quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

GENTE SERGIPANA - PEDRO LANGANHO

 


Gente Sergipana – Pedro Langanho.
(por Antonio Samarone)

Pedro Germano de Oliveira, filho de Dionélia e Antonio Angico, foi o menino mais esperto do Beco Novo. Polêmico, gabola, conversador, levou a vida na valsa.

Ganhou notoriedade. Pedro Langanho sempre foi diferenciado. Se achava sabido. A fala, o caminhado, os gestos, lembravam a malandragem dos sambas.

Pedro Langanho, inconscientemente, passava a mensagem do samba carioca: “malandro é malandro, Mané é Mané.

De família muito pobre, Pedro vivia de pequenas espertezas. Um João Grilo ceboleiro.

Nas peladas, Pedro Langanho se achava um craque, se considerava um clone de Zanata, aquele do Vasco.

Os irmão, Mané Angico e Chico das Cobras, trabalhavam no pesado. Pedro tinha as mãos finas.

Eu sou contra o trabalho infantil!

Entretanto, a minha geração trabalhou cedo, por necessidade. Os valores eram outros. O trabalho era visto como uma virtude. Quando eu comecei a trabalhar virei cidadão, dono do meu nariz. Parte da renda era para ajudar as despesas da família.

Eu me sentia feliz, útil. O trabalho não me impediu de passar no vestibular, sem cota e sem pré-vestibular. Não estou querendo defender o trabalho infantil.

Meninos pobres que não trabalhassem eram vistos como vadios. Mesmo que estudassem. Em Itabaiana eram carimbados como “índios”, malandro. Aos 12 anos, eu vendi água na feira, peguei carrego, vendi pão dormido e não fiquei traumatizado. Pelo contrário, tinha orgulho de ter o meu dinheiro. Aos 15 anos, eu já ganhava salário mínimo.

Minha mãe era rigorosa sobre os estudos, acompanhava diariamente, procurava saber o meu comportamento. A disciplina era absoluta. A ela, devo o meu “sucesso” na escola.

Em Itabaiana, ser malandro não tinha guarida. Mesmo o falso malandro, a malandragem sadia. Pedro era um falso malandro, numa terra de trabalhadores precoces.

Na verdade, era uma malandragem inofensiva. Mais de gestos. Pedro trabalhava escondido. Casou, constituiu família. Foi Vereador de um mandato.

Encontrei-o ontem, batendo boca numa roda de amigos. O tema: quem foi o melhor jogador de futebol, entre eles. De passagem, exagerei as habilidades de Pedro Langanho. Atribui as perseguições do treinador Miguel de Rola, um disciplinador, o insucesso de Pedro no Futebol.

Miguel de Rola, odiava gabolice. Pedro Langanho, foi podado. Nunca era escalado, mesmo treinando bem.

Pedro Langanho é um personagem original, da história de Itabaiana.

Antonio Samarone. (médico sanitarista)

sábado, 24 de fevereiro de 2024

A FORÇA DAS FANTASIAS

A força das fantasias...
(Por Antonio Samarone)

O cinema foi o fascínio da minha geração. Existia uma casa de espetáculo própria, não estou falando de cinema de shopping. Com a telinha da TV, o cinema passou a ser em casa, na TV. Eu não suporto.

Lembro-me quando o cinema do Padre, em Itabaiana, instalou uma tele gigante, e um pouco côncava, para que os filmes com tecnologia “cinemaScospe” pudessem ser exibidos. Só se falava isso na cidade.

Os filmes sendo cinemaScope colorido, som estéreo e boa fotografia, já era meio caminho andado. Logo cedo, procurávamos nos cartazes, espalhados na cidade, se tinha filme novo.

O que vai passar hoje? Era uma pergunta quase obrigatória.

Os filmes em Itabaiana tinham uma classificação peculiar. Podiam ser de amor, guerra, espada, comédia, cowboy, terror, brasileiros, Tarzan, Zorro, Mazzaropi, o Gordo e o Magro, Carlitos, Paixão de Cristo, policial, e tantos outros, que esqueci.

