quarta-feira, 27 de junho de 2018

QUEM É O ITABAIANENSE?



Quem é o Itabaianense?  

Itabaiana primeiro foi Arraial, depois a Freguesia de Santo Antônio e Almas de Itabaiana (1675), e finalmente Villa, em 1697, como nos ensinou Vladimir Carvalho. Itabaiana foi Aldeia por trezentos anos. Só virou cidade no final do Dezenove, em agosto de 1888. A cultura viveu sob a tutela da igreja. Na primeira metade do século XX, foi uma cidade rural, sufocada pela pobreza. O grupo escolar só chegou em 1936. Ganhou o status de celeiro de Sergipe.

Com a chegada da BR-235, década de 1950, explodiu os transportes e o comércio. Itabaiana se transformou num empório. Passou a correr dinheiro e atraiu muita gente. A guerra comercial comandou a política. A Igreja reduziu a sua influência. Chegou o capitalismo mercantil. A cultura limitava-se a Chegança de Zé de Abiné, a Miguel Teixeira e Joãozinho retratista e a banda de Antônio Melo, com os seus dobrados de procissão. Destaque para Zeca Mesquita, trouxe a luz elétrica o cinema, rádio, TV, serviço auto falante e carro de passeio. Antes da Associação Atlética, a sua residência era usada para recepcionar as personalidades que visitavam Itabaiana. 

Na década de 1960, a política explodiu em violência. O futebol assumiu o papel de coesão social. A autoestima do Itabaianense disparou. O comercio cresceu (do ouro a castanha), e a cadeia do transporte (caminhões, oficinas, autopeças, etc.), virou o pilar da economia. Nasceu a vida urbana. Do Arraial a metrópole regional, só Santo Antônio é o mesmo.

No Século XXI, Itabaiana está deixando de ser somente um empório e buscando a modernização. A cultura procura os seus espaços. Academia de letras, universidades, feira de livros, associação de peregrinos, grupos de ciclistas, orquestra sinfônica, teatro, dança, artes plásticas, imprensa atuante, etc. Nessa fase, destaco a visão cultural de alguns empresários: Edson Passos, Carlos Eloy, Jamysson Machado, Ricardo de Francisquinho, Messias Peixoto, Honorino Junior, Fefi, Vicente do Capunga, quem mais?

Em sua longa história, Itabaiana consolidou quatro emblemas: Santo Antônio, a Filarmônica, a Associação Olímpica e os Caminhoneiros...

Antonio Samarone.

segunda-feira, 25 de junho de 2018

O CID-11 ESTÁ NO FORNO.



Uma nova Classificação Internacional das Doenças (CID-11) está no forno.

A primeira Classificação Internacional das Doenças (CID) foi adotada em 1898, e relacionava 77 causas de morte. A partir da sexta revisão (1948) a revisão da CID ficou a cargo da Organização Mundial de Saúde (OMS).

Até a quinta revisão (1938), somente estava incluída as doenças que causavam a morte. A partir da sexta revisão (1948), a CID passou a relacionar todas as doenças, inclusive lesões e sintomas.

A última revisão (CID-10), foi aprovada em outubro de 1989, em Genebra, com a presença de delegações de 43 países. A nona revisão (CID-9) foi de 1975.

A OMS já apresentou a nova Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados a Saúde (CID 11). A aprovação está prevista para a maio de 2019, durante a Conferência Mundial de Saúde, e entrará em vigor em janeiro de 2022.

Antonio Samarone.

quinta-feira, 21 de junho de 2018

SERGIPE PROFUNDO - A FESTA DE CATULINO DA JABÁ.



Sergipe Profundo – A festa de Catulino da jabá.

O São João na casa de Catulino da Jabá e Dona Josefa, no Sitio Porto, tem uma tradição de duzentos anos. A festa começou com os avós de Catulino, falecido em 2006, aos 97 anos. Hoje quem comanda é a família, sob a batuta do professor João Patola. É uma festa com convidados, mas quem chegar come, e ainda leva meia dúzia de pés-de-moleque. A festa é aberta. Aqui não existem penetras, todos são bem-vindos. 

