sexta-feira, 26 de julho de 2024

COM A PALAVRA, VLADIMIR CARVALHO.

 

Com a palavra, Vladimir Carvalho.
(por Antonio Samarone)

Foi a Cultura que tirou o homem da caverna. Luiz Antonio Barreto me ensinou: a Cultura não tem dono. Uma verdade!

Hoje, as 19 horas, na Câmara de Vereadores de Itabaiana, a Academia Itabaianense de Letras, em parceria, com a Secretaria da Cultura, irão comemorar os 51 anos do lançamento do livro “Santas Almas de Itabaiana Grande”, de Vladimir de Souza Carvalho.

A historiadora Thetis Nunes apontava a chegada de BR – 235 e a criação do Colégio Murilo Braga, no início da década de 1950, como os pontos de partida do desenvolvimento de Itabaiana.

O progresso econômico em Itabaiana é incontestável. Contudo, a Cultura pede passagem. O papel da educação foi decisivo desse desenvolvimento, gerou pensadores. O Colégio Murilo Braga foi o berço da Academia de Letras.

O lançamento do livro de Vladimir Carvalho, abriu uma nova Era na cidade. Talvez, no interior de Sergipe. Essa iniciativa, estimulou a publicação da história de vários municípios. Hoje, toda comunidade tem a sua história.

A Cultura em Itabaiana, antes centrada na música, religião, fotografia e folclore, iniciava uma fase literária. Vamos prestar uma justa homenagem a Vladimir Carvalho. Tudo começou com ele: o jornal O Serrano, o incentivo a centenas de publicações: literatura, poesia, contos, causos, história, desaguando na Academia de Letras.

Na sessão de hoje, o homenageado, Vladimir Carvalho, fará uma conferência sobre os 350 anos de fundação de Itabaiana. Será o primeiro ato de comemoração dessa data gloriosa.

O aniversário será festejado no próximo ano, em 2025. Será um ano especial. A cidade nasceu no mesmo berço da Freguesia de Santo Antonio e Almas. Um duplo aniversário.

A foto, é significativa, uma amostra dos intelectuais que prestigiaram o lançamento do livro de Vladimir. Da esquerda para direita: Zé Crispim, Jackson da Silva Lima, Alberto Carvalho, Zé Silveira, Vladimir Carvalho, Renato Mazze Lucas e Jubal Carvalho.
Um convite: quem puder, venha!

Antonio Samarone – médico sanitarista.

domingo, 21 de julho de 2024

POR QUE SONHAMOS?

Por que sonhamos?
(por Antonio Samarone)

“O sonho que se sonha só, é loucura”. Sidarta

Realizar os sonhos é um caminho para a felicidade. A razão produz monstros. “O sonho é a imaginação sem freio nem controle, solta para temer, criar, perder e achar.” – Sidarta Ribeiro.

Os sonhos proféticos, de origem divina, já conduziram reinos, declararam guerras, salvou monarcas. Nabucodonosor soube da queda da Babilônia através dos sonhos.

José interpretou o sonho do faraó. Aquela história dos anos de vacas magras e vacas gordas. Hoje, se sonhar com vacas, tornou-se apenas uma dica para se fazer uma fezinha no jogo do Bicho.

Júlio César sonhou com o seu assassinato. César recebeu um presságio para os perigos dos idos de março. “Na noite de 14 de março de 44 a.C., César sonhou que era transportado entre as nuvens, elevado aos céus e recebido por Júpiter.” – Sidarta R.

Calpúrnia, esposa de César, sonhou com o seu assassinato.

Os sonhos estão presentes na Bíblia, Corão, Ilíada e odisseia.

Na Grécia, os doentes procuravam os Templos de Asclépios em busca da cura. Os doentes dormiam nos Templos, esperando a voz os oráculos, que falavam através dos sonhos.

Freud e Jung fizeram da interpretação dos sonhos uma nova ciência da mente, a psicanálise. Os sonhos permitem mergulhar nos subterrâneos da consciência.

A medicina científica reduziu o sonho a uma ativação aleatória de neurônios do córtex cerebral. Nessa visão cientificista, os sonhos são fragmentos da memória montados ao acaso. Ou seja, um fenômeno irrelevante, sem interesse para a compreensão da consciência humana.

O Homo sapiens é anatomicamente o mesmo, há pelo menos 300 mil anos. Saímos das cavernas através da cultura. Não foi a economia! O fogo permitiu as rodas de conversa e os devaneios oníricos. Os sonhos moveram as narrativas humanas.

A inumação intencional antecedeu aos cem mil anos. Nascem as religiões. O sonho é um portal de comunicação com as divindades.

Finalmente, o que é o sonho?

Calma, estou saboreando a leitura do Oráculo da Noite, nos primeiros capítulos. Quando souber, direi a vocês.