Os filmes, por natureza, precisavam de um final feliz. O artista não podia morrer, nem no final. O emocionante Canal – 100, foi substituído pelos gols do Fantástico. No Canal 100, passava os gols das rodadas distantes.

O escurinho do cinema era mágicos, sentíamos que os nossos sonhos não eram vistos. Era um bom engano.

As fantasias se estendiam para as revistas de quadrinhos. Era um troca-troca alucinado. De revistas, para quem pensou maldades.
No Beco Novo, brincarmos de contar filmes. Era uma oportunidade de se checar quem tinha assistido aos filmes. Quem não lembrasse, podia inventar cenas inteiras. Eu adorava consertar os filmes contados pelos outros. Era um exercício de narrativas.

Com a chegada da TV esse encanto foi quebrado, mas não morreu. Os cinemas foram fechando. O cine Pálace, o mais luxuoso do Aracaju, virou bingo. Outros viraram igrejas de crentes, inferninhos, lojas de roupas. Foram acabando, um a um.

O tiro de misericórdia foi dado pelos “iphones”, as telinhas de bolso. Tudo se passa ali, a qualquer hora. O cinema como espaço coletivo de convivência, de sonhos, de fantasias foi sufocado?

Foi isso que testamos ontem. Com a ousadia de reviver o cinema coletivo, só que não rua. Instalamos todo o encanto possível e fomos aos subúrbios da Itabaiana Grande.

Com fogos de artifícios, música de Glenn Miller, som estereofônico, pipoca e algodão-doce, uma plateia imensa, atenta e emocionada, assistiu Canta Maria, um filme inspirado na obra do escritor sergipano Francisco Dantas.

A praça lotou, mais de trezentas pessoas. Foi gente até do Aracaju, só para conhecer a iniciativa. A imensa maioria era de crianças.

Enquanto isso, os cinemas dos shoppings são quase vazios.

Voltei com uma dúvida: o Cinema como um desfrute coletiva ainda é viável?

Respondo: sim! Vamos insistir!

Senti no olhar das crianças de pés descalços (vejam as fotos), o mesmo brilho das fantasias da nossa infância...

Antonio Samarone. (médico sanitarista)
 

terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

CAMINHO SEM VOLTA


Caminho sem volta.
(por Antonio Samarone)

Serafim de Zé de Germano, de Maria Gorda, 68 anos, velho malufista, já embarcou. Aproveitou uma vaga na boleia da Mercedinha de Berro Grosso, que, quinzenalmente, leva castanha do Carrilho para a baixada santista.

Serafim foi ao protesto de Bolsonaro na Paulista.

Serafim levou no matulão as frutas que mais gosta: ingá, juá, imbu, murici, pitomba, seriguela e cajarana. Duas mangas e três pencas de bananas pratinhas. Uma mochila com castanha assada, farofa e torresmos.

Ele vai na esperança que o golpe ainda tenha jeito. E, quem sabe, ele não esteja de todo errado. No Brasil, a fascismo está a caminho, dizem os mais velhos. Serafim teme a volta da Coluna Prestes.

Um tio de Serafim, que morava no Aracaju na década de 1950, era integralista, daqueles que desfilava de camisa verde com o sigma na manga e gritava anauê, mesmo em saudações banais.

Um sobrinho, foi preso no quebra-quebra de Brasília. Não ficou na Papuda, mas ainda não voltou para Itabaiana. Caiu na clandestinidade. Talvez, eles se encontrem na Paulista.

Ele espera que Lula não tenha mais idade para disputar a reeleição, ou morra antes. Nesse caso, a direita voltaria ao poder pelo voto. Mas não é esse o seu desejo. Serafim quer um regime de força.

Se fala que o seu bisavô, Germaninho, morreu em Canudos, guiando as tropas contra Conselheiro e o seu avô, Germano, lutou contra a Coluna Prestes, na Paraíba. Serafim teve a quem puxar.

