quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE


A SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE.
                                                   
O Governador Seixas Dória indicou como Diretor do então Departamento de Saúde Pública o Dr. Alexandre Gomes de Menezes Netto (foto), Sanitarista pernambucano radicado em Sergipe, médico da SUCAM, professor de parasitologia da UFS, que entre suas metas incluía a transformação do Departamento, vinculado a Secretaria de Educação, numa Secretaria independente. O golpe militar de 1964 frustrou esse plano.

O Governador Celso de Carvalho, em 16 de outubro de 1964, sancionou a lei nº 1.289, criando a Secretaria da Saúde e Assistência Social, indicando como primeiro Secretário, o médico sanitarista Walter Cardoso (1911 – 2001), intelectual experiente e de boa formação, professor de Doenças Infecciosas e Parasitárias da UFS. O Dr. Walter tomou posse no dia 22 de outubro, às 10 horas da manhã, chamando a atenção para a falta de saneamento, e para os elevados índices de diarreia infantil no estado, definido suas metas.

Chama a atenção o artigo 4º da Lei - o cargo de Secretário de Saúde e Assistência Social, de imediata confiança e livre escolha do Governador do Estado, será exercido, em comissão, por medico de preferência especialistas em Saúde Públicas, com os direitos, vantagens e prerrogativas dos demais secretários de Estado.


As prioridades estavam mudando, a Saúde que no Brasil era sinônimo de Saúde Pública, passava a abrigar as ações de assistência social. A nova Secretária possuía serviços de profilaxia da lepra, da tuberculose, um serviço de amparo a maternidade e a infância, e o serviço de assistência aos psicopatas. Chama a atenção o fato de que em Sergipe, a assistência social é anterior a assistência médica entre os serviços ofertados pela instituição sanitária. 

terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

A LEPRA EM SERGIPE


A LEPRA EM SERGIPE


Em 21 de julho de 1951, uma comissão de três especialistas em lepra, formada pelos doutores Armando Pondé, superintendente do serviço da lepra do estado do Bahia; Dr. Medeiros Dantas, responsável pelo serviço de Pernambuco e o Dr. Fraga Lima de Sergipe comprovam um milagre. Os três técnicos do Serviço Nacional de Lepra, assumem coletivamente a responsabilidade de conceder alta clínica aos dois primeiros pacientes portadores de lepra, internados na Colônia Lourenço Magalhães em Aracaju. Foram as primeiras curas de lepra em Sergipe após o advento das sulfonas no arsenal terapêutico. Até então o diagnóstico de lepra era a certeza da morte. Esse ato simbólico, de uma alta médica, realizada por uma equipe com essa legitimidade técnica, tinha a função de estimular os demais pacientes, criar a esperança de que os que perseverassem e suportassem o tratamento, poderiam num futuro próximo retornar ao seio do querido ambiente familiar. 

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

MEDICINA EM SERGIPE (INICIO DO SÉCULO XX)


MEDICINA EM SERGIPE.

A deficiência dos serviços médicos em Sergipe no alvorecer do século XX pode ser exemplificada com o episódio do falecimento em Palácio (13/12/1907), durante o trabalho de parto, de D. Capitolina Alves de Melo, segunda esposa do Desembargador Guilherme de Souza Campos, Governador do Estado (1905/08). O parto foi acompanhado pelos experientes doutores Cândido da Costa Pinto e José Moreira de Magalhães, que chegaram à conclusão, de que somente o procedimento cirúrgico (Cesariana) salvaria a paciente e, mesmo tendo sido sobre “operação cesariana” a tese de doutoramento do doutor Costa Pinto, o mesmo nunca tinha tido a oportunidade de realizá-la. Outros médicos residentes no Estado foram consultados sem sucesso. Em síntese, em Sergipe ainda não existiam condições para a realização de tal procedimento. Os médicos não estavam preparados para a realização de uma simples cesariana e a esposa do Governador morreu de parto.

domingo, 19 de fevereiro de 2017

A REFORMA SANITÁRIA EM SERGIPE (GOVERNO DO PT)



SALVADORES DA PÁTRIA

Após séculos de dominação oligárquica, em 2006, o Partido dos Trabalhadores, liderado por Marcelo Déda, chegou ao poder em Sergipe, numa experiência autodenominada de “governo das mudanças”. Se a passagem foi positiva ou negativa, se houve avanços ou retrocessos, a resposta está à espera de estudos e análises. No campo da Saúde a experiência do PT, batizada pretensiosamente de “reforma sanitária de Sergipe”, foi demolidora. Não ficou pedra sobre pedra. As experiências anteriores de implantação do SUS no Estado foram consideradas equivocadas, a rede de saúde existente desmontada, o desenho institucional refeito, a relação com o setor privado redesenhado. Tudo com a promessa que a sociedade tivesse paciência, os resultados não seriam de imediato. Espera-se até hoje.

