quinta-feira, 27 de julho de 2017

ORLANDO DE CALAZANS RIBEIRO


ORLANDO DE CALASANS RIBEIRO – nasceu em 12 de novembro de 1901 em Estância/SE, filho do Coronel Leonardo Costa Ribeiro (imigrante e industrial português) e Dulce Calazans Ribeiro. Formou-se pela Faculdade de Medicina da Bahia em 1924, defendendo a tese "Physio-Psychologia das Emoções". Fez pós-graduação na Europa na área de radiologia, diretor da Fábrica de Tecidos e articulista na imprensa em Sergipe. Tenente-oficial médico do Exército Brasileiro. Atuou ainda na política como deputado estadual constituinte em Sergipe. Faleceu em 6 de junho de 1972, em Sete Lagoas/MG, com 70 anos.
Verbete do Dicionário de Médicos de Sergipe.

terça-feira, 25 de julho de 2017

MESTRE DA MEDICINA EM SERGIPE - José Abud


José Abud (80 anos), filho de pais sírios, de Aleppo. Inscrição nº 125 do CRM Sergipe. Professor de propedêutica de várias gerações de médicos, um virtuose da medicina artesanal. Um olhar clínico aguçado, remanescente de uma medicina feita com as mãos (palpação, percussão, toque), com os ouvidos, enfim, com os sentidos. Uma medicina centrada na história do paciente, em lembranças, reminiscências, recordações (anamnese). Uma medicina onde os exames eram realmente complementares, e se houvesse discordância entre o resultado dos exames e a clínica, prevalecia a última. A clínica era soberana. Como nos ensinou o professor José Abud: a medicina é uma disciplina das humanidades, não é um ramo da economia (não era).

Formado pela Escola Baiana de Medicina em 1961. Retornou a Sergipe, indo clinicar no Hospital de Cirurgia. Médico do INAMPS. Especializou-se em geriatria em 1969, sendo o primeiro geriatra de Sergipe. Depois de se tornar um médico conceituado, com clientela abundante, resolveu voltar aos bancos escolares, formando-se em educação física, aos 69 anos.

Poeta, com livros publicados. Durante vários anos comandou um suplemento literário da Gazeta de Sergipe. O Dr. José Abud é membro das Academias Sergipana de Letras e da Academia Sergipana de Medicina. No momento, aos oitenta anos, continua atendendo os seus pacientes com dedicação e competência. José Abud, é de uma geração de médicos que cumpriu um ciclo numa medicina humanizada, centrada no colóquio singular médico/paciente.

Dúvida

“Como aceitar
que essa boca
que tanto ofende
beije?

Que estes punhos cerrados
Se abram mão que
acariciem?

Que estes olhos
Injetados de ódio
Se torne serenos
e límpidos?

Que esse corpo
tenso de rancor
se abandone,
lânduido,
ao amor?”


José Abud 

quinta-feira, 20 de julho de 2017

HOSPITAL SÃO MATEUS - SÃO CRISTÓVÃO, SE.


HOSPITAL SÃO MATEUS – São Cristóvão, SE.