Serafim é natural do povoado Flechas. Professor aposentado. Mora num pequeno sítio improdutivo. Meia tarefa. Ele é obreiro de uma igreja de crentes, na Sambaíba. O Pastor só vai a cada 15 dias, recolher o dízimo sagrado.

Ele deixou as chaves da igreja com a esposa. Não sabe quando volta. O pagamento do dízimo foi suspenso.

Eu conheço a família, a mulher e os filhos de Serafim. O seu avô foi ajudante de ferreiro, quando retornou da Paraíba. Muito conhecido nas Flechas.

Serafim é cabeça dura, acredita que os comunistas estão em Brasília, no Governo Lula. Aquele comuna do Maranhão, Flávio Dino, é o chefe. Compara Xandão a Stalin. E lá se foi, cumprir uma sina familiar.

A família não concorda, acha que isso é coisa do passado, mas não sabe como impedi-lo. Serafim é do tempo do carrancismo.

Ele viajou só, sem mala, duas camisas amarelas amarrotadas, um matulão, carteira de identidade e trezentos contos no bolso. Levou o número do telefone de uma prima, que ele não vê há 30 anos. Zefa de Caçulo, a parente, mora em Heliópolis, a maior favela de São Paulo.

É o Brasil! Quem pensa que o pensamento de direita é exclusividade da classe média, engana-se. Serafim já seguiu Maluf, Collor e agora Bolsonaro.

Fazer o quê? Ele acha que está indo salvar o Brasil do credo vermelho.

Antonio Samarone. Médico sanitarista.

terça-feira, 13 de fevereiro de 2024

OUTROS CARNAVAIS


Outros Carnavais...
(por Antonio Samarone)

Acordei essa terça-feira gorda ouvindo Capiba, na voz de Claudionor Germano. Era o que se tocava no Clube do Trabalhador, no Beco Novo. A época, dirigido por Borrachinha.

A lembrança que me restou dos carnavais foram as músicas de Capiba.

Foliões antigos, foliões raiz, só me lembro de Fefi, Biolo e Avaci. O resto, acompanhava o Bloco dos Sujos. Aos domingos de carnaval ocorria uma partida de futebol entre solteiros versus casados, no campo de Mané Barraca. Todos bêbados, ou quase bêbados.

Em Itabaiana, Carnaval era o frevo pernambucano.

O hino do Itabaiana é cantado por Claudionor Germano, o arranjo é do maestro Nelson Ferreira e a letra de Alberto Carvalho.

Aos domingos, tinha os blocos de rua. O bloco do Beco Novo (Margem da Serra - foto) era dominado pelos sapateiros João Criano e Avaci. A grande transgressão era homem vestido de mulher.

Em Itabaiana, bem ou mal, quase todo mundo tocava um instrumento. O Beco Novo era abençoado pela presença do Maestro Antonio Silva.

Esse Clube do Trabalhador foi fundado pelos comunistas Nilo Alfaiate, Tonho de Dóci, Mazze Lucas, Faustino, João Océa e Zé Martins, entre outros. Era uma estratégia para atrair os trabalhadores para a revolução.

Quando se cobrava ingresso no Clube do Trabalhador, nós, os índios do Beco Novo, entravávamos pelos fundos, passando pelo sítio de Zé Mosquito.

Éramos muitos e briguentos. A velha máxima: quem voltasse para a casa apanhado, apanhava de novo.

O Clube do Trabalhador era sinônimo de segurança, ficava defronte à casa de Seu Miguel Fagundes, a quem todos temiam. Quem era doido arrumar uma briga. A polícia nunca aparecia, tinha mais o que fazer.

A Rua do Beco Novo era segura. No trecho anterior, morava o Cabo João Mole, pai de Chumbrega, a maior patente militar do Beco Novo. Sem contar a valentia de Rosalvo do Cabo Quirino, motorista do Padre Arthur.