Antonio Samarone – médico sanitarista.
 

sexta-feira, 19 de julho de 2024

A QUEDA DO CÉU


 A queda do céu.
(por Antonio Samarone)

A questão ambiental não é prioridade em Aracaju. Uma bandeira solta, à espera de quem a carregue. Talvez, seja um mal de origem. Aracaju foi construída entre manguezais e pântanos.

Luiz Antonio Barreto resumia numa frase: “Aracaju é um aterro embelezado.”

Este aterro avançou no século XX, com aterros de lagoas e riachos e com o desmonte do Morro do Bomfim, onde a areia de uma enorme duna, viabilizou a ocupação da Zona Norte.

Aracaju foi construída sobre os mangues do São José, nas imediações do Batistão, sobre os aterros da Coroa do Meio, mangues do São Conrado, rios, Poxim e do Sal e das salinas do Porto Danta, etc.

Passaria a manhã descrevendo os aterros do Aracaju.

Desde os meados do século XX, Aracaju é comandada pela indústria da construção civil. Diretamente ou mediante prepostos.

Aracaju tem o DNA da especulação imobiliária. Nada mudou.

Na década de 1980, tentaram lotear a Praia 13 julho. Aterrar e construir prédios. A ambição foi freada pela forte resistência da sociedade civil. Hoje, não se daria um pio.

“Aracaju é uma cidade roubada do ecossistema” – poeta Jozailto Lima.

O desprezo pelo meio ambiente em Aracaju é ostensivo, desassombrado e agressivo. As enchentes, a precariedade do saneamento básico, a poluição do Rio de Sergipe, o desprezo pelas árvores, é senso comum.

Estou aguardando os planos de governo, dos candidatos a Prefeito do Aracaju. Não sou otimista!

Antonio Samarone. Médico sanitarista.

quinta-feira, 18 de julho de 2024

O DIREITO DE IR E VIR

O direito de ir e vir.
(por Antonio Samarone)

O artigo V da Constituição Federal garante o direito a locomoção.

Em Itabaiana, resolveram exercer o direito de ir e vir, preferencialmente de moto ou motoneta.

A cidade possui 103 mil habitantes (Censo 2022). Se excluirmos a fração que não usa moto: idosos, com mais de 60 anos (9%), por dificuldades físicas, e os jovens com menos de 16 anos (12%), por proibição legal, se ainda excluirmos os que não usam pôr limitações pessoais, incluindo o medo, restam cerca de 72 mil pessoas aptas.

Os dados oficiais registram 36 mil motos emplacadas em Itabaiana. Fizeram a conta? Um em cada dois habitantes, possui moto. Fica a pergunta: trata-se de um problema ou de uma solução?

Eu sei, o número de veículos por cidade é um indicador do seu desenvolvimento econômico. Façam essa comparação: Itabaiana, com 103 mil hab., possui 74 mil veículos emplacadas; Lagarto, com 101 mil hab., possui 58 mil veículos. Socorro, com 192 mil habitantes, possui 62 mil veículos.

O número de veículos é um dado positivo, mas também é um problema para a mobilidade urbana.

Itabaiana já enfrenta o trânsito como prioridade. A mobilidade é um tema central, no plano da futura administração de Valmir de Francisquinho.

(a foto foi de ontem, numa rua central em Itabaiana)

Antonio Samarone – médico sanitarista.
 

terça-feira, 16 de julho de 2024

O GRANDE INQUISIDOR


 O Grande Inquisidor.
(por Antonio Samarone)

“Se Deus não existe, tudo é permitido.” – Dostoievski.

Compreendendo a falta de tempo para as narrativas encantadas, resolvi postar essa reflexão, de um clássico da literatura. O grande Inquisidor é um capítulo dos Irmãos Karamazov. Fala sobre o vazio da pós-modernidade.

“A ação passa-se em Espanha, em Sevilha, na época mais terrível da Inquisição, quando todos os dias, para glória de Deus, se acendiam as fogueiras e "os medonhos hereges ardiam em soberbos autos-de-fé".

“Na Sua infinita misericórdia, Cristo desceu pelas ruas ardentes da cidade, onde justamente na véspera, em presença do rei, dos cortesãos, dos cavaleiros, dos cardeais e das mais gentis damas da corte, o grande inquisidor mandou queimar uma centena de hereges, ad majorem gloriam Dei.”

“Cristo apareceu suavemente, sem se fazer notar, e, coisa estranha, todos O reconhecem; o povo comprime-se à Sua passagem e segue-Lhe os passos.”

“Silencioso, passa pelo meio da multidão com um sorriso de compaixão infinita. Tem o coração abrasado de amor, dos olhos se Lhe desprendem a Luz, a Ciência, a Força que irradiam e nas almas despertam o amor.”