A Santa Casa Misericórdia de Sergipe, fundada no século XVI, e dela dá notícia frei Antônio de Santa Maria Jaboatão no seu Novo Orbe Seráfico, seria de 1590 e cessou de funcionar no século XVII. Foi das mais modestas, como a de Ilhéus e outras. ” Lycurgo Santos Filho, em sua História Geral da Medicina Brasileira, PP 250, 1o Volume, relata sobre uma primeira fundação. Essa informação faz sentido, pois Cristóvão de Barros, que comandou a ocupação de Sergipe, foi por muito tempo o provedor da Santa Casa da Bahia. Posteriormente, outra Santa Casa foi fundada.
Documentos sobre o funcionamento das Santas Casas em Sergipe são raros, quase inexistentes. No momento da independência (1820), a Santa Casa de São Cristóvão encontrava-se totalmente abandonada, e, como consequência, o Hospital São Mateus, o único hospital da Província estava fechado. Para a reabertura do hospital de caridade de São Cristóvão (Hospital São Mateus) foram tomadas algumas providências, uma vez que o funcionamento da Santa Casa de Misericórdia, administrada conforme o antigo compromisso de Lisboa, andava totalmente irregular.
No momento da reabertura (1820), o funcionamento da Santa Casa de São Cristóvão era precário e irregular, as finanças dilapidadas, sendo preciso estabelecer outras formas de financiamento. A lei Provincial, de 21 de março de 1836, estabelece nos artigos 89 e 90 do seu regulamento geral que todas as embarcações que ancorem nos portos de Sergipe paguem uma taxa para as Santas Casas de Misericórdia. O decreto de 22 de março de 1838 autoriza também a Santa Casa de São Cristóvão a realizar loterias, visando à arrecadação de fundos para viabilizar o funcionamento do hospital.
“As Confrarias e Associações de Caridade da Província, existem pela maior parte em grande abandono, e de toda a que apresenta mais repreensível desleixo, é sem dúvida a da Misericórdia desta cidade. Esta instituição, única deste gênero que há na Província, não exerce ofício de caridade de qualquer natureza que seja, achando-se em completo abandono os miseráveis órfãos desta Província, e os enfermos desvalidos. ” Relatório do Presidente da Província, Dr. Manuel Joaquim Fernandes de Barros, à Assembleia Provincial, em 11 de janeiro de 1836.
No caso da Santa Casa, a dilapidação do patrimônio, o desaparecimento dos livros de contabilidade, dos registros das posses e o não funcionamento de nenhum serviço de caridade, formavam um diagnóstico perfeito. Somando-se a este quadro, existia um Aviso Imperial de 21 de novembro de 1831, que determinava aos Governos das Províncias que tomassem as contas das citadas instituições de caridade. Em 1832 é criada uma primeira comissão para cumprir tal tarefa, que, devido às enormes dificuldades, não consegue cumprir o intento. Uma portaria Imperial, de 05 de setembro de 1833, continuava insistindo para uma reavaliação de todas as Misericórdias do País.
Na Província de Sergipe, o Presidente, Doutor Manoel Ribeiro da Silva Lisboa, determinou ao Sr. Juiz de Direito da Capital, que apreendesse o “livro de provimentos” Santa Casa de Misericórdia, a fim de esclarecer a situação financeira da mesma. Em 1835, ele instituiu uma nova comissão, composta pelos senhores José Rodrigues Vieira e Almeida, Major Francisco Gonçalves Cunha, pelo padre Mestre José Fernandes de Bulhões e pelos Drs. Cypriano José Correia e José Nunes Barbosa Madureira, com o objetivo de avaliar as rendas, a administração e os desvios da Santa Casa de Misericórdia de São Cristóvão.
“Esta Comissão conquanto trabalhasse para desempenhar a honrosa missão, de que estava incumbida, não avançou muito por causa dos obstáculos que encontrou em sua marcha, por não achar escrituração alguma regular; e mesmo pelo roubo dos livros, assentamentos e até escrituras, que não foram encontradas em parte alguma .”
Na tentativa de resolver o problema, o Presidente, Bento de Mello Pereira, através de “carta de lei” de 21 de março de 1836, determinou a revisão das contas de todas as irmandades, confrarias, capelas e ordens terceiras, com exceção da Santa Casa de Misericórdia, desde o ano de 1822. No caso da Santa Casa de São Cristóvão, a providência foi mais dura: o Governo determinou uma intervenção, e, a partir daquela data, aquela instituição de caridade passou a ser administrada por uma comissão, composta de cinco membros, nomeados pelo próprio Governo da Província. E mais, determinou também uma rigorosa apuração de suas contas, uma vez que a fama que corria era da completa roubalheira por grande parte dos irmãos de caridade, que administravam aquela pia instituição.
Diante dos desmandos, o Presidente da Província operou uma certa intervenção nesta Instituição centenária, fundada pela segunda vez de acordo com os compromissos de Lisboa, ainda no século XVII, em tempo imemorial, logo após a expulsão dos holandeses. A Santa Casa passou a funcionar de acordo com estatutos aprovados por lei, em 21 de março de 1836, no Governo de Bento de Mello Pereira. A administração passou a ser exercida por uma comissão de cinco membros, nomeada pelo Presidente da Província.
A Santa Casa de São Cristóvão era uma entidade rica, o seu patrimônio estava calculado em torno de 40 contos de réis, fora os imóveis. Entretanto, quase sempre mal administrada. Estando a maior parte desse patrimônio em mãos de particulares, que não pagavam um conto de réis de juros, e que negavam terem-se apropriado de tais bens. Uma parte do patrimônio já não se tinha mais como provar que era da Santa Casa, pois os documentos foram criminosamente destruídos. Até uma doação recente, de 12 contos de réis, em moeda sonante, feita pelo Marechal de Campo José Ignácio Accioli, já estava em mãos de pessoas inescrupulosas, sendo preciso o acionamento da justiça para tentar receber a dívida. A filantropia social, nesse momento em Sergipe, estava em total decadência, necessitando, como foi o caso, da ação moralizadora do Estado. Várias Comissões foram feitas e desfeitas sem nenhum resultado.
Efetivamente, para o funcionamento da única instituição de caridade mantida pela Santa Casa, o hospital São Mateus, foi preciso que o Governo da Província passasse a efetuar doações de recursos públicos do tesouro, em forma de subvenção anual de cerca de um conto de réis; de conceder o privilégio da exploração de loterias; e, para completar o orçamento, estabelecer que todas as embarcações que deixassem os portos da Província deveriam pagar uma certa quantia à Santa Casa de Misericórdia, uma vez que os marinheiros poderiam precisar dos serviços do hospital de caridade.
O Hospital São Mateus, hospital mantido pela Misericórdia, volta a funcionar com regularidade a partir de 20 de setembro de 1840, iniciativa da comissão administrativa, presidida naquele momento pelo senhor Luiz Corrêa Caldas Lima. O hospital funcionava num sobrado com salas apertadas, ao lado da Igreja da Misericórdia. “A este estabelecimento existe anexo o de um hospital denominado de São Mateus, cuja fundação é imemorial...”. O hospital possuía uma enfermaria para os presos, outra para os indigentes, localizadas na parte térrea, pequenas e mal ventilados; e outra para os irmãos pobres, localizada na parte superior, ampla e bem arejada; possuía ainda “cubículos” especiais para os lunáticos e uma sala destinada ao depósito dos cadáveres.
“Os hospitais nesta Província, embora referidos desde o segundo quartel do século XIX, não passavam de pequenas enfermarias, ou dormitórios de doentes, pouco equipados e com escassos recursos. A Santa Casa de Misericórdia de São Cristóvão, embora setecentista, se comparada com a da Bahia ou do Rio de Janeiro, era tão pobre e pequena que causava pena...”
O funcionamento do hospital era criticado em quase todos relatórios dos Presidentes da Província. Por vários anos, funcionou sem a presença de um único médico e de nenhum boticário. Na verdade, o hospital de caridade de São Cristóvão estava muito distante de ser uma instituição de cura, a modo dos hospitais modernos. Como exemplo, entre os 78 internos que passaram por aquela casa no ano de 1854, 13 eram presos da cadeia, recolhidos ao hospital por requisição oficial do delegado da cidade.
Os desmandos administrativos obrigaram o Governo da Província a determinar uma nova intervenção na Santa Casa de Misericórdia de São Cristóvão, em 1865. No ano anterior, o Juiz de Direito da Comarca de Aracaju, já havia destituído toda a diretoria administrativa da Santa Casa, por malversação dos recursos daquela entidade.
“Dos hospitais existentes na Província o mais rico é o de São Cristóvão, cujo patrimônio orça em 40:000$000 réis. Como se verificou em 1864 na tomada de contas. Entretanto, não presta este pio estabelecimento os serviços que era de se esperar, e nem a sua receita é florescente, devido isto a má gerência dos seus fundos e inconvenientes aplicações dos seus rendimentos. ” Relatório com que o Presidente da Província, Dr. Francisco José Cardoso Júnior, abriu a 1a sessão legislativa da Assembleia Provincial, em 04 de março de 1870.