O Sítio Porto sempre foi um povoado importante em Itabaiana, onde, além de Catulino, moravam Maria Carreiro; Seu Brasiliano e João Marinheiro. Hoje, o Porto está nas beiradas da cidade.

A festa de São João de Catulino começou cedo. No dia de Santo Antônio, a mandioca, plantada um ano antes, foi arrancada e colocada para pubar, em grandes potes, por sete dias. Esse ritual de fermentação da mandioca é uma herança dos Tupinambá, o mesmo do fabrico do Cauim. O cheiro vai longe.

Hoje (21/06), foi o dia de tirar a mandioca puba dos vasos, separar a casca, o talo, outras impurezas. A massa branca, úmida e cheirosa, foi levada para as urupemas, onde pacientemente será amassada, num ritual alegre de estórias e cantigas. Aqui consolida-se a tradição. Literalmente, todos “metem a mão na massa”, num trabalho duro e cansativo. Todos são voluntários. As estórias são deliciosas.

Separada da crueira, a massa puba será colocada em sacos e pendurada, para escorrer o excesso de líquido. Amanhã, dia 22, estará pronta. No dia 23, pela madrugada, as guloseimas serão preparas. Começa com o mingau de puba, apreciado e bem servido. Os bolos, manuês, beijus, pés-de-moleque (tradição árabe), são assados a moda antiga, em fornos de barros, aquecidos a lenha. A palha de bananeira para enrolar os pés-de-moleque vem da Moita Bonita. No dia 23, de manhãzinha, estará tudo pronto. É são João.

A festa de Catulino ainda terá jabá com farinha, uma antiga tradição dos ceboleiros, desde os tempos em que a jabá chegava em fardos de 230 kg. O boi vinha inteiro. Aquela jabá que ficava em mantas sobre os balcões das bodegas, e era consumida crua, como tira-gosto de cachaça.

No dia de São João, os convidados e os demais conhecidos aparecem. É uma festa da família de seu Catulino e dona Josefa. Foram dez dia de longa preparação. Tudo feito do mesmo jeito há duzentos anos. Miguel de Catulino é quem guarda o segredo das receitas e comanda os temperos. Ninguém mexe nada antes dele chegar. Quem quiser conferi o São João na Roça, eu tenho alguns convites.

Antonio Samarone.

quarta-feira, 20 de junho de 2018

RESPEITEM ALMIR SANTANA



Respeitem Almir Santana

A trajetória de Almir Santana na Saúde Pública de Sergipe é quase unanimidade. Um missionário dedicado ao combate das Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST). Ou alguém discorda? O mais grave, não só discorda como põe obstáculos ao exercício de suas atividades.

Vamos ao fato: o Dr. Almir Santana, como a lei permite, tem dois vínculos públicos, com o estado e com o município de Aracaju. No inicio do ano, a gestão municipal resolveu lotar o doutor Almir no atendimento ambulatorial da rede básica. Guardando as proporções, seria como lotar Oswaldo Cruz numa Unidade Básica para fazer consultas individuais. Um decisão sem respaldo técnico administrativo.

Claro, sabemos da importância da atenção básica, do valor dos profissionais que estão na labuta atendendo a população. Não é isso. O absurdo é o mesmo que transferir um médico da família experiente para a urgência de um pronto socorro. A experiência de mais de trinta anos de Almir Santana no combate as DSTs em Sergipe não pode ser ignorada, esquecida, o seu valor diminuído. O grave, é que pareceu punição, a transferência inadequada de Almir Santana.

Por razões óbvias, Almir Santana recusou a tarefa. Como consequência, foi colocado à disposição do estado. Nesses trâmites, ele está a seis meses sem receber salários do município. Soube que ontem, o estado assinou o decreto com o seu acolhimento, e as consequências do ato municipal serão minimizadas.

Gente, juízo! Sei da soberba que acomete quem frequenta o poder, salvo exceções. Almir Santana é um patrimônio de nossa combalida Saúde Pública, com relevantes serviços prestados a nossa população, sobretudo a frações discriminadas. Ele nunca buscou privilégios, sinecuras ou vantagens indevidas.