“Um velho, cego de criança, grita dentre o povo: "Senhor, cura-me e ver-Te-ei"; cai-lhe uma escama dos olhos e o cego vê. O povo derrama lágrimas de alegria e beija o chão que Ele pisa. As crianças deitam-Lhe flores no caminho; todos cantam, todos gritam: hossana! É Ele, deve ser Ele, não pode ser senão Ele!”

“Cristo ainda para no Adro da Catedral de Servilha e ressuscita uma criança de sete anos.”

“Neste instante, passa pela praça o cardeal grande inquisidor. Os taciturnos ajudantes e a guarda do Santo Ofício seguem-no a respeitosa distância. Para diante da multidão e observa-a de longe.”

O inquisidor franze as espessas sobrancelhas e ordena: prenda-o!

Ignoro quem és e nem quero sabê-lo: és Tu ou somente a Sua aparência? Mas amanhã hei-de condenar-Te e serás queimado como o pior dos heréticos e o mesmo povo que hoje Te beijava os pés se precipitará amanhã, a um sinal meu, para deitar lenha na fogueira.

O Inquisidor reconheceu que era Cristo, mesmo assim, ou talvez por isso, decidiu condená-lo a fogueira. Cristo retornava para espalhar a liberdade e amor entre os homens. O inquisidor alertou-O, sem o medo, eles irão tentar construir uma nova babel.

Esse era o risco. O homem odeia a liberdade. Porque não há para o homem que ficou livre cuidado mais constante e mais doloroso do que o de procurar um ser diante do qual se incline.

Os povos forjaram deuses e desafiaram-se uns aos outros:

"Abandona os vossos deuses, adorai os nossos; senão, ai de vós e dos vossos deuses!" E será assim até o fim do mundo, mesmo quando já os deuses tiverem desaparecido; prostrar-se-ão diante dos ídolos.”

“O homem prefere a paz, e até a morte, à liberdade de discernir o Bem e o Mal? Nada há de mais sedutor para o homem do que o livre arbítrio, mas nada há também de mais doloroso.” Na pós-modernidade, o homem deixou de ter importância.

“Há três forças, as únicas que podem subjugar para sempre a consciência destes fracos revoltados: são o milagre, o mistério, a autoridade!”

Para entender o vazio, a falta de sentido da vida na pós-modernidade, para entender o desespero quando se descobre que os homens mataram Deus. E agora? Com Deus, tínhamos um norte, uma narrativa, um sentido para a vida.

O Ser humano precisa de orientação. Quem irá nos oprimir e proteger? A ciência, uma utopia humanista, ou o retorno ao sagrado? O homem busca o milagre!

Trocamos as narrativas pelos dados. A informação não produz significados relevantes para a vida, são efêmeras. Vivemos com pressa, voltados para a ação, para o desempenho. Precisamos de narrativas contemplativas, encantadas, criada em volta da fogueira.

É preciso imaginar Sísifo feliz!

Ao final da fábula acima, o Inquisidor libera Cristo: "ide e não voltes mais."

Antonio Samarone – médico sanitarista.

segunda-feira, 15 de julho de 2024

TRATAMENTO DE CHOQUE

Tratamento de Choque!
(por Antonio Samarone)

A psiquiatria é recente em Sergipe. Somente em fevereiro de 1941, os 45 doentes mentais deixaram as dependências da Penitenciária Modelo, onde até então estavam enclausurados, e foram transferidos para o Hospital Colonia Eronides de Carvalho.

Em outras palavras, somente a partir de 1941, é que as pessoas com doença mental em Sergipe, passaram a receber assistência médica, pois até essa data, eram trancafiados na penitenciária, com os criminosos.

O fato gerou um grande acontecimento em Aracaju, a população saiu às ruas para acompanhar extasiada a novidade. Os doidos foram fotografados, para assinalar esse fato histórico.

O primeiro hospital psiquiátrico em Sergipe, estava localizado no Povoado Sobrado, possuia 102 leitos, com dois pavilhões para os calmos e dois para os agitados (masculino e feminino).

Foi pensado como um hospital moderno, sob a direção do Dr. Luiz da Rocha Cerqueira, discípulo de Ulysses Pernambucano de Melo, da famosa escola psiquiátrica do Recife.

Conta-se, que no dia da inauguração, para se comprovar o moderno uso da laborterapia, um tipo de terapia por meio do trabalho, os malucos foram orientados a desfilarem empurrando um carrinho de mão, para simbolizar o novo método terapêutico.

Na hora combinada, os malucos, em protesto, saíram pelo pátio empurrando os carrinhos de mão com as caçambas emborcados, voltadas para baixo. O Governado se surpreendeu e perguntou: por que vocês emborcaram os carrinhos? Eles responderam: para evitar que alguém botasse pedra ou areia para a gente carregar.

