quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

NOVO TEMPO


Novo Tempo
(por Antonio Samarone)

“Que tempos são estes, em que temos que defender o óbvio”. – Brecht.

Só Deus está fora do Tempo, por ser eterno. A insistente pergunta, o que Deus fazia antes de ter criado o Universo, para a narrativa criacionista é absurda. No mesmo momento que criou o Universo, Deus criou o Tempo. Antes, o Tempo não existia.

Para conciliar essa contradição, São Tomaz de Aquino concebeu três tipos de Tempos: o dos fenômenos terrestres, com começo, meio e fim; o eterno, sem começo e sem fim, prerrogativa dos deuses; e o dos anjos, corpos celestes e ideias, com começo, mas sem um fim.

Infelizmente, o meu Tempo é o terrestre, esse que acaba. E, desconfio, que se aproxima velozmente do Fim! Até a velocidade da luz é finita.

Durante a antiguidade e boa parte da idade média predominou a ideia do Tempo cíclico. O Tempo linear é uma criação judaico cristã.

Foi Galileu quem introduziu o Tempo nos estudos dos movimentos, no início da ciência moderna. Surgiu a necessidade em se medir o Tempo. A física de Descarte era qualitativa.

A partir de Isaac Newton o Tempo se incorporou a cultura ocidental. Para Newton, o Tempo e o Espaço eram os sentidos de Deus. O Tempo e o Espaço eram absolutos.

Einstein descobriu que Tempo e Espaço não são absolutos, estão conectados entre si e dependem da velocidade do observador, e chamou a essa elucubração de teoria da relatividade. Tese que ninguém discorda, mesmo sem ter entendido nada. Ele ainda provou a sua teoria matematicamente.

O senso comum pensa que Einstein ao provar a relação tempo/espaço, descobriu que “tudo é relativo”. Estava legitimado o achismo. Cada um acredita e defende o que der na veneta. Sem precisar fundamentar nada, já que tudo é relativo.

Quando o sujeito não tem mais argumentos para defender o que pensa, encontra-se na mais completa escuridão, ele apela para a filosofia básica das redes sociais: “Isso é muito relativo, cada um tem o seu jeito de pensar”. Isso já virou um direito.

A discussão dos filósofos sobre o Tempo é mais complicada, quase uma perda de tempo para os leigos.

As ciências pleiteiam um Tempo próprio. Existem os Tempos musicais. Os Tempos de guerra e de paz, de plantar e de colher. Vivemos um Tempo das trevas, das Pestes e da pós verdade. O rebanho humano está agitado, perdeu as raízes, encontra-se à espera da imunidade prometida.

Existe até um Tempo histórico!

Espero que antes do apocalipse, do fim dos Tempos, venha o milenarismo do Profeta Isaias. Creio na volta de Dom Sebastião, como a minha mãe, devota do Padre Felismino, anunciava.

Tempo, tempo, tempo, tempo/ Compositor de destinos/ Tambor de todos os ritmos/ Entro num acordo contigo...” – Veloso. A proposta é você reduzir a pressa. Entretanto, parece que o diálogo acabou.

No brasil, “A cadela do fascismo está no cio”! (Brecht)

Esse arrodeio foi para desejar um Feliz 2021 a todos, um Novo Tempo, mesmo sem muita convicção.

Antonio Samarone (médico sanitarista)


 

quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

A VACINA CONTRA A PARALISIA


A Vacina contra a Paralisia...
(por Antonio Samarone)

A paralisia infantil aterrorizou a minha geração.

No final de 1961, o Departamento da Criança, comandado pelo doutor João Cardoso, convenceu o Secretário da Saúde, doutor Antonio Garcia, a realizar a primeira campanha de vacinação em massa em Sergipe, contra a Paralisia infantil.

Decidiram usar a vacina nova em Sergipe. Uma vacina oral, trivalente, de vírus vivo atenuado, a vacina Sabin. Uma grande novidade, com um agravante, o ensaio clínico tinha sido feito na URSS, na Cortina de Ferro.

Já existia a vacina Salk, americana, com o vírus inativado, desde 1955. A vacina Sabin era de vírus vivos, oral e testada na Rússia. A polêmica ideológica foi intensa.

A vacinação foi concentrada em Aracaju.

O chefe político Euclides Paes Mendonça, resolveu trazer os meninos de Itabaiana. Organizou uma enorme caravana. Minha mãe chegou de madrugada, ainda escuro.

O objetivo da campanha era vacinar todas as crianças entre 4 a 6 anos. Eu estava nessa faixa, completaria sete anos em dezembro de 1961.

Ocorre, que os organizadores da caravana implicaram com a minha idade. Eu era grandão, para os padrões de Itabaiana. “Esse não vai, já passou da idade”. Minha virou uma Onça. Ele vai de qualquer jeito, disse ela indignada.