O povo pobre de Aracaju precisa de Almir Santana, no que ele sabe fazer de melhor: prevenção e promoção da saúde, em especial das DSTs; na capacitação profissional, usando a sua larga experiência de professor.          
Antonio Samarone.

terça-feira, 19 de junho de 2018

A SAÚDE EM SERGIPE AINDA TEM JEITO?



A Saúde ainda tem jeito em Sergipe?

Existe um consenso, a precariedade da Saúde no Estado de Sergipe. Ao lado da segurança pública, a Saúde ostenta a liderança das insatisfações.

Como tirar a Saúde do buraco? É preciso evitar duas simplificações: que existem saídas fáceis; ou que não tem jeito. O Estado gasta mais de 1 bilhão por ano. É suficiente? Para oferecer o atual padrão de serviços é muito, para prestar um serviço descente é pouco. Entretanto, sem uma gestão profissionalizada, botar mais recursos, é jogar dinheiro fora e aquecer a corrupção.

Não existem nem receitas prontas, nem salvadores da pátria. Depende de decisão política e coragem, para se romper com interesses poderosos, em várias frentes. A resposta não seria imediata, resistências e boicotes surgiriam. Contudo, a restauração da Saúde requer providências iniciais, para se construir uma plataforma necessária:

a)       Gestão profissionalizada – afastar imediatamente as indicações sem critérios dos políticos. Por fim ao loteamento dos cargos, o vergonhoso aparelhamento da Saúde. Isso é possível?

b)      Regulação técnica e pública – por fim ao acesso aos serviços, cirurgias e exames, por intermediação política. Acabar com os furas filas.

c)       Transparência – tornar público os contratos. Informar on-line quanto se paga, a quem, e quais os serviços são prestados. Único caminho para reduzir a corrupção.

d)      Controle informatizado e on-line de pessoal e insumos. Imediata implantação do prontuário eletrônico.

e)      Priorização da rede básica.

Isso feito, inicia-se o planejamento das ações, centrado na epidemiologia e na participação social. A médio e longo prazo, apareceriam os resultados. É uma mudança cultural profunda, inclusive dos usuários e profissionais da saúde. É possível, mas nada fácil.

Claro, não estou falando desse final de governo, onde quase tudo já está a serviço da disputa eleitoral. Eu falo quase tudo. Raríssimo o setor da Saúde sem um donatário político. Aguardo os programas dos candidatos ao governo, nas próximas eleições.

Antonio Samarone.

sábado, 16 de junho de 2018

OS MILAGRES DE LAMPIÃO



Os milagres de Lampião

Apareceu no povoado Parapitinga um menino de nove anos, que já nasceu sabendo aboiar, escrever poesia de cordel, é repentista, conhece e canta todo o repertório de Luiz Gonzaga e se diz reencarnação do Capitão Virgulino. O Sertão setentrional está em rebuliço. Uns já estão dizendo que estava previsto, como Lampião não foi aceito no Inferno, nem está no Céu, que ele voltaria. O Frei Afrânio, seguidor do Padre Cícero, ainda está desconfiado, achando tudo muito estranho. A verdade é que a boataria está tomando corpo.

Eu não tenho porque duvidar. O poeta José Pacheco encerrou o seu cordel sobre a chegada de Lampião no Inferno de forma esclarecedora: Leitores, vou terminar/tratando de Lampião/muito embora que não possa/vou dar a explicação/no inferno não ficou/no céu também não entrou/por certo está no sertão.

Não tomem como surpresa se daqui a pouco aparecer gente relatando milagres, as coisas começam assim. Daí para aparecer seguidores, fanáticos e devotos é um pulo. Aliás, já existe um cangaceiro do bando de Lampião que virou santo, em Mossoró, RN. Trata-se de José Leite de Santana, vulgo São Jararaca. O túmulo dele fica no Cemitério São Sebastião, e é o mais visitado nos dias de finados. Procurem no Google, para confirmar.