A noite tinha a guarda noturna, voluntários, com os seus apitos. Euclides Barraca, era o mais conhecido. Se fazia uma vaquinha, para o pagamento.

Vejam onde o comunismo foi se meter em Itabaiana.

Claro, não podia dar certo. Se o comunismo tivesse passado pelo Brasil, suspeito que Itabaiana seria um polo de resistência. Logo, logo veio o Golpe de 1964, e os comunistas ou foram presos, ou caíram na clandestinidade.

Em Itabaiana a organização forte era o Círculo Operário, do Padre João Moreira Lima. Uma organização católica e anticomunista.
Eu mesmo recebia bolsa de estudo da Escola do Padre (Educandário Cônego Vicente de Jesus), dada aos filhos de circulistas.

Naquele tempo, quem era besta fazer bullying. O pau comia. Bulling sempre existiu, vem do português arcaico - bulir.

O Clube do Trabalhador continuou vivo por muito tempo. Hoje, passou para o comando da Quadrilha Balança mais não Cai, de Salomão e dos herdeiros de Seu Bonito. Ficou em boas mãos. Essa gente é a autentica nata da cultura local.

Não sei quando, depois organizaram a Micarana (viva até hoje). Um carnaval baiano fora de época. Parece que a influência atual do Frevo limita-se aos blocos de Zé Pereira, em Neópolis.

Não tenho notícias dos blocos de rua, em Itabaiana.

Na verdade, não tenho saudade de carnavais, nem dos antigos.

Antonio Samarone (médico sanitarista)

PS: o grande Biolo, o nosso maior folião, está nessa foto.

domingo, 11 de fevereiro de 2024

CRIME E CASTIGO.


 Crime e castigo.
(por Antonio Samarone)

Se for condenar todos os que recentemente desejaram uma ditadura, ou ainda desejam, abram-se os cárceres. Por outro lado, perdoar, deixar prá lá, fingir que não ver, ou prender apenas os que fizeram o quebra-quebra em Brasília, a arraia-miúda, seria um mau exemplo.

Qual o caminho?

Prender os chefes, os fascistas, os mandachuvas, os líderes? Quem iria classificá-los?

Quem em Sergipe, mereceria o castigo? Por vocação, somos pequenos. Tem alguém em Sergipe na fila de indiciados pelo golpe?

Não se sabe!

Os cabeças políticos, por aqui, buscam apenas sinecuras. Foi assim em 1964. Os beneficiados nunca correram riscos, com um pé atrás. Foi sempre assim.

Muitos defendem a lógica do castigo, do realismo político, do cumprimento da lei. Outros, pelo perdão, movidos pela herança portuguesa do sentimentalismo, do faz de conta, da conveniência.

Não é simples!

Ontem, numa roda, deparei-me com um desses signatários locais do golpe, que pregou, estimulou e financiou. Um potentado cercado de bajuladores. Um mecenas de Província. Esse, certamente, não será punido.

O que me surpreendeu: eu não tive um sentimento hostil, mesmo reconhecendo a sua alma fascista.

Encontrei um homem em destroços, machucado pela idade. Trêmulo, passo miúdo, leve demência, voz mansa, como se pedisse desculpas aos conterrâneos. Caminhava protegido por um cajado cravejado de pedras preciosas.

Uma postura de arrependimento oportunista, envolto numa dualidade: “não houve outro jeito, qualquer um de vocês, em meu lugar, tendo as mesmas chances, faria o mesmo”, ou quem sabe, “desculpe-me, não faria novamente”.

Fiquei em dúvidas.

Lembrei-me de um texto da literatura subversiva, lido na militância estudantil, na década de 1970:

Quando George Orwell lutou na Guerra Civil Espanhola, viu certa vez um homem fugindo desesperadamente, seminu, segurando as calças com uma mão. Ele escreveu: “Abstive-me de atirar nele. Não atirei em parte devido aquele detalhe das calças. Eu tinha ido atirar em fascistas; mas um homem segurando as calças não é um fascista, ele é visivelmente um semelhante, um homem igual a mim”.