Em linha gerais, em que consistiu a tal “reforma sanitária” do PT em Sergipe? Com a aprovação da Lei nº. 6.345, em 02 de janeiro de 2008, dispondo sobre a organização e funcionamento do novo SUS em Sergipe, o governo das mudanças enfraqueceu a municipalização em curso, iniciou a construção de uma rede de grandes clinicas de saúde, sucateando as tradicionais unidades básicas, num processo de estadualização. Concentrou a compra de serviços nos hospitais de Cirurgia, São José e Santa Isabel, criando um problema que perdura em crise até hoje; abandonou as tradicionais ações preventivas da Saúde Pública, priorizando a oferta de procedimentos “curativos”; assumiu uma rede de pequenos hospitais e maternidades no interior; manteve o HUSE em permanente reforma e estabeleceu uma sede do SAMU em cada município. Quase nada deu certo.

Contudo, o tiro fatal foi dado na estrutura da Secretaria da Saúde, com a criação das Fundações de Saúde. Desde o início contestadas. Com a justificativa de destravar a burocracia, a Secretaria foi transformada numa compradora de serviços, visando agilizar o funcionamento da saúde. A curta trajetória das Fundações de Saúde (são três) foi recheada e crises e escândalos, mas sobreviveram até agora. É Verdade que Jackson Barreto já está no comando efetivo do governo do Estado desde a morte de Marcelo Déda (02/12/2013), e não tinha mexido na estrutura herdada. Agora resolveu abrir a caixa preta?

O fim da chamada reforma sanitária do PT em Sergipe.

Em entrevista ao jornalista Jozailto Lima, o Secretário de Estado da Saúde, José de Almeida, apresentou um diagnóstico demolidor da situação da Saúde Pública em Sergipe. O Secretário informou que a Saúde está “sob uma espécie de intervenção federal”. “Nesse campo de intervenção, a SES faz reunião do seu conselho de saúde mensalmente com o procurador da República Ramiro Rockenbach sentado à cabeceira da mesa, com poderes paritários, ou maiores, do que o próprio Almeida”.

Desabafou o Secretário: “encontrei um péssimo estoque de medicamentos, sem planejamento, faltando inúmeros insumos, com fornecimento a curtíssimo prazo, porque feito em pequenas quantidades, e tudo isso por causa do déficit do pagamento aos fornecedores”; prossegue no desmonte, “o Governador tem a consciência de que a saúde precisa de ajustes, de se estabelecer prioridades”. Se entendi, a Saúde Pública até hoje era tocada ao sabor dos ventos, sem o estabelecimento de prioridades. O Secretário exemplifica: “não se pode conceber uma Secretaria que tem um bilhão de orçamento anual não tenha três equipamentos de tomografia...”, definida a primeira prioridade.

Entre outras coisas o Secretário promete transformar o HUSE num hospital modelo, em sete ou oito meses, por fim as Fundações, trazendo de volta para a SES a obrigação de executar os serviços de saúde, criar uma auditoria para passar tudo a limpo e informar a sociedade, finalmente, de quanto é o tal rombo das Fundações. Entra gestor e sai gestor, e ninguém consegue informar a misteriosa dívida. No final o Secretário José de Almeida tranquilizou a sociedade, garante que não será candidato.


O que significa um novo projeto para a Saúde do Governo Jackson Barreto, na reta final do seu mandato?  No meu entendimento, é o reconhecimento que a chamada “Reforma Sanitária de Sergipe”, projeto do governo Marcelo Déda, não deu certo, foi uma aventura impensada, que a paciência na espera de resultados acabou. O governo Jackson a partir de agora, pelo que diz José de Almeida na entrevista, seguirá outro caminho. Mesmo não se sabendo ainda que caminho será esse, boa sorte. 

ANTONIO SAMARONE.

COISAS DE SERGIPE


Coisas de Sergipe.


