinadas, em torno de quatro por dia, em média. É uma guerra! Por que essa chacina é escondida, pouco vista, secundarizada?

Quem está sendo assassinado?

Talvez aqui se encontre a resposta para a indiferença. Em 2017, das 1.313 pessoas assassinadas em Sergipe: 1.232 eram negros e 79 brancos. Se mata seletivamente. São dados oficiais.

Outra informação publicada: dos 1.313 assassinatos em 2107 em Sergipe, 767 eram jovens (15 – 29 anos). Entre os jovens mortos, 728 eram homens e 77 mulheres. Numa análise rápida. Estamos matando negros, jovens, do sexo masculino. Isso é um genocídio contra os jovens negros. O racismo brasileiro avançou para a eliminação física.

Para o Brasil, transcrevo os dados do IPEA:

“Em 2017, 75,5% das vítimas de homicídios foram indivíduos negros (definidos aqui como a soma de indivíduos pretos ou pardos, segundo a classificação do IBGE, utilizada também pelo SIM), sendo que a taxa de homicídios por 100 mil negros foi de 43,1, ao passo que a taxa de não negros (brancos, amarelos e indígenas) foi de 16,0. Ou seja, proporcionalmente às respectivas populações, para cada indivíduo não negro que sofreu homicídio em 2017, aproximadamente, 2,7 negros foram mortos.

O genocídio contra os jovens negros em Sergipe está bem acima da média nacional.

A publicação oficial está neste link, para quem quiser conferir e tirar outras conclusões: http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/relatorio_institucional/190605_atlas_da_violencia_2019.pdf

Antonio Samarone.

quinta-feira, 6 de junho de 2019

GENTE SERGIPANA - MAX ROLLEMBERG


Gente Sergipana – Max Rollemberg (70 anos).
(por Antônio Samarone)

O primeiro médico só oftalmologista em Sergipe. Antes a oftalmologia e otorrinolaringologia eram especialidades casadas, andavam juntas.

Max é de Aracaju, nascido à 02 de julho de 1949. Filho do comerciante Zé Rico e Dona Célia Rollemberg Góis. Tem seis irmão. O pai foi o proprietário da Dernier Cri. Magazin, sofisticada loja de modas em Aracaju, em meados do século XX.

Max estudou no Educandário Menino Jesus, das tias do Eduardo Vital (Helena, Iracema e Corália), aprendeu francês com Eduardo Vital. Aprendeu de sair falando. Um padrão de ensino de primeiro mundo. Depois passou pelo Jackson de Figueiredo e terminou no glorioso Atheneu Sergipense.

Sergipe é uma terra de oftalmologistas famosos. Começando por Abreu Fialho, pai da oftalmologia nacional, Edilberto Campos, Durval Prado, Lauro Porto, Álvaro Santana, Juliano Simões e Edson Brasil. Sem esquecer de Antônio Militão de Bragança.

Não há dúvidas, o Dr. Bragança cuidou mesmo do olho cego de Lampião, em Laranjeiras. Max Rollemberg ouviu de Juliano Simões. O Dr. Francisco Rollemberg confirmou ter escutado essa mesma história da mãe, que era afilhada do Dr. Militão de Bragança.

Max Rollemberg entrou na faculdade de medicina de Sergipe em 1967 e formou-se em 1972. Max foi o primeiro excedente no vestibular, existiam 20 vagas, ele foi o 21º. O Dr. Antônio Garcia foi a Brasília, e conseguiu mais dez vagas. O curso de medicina passou para 30 vagas.

Durante a vida estudantil teve uma passagem curiosa. O combativo Centro Acadêmico Augusto Leite, indicou como delegados da medicina de Sergipe ao histórico Congresso de Ibiúna, Átalo Crispim de Souza, José Alves Nascimento e Max Rollemberg. Os dois primeiros tinham militância estudantil de esquerda, e Max? Ele brinca: eu era da esquerda festiva.

Muito tempo depois, em 1989, ele foi convidado para fazer um curso na URSS. Ele acredita que o fato de ter o nome da lista de Ibiúna, pode ter pesado no convite.

Max especializou-se no Rio de Janeiro, na Sociedade Brasileira de Medicina e Cirurgia. Fez concurso, e se tornou professor de oftalmologia em 1974. Fui seu aluno.

Max Rollemberg, um homem de fino trato, é o proprietário do primeiro Hospital de olhos de Sergipe. Fundou o Banco de Olhos de Sergipe.

Max é casado com Dona Diva desde 1976, e pai de três filhos: Max, Leila e Érica.

Max Rollemberg foi o fundador da nova oftalmologia em Sergipe, da modernidade tecnológica.

Antônio Samarone.

sábado, 1 de junho de 2019

CIÊNCIA CENSURADA


A ciência censurada. (por Antônio Samarone)

Eu recebi o relatório completo da pesquisa sobre drogas da Fiocruz, censurada pelo obscuro ministro osmar terra. Governos ditatoriais, costumam discordar das ciências quando os resultados contrariam os seus interesses.

A história registra um caso clássico:

As ciências biológicas sofreram na União Soviética. O comissário para a ciência, camarada Trofim Lysenko, por razões ideológicas, negava as leis da hereditariedade, descobertas pelo monge agostiniano checo Gregor Mendel. As leis de Mendel não se enquadravam no materialismo dialético.

O ministro osmar terra é o novo Lysenko.

O que incomodou ao ministro politiqueiro foi que a pesquisa apontou o álcool (droga lícita), que paga impostos, faz propaganda na TV e financia eventos, como o maior problema da saúde pública:

“A prevalência do uso de bebidas alcoólica em 30 dias, na população brasileira entre 12 e 65 anos, foi de 30,1% - o que representa aproximadamente 46 milhões de habitantes.” É muita “cachaça” por mês...

“Aproximadamente 2,3 milhões de pessoas entre 12 e 65 anos apresentaram dependência de álcool nos 12 meses anteriores à pesquisa. É importante ressaltar que 119 mil dependentes eram adolescentes de 12 a 17 anos.”

O que o ministro não esperava é a existência de mais alcoólatras que maconheiros.

A pesquisa comparou as consequências (acidente de trânsito, violências e lesões acidentais) entre os que usam o álcool e os que usam as drogas ilícitas (maconha, cocaína, crack, LSD...). Os resultados apontaram o álcool como o principal vilão.

O ministro osmar terra não se conforma com os resultados da prevalência do uso de drogas ilícitas (conforme a tabela postada). O ministro acredita na existência de uma epidemia de usuários, o que não foi confirmado pela pesquisa.

Recentemente o próprio presidente Bolsonaro criticou os dados do IBGE sobre o desemprego.
Passa a valer a vontade dos poderosos.

Antônio Samarone.