A partir de 10 de novembro 1869, o Presidente da Província, Francisco José Cardoso Júnior, alegando que a Santa Casa de Misericórdia de São Cristóvão não cumpria os fins a que se propunha, que o hospital não possuía nem médicos, nem botica, resolve suspender todo tipo de subvenção do poder público àquela casa de caridade. Com essa drástica medida, o Hospital São Mateus fecha suas portas, encerrando sua longa história.
 Foto da Associação de caridade Rosa Vieira de Melo de 1874, daí nasce a ideia do projeto maior que foi o hospital de Caridade em Rosário do Catete
Antonio Samarone. 

quarta-feira, 19 de julho de 2017

MESTRES DA MEDICINA EM SERGIPE - Hamilton Maciel



Hamilton Maciel (77 anos) – Natural de Jaciobá, a mais sergipana das cidades alagoanas. Filho de Seu Milton e Dona Albertina, nasceu em 22/10/1940. Até os 15 anos, viveu as delícias de ser um ribeirinho do São Francisco (antes das represas).  Conheceu as vadiagens, os mistérios, as assombrações do rio e espantou-se com as suas enchentes. Estudou no Grupo Escolar (escola de ricos e pobres). Foi coroinha do Padre Jasson, e ajudou missa em latim. Pensou seriamente em ser Frade, inspirado pelo Santo Frei Damião, um tridentino que pregava pelos Sertões. Na política local, sua família era udenista, ou seja, adversária do Coronel Elísio Maia, senhor de baraço e cutelo, e comandante de uma imensa jagunçada.