Apesar do grande desenvolvimento econômico de São Paulo, somente em 1913 foi criada a primeira Faculdade de Medicina (USP). A aula inaugural foi proferida por Edmundo Xavier, em 2 de abril de 1913. Em 1918 formou-se a primeira turma, composta por 27 médicos, entre os quais duas mulheres. A organização imprimida por Dr. Arnaldo Vieira de Carvalho à Faculdade de Medicina, foi fundamental para que ela se desenvolvesse em bases sólidas. Ressalta-se, nesse aspecto, a contratação de renomados professores estrangeiros como Lambert Meyer, da Faculdade de Nancy, França; Emílio Brumpt, catedrático da Faculdade de Medicina de Paris, França; Alfonso Bovero, anatomista, e Alessandro Donati, patologista, ambos oriundos da Universidade de Turim, na Itália. Num seleto quadro de 18 professores, DOIS ERAM SERGIPANOS, Enjolras Vampré (foto) nascido em Laranjeiras e Ascendino Ângelo dos Reis, nascido em Divina Pastora.  

Antonio Samarone.

sábado, 18 de fevereiro de 2017

LOUCOS DE TODO O GÊNERO (PARTE DOIS)


Loucura, doidice ou alienação mental – Perturbação das faculdades intelectuais (CONTINUAÇÃO)

"Tratamento. Os loucos devem estar isolados, separados de todas as pessoas com quem viviam, e colocados de maneira que posam ser facilmente vigiados. É necessário tomar todas as precauções para impedir que se matem, se eles têm inclinação ao suicídio. Os alienados inquietos ou furiosos devem ser subjugados com a camisola, e até amarrados, se for necessário. Nunca se deve avivar as ideias ou as paixões desses doentes no sentido do seu delírio; é necessário não combater as suas opiniões desarrazoadas pelo raciocínio, discussão, oposição ou zombaria; e convém fixar a sua atenção a objetos estranhos ao delírio, e comunicar ao seu espírito ideias e afecções novas."

"O tratamento da loucura é difícil e complicado; e quase impossível que as famílias possam fazer o que convém. Só a presença das pessoas e coisas habituais é um grande obstáculo a sua cura. Interesses de muitos gêneros combinam-se para determinar as famílias a encerrar os alienados em estabelecimentos públicos ou particulares. Primeiro que tudo, a segurança pública impões justamente esta obrigação. A liberdade, que se deixa a estes doentes em seu domicilio, compromete a vida deles e das pessoas que os rodeiam; mil motivos deve fazer preferir a sua morada em um estabelecimento próprio. A experiência prova que um muito maior número de loucos são curados nos estabelecimentos do que quando são conservados no meio de suas famílias."

"No Rio de Janeiro, até o ano de 1841, não havia outro asilo para os loucos que o hospital de Misericórdia, onde estes infelizes se achavam na mais miserável posição. Já desde o ano de 1830 que a Academia de Medicina clamava contra esse estado de coisas; e fez a esse respeito vivas reclamações a administração. O sábio secretário da Academia de Medicina, o Dr. De-Simone, em uma memória cheia de convicção e de lógica que publicou, fez sentir a necessidade de criação de um estabelecimento separado em que os loucos pudessem ser submetidos a tratamento conveniente."

"Algumas comissões da Câmara Municipal, encarregada das visitas aos hospitais, representaram também energicamente no mesmo sentido. Estes brados da ciência e da humanidade acharam eco no coração do Monarca brasileiro o senhor D. Pedro II; e ao digno provedor da Santa Casa, o Conselheiro José Clemente Pereira, coube a glória de realizar o pensamento do Augusto Imperador. Este ilustre filantropo é o principal autor a quem o Rio de Janeiro deve a formação da Casa para os alienados, na Praia Vermelha, num dos lugares mais salubres dos arredores do Rio de Janeiro."

"Para levar ao cabo este grande projeto, Vossa Excelência recorreu ao patriotismo e a generosidade dos habitantes da Corte, muitos acudiram ao seu chamado, e citarei, entre as mais importantes subscrições, as do Comendador Thomé Ribeiro de Farias, Barão de Guapymirim, que deu sessenta contos de reis, do Barão do Pirahy, do Comendador José de Souza Breves e do Barão de Santa Luzia. S.M.I. o senhor D. Pedro II, tomou a empresa debaixo de sua alta proteção, favorecendo-a com a sua costumada generosidade, S.M. a Imperatriz viúva, como tutora de sua augusta filha, a senhora Princesa Dona Maria Amélia, contribuiu também para esta grande obra. Hoje a cidade do Rio de janeiro possui um dos mais belos estabelecimentos para os alienados."