Por aqui, Saracura conta que Robério Santos já localizou o túmulo da cangaceira Lídia, citado nos escritos de Luiz Antônio Barreto, e que já foi foco de romaria. Do jeito que as coisas andam, não tomem como surpresa se esse menino (encarnação de Lampião) começar a operar milagres nesse desertão de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Segundo estudos de Max Silva de Oliveira, “um dos aspectos marcantes da personalidade contraditória de Lampião era a sua religiosidade, apesar de sua vida de cangaceiro e das influências brutalizantes do cangaço, Lampião nunca abandonou a sua fé e devoção em Deus, nos santos da igreja católica,  e também no Padre Cícero Romão do Juazeiro do Norte que para ele, era um homem santo.”

Li numa tese acadêmica de Eraldo Tavares, que “Lampião mantinha relações com anjos e santos, rezava todos os dias e acreditava em forças ocultas e em sonhos. Nunca buscou fugir às regras em que foi educado desde criança pela sua mãe e pela sua avó que foram as responsáveis pela sua formação religiosa. Era devoto de alguns santos, em especial de Nossa Senhora da Conceição.”

Do jeito que as coisas andam, não tomem como surpresa se algum militante do movimento Cariri Cangaço, apresentar uma petição ao Vaticano solicitando a beatificação de Virgulino.

Antonio Samarone.

sexta-feira, 15 de junho de 2018

A HAGIOGRAFIA E A MEDICINA



A hagiografia e a medicina...

Lendo sobre a vida de Santa Catarina de Siena (1347 – 1380), observo que ela se tornou santa, basicamente, alimentando-se de pão e ervas. Ainda adolescente, adotou uma dieta rigorosa de emagrecimento, rejeitava outros alimentos, e recorria ao vômito quando lhe forçavam comer. Encontrava-se e conversava regularmente com Jesus Cristo.

Apesar do jejum rigoroso, Catarina possuía grande vitalidade, era uma incansável. Duas suspeitas na época: ou estava possuída pelo demônio, era uma bruxa; ou tinha recebido as graças divinas, era uma Santa. Prevaleceu a segunda opção.

A mesma Catarina na era vitoriana, final do século XIX, seria diagnosticada e tratada pela medicina como portadora de uma síndrome histérica. Agora, com os “avanços científicos” da medicina pôs moderna, a mesma Catarina seria portadora de um transtorno alimentar (F50, do CID), com sintomas psicóticos. Santa Catarina seria uma cliente da psiquiatria e da indústria farmacêutica. Viva Santa Catarina...

Antônio Samarone.

domingo, 10 de junho de 2018

ITABAIANA - A FESTA DOS CAMINHONEIROS



Itabaiana – A Festa dos Caminhoneiros.

Primeira metade do século XX – Itabaiana centrava-se na agricultura de subsistência, nos pequenos comerciantes e nos tropeiros. Os burros levavam as os produtos agrícolas até Roque Mendes, e em Riachuelo, e de lá embarcavam para Aracaju de Veleiros. Viramos a cidade celeiro, com predominância da vida rural. A cidade era pobre. As casas em sua maioria eram de rancho. Na cidade moravam os artesões, com destaque para os alfaiates, sapateiros e ourives. Até hoje o ouro é forte na cidade. As artes que predominavam: música, fotografia e historia. Grande peso religioso e cultural da igreja católica.

Segunda metade do século XX - Duas importantes transformações ocorrem em Itabaiana: a chegada da BR-235 e do Ginásio Murilo Braga. A Estrada permitiu a expansão do comercio, os talentosos cresceram: esse período produziu Oviedo Teixeira, Mamede, Pedro Paes Mendonça, Gentil Barbosa, Albino Silva da Fonseca, entre outros; e a expansão do setor de transportes. Os tropeiros viraram caminhoneiros. Hoje somos a capital brasileira dos caminhoneiros. Pelo lado do Ginásio, produzimos doutores, professores, engenheiros, intelectuais que pensaram Itabaiana e Sergipe.  Se destacaram nas universidades. Foi essa geração que criou a Associação Sergipana de Peregrinos, a Academia Itabaianense de Letras, entre outras entidades, que semeiam e colhem a cultura na cidade.

