quinta-feira, 7 de agosto de 2025

AS RUAS DOS SÉCULOS

As Ruas dos Séculos.
(por Antonio Samarone)

Na Bíblia, Deus concedeu ao homem o poder de nomear os seres viventes; “As¬sim o homem deu nomes a todos os rebanhos domésticos, às aves do céu e a todos os animais selvagens.” Gênesis 2;20.

O homem queria mais. Passou a denominar tudo, o que via e o que não via. Essa nomeação reflete o seu modo e filosofia de vida. Os portugueses, no início da colonização, botavam o nome do Santo do dia, no que ia encontrando pela frente. O que escapou, ficou com os nomes indígenas.

Em Itabaiana, os nomes dos logradouros públicos, ruas, praças e avenidas, refletem épocas distintas do seu desenvolvimento, com os seus valores culturais.

A Villa de Itabaiana, até o século XIX, rural, bucólica, com o coração ligado a terra, denominava poeticamente as suas ruas. No fundo da igreja despontava a rua do Sol. Paralelas à ibérica praça da igreja, as ruas das Flores e da Vitória; ao fundo, a rua do Cisco. A Praça de Santa Cruz. A rua do Futuro, o Canto Escuro, o Beco Novo, as Ruas do Fato, Nova, Pedreira, Macambira, Becos do Cemitério e do Ouvidor.

O ancestral Tabuleiro dos Caboclos.

As ruas do baixo meretrício, no domínio da economia agrária, denominam-se: ruas do Pinto, do Ovo, e a insuspeita rua do Cacete Armado.

Com o desenvolvimento da Cidade (século XX), em sua fase mercantil, as ruas centrais de Itabaiana passaram a receber nomes de militares, políticos locais e figurões nacionais. Rua Coronel Sebrão, Barão do Rio Branco, Praça João Pessoa, General Valadão, Marechal Floriano, Marechal Deodoro, General Siqueira, Batista Itajay, Antonio Dutra, Capitão José Ferreira, General Calazans, Capitão Mendes.

Até um Grumete (soldado raso da Marinha), Alcides Cavalcante, deu nome a uma rua importante, em Itabaiana. O auge dessa fase militar, foi denominar o campo de futebol, de Estádio General Garrastazu Médici.

Entre os nomes consagrados de ruas, do século XX, a que eu não vejo o menor cabimento é a Praça João Pessoa. Que os paraibanos me perdoem, ser o nome da capital da Paraíba já era suficiente. Eu só chamo de Praça de Santa Cruz. Me lembro das festas de natal; do Guilhermino Bezerra, recém-deformado; da bomba de gasolina de João Marcelo e do obelisco da Apolo 11, construído pelo Prefeito Vicente de Belo.

No século XXI, com o crescimento populacional, desenvolvimento econômico, modernização urbana, riqueza, luzes e cultura, os nomes das ruas em Itabaiana mudaram:

Praças Villa Lobos, Oscar Niemeyer, Avenida João Paulo II, Rua Jorge Americano, Maestro Antonio Melo, professora Maria da Conceição, Sebrão Sobrinho, Quintino de Lacerda, José Mesquita da Silveira (Zeca Mesquita), Rua Augusto Cesar Leite, Avenida Luiz Gonzaga, Rua Percílio Andrade.

O naipe é outro!

Conjunto Santa Mônica (a mãe de Santo Agostinho). Denominar Loteamentos como Zilda Arns e Leonardo da Vinci dizem muita coisa. O Estádio de Futebol voltou a ser Etelvino Mendonça. Desconheço em Itabaiana uma rua José Sarney (em Aracaju exageraram, denominaram uma Praia).

Claro, isso não é regra, é tendencia de momentos históricos, valores culturais e ideológicos. Entretanto, encontrar um loteamento “le Corbusier”, em Itabaiana, não pode passar desapercebido.

Existe uma lei municipal em Itabaiana, do ex vereador Olivério, obrigando a recuperação da memória dos nomes bucólicos, da Era agrária. Obrigando a fixação dos nomes antigos, ao lado dos atuais. Não custa nada...

Sinceramente, as Ruas do Sol e das Flores, pelo menos, deveriam guardar essa doce memória. Do Beco Novo, a gente cuida. Betinho de Seu Bebé, é o nosso embaixador nos “States”, até Trump mandar ele de volta.

Antonio Samarone – Secretário de Cultura de Itabaiana.
 

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