O protagonista dessa história, podre de uma riqueza politicamente facilitada, fascista, estava ali em decomposição. Derrotado pela natureza e pela condição humana.

Não tive vontade de jogar pedras. Como Orwell, fui tomado pelo perdão, pela compaixão.

Sentimento, que ele certamente não teria pelos adversários, caso o golpe tivesse dado certo.

Antonio Samarone (médico sanitarista).

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2024

JUÍZO FINAL


 Juízo Final.
(por Antonio Samarone)

O maior equivoco da tradição cristã não foi acreditar que a terra fosse plana e o centro do universo. Bem mais grave, foi professar que somos a imagem e semelhança de Deus.

Para fugir ao determinismo calvinista, o filósofo John Locke afirmou que o nosso cérebro nasce como uma folha em branco. Essa teoria da “tabula rasa”, dominou as ciências sociais.

O velho Marx negava a existência da natureza humana, segundo ele, somos frutos das circunstâncias históricas.

É verdade, os determinismos biológicos justificaram os preconceitos de raça, gênero e civilizações. O antidoto foi jogar a criança fora com a água de banho. As ciências sociais rejeitaram a natureza humana, mesmo com evidências em sentido contrário.

“O homem não tem natureza; o que ele tem é história”. Ortega y Gasset.

As utopias comunistas acreditam que se mudando a sociedade, surgiria um homem novo. Esse foi o seu erro central: esse homem novo nunca nasceu.

Na narrativa bíblica, Deus, arrependido de ter criado o homem, mandou o dilúvio. Não precisa conhecer teologia para perceber que novos dilúvios estão a caminho. O apocalipse é uma questão de tempo.

O sábio Kautsky certa feita perguntou a Freud, o que ele achava do marxismo. Freud foi cauteloso: não entendo de economia, mas acho que esse modelo de sociedade encontrará forte resistência na espécie humana. Gosto do pessimismo freudiano.

Freud suspeitava do “bom selvagem” rousseauniano. Ele acreditava que a civilização era filha da coerção. Também acho.

Rousseau escreveu: "os seres humanos em seu estado natural são altruístas, pacíficos e serenos, os males como a ganância, a ansiedade e a violência são produtos da civilização". Não sei de onde ele tirou isso.

Eu tenho a utopia de assistir ao ato final do apocalipse, com um consolo: vamos todos juntos...

Em minha infância, mamãe repetia uma doutrina tridentina: “o mundo já acabou pela água, dessa vez será pelo fogo.” Ela só não sabia que seria um fogo radioativo.

A terceira Guerra já começou.

Enquanto isso, vou aproveitando a dádiva da vida.

Antonio Samarone. Médico sanitarista.

domingo, 4 de fevereiro de 2024

AS CASTANHAS DO CARRILHO

 

As Castanhas do Carrilho.

Visitei o stand da "Castanha do Carrilho", durante o SEALBA. Cristina, a Presidente da cooperativa, estava lá, para receber a todos.

Itabaiana se transformou num grande produtor de castanhas assadas do Brasil, sem plantar cajueiros. Ainda Pode se tornar um negócio bem mais importante.

O negócio ainda é primitivo e as castanhas beneficiadas de forma amadora. A cooperativa é uma forma de agregar valor. Quem comer a castanha assada gosta.

Eu evito comprar, pois enquanto ela está no frasco eu não paro de beliscar. Toda a hora encho a mão.

Estou aguardando a visita no Carrilho do meu amigo, jornalista e intelectual Luiz Eduardo Costa.

Pedro de Mariquinha, um produtor das Tabocas, está tentando exportá-las para a China. Veja o tamanho mercado.

Vamos organizar a produção da castanha assada?

Um amigo aqui em Itabaiana me disse o contrário: "só está dando certo, porque o Poder Público está longe. Deixe eles lá."