Itabaiana possui três grandes pilares, que unem os Itabaianenses: Santo Antônio, o Time da Associação Olímpica e os Caminhoneiros. Os dois primeiros serão analisados em outro momento, vamos ao último. Itabaiana não é a capital brasileira dos caminhoneiros pelo número per capita de veículos na cidade, não, isso é um detalhe. A questão é de ordem cultural: o espírito do caminhoneiro domina a cidade.

Hoje assisti a uma carreata mirim, com a participação de mais de cinco mil crianças, puxando os seus carrinhos. É a maior do mundo, nesse gênero. Os Itabaianenses possuem a alma dos caminhoneiros. A coragem, a aventura e o apego ao trabalho. Além da questão econômica, a alma do caminhoneiro tem face própria, o seu lado cultural. Os significados e as narrativas sobre esse “espírito de caminhoneiro” estão sendo socialmente construídos. Parece claro a vinculação com Santo Antônio, vários carrinhos são decorados com o Santo. Além da intensa participação nas trezenas, sendo os responsáveis pela organização da última, a do dia 12/06. O trabalho está apenas começando.
Antônio Samarone.

sábado, 9 de junho de 2018

SANTO ANTONIO FUJÃO


A caminhada em torno de Santo Antonio fujão


Vladimir Souza Carvalho
Membro das Academias Sergipana e Itabaianense de Letras
vladimirsc@trf5.jus.br


Itabaiana volta os olhos para o passado. Primeiro, foi o busto de Tobias Barreto erguido na Praça Fausto Cardoso, de Tobias que, na veste de professor de latim, por três anos viveu em Itabaiana, então vila, passagem que Sebrão, sobrinho, eternizou em Tobias Barreto, o desconhecido. Depois, e, recentemente, a quixabeira plantada na Praça Fausto Cardoso, para sedimentar que, naquele sítio, há tantos séculos atrás, a segunda igreja foi erguida em território itabaianista ao lado de uma quixabeira. 

Agora, num passo maior, na próxima quarta-feira, dia 13 de junho, o itabaianense, pela primeira vez, vai fazer a caminhada da Igreja Velha para a Matriz, na mencionada Praça Fausto Cardoso, num percurso de cinco quilômetros, no dia reservado à Santo Antonio. A Igreja Velha, cujas ruínas desafiam os anos, é uma referência à primeira igreja erguida em nossas terras. Na caminhada, a menção ao Santo Antonio fujão, que, na lenda, era colocado ao lado da quixabeira, o padre perguntava se ele queria que a sua igreja fosse erguida naquele local, respondendo o santo positivamente com a cabeça, o cordão ardilosamente puxado pelo sacristão.

A caminhada, pois, se volta para homenagear o Santo Antonio fujão, a marcar a sua ida da Igreja Velha para o templo religioso na futura sede da urbe, que, por força do tempo teria seu início, numa implícita evocação a fatos ocorridos no século dezessete, de tanta e tão grande importância na vida de Itabaiana, que, nesse século, se torna vila, ou seja, começa a dar seus passos de comunidade organizada e a tomar posição em nível de Sergipe, ainda mera província.        

Tudo isso se situa no projeto de se debruçar sobre o passado, na tentativa de marcar fatos importantes, ligando o pretérito ao futuro e o futuro ao pretérito, na valorização do passado, dentro da cultura da história local, de assinalar nas ruas os fatos importantes, sedimentado-os em placa, para que o itabaianense de hoje e de amanhã saiba que tivemos e temos passado, e a ele nós voltamos na busca de inspiração para esse porvir que todo dia nasce com a luz do sol, evidenciando essa prática que começou a ser colocado em texto, no século dezenove, com Francisco Antonio de Carvalho Lima Júnior, prosseguiu com Sebrão, sobrinho, encontrou em mim a pena que trasladou os dois e suas importantes obras para os dias atuais, acrescentando-se algo mais além do incentivo e do exemplo, continuando com José de Almeida Bispo, Robério Barreto Santos, José Augusto Baldock, José Rivadálvio Lima, no que tange a produção de trabalhos de história, entre tantos que também não conheço, e, ademais, agora, precisamente agora, com iniciativas vitoriosas de Anselmo Rocha, conterrâneo de Frei Paulo, acolitado por Antonio Samarone de Santana e Antonio Francisco de Jesus (Saracura), entre outros.

