A toponímia sergipana (como
surgiu o nome do Rio Vaza Barris?).
Antonio Samarone
Ao tomar conhecimento da
descoberta de Cabral (1500), O Rei de Portugal D. Manuel, organizou uma
expedição oficial com três caravelas, comandada por Afonso Gonçalves, para
fazer o reconhecimento do “Mundus Novus”. A expedição zarpou do Tejo em maio de
1501, e trouxe a bordo o florentino Américo Vespúcio, como cronista da viagem.
Através de suas cartas tomou-se conhecimento da viagem. Depois de percorrer
outros trechos do litoral brasileiro, a expedição chegou a Sergipe no inicio de
outubro.
A expedição manuelina avistou o Rio
Parapitinga dos tupinambás em 04 de outubro de 1501, e usando do critério
hagiológico, ele foi imediatamente rebatizado como Rio São Francisco. Em
seguida, a expedição é arrastada pelas correntes marítimas para uma perigosa enseada.
Relata Vespúcio: chegados à costa, enfrentam os navios uma inopinada corrente
que arrasta as águas para a praia, pondo em risco as embarcações. Naqueles dias
longínquos de 1501, as caravelas tiveram que lutar com as forças da água e
certamente tonéis de bordo se entrechocaram afrouxando juntas e barris vazaram
os líquidos que haviam... A costa turbulenta, cuja curvatura dava lugar a uma
espécie de enseada, foi apelidada pelos marujos de armada de Vazabarris,
passando assim a cartografia (vaz a barril).
A expedição de 1501 batizou incialmente
o rio Irapiranga dos tupinambás como rio Canafístula (mapas portugueses) ou
Cassía (mapas italianos), Vaza Barris era apenas a denominação da enseada. Por
razões obvias o rio Canafístula por ser o mais volumoso da enseada passa a
receber depois o nome de Vaza Barris. Um dos produtos levados pela expedição de
volta está a canafístula (uma fava medicinal usada na Europa), reforçando-se a
versão que eles ficaram ancorados na enseda do Vaza Barris por cinco dias. A
outra evidência é o longo tempo de percurso da expedição (26 dias) entre o Rio
São Francisco e a Baia de Todos Santos. A Baia só foi batizada em 01 de novembro
de 1501.
Nas instruções náuticas de 1907 para
a marinha francesa, sobre as costas do Brasil, existe um alerta: Ao sul do São
Francisco a costa inflete-se e forma uma vasta baia de Vazabarris, onde desaguam
os Rios Cotinguíba, Vazabarris, etc. Esta baia é, no inverno, bastante
perigosa: o vento e a corrente levam a Noroeste para o fundo da baia, onde se
encontra senão uma praia deserta, sem nenhum porto nem abrigo, os navios impelidos
para a praia dificilmente podem se safar.
A denominação seguinte dada pela
expedição de 1501 é ao Rio Perera (Rio do Pereira), nome do capitão da caravela
que o viu e nele penetrou. É o nosso Rio Cirigi (dos tupinambás), que se junta
ao Rio Cotindiba (Cotinguíba) em sua foz. O Rio Cirigi é que vem dar nome ao
Estado de Sergipe.
A expedição também batizou uma
serra, avistada a uma distância de 8 a 10 léguas, de Serra de Sta. Maria de
Gracia (Serra de Santa Maria da Graça), que posteriormente foi denominada Serra
de Itabaiana.
Por último a expedição batizou o
Rio Real, com duas versões para o nome. Uma como homenagem a data de nascimento
de D. Manuel (25 de outubro), e a outra pela impressão que a largura da foz
deixava, levando-se a impressão de tratar-se de um rio volumoso e de longo
curso.
A principal fonte dessas notas é
o livro de Moacyr Soares Pereira, “A Navegação de 1501 ao Brasil e Américo
Vespúcio”, publicado no Rio de Janeiro em 1984.
PS: incomodado com uma bobagem
postada num portal de turismo de Aracaju, sobre a denominação do Rio Vaza Barris,
resolvi ir procurar o que a história tinha para nos contar.