Minha mãe partiu decidida para falar com dona Sinhá, a esposa de Euclides. Quando Dona Sinhá avistou mamãe, passos largos, cabeça erguida, falando alto, quase aos gritos, não teve dúvidas: “o menino de Dona Lourdes vai tomar a vacina”.

Dona Sinhá já sabia da polêmica.

Quando me lembro de mamãe brigando para me vacinar, perco o respeito por quem está contra a vacina da Covid-19. Não faço parte desse mundo de vocês, nem quero passar por perto.

Embarquei na marinete da Prefeitura, de tamancos, chapéu de couro e calça curta, para me vacinar contra a Paralisia Infantil. Era a minha segunda vinda à Aracaju.

A primeira foi com um ano, para tirar um carroço no peito que ameaçava sangrar, no Hospital de Cirurgia. Fui operado pelo Dr. Airton Teles, a quem meu pai morreu agradecido.

Antonio Samarone (médico sanitarista)

 

terça-feira, 29 de dezembro de 2020

O DESEJO DE VIRAR JACARÉ


O Desejo de Virar Jacaré.
(por Antonio Samarone)

A Pandemia continua em 2021 e o orçamento de guerra acabou. O ano começará com um prognóstico sombrio.

Os mais pobres enfrentarão a Peste sem o escudo do auxílio emergencial, numa conjuntura de inflação e desemprego crescentes.

No Brasil, numa avaliação otimista, a cobertura vacinal não chegará a 50% da população, durante o próximo ano. Isso significa que a Pandemia não está acabando.

Como não se sabe a duração da imunidade vacinal, marchamos para uma zona de imprevisibilidade e incertezas. A vacina é indispensável, mas não é a bala de prata.

As Festas de Final de Ano estão intensificando a contaminação, as consequências explodirão em meados de Janeiro. Por isso, o epidemiologista americano, Anthony Fauci, disse neste domingo (27): o pior da pandemia do novo corona vírus “ainda está por vir”.

As aglomerações estão fora do controle nas ruas, festas e baladas. Em atividades informais. O vírus é transmitido livremente entre os jovens, onde o negacionismo predomina. Esses jovens são cavalos de troia, que levam o vírus aos pais e avós.

Não adianta fechar o comércio, restaurantes, bancos, shoppings, igrejas e academias. As atividades formais cumprem o distanciamento, álcool em gel e o uso de máscaras.

Anunciar o aumento de leitos de UTI é puro marketing. O Sistema de Saúde está sobrecarregado. Aumentar a cobertura de leitos não é arrumar um canto e botar uma cama.

Por que o Governo brasileiro está contra as vacinas, sobretudo contra a vacina chinesa?

A razão é simples. Quando a China vendia “bugigangas” a R$ 1,99, supria o consumo capitalista com mercadorias baratas, não representava ameaça a hegemonia americana.

Entretanto, quando a China entrou na competição da alta tecnologia, 5G, robôs, inteligência artificial, medicamentos e vacinas a ameaça tornou-se real.

Aceitar que uma vacina chinesa é eficiente e vai ajudar no combate a Pandemia é inaceitável na nova Guerra Fria.

Na tese negacionista, a Pandemia é uma guerra biológica, promovida pelo comunismo chinês. Acreditar e propagar essa asneira conspirativa é uma demonstração que o fanatismo político não tem limites.

O Brasil entrou na nova Guerra Fria, sem nada a ganhar e perdendo muito, apenas por subalternidade a Trump.

Antonio Samarone (médico sanitarista).


 

segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

VACINAÇÃO JÁ!


Vacinação Já!
(por Antonio Samarone)

O Brasil está odiosamente dividido. Uma parcela se arma, esperando o desfecho. Namora a violência como solução. O diálogo tornou-se impossível, não existem saídas negociadas.

Não é uma divisão ideológica tradicional esquerda x direita. O buraco é mais embaixo. É uma divisão atávica, herdada dos 500 anos de colonização.

O Brasil ficou pequeno. A ascensão social, mesmo reduzida, se tornou uma ameaça aos privilégios.

Na esfera dos costumes a barbárie saiu do armário. Liberou-se os preconceitos e a tolerâncias foi extinta. Retornamos às trevas.

O Brasil continua negando a Pandemia e recusando as medidas de prevenção sanitárias. O Brasil minimiza os duzentos mil mortos.

Claro, evitar aglomerações traz consequenciais para a economia e para o modo de vida e usar máscaras não é confortável, não é uma recusa apenas ideológica.

Contudo, rejeitar as vacinas, quais são as justificativas? A vacina é um recurso usado pela Saúde Pública há mais de 300 anos. Várias doenças foram controladas, a varíola foi erradicada.

Mesmo assim, as pesquisas apontam que 25% da população seguirá o Presidente Bolsonaro.

A rejeição da vacina não é simples estupidez. Ser contra a vacina, faz parte do “combo ideológico”.

Antonio Samarone (médico sanitarista)

 

quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

PANDEMIA E SAÚDE MENTAL