A caminhada de Santo Antonio fujão é outra forma de, no dia 13 próximo vindouro, me deixar o dia inteiro, no Tribunal Regional Federal da 5ª Região, no Recife, mergulhado na boa inveja de não poder dela participar, certo, com o apoio de Santo Antonio, que, aposentado, em breve, dela participarei, chapéu na cabeça para não deixar o sol bater no ralo capim de minha cabeça quase careca, tênis apropriado, água para satisfazer a sede, celular na mão para alguns registros, e a alegria de sair da Igreja Velha nessa caminhada até a sede da Matriz, na condição ímpar de um  peregrino a mais.

Vai faltar, apenas, na chegada, Capitu, ou seja, Capitulino,  com o charuto aceso e o foguete na mão, para, no momento certo, alguém largar o aviso: - Fogo, Capitu! E, aí, então, o foguete subia em direção ao céu, para lá em cima estourar, a flecha caindo célere, obrigando todos a procurar abrigo, e, entre eles, eu, menino ontem, que guardei o fato na gaveta que, por uma dessas coincidências da vida, foi batizada de saudade.     

quinta-feira, 7 de junho de 2018

Sergipanos Ilustres



Leocádio Rodrigues Chaves – Nasceu em 09.10.1877, em Estância, Sergipe, filho de João Rodrigues Chaves e Clementina Batista Rodrigues Chaves. Formou-se em medicina em 19/12/1896, defendendo a Tese: Considerações sobre a Lymphadenia.  Discurso impresso – 15 páginas Bahia – Litto-Typo e Enc a Vapor de V. Oliveira, 1896. (“Arquivo da FMB”) Final: “Sejamos fortes na luta, crentes na sciência e levaremos a termo essa peregrinação de caridade santa como a religião sublime de Christo.” Foi Inspetor Sanitário da Diretoria Geral de Saúde Pública – Rio de Janeiro; Delegado interino de Saúde (1917); e Secretário do Instituto Oswaldo Cruz 28.03.1919. Integrou a equipe de Dr. Oswaldo Cruz de combate à febre amarela em Belém do Pará. (o verbete está em construção) ...
Antonio Samarone.

quarta-feira, 6 de junho de 2018

Os Reitores e os Generais...