Na adolescência foi estudar em Maceió. Logo cedo envolveu-se com o movimento estudantil e com os revolucionários da época. Filiou-se ao Partidão, fez parte das células clandestinas, lutou pelas reformas de base, participou da fundação do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Jaciobá. O seu envolvimento chegou a tal ponto, que quando foi casar com Glorinha, já no altar, o padre se negou a realizar a cerimonia, alegando que não casava comunista ateu. As pressas, foram na cidade vizinha buscar um padre mais moderado.

Inteligente, inquieto, o Dr. Hamilton Maciel formou-se primeiro em odontologia (1964); foi empregado dos Correios e Telégrafos; e só depois, resolveu fazer o curso de medicina, concluindo em 1971, aos 31 anos de idade. Durante o curso, houve uma identificação com a psiquiatria. Já casado e com família, em 1972, o Dr. Hamilton Maciel aceitou o convite do Secretário da Saúde de Sergipe, Dr. Jorge Vieira, e vem dirigir o hospital Adauto Botelho, na época, um dos grandes problemas da Saúde Pública no Estado. Um hospital com 120 leitos, abrigando 470 loucos ou enlouquecidos.

Com o seu jeitão amigueiro, vontade de trabalhar, decência, sede de conhecimentos, o Dr. Hamilton foi conquistando os sergipanos. Caiu nas graças do grande morubixaba da psiquiatria sergipana, o Dr. Garcia Moreno. Foi logo convidado para ser auxiliar de ensino de medicina legal e deontologia na UFS. Indicado para o Conselho Penitenciário. Fundou em Sergipe o primeiro grupo de Alcóolicos Anônimos (AA), mesmo sem ser alcoólatra, como custodiante, (hoje existe mais de cem AA em Sergipe). Seu empenho o conduziu a ser o presidente nacional dos AA. Um trabalho anônimo e eficiente de assistência e apoio aos dependentes.

A sua capacidade de liderança e a sua inquietude conduziram-no para múltiplas tarefas. Organizou grupos de estudos de psiquiatria (década de 1970), fundou a Sociedade Sergipana de Psiquiatria, foi Presidente do Conselho Regional de Medicina, Presidente da Sociedade Médica de Sergipe, participou da fundação da Academia Sergipana de Medicina; e no momento, como coroação de uma vida dedicada as lutas dos médicos, é o Presidente da Federação Nacional de Academias de Medicina. Carregou ao longo da jornada a bandeira da criação de uma Ordem Médica, a exemplo dos advogados. Em 1979 fundou a Clínica de Repouso São Marcelo, que continua prestando bons serviços à comunidade.

O Dr. Hamilton Maciel, por sua amizade com Seixas Dória, se meteu na política. Foi Presidente do PMDB, suplente de Senador e Secretário Estadual da Saúde. Entrou e saiu sem uma mancha. Para os mais jovens, o Dr. Hamilton Maciel é o pai de Helvinho, de Zaíra, Herardes e Hamilton Filho; avô de uma dezena de netos e marido da Dra. Maria Glória, também psiquiatra.


O Dr. Hamilton Maciel é sergipano por adoção. Um bom papo, culto, engajado nas boas causas, sempre cordial e ameno. Uma raridade na vida da Província: não ter inimigos nem ser motivos de fofocas e malquerenças. 
Antonio Samarone.

terça-feira, 18 de julho de 2017

PRIMEIRA MÉDICA SERGIPANA


As Mulheres na Medicina.

Entre as obras produzidas na primeira Faculdade de Medicina do Ocidente, a famosíssima Escola de Salerno (Collegium Hippocraticum), criada no século X, próximo a Nápoles; encontramos a (“De passionibus mulierun curandorum ante, in, post partum”) – Sobre as doenças das mulheres, versando sobre ginecologia, obstetrícia e puerpério, escrito por Trotula Abella, uma das grandes na história da medicina.