"As sangrias abundantes estão já em parte riscadas do tratamento da loucura. Entretanto, é útil recorrer a sangria, nos indivíduos robustos, após uma supressão da hemorragia habitual, ou quando há sintomas de congestão cerebral. Os banhos frios, as duchas, as aplicações frias sobre a cabeça, são meios úteis. Empregam-se com vantagem os cáusticos na nuca e os purgantes. As viagens, a música, as distrações, os trabalhos de jardinagem, curam as vezes certos monomaníacos: são sobretudo vantajosos na convalescença para consolidarem a cura."

"Se se pudesse obter dos doidos um trabalho mecânico quotidiano de muitas horas e ao ar livre, as curas seriam muito mais numerosas. O maior obstáculo ao tratamento da loucura é a exaltação do pensamento: ora, não há coisa melhor para refrear as atividades das ideias do que os exercícios físicos prolongados, e até cansarem, como a agricultura, as artes mecânicas, a caça, etc. A ginástica reúne muitas vantagens no tratamento da loucura. Primeiramente, o doido que faz muito exercício pensa menos e sente menos, depois, o trabalho imprime as suas ideias uma direção vantajosa; enfim, o exercício dispõe ao sono, que é um grande benefício para muitos doidos. As viagens continuadas por muito tempo a pé ou a cavalo, sobretudo nos países montanhosos, são muito mais profícuas do que as que são feitas em sege. Os incômodos dessas viagens, a que os doentes não estão acostumados, produzem os melhores efeitos."

"A dieta é raramente útil, e podem-se permitir sem receio os alimentos que os doentes desejam. As insônias são muito comuns no começo das loucuras; combatem-se pelos exercícios, por banhos mornos prolongados tomados no momento de se deitar, abstinência do café e das bebidas espirituosas. Se isto não for suficiente, pode-se dar a noite uma xícara de amendoada com vinte gotas de láudano, uma pílula de ópio de 5 centigramas ou 1 grama de cloral hidratado ou bromuretado. Convém combater a prisão de ventre com clister de linhaça, limonadas de tamarindos ou alguns purgantes." 


Dicionário de Medicina Popular e das Ciências Acessórias de Pedro Luiz Napoleão Chernoviz, 1890. 

LOUCOS DE TODO O GÊNERO (PARTE UM)



Loucura, doidice ou alienação mental – Perturbação das faculdades intelectuais

"Causas: o sexo feminino, o temperamento nervoso, uma educação viciosa, o celibato, as profissões que exigem grande esforço do espirito, que agitam fortemente e põe em lida a vaidade, a ambição, etc.; as grandes revoluções políticas, a superstição, os terrores religiosos, a saciedade de todos os gozos, os excessos venéreos, os licores fortes, a leitura dos romances e dos maus livros, o ócio, a congestão cerebral frequente, são as causas que predispõe a loucura. Mas as causas que a determinam ordinariamente consistem quase todas nas afecções morais vivas ou continuas, tais como a cólera, o susto, uma perda súbita de fortuna, uma felicidade inesperada, um pesar violento, os excessos de estudos, a ambição malograda, o amor próprio humilhado, o ciúme, os acontecimentos políticos, os pesares domésticos, o amor contrariado, o fanatismo, etc."

"Sintomas. A invasão da loucura é lenta ou súbita; mas de qualquer maneira que principie, eis aqui os sintomas gerais que lhe são próprios. Ordinariamente as impressões feitas sobre um ou mais sentidos são vivamente percebidas ou mal julgadas. Assim, os doidos umas vezes percebem vivamente e com desagrado a luz, os sons, os cheiros ou sabores; outras vezes tomam um objeto, um indivíduo, um ruído, etc. por outros. As vezes veem pessoas, ouve vozes ou sons, e sentem cheiros que não tem realidade nenhuma e não existem a não ser em seus cérebros doentes."

"As desordens das faculdades intelectuais são extremamente variadas, e apresentam frequentemente a singular mistura de perfeita razão em certos pontos com delírio completo em outros. Em quase todos os alienados a lembrança do passado é preservada, mas a indiferença completa ou aversão para com seus parentes, filhos e amigos, substituem os sentimentos de afeição; uma paixão, como a alegria e a tristeza, o medo e o terror, o pesar e o transporte, a astúcia e a malícia, o orgulho e a vaidade, a inclinação ao suicídio e o homicídio, os desejos amorosos, dominam a desordem intelectual."