Os Reitores e os Generais.
Texto: João Augusto Gama
João Cardoso do Nascimento Junior era o Reitor da incipiente Universidade Federal de Sergipe (UFS) quando da edição do ato institucional nº 5, em 13 de dezembro de 1968. A Universidade havia sido instalada em sessão solene no Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe em maio daquele ano. Poucos dias antes o estudante Edson Luís fora assassinado no restaurante Calabouço, no Rio de Janeiro, pelas forças da repressão, provocando uma onda de indignação e protestos em todo o Brasil. Aracaju não ficou de fora e o Movimento Estudantil organizou uma passeata de repúdio que culminou com uma missa campal no parque Teófilo Dantas.
Em agosto de 1968, com o apoio do Reitor, o Movimento Estudantil criou e instalou o Diretório Central dos Estudantes, fazendo no mesmo mês as eleições diretas para a sua primeira diretoria. Em 12 outubro, quando da realização do XXX Congresso Estudantil da UNE, a repressão fecha o Congresso e prende no Presídio Tiradentes, em São Paulo, toda a liderança estudantil do país, incluindo a bancada de Sergipe que solta 15 dias depois retorna à Sergipe para ser presa em dezembro, após a edição do ato institucional nº 5, sendo liberada em janeiro de 1969.
O Reitor João Cardoso era um humanista e com a sua maneira educada que transmitia tranquilidade não se deixava intimidar pelos militares. Após a edição do AI 5 as pressões da 6ª Região Militar em Salvador para que o Reitor usasse o decreto 477 que lhe dava poderes para expulsar os estudantes enquadrados na Lei de Segurança Nacional eram insuportáveis. Discreto e calmo, mas sofrendo muito, o Reitor ganhava tempo para que os estudantes se formassem. Diariamente o Reitor João Cardoso enfrentava uma batalha silenciosa, às vezes nem tanto, para evitar que a jovem universidade federal de Sergipe fosse instrumento do ódio fascista.
O general Abdon Sena era o poderoso comandante da 6ª Região Militar em Salvador a quem o comando militar em Sergipe era subordinado hierarquicamente. Nada acontecia em Sergipe sem a chancela da 6ª Região Militar. Os atos mais rotineiros da vida administrativa eram considerados assuntos de segurança Nacional. Nomeações de juízes, transferências de servidores, todo passava pelo crivo militar.
Na Bahia, o General Abdon Sena, às vésperas do Natal de 1969, enviou um ofício cheio de indignação ao governador Luiz Viana Filho mandando que ele apreendesse toda a edição da obra poética de Gregório de Matos Guerra, o Boca do Inferno, organizada por James Amado e financiada pelo governo da Bahia. Dizia o general no seu comunicado que Gregório de Matos era considerado inimigo do exército brasileiro por ser ¨subversivo, anticlerical e imoral¨. O general Abdon Sena vociferava tais bobagens, menos por ser fascista, do que por pura ignorância. Inimigo das letras, não conhecia o general nada obra do grande poeta baiano falecido há mais de três séculos.
Na década de trinta do século passado, durante a Guerra Civil Espanhola (1936/1939), Miguel de Unamuno era o Reitor da Universidade de Salamanca, uma das mais antigas universidades da Europa. Filósofo, humanista, Unamuno no princípio apoiara as forças nacionalistas do general Franco contra a jovem república, mas não podia aceitar os assassinatos de Casto de Prieto, prefeito de Salamanca e do grande poeta Federico Garcia Lorca.
No dia 12 de outubro, em comemoração ao dia da descoberta da América, realizou-se na Universidade de Salamanca o Festival da Raça Espanhola. O incidente é bastante conhecido como símbolo do fascismo e sua intolerância. Estavam presentes no palco, entre outros, a esposa de Franco, o bispo de Salamanca e o professor Francisco Maldonado que fez um violento discurso contra o nacionalismo basco e catalão que precisava ser ¨curado com bisturi do fascismo¨. Na sala alguém gritou, ¨viva la muerte¨. O general Millán Astray que tinha apenas um braço e um olho, líder da falange, acompanhou o grito necrófilo: ¨viva la muerte¨.
O filósofo Miguel de Unamuno levantou-se e disse que não podia calar-se. “Às vezes ficar em silêncio é mentir¨. Enfrentando o fascismo e os fascistas cara a cara, Unamuno disse que a Universidade é o Templo do Saber ele o seu sumo-sacerdote. É o senhor que profana este recinto sagrado. O senhor vencerá porque tem a força bruta mais que suficiente. Mas não convencerá. Pois para convencer precisará do que lhe falta: a razão e o direito em sua luta. Considero inútil exortar o senhor a pensar na Espanha”.
Dizem que o general Franco lamentou Miguel de Unamuno não ter sido fuzilado, fato que só não aconteceu , comentam os historiadores, pela presença da esposa de Franco no recinto. Pouco tempo depois, destituído do cargo de Reitor, Miguel de Unamuno morreu no isolamento.
O Reitor João Cardoso do Nascimento Júnior fez da Universidade Federal um Templo do Saber. Resistiu. Nenhum estudante foi expulso. Fato único entre as universidades públicas brasileiras. Tal como Miguel de Unamuno foi seu Sumo-Sacerdote. A Universidade Federal de Sergipe, através da coragem do seu Reitor João Cardoso, reagiu à intolerância.

segunda-feira, 4 de junho de 2018

O OURO DE ITABAIANA


O ouro de Itabaiana.

