terça-feira, 5 de agosto de 2025

DUBLÊ DE VAQUEIRO.


 Dublê de Vaqueiro.
(por Antonio Samarone)

Na inauguração festiva do Atakarejo, em Itabaiana, uma cena grotesca: numa sala lotada de autoridades, até o Governador, um político local, ex Prefeito de uma importante cidade, rico fazendeiro na Bahia, apresentou-se fantasiado de vaqueiro, a moda antiga: chapéu de couro surrado, gibão, botas e esporas. Faltou o laço.

Levei um susto. Primeiro, pensei ser uma promessa, uma representação teatral, um surto. Não, nada disso. Fui informado ser uma estratégia de marketing eleitoral.

Os antigos vaqueiros foram romantizados, incorporados pela cultura, criou-se uma estética do vaqueiro: os aboios viraram cânticos de artistas, as pegas de boi esporte (vaquejadas), as vestes de couro moda e as cavalgadas lazer.

Acha o político esperto, que aparecer fantasiado de vaqueiro lhe trará a simpatia geral. Tenho dúvidas, geralmente as expropriações culturais são percebidas pelo público, como demagogia.

A profissão de vaqueiro é a mais antiga do Brasil. Historicamente explorada, quase uma relação feudal. Hoje, o vaqueiro é um técnico qualificado para lidar com vacinas, reprodução, genética, GPS e inteligência artificial. O boi é uma commodity valiosa.

Não é mais preciso “botar o boi no mato”, hoje ele é confinado em bons pastos.

Me disseram que ele quer imitar João Alves, que tinha um programa chamado de Chapéu de Couro. Nada a ver! João foi o maior político de Sergipe, na segunda metade do Século XX, um estadista voltado para o desenvolvimento. Longe de papagaiadas.

Sempre tive esse vaqueiro de eleição em boa conta. Não se perca, meu amigo! Não force a barra! Apresente boas propostas, ideias novas, que a sociedade saberá discernir. O Congresso Nacional precisa de parlamentares de cara limpa, sem maquiagens.

O senhor não tem nem a alma, nem os modos de vida dos vaqueiros! É uma impostura!

A criação de gado foi a primeira atividade econômica em Itabaiana (século XVII). Depois da lenda da prata. Esse gado abastecia o Recôncavo Baiano e Olinda. Com tempo, os curraleiros se desentenderam com os agricultores, houve conflitos. Uma lei obrigou cercar as propriedades de gado. Não foi fácil. Não existia arrame farpado. As cercas eram de pedras.

No século XIX, os curraleiros (fazendeiros) migraram para o Sertão e os plantadores de cana para o Vale do Cotinguiba.

O território de Itabaiana, depois da Era do algodão (Sec. XIX), foi tomado por pequenos sitiantes, donos de malhadas. Itabaiana entrou o século XX, como grande produtor de víveres e comestíveis, tornando-se o celeiro de Sergipe.

Nesse tempo, Itabaiana criou a melhor farinha de mandioca do Brasil. Virou marca. A farinha pó dos Rios das Pedras, antecipou a Maizena. Hoje, somos um polo econômico de transporte e comércio.

A relação atávica com o gado, continua, nos hábitos alimentares. Até o hoje, o prato típico de Itabaiana é a carne frita, aos sábados, fresca, com um molho grosso, para encharcar o prato de feijão esfarinhado.

Itabaiana adora carne, em todas as refeições. Não troco a carne frita por nenhum filé. O sucesso do Espetinho do Patola, é uma vitória definitiva da carne.

Os vaqueiros e os agricultores construíram a Itabaiana rural e os caminhoneiros a urbana.

Sem fraudes históricas!

Antonio Samarone – médico sanitarista.

Um comentário:

  1. Me deu água na boca qdo falou da carne frita das quartas-feiras e sábados, minha mãe fazia e era muito boa...

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