As comunidades do Carrilho, Dendezeiro e Tabocas possuíam a tradição de assar castanhas, herdada dos negros. São ex Quilombos.

Antes, no começo da safra de cajus, se vendia o maturi, cada vez mais raro e mais caro. Esse ano só comi uma vez.

O nome Carrilho é uma estranha homenagem a Fernão Carrilho, um capitão do mato, que perseguia os escravizados. Carrilho comandou por muito tempo a luta para o massacre de Palmares. Como premio, ele chegou a governar a Província do Maranhão.

Itabaiana é uma terra de empreendedores. Alguém teve a ideia de pegar carona nas boleias dos caminhões e levar a castanha assada Brasil afora. Deu certo!

Hoje, onde se chegar, de norte a sul, e encontrar alguém vendendo castanha assada, tenha certeza, é gente nossa. Pode perguntar.

Não confundir com a castanha do Ceará vendida em supermercado e usada para exportação. Lá a castanha é cozida. A nossa castanha é assada, a moda dos Tupinambás. Compare os sabores.

O Carrilho é uma comunidade modelo, ruas pavimentadas, água encanada, esgoto, escola, unidade de saúde e praças. Um lugar bem cuidado.

Entretanto, pode-se ir bem mais longe com as castanhas do carrilho, além de se vender nas feiras e de levar amadoristicamente pelo Brasil. Vamos exportá-las?

"Quando você vem com os cajus, eu já estou com as castanhas assadas." Era um ditado comum em Itabaiana, para se dizer sabido.

Itabaiana assa a castanha produzida no Nordeste.

Antonio Samarone - médico sanitarista.

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024

A VIDA ETERNA

 A vida eterna...
(por Antonio Samarone)

O filósofo Afonso Souto Maior, vulgo Sabidinho da Moita Formosa, é um autodidata. Aprendeu sozinho tudo sobre informática, no laboratório do Doutor Eliseu, no Beco Novo. Ele começou estudando alquimia.

Uns acham que ele endoidou, outros que é um sábio. O certo, é que tramita a concessão de um título de doutor “honoris causa”, numa universidade do Piauí.

Ele anda defendendo teses, que são a mais pura ciência. Vejam:

O elixir da longa vida e a imortalidade prometida pelos alquimistas está próxima da realidade. Por outro caminho. O corpo é a ruína dos esforços do espírito.

O problema é o como se libertar do corpo.

A pós-humanidade está nascendo, liberta do corpo. O corpo é a carne! A existência só será viável no ciberespaço. Basta se construir um programa com cada neurônio, com cada sinapse de um cérebro particular, que se faça a transferência do espírito, com toda a sua memória para um computador.

“Se você consegue fazer uma máquina que contenha o seu espírito, a máquina será você mesmo. Que o diabo carregue o corpo físico, não interessa. Uma máquina pode durar eternamente.” – G. J. Sussman.

Somos a última geração obrigada a morrer. A incorporação do espírito (alma) a máquina, criará o homem do futuro.

Basta tele transportar o espírito para o computador. Teremos, finalmente, uma sociedade dos espíritos. Era nessa imortalidade do espírito que o mago argentino, Jorge Luiz Borges acreditava. A tecnologia vai torná-la realidade.

Com uma vantagem, caso se fique entediado com o ciberespaço, usa-se o próprio DNA, que ficou armazenado, e se reconstrói um novo corpo. A transição máquina corpo, o retorno é possível.

“Num futuro próximo, o homem como conhecemos hoje, perecível, será uma simples curiosidade histórica, uma relíquia, um ponto perdido na imensa diversidade das formas.” – Timothy Leaey.

É o fim do corpo, que tanto nos sobrecarrega, sobretudo na velhice.

Nem acredito, nem desacredito nas heresias de Sabidinho. Talvez essa imortalidade não chegue mais para o meu bico. Vou carregar o meu corpo, resignadamente, até o Porto final.

Antonio Samarone (médico sanitarista)