Belchior Dias Moréia estava certo: existe prata na Serra de Itabaiana. O neto de Caramuru que descobriu a prata, mas pediu alto para informar o mapa da mina. A corte espanhola chegou a mandar para Itabaiana em 1619, uma grande comitiva chefiada por Dom Luís de Souza, Governador-Geral do Brasil, acompanhado dos capitães-mores do Espírito Santo, Gaspar Allures de Siqueira e de Sergipe, João Mendes.

A expedição contratou um mineiro castelhano experiente, Fernão Gil, trazido do Peru. Como não houve acordo, Belchior Dias Moréia não indicou onde estava a prata. A comitiva voltou de mãos abanando. Prenderam Belchior, que morreu com mais de 80 anos, sem revelar o segredo das minas de prata da serra de Itabaiana.

Antigamente, o rio Orinoco era o ponto preciso e real onde estaria o Eldorado, na cabeça das gentes. A partir de Gabriel Soares de Sousa a perspectiva se transferirá para as cabeceiras do rio São Francisco. Mesmo Domingos Fernandes Calabar (1600-1635), que os portugueses tiveram como traidor, foi guia de uma expedição holandesa a Itabaiana em procura do ouro e da prata.

Em 1673, a Coroa (era regente o Príncipe D. Pedro, futuro rei D. Pedro II de Portugal) nomeou D. Rodrigo Castelo Branco como administrador-geral das Minas de Itabaiana e editou o Regimento Geral das Minas do Brasil. Era consequência das incessantes buscas de ouro e prata em várias partes do território.

Em seu famoso livro “Cultura e Opulência no Brasil”, escrito em 1711, Antonil confirmou a existência da prata em Itabaiana: “E na serra de Itabaiana, há tradição que achou prata o avô do capitão Belchior da Fonseca Dória.” Outras expedições foram feitas, e ninguém até agora encontrou a prata.

Só agora, século XXI, em minhas andanças com a Associação Sergipana de Peregrinos, encontrei uma senhora, descendente próximas dos Tapuias, que me disse saber mais ou menos onde era a entrada da mina de prata. Dona Jurema ainda me disse que acha, ela não tem certeza, que o carneiro de ouro que o povo tanto fala, está numa grota aterrada pelo tempo. Não custava nada, pedi para ela me mostrar. De fato, existe. O caminho é pedregoso e a entrada da mina fica num lugar meio encantado e de difícil acesso.

Procurei saber se prata ainda serve para alguma coisa, e parece que não. Nem para fazer anel de cigano. Os talheres e baixelas dos ricos não são mais de prata, a Tramontina ganhou a concorrência. Rodei o shopping e não encontrei nada de prata para comprar, saiu de moda. Bijuteria vale mais do que prata. Tenho um amigo que tem uns sacos cheios de prataria num depósito, herdado da família, e não acha a quem vender. Antigamente passava gente comprando alumínio velho, cobre e metal.  Até garrafa usada e frasco de brilhantina tem comprador. Mas não conheço ninguém que compre prata. Ainda tem um complicador, a mina de prata fica num Parque Nacional, mesmo que valesse muito seria tudo do governo.

Pensei bem e resolvi me aquietar. Não vou esmiuçar o segredo de Belchior Dias Moréia. Continuem pensando que as minas de prata da serra de Itabaiana são lendas. O carneiro de ouro da Serra de Itabaiana continuará enterrado, à espera de dias melhores.


"... achey hum hindio cariry (conta-o Barbosa Leal), hum hindio velho, de cem annos, por nome Taburú; e descobri com muyta endustria haver elle acompanhado a Melchior Dias naquelle seo descobrimento, o que esse hindio tinha muito calado e negado (me dice elle) por assim lho ordenar Melchior. E disse o hindio velho que cozeo no fogo, em hum testo ou tacho, uns seixos; e depois lavou muyto, e tirou uma pedrinha branca; e Melchior Caramurú fizera muita festa com espingardas; e lhes mandara não mostracem nunca a brancos aquelle logar..."

Antonio Samarone.