Mesmo no Brasil, onde o acesso as Faculdades de Medicina era vedado às mulheres até 1879, algumas mulheres conseguiram destacar-se: A mais célebre e a mais conhecida foi à madame Durocher, Maria Josefina Matilde Durocher, parteira nascida em Paris em 1808 e falecida no Rio de Janeiro em 1893. Chegou a membro titular da Academia Imperial de Medicina. A primeira mulher a merecer tal distinção.

Durante o período Colonial e parte do Império (século XIX), a obstetrícia era praticada pelas parteiras e comadres (aparadeiras). Os médicos só eram chamados nos casos complicados. As parteiras, a maioria de origem francesa, não só realizavam os partos, como sangravam, vacinavam e tratavam das moléstias do útero.

A primeira médica brasileira, a carioca Maria Augusta Generoso Estrela, formou-se nos Estados Unidos, em 1881. As primeiras mulheres formadas no Brasil foram às gaúchas Rita Lobato Velho Lopes, em 10 de dezembro de 1887, na faculdade de medicina da Bahia; e Ermelinda Lopes de Vasconcelos, formada em 1888, no Rio de Janeiro.

Ítala Silva de Oliveira (FOTO) foi à primeira sergipana formada em medicina, em 31/10/1927, na faculdade da Bahia, defendendo a tese “Da sexualidade e da educação sexual”. Nascida a 18 de outubro de 1897, em Aracaju, e falecida no Rio de janeiro em 1984, filha de Silvano Auto de Oliveira e D. Marcionilla Silva de Oliveira, estudou no Atheneu Sergipense, foi professora da Escola Normal, uma das fundadoras do Asilo Rio Branco, Secretaria da “Liga Sergipana contra o Analfabetismo” e feminista atuante. Depois de formada passou a clinicar e residir no Rio de Janeiro, não tendo mais retornado a Sergipe.


A trajetória dessa polêmica intelectual sergipana foi objeto de investigação de uma brilhante tese, da doutora Anamaria Gonçalves Bueno de Freitas, reabrindo a questão sobre esquecimento devotado à doutora Ítala Silva de Oliveira, em Sergipe. Ítala Silva de Oliveira publicou vários trabalhos na imprensa sergipana: “O casamento civil”, “A mulher e o voto”, “Pela instrução”, “Conferências”, “Asilo Rio Branco”, “Pelo feminismo”, entre outros.

Antonio Samarone. 

domingo, 9 de julho de 2017

O TAMANHO DE SERGIPE


O Tamanho de Sergipe.

A Capitania de Sergipe d’El-Rey abrangia as cinquenta léguas contadas da margem direita do Rio São Francisco, doadas inicialmente a Francisco Pereira Coutinho, e que terminava entre os Rios Pojuca e Sabahuma, distante vinte léguas da Baia de Todos os Santos. A confusão começou porque Coutinho se estabeleceu na Baia de Todos os Santos, já ocupada por Caramuru, com a povoação de Villa Velha. Por desconhecer a área que lhe pertencia, Coutinho durante os onze anos que passou por aqui só explorou o que não era seu. A sua comitiva chegou em 1536 e Coutinho foi devorado pelos tupinambás na Ilha de Itaparica em 1547.

Com a nomeação de Tomé de Souza primeiro Governador, em 07/01/1549, foi criada a Capitania Geral da Baia de Todos os Santos, que abrangia seis léguas em quadro em torno da povoação do Salvador que seria fundada por Tomé de Souza. Essa Capitania de Todos os Santos tornou-se a sede do Governo Geral instituído. O erro proposital que os historiadores baianos difundiram é que a Capitania Geral da Baia de Todos os Santos era a mesma Capitania de Francisco Pereira Coutinho, erro que alguns historiadores sergipanos repetem até hoje, pois essa tese facilitou ao longo dos séculos o avanço da Bahia.  

Com a morte de Coutinho, a família não teve condições de continuar a exploração, tendo a Capitania ficado intocada por longo anos. Somente a partir de setembro de 1573, quando a Coroa compra a Capitania de Coutinho, é que é dado ao Governador Luiz de Brito ordem para explora-la, resultando na fracassada expedição de 1575. O território da Capitania de Coutinho só veio a ser conquistado em definitivo pelos portugueses em 1590, recebendo o pomposo nome de Capitania de Sergipe d’El-Rey.