A moderna laborterapia começo mal, na Colonia Eronides Carvalho. Os pacientes podiam até ser doidos, mas eram inteligentes.

O Jornal Correio de Aracaju, edição de 23 de fevereiro de 1943, divulgou com grande ênfase uma carta do Dr. Garcia Moreno, então Diretor da Colônia de Psicopatas, anunciando importantes incorporações tecnológicas da psiquiatria sergipana:

“Comunico que desde outubro de 1942 o nosso Hospital Colônia de Psicopatas inclui em seus trabalhos rotineiro, ao lado da aplicação mais antiga dos métodos de Sakel e Meduna (insulina e cardiazol), a convulsoterapia de Cerletti e Bini”.

“Possuímos um aparelho de eletrochoque terapia fabricado pela Offener Electronies, dos Estados Unidos, do tipo mais moderno e portador das mais recentes inovações técnicas, de notáveis vantagens práticas (máquina de curar louco). Custou ao Governo Estado perto de treze mil cruzeiros e chegou a Aracaju por via aérea, o aparelho pesa menos de oito quilos”.

“Quase quarenta pacientes já foram, entre nós, submetido ao método de Cerletti, num total de crises convulsivas que andam perto de novecentas”.

“Aqui, como em outras partes, duas a três aplicações semanais de uma corrente elétrica de 450 miliampere, durante 0,2 segundos através do cérebro, tem em pouco mais de um mês reconduzido a vida psíquica normal homens e mulheres”.

Como se vê, a psiquiatria não era mais uma especialidade médica de literatos e filósofos.

O Censo do IBGE de 1950, encontrou atuando em Sergipe: 85 médicos, sendo uma mulher; 86 dentistas, sendo 13 mulheres; 123 enfermeiras e auxiliares, 45 parteiras e 7 veterinários.

A Colonia foi uma construção mal feita. Em pouco tempo, as paredes racharam e o piso afundou. Os pacientes foram transferidos para o Adauto Botelho. Aí já é outra história;

Antonio Samarone – médico sanitarista.
 

sábado, 13 de julho de 2024

A CIDADE DOS MILAGRES

A Cidade dos Milagres.
(por Antonio Samarone).

No próximo ano (2025), a Paróquia de Santo Antonio e Almas de Itabaiana completa 350 anos. São três séculos e meio de religiosidade, típica de uma sociedade rural. Depois de São Cristóvão, foi a segunda paróquia de Sergipe.

O arquétipo religioso se manifesta nas profundezas da vida social. A crença no sobrenatural, na transcendência, na graça e no milagre são realidades em Itabaiana.

Claro, na atualidade mercantil, a presença religiosa não é a mesma. Os valores profanos, acompanham as sociedades de mercado. Nos últimos 70 anos, Itabaiana foi bem sucedida na esfera econômica, se transformou no principal polo de desenvolvimento de Sergipe.
A religiosidade refugiou-se no coração.

Fui prescrutar o Censo do IBGE, de 1950, sobre a religiosidade em Itabaiana, na primeira metade do século XX. Itabaiana possuía 35.987 habitantes. Viviam na Zona Urbana menos de 5 mil pessoas. A imensa maioria vivia no campo, na Zona Rural.

No Censo de 1950, quase todos itabaianenses se declararam católicos. Com a modesta exceção de: 85 evangélicos, 5 espiritas, 17 ateus, 26 de outras religiões e 59 que não declararam a religião. Somando a dissidência, apenas 192 pessoas se declararam não católicos.

Não há dúvidas, os números são evidentes. Até a metade do século XX, Itabaiana era mais católica que Roma. Tudo em Itabaiana passava pela igreja. Da cultura à política.

O padre Eraldo vestia a camisa da UDN, de Euclides Paes Mendonça. O padre Arthur era oposição. No começo do século, houve mortes na porta das trezenas, por conta das paixões políticas.

Não sei os atuais resultados da religiosidade em Itabaiana, no último Censo, de 2022. Entretanto, tenho a impressão que essas raízes centenárias estão vivas.

Os milagres continuam acontecendo. Não me peçam provas materiais, os milagres pertencem à metafísica.

No próximo 04 de agosto, teremos uma nova peregrinação de Santa Dulce. Da Maternidade São José, local do primeiro milagre da Santa, até a Ermida, no pé da Serra de Itabaiana. Ao lado do Parque dos Falcões. São 13 km, de caminhada. Movida pela fé.

Essa fé coletiva invade até mesmo os ateus e os hereges, aqueles convictos que a consciência humana é uma propriedade físico-química da matéria. Não importa: a energia é contagiante.

“Sem a liberdade de criticar, o elogio não vale nada”. (Esqueci a autoria)

Antonio Samarone (médico sanitarista)