"Os alienados cometem as vezes homicídio, doidos furiosos atiram-se, em seus acessos, a tudo quanto encontram. Uns imaginam reconhecer, nas pessoas que os rodeiam, inimigos, espiões, gênios malfazejos, carcereiros, dos quais julgam dever vingar-se; outros julgam que Deus ou uma voz interna, mandam-lhes matar tal ou qual indivíduo. O doutor Pinel cita o fato de um alienado que, em dois diferentes paroxismos, matou filhos seus para purifica-los por um batismo de sangue, e fez muitas tentativas desse gênero sobre outras pessoas, sempre pelo mesmo motivo."

"Os sintomas da loucura oferecem-se ao observador sobre três aspectos principais. As vezes o delírio tem só por objeto uma ideia fixa, dominante, exclusiva, ou consiste na exageração de uma paixão ou de uma inclinação, e em geral o doente discorre com muito acerto quando está distraído do objeto que o preocupa, esse gênero de loucura foi chamada de monomania. Outras vezes o delírio é geral e estende-se a tudo, é sempre acompanhada de exaltação, e frequentemente de furor, toma então o nome de mania. Outras vezes, enfim, a uma indiferença ou apatia moral junta-se a inatividade, o enfraquecimento ou a perturbação completa da inteligência; isto é, a demência."

"Eis aqui as variedades principais da monomania. Uns julgam-se reis, imperadores, papa, profetas, rainhas, princesas, e suas ações correspondem a essas ideias; outros queixam-se de ter perdido a amizade das pessoas que lhe são mais caras; estes têm desejos venéreos violentos; aqueles a cabeça preocupada de um objeto que adoram; que ornam de todos os encantos, aos qual fala sem cessar (erotomania). Alguns são atormentados por escrúpulos religiosos, perseguidos pelo medo do inferno (monomania religiosa). Outros julgam-se em poder do diabo (demoniomania). Em alguns monomaníacos a tristeza, o aborrecimento, o pesar, o temor, são sintomas dominantes (melancolia); em outros predomina o ódio a seus semelhantes (misantropia). Há alguns que se julgam transformados num indivíduo de outro sexo, ou em cão, leão, pássaro, etc."
 

"Duração e prognóstico. A loucura não é sempre continua, de ordinário é intermitente. A sua duração é variável, assim, pode ser somente de oito a quinze dias, ou alguns meses na mania, mas muitas vezes e de um ou muitos anos, e até pode durar toda a vida. A loucura pode curar-se pela reaparição de uma secreção ou de uma hemorragia suprimida, por vômitos, evacuações alvinas abundantes, por suores, hemorragias espontâneas, e além disto pela maior parte das observações morais vivas."

Dicionário de Medicina Popular e das Ciências Acessórias de Pedro Luiz Napoleão Chernoviz, 1890. 

sábado, 11 de fevereiro de 2017

OS PRIMEIROS ENFERMEIROS NO BRASIL



Os primeiros enfermeiros no Brasil.

Gregório Serrão – nasceu em Sintra, em 1527, enfermeiro e cirurgião, embarcou para o Brasil em 1553. Atuou em Piratininga, foi o primeiro a realizar a flebotomia no Brasil. Depois ordenou-se sacerdote, missionário, pregador em português e em tupi, reitor do Colégio da Bahia. Faleceu no Espirito Santos, a 25 de novembro de 1586, com 59 anos.

João Gonçalves – nasceu em Lisboa em 1528, entrou para a Companhia de Jesus em 1590, e chegou ao Brasil em 1553. Enfermeiro na Bahia, ficando famoso por ter curado uma índia com câmara de sangue (diarreia), fazendo emplastros de almecegas e azeite. Muito procurado pelos índios. Faleceu muito cedo, em 1558, com apenas 30 anos.

Segundo Serafim Leite, em “Artes e Ofícios dos Jesuítas no Brasil”, a Companhia de Jesus determinava que em todas as Aldeias de Índios dispusessem de enfermaria. Quando não era uma casa a parte, junto da residência havia um padre ou irmão com medicamentos para os índios enfermos. E tanto nos Colégios como nas Aldeias, os irmãos enfermeiros deveriam prestar os primeiros curativos de urgência em caso de ferimentos, e o faziam segundo a sua aptidão pessoal, enquanto não se recorria ao médico ou cirurgião nas terras em que os havia.

ANTONIO SAMARONE.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

O PRIMEIRO MARAJÁ!



O primeiro marajá!