Facilitando para quem achou o texto confuso, o litoral da Capitania de Sergipe quando criada em 1590, possuía uma extensão de 300 Km (50 léguas), começando na foz do Rio São Francisco, e foi reduzido ao longo do tempo aos atuais 163 Km, com o progressivo avanço da Bahia. Sem esquecer o avanço na área equivalente ao sertão de Jeremoabo. 

Claro, essa polêmica das fronteiras está ultrapassada, quem perdeu, perdeu, não tem mais jeito. Ocorre, que essa polêmica ainda está rolando a nível de Assembleia Legislativa de Sergipe, pois a Bahia achou pouco e ainda está querendo avançar mais uma beirinha, rediscutindo município por município.  
Antonio Samarone.

quarta-feira, 5 de julho de 2017

MESTRES DA MEDICINA EM SERGIPE - Geraldo Bezerra


GERALDO BEZERRA – Nascido à fórceps pelas mãos do Dr. Ávila Nabuco e da Irmã Furtunata, na maternidade do Hospital de Cirurgia, em 29 de setembro de 1946. Filho do Juiz de Direito de Itabaiana e militante da Liga Eleitoral Católica (LEC) José Bezerra e de Dona Cacilda. Geraldo passou a primeira infância no Bairro Santo Antonio, tendo como professora a conceituada Umbertina Barbosa.

Geraldo Bezerra foi morar em Itabaiana em 1957, aos 10 anos de idade, passando pelos bancos da Escola de Maria Branquinha e do Murilo Braga. Conheceu como poucos os bastidores da tumultuada vida política de Itabaiana do final da década de 1960. Geraldo Concluiu o ensino fundamental no Colégio Atheneu. Em 1966, foi aprovado em primeiro lugar em medicina, na Universidade Federal de Sergipe.

A sua escolha por ser médico passou por uma vivência de sofrimento. Com apenas seis anos de idade, acompanhou a dolorosa morte de sua tia Glorinha com câncer de mama, metástase para o pulmão, mastectomizada de forma radical, com remoção dos músculos peitorais, deixando-a com um aspecto desfigurado. Como se morria em casa, o pequeno Geraldo assistiu aquele sofrimento, levando-o a tomar uma decisão, seria médico, para encontrar um tratamento para tão insidiosa moléstia.

Dito e feito. Entrando na Faculdade procurou logo cedo acompanhar o Dr. Oswaldo Leite, o primeiro oncologista de Sergipe, que em 1959, iniciou o tratamento radioterápico do câncer por aqui. O Dr. Geraldo Bezerra seguiu o seu mestre e professor. Terminado a graduação, foi ao Rio de janeiro especializar-se em oncologia, sua missão. Retornando a Sergipe por volta de 1975, o segundo oncologista iniciou a quimioterapia em Sergipe, sendo a primeira paciente uma mulher com câncer de mama, no hospital Santa Isabel. Nada mais simbólico, o Dr. Geraldo usando novos recursos terapêuticos, ainda precários, tentando salvar uma vida do terrível mal, que tinha abatido a sua tia. A droga usada foi o endoxan, uma ciclofosfamida de baixa eficácia e elevados efeitos colaterais. O Dr. Geraldo Bezerra montou o ambulatório de oncologia do INAMPS em Aracaju, onde atuou até a aposentadoria.

O Dr. Geraldo Bezerra foi um eterno professor, desde jovem. Como coroamento, terminou ensinando genética médica no curso de medicina da UFS. Sempre foi um apaixonado pela história. No primeiro ano do ginásio, em Itabaiana, o professor Eduardo Porto (Pompéia) passou como dever de casa um trabalho sobre a ocupação dos corsários franceses no Rio de Janeiro no século XVI. A apresentação do pequeno Geraldo foi tão maravilhosa, que o professor sempre o requisitava para a apresentação do trabalho nas series mais avançada, como prova de que se estudando as coisas ficam fácies.

Hoje, aos 71 anos, 46 de casado com Dona Elisabeth, pai de três filhos, o Dr. Geraldo Bezerra continua assistindo as suas missas semanalmente, e atendendo as suas pacientes na AVOSOS. Sereno, equilibrado, com a sensação do dever cumprido, alimentando planos de escrever sobre muitas passagens da vida. O Dr. Geraldo possui uma memória recheada de estórias e versões sobre a vida sergipana. Aguardando os seus escritos...


Antônio Samarone.