Em 1549, junto com a comitiva de Tomé de Souza no Governo-Geral do Brasil, veio o médico Jorge Valadares, bacharel em medicina, nomeado para exercer o cargo de "Físico da Cidade do Salvador da Bahia de Todos os Santos na Costa do Brasil”, permanecendo no cargo até 1553. Jorge Valadares foi o primeiro médico diplomado a clinicar na Colônia. Em 13 de julho de 1553, na comitiva de Duarte da Costa, veio o segundo médico nomeado para o mesmo cargo, Jorge Fernandes, que era apenas licenciado em medicina, fez um curso de quatro anos e não defendeu as conclusões magnas (tese), portanto, não possuindo o título de bacharel. Em 1557, no Governo de Mem de Sá, o médico nomeado para exercer o mesmo cargo foi o bacharel-mestre Afonso Mendes.
Uma polêmica foi instalada, enquanto os dois médicos formados, bacharéis, Jorge Valadares e Afonso Mendes receberam respectivamente vinte e oito mil e oitocentos reis e vinte e quatro mil reis de vencimentos anuais da Coroa; Jorge Fernandes, apenas licenciado, recebera sessenta mil reis anuais de ordenado. Os três primeiros médicos que atuaram no Brasil eram cristãos-novos. O Rei D. João III tinha um certo apadrinhamento com Jorge Fernandes concedendo-lhe um ordenado de marajá. Para efeito de comparação, um padre jesuíta, a menina-dos-olhos da Coroa portuguesa na Colônia, recebia anualmente um ordenado de vinte mil reis. O licenciado Jorge Fernandes, Físico do Salvador, quando deixou o cargo, permaneceu no Brasil até o seu falecimento em 1567, exercendo a medicina privadamente.

Antonio Samarone.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

A água vira commodity, vende-se a DESO.



A água vira commodity, vende-se a DESO.

Antonio Samarone - médico sanitarista.


A Companhia de Saneamento de Sergipe (DESO) entrou na mira das privatizações. Trata-se de uma empresa de economia mista que detém 71 concessões municipais para explorar o fornecimento de água e o tratamento do esgoto sanitário. Sei que existem controvérsias jurídicas e econômicas, e que a “venda da DESO” irá aliviar temporariamente o desequilíbrio fiscal do Estado, mas não trato disso. A minha reflexão é de outra ordem: quais as consequências para a saúde pública e para o meio ambiente a transformação do serviço de saneamento básico numa mercadoria, sujeita a lógica dos negócios? O fornecimento da água potável e o tratamento dos esgotos regidos pelo lucro são compatíveis com a sua indispensável universalização? Os problemas de saúde pública e de poluição do meio ambiente obrigaram a humanidade a encontrar soluções para a universalização do saneamento.

O Poder Público está declarando-se incompetente para erradicar a esquistossomose, febre amarela, febre paratifoide, amebíase, ancilostomíase, ascaridíase, cisticercose, cólera, disenterias, elefantíase, malária, leptospirose, teníase e tricuríase, febre tifóide, giardíase, dengue, chikungunya, zica, hepatite A. As metas de Promoção à Saúde proposto pela Organização Mundial de Saúde (OMS) desde a Conferência de Ottawa, em 1986, caem por terra se a universalização do saneamento passar a ser subordinada ao lucro. Dados do Ministério da Saúde afirmam que para cada R$1,00 investido no setor de saneamento, economiza-se R$4,00 na área de medicina curativa.

O mesmo raciocínio aplica-se ao meio ambiente. Como despoluir a bacia do Rio Sergipe sem a universalização do saneamento, com os esgotos sanitários sendo jogado “in-natura” em seu leito, e como universalizar um serviço subordinado a lógica de mercado? Qual o interesse do capitalismo expandir serviços para quem não pode comprar? Ao deixar de fora os que não podem pagar, os mais pobres, os pequenos municípios e regiões carentes, a necessidade de rios limpos e de um meio ambiente sustentável fica inviabilizada. Mesmo nos Estados Unidos, cabeça do capitalismo, água e o esgoto são serviços públicos.


Não sou um devoto da estatização, mas não concordo que tudo possa virar mercadoria e subordinar-se a lógica do mercado. A experiência com a mercantilização da assistência médica em curso no Brasil, não está garantindo um serviço de qualidade nem para os que podem pagar os planos de saúde. É sabido que a agua já é um bem escasso no mundo, entregar o controle dos nossos mananciais, a captação, a adução, o tratamento, a distribuição e a venda desse bem indispensável a vida ao comando do capital, não conta com o meu silencio. O capitalismo cercou as terras de uso comum, tenta transformar a arte, o espaço, a fé, a ciência, a saúde, o oxigênio em mercadorias; agora é a vez da água.