sexta-feira, 31 de maio de 2019

A MEDICINA DESUMANIZADA



A desumanização da medicina. (por Antônio Samarone)

Existe um movimento nacional pela humanização da medicina. Essa iniciativa é o reconhecimento óbvio de que a medicina foi desumanizada. Entretanto, não fica claro nem o que é, nem como aconteceu essa desumanização. Nas entrelinhas, parece uma visão ingênua. A desumanização é vista como: desvio pessoal de conduta do médico, voltada para o lucro; postura psicológica inadequada; ou desatenção no relacionamento com a sua clientela.

Os remédios sugeridos para a humanização seriam, a introdução de conteúdos de “humanidades” e de noções de “artes”, nos currículos de medicina. Para o senso comum a medicina é “ciência e arte”, faltar-se-ia o segundo pilar na formação. Arte nessa perspectiva é entendida como música, pintura, teatro e dança. O projeto visa introduzir noções de literatura, arte e filosofia nos currículos de medicina.

Mesmo ausente no projeto a concepção histórica da “medicina como arte” (percepção sensível do sofrimento humano), mesmo assim, tornar os médicos pessoas ilustradas, abertos às artes, a história e a filosofia, tem lá os seus benefícios. Entretanto, pouco afeta ao processo de desumanização em curso.

O caminho apontado é a criação de disciplinas onde os alunos leiam os clássicos da literatura, discutam filosofia e história, assistam a filmes, façam teatro, dançem, ouçam músicas, em suma, recheiem a sua formação com conteúdo de humanidades. Um pouco de erudição cultural. Para relativizar um certo cientificismo, tecnicismo, frieza, reais ou imaginárias.

Onde e como ocorreu essa desumanização da medicina?

Quando a medicina deslocou a atenção ao doente para a doença, ela caminhou para a desumanização. A relação deixou de ser homem/homem, do médico com o doente, para ser homem/objeto, do médico com a doença. A relação médico/paciente virou uma relação médico/doença. A medicina passou a lidar com “casos”.

A medicina artesanal do século XX, exercida predominantemente de forma liberal, estava centrada na relação médico/paciente, no colóquio singular, na livre escolha, na confiança, no segredo, na autonomia do médico. Ela está sendo substituída pela medicina comercial. A clínica perdeu a soberania. O paciente virou consumidor, cliente, usuário.

O segundo passo da desumanização foi o “cuidado” deixar de ser o eixo central do ato médico, de forma que a realização dos procedimentos assumiu a forma principal. A mudança foi mais profunda, pois o médico poderia centrar a sua atenção nas doenças e secundariamente, manter uma relação principal com os doentes. Seria uma desumanização mitigada. O caminho seguido foi outro.

O ato médico foi subdividido em quatro mil e seiscentos procedimentos, conforme a tabela da AMB. Procedimentos classificados em grau de complexidade e realizados de forma independente, por profissionais distintos, no atendimento a um mesmo paciente.

O que induziu a medicina a essas mudanças?

Em meados da segunda metade do Século XX (1980/90), os serviços de assistência à saúde foram incorporados ao mercado, tornando-se uma importante atividade econômica. No Brasil, passou a representar cerca de dez por cento do PIB.

No pós Segunda-Guerra, os medicamentos assumiram a forma de mercadoria industrializada, superando a fase artesanal. Foi o primeiro subsetor do complexo assistencial da saúde a incorporar-se ao mercado capitalista. O remédio é uma mercadoria e assim se comporta. A sua produção é comandada pela lógica do lucro (primazia do valor de troca sobre o valor de uso), produção em larga escala e padronização.

Ao assumir a forma de atividade econômica, surgiu uma grande dificuldade para a assistência à saúde: como transformar os cuidados médicos em mercadorias. A medicina lida com a morte e o sofrimento humano. Como enfrentar a subjetividade do cuidado e a personalização? Cada paciente é uma pessoa em particular, tem a sua história, suas crenças, seus desejos e seus medos. Como padronizar esses cuidados, torná-los impessoais, quantificáveis, produzidos em série, em síntese, torná-los mercadoria?

O trabalho médico na forma de mercadoria se relaciona com as doenças em forma de coisa (“casos”). Uma relação entre pessoas, médico/paciente, se transformou numa relação entre coisas, no conhecido processo de fetichismo da mercadoria. A relação social entre as coisas, tomou o lugar de uma relação entre pessoas. Resumidamente, é a chamada desumanização da medicina.

A economia de mercado produz mercadorias, sem meio termo. Independente do valor de uso, as mercadorias realizam-se na troca, na consumação do lucro. O capital tem as suas leis. Era preciso padronizar o cuidado médico para adequá-lo as exigências do capital.

Foi preciso transformar os cuidados médicos pessoais e subjetivos em frações objetivas, quantificáveis e impessoais. A saída foi a introdução dos protocolos e das diretrizes terapêuticas para a padronização e fragmentação do cuidado médico em procedimentos. Era o esvaziamento da relação médico/paciente e o nascimento de uma relação de consumo.

O médico passou a produzir para o mercado, comandado pelas operadoras dos planos de saúde. O mercado financeiro assumiu um papel dominante na produção de serviços. O complexo médico-industrial se consolidou. Para sobreviverem, os hospitais filantrópicos, familiares, cooperativos se profissionalizaram e assumiram a lógica da produtividade. Mesmo assim, correm o risco de serem incorporados pelas grandes redes internacionais, comandadas pelos fundos de pensões.

A medicina deixou de ser voltada para os pacientes e voltou-se para o mercado. Isso independe do comportamento ou crença de cada médico. Existem nichos de resistência, mas que não alteram a tendência dominante. Em algumas especialidades, por sua natureza holística, essa transformação do cuidado médico em mercadoria é mais penosa. Por exemplo: na geriatria o cuidado com o idoso é por natureza integral.

A transformação econômica do cuidado médico em mercadoria não é aceita pelos médicos, enquanto categoria. Fere a tradição histórica da medicina: o médico era remunerado por honorários. O próprio código de ética condena a mercantilização da medicina.

A transformação do sacerdócio em negócio é dolorosa. Existe um preconceito consolidado de que negócio cheira a ilicitude e a trapaça. Os negócios podem ser decentes, os lucros legítimos e os consumidores conscientes dos seus direitos.

Qual o papel das faculdades de medicina e da formação médica nessas mudanças?

A principal contribuição do ensino nesse aspecto é revestir o ato médico de um viés científico e transformá-lo numa prática supostamente científica. O ato médico enquanto mercadoria, não é aceito Ideologicamente. A medicina voltada para o mercado, passa a ser percebida pelos seus praticantes como uma medicina voltada para a ciência.

Nessa ação de camuflagem cientifica, os cursos de humanidades propostos tanto podem contribuir para o aperfeiçoamento da sublimação ideológica, como, dependendo da abordagem, contribuir para o aprofundamento da resistência ao processo de desumanização. A clareza conceitual sobre o que estamos chamando de desumanização, é etapa decisiva no caminho a ser trilhado.

Em poucas palavras, a desumanização não foi um caminho apenas simbólico ou um desvio pessoal dos médicos. As bases fundantes da desumanização são materiais. Sem enfrentar o desconforto de entender a forma de mercadoria assumida pela prática médica, não chegaremos às raízes da questão.

O assunto é mais complexo e não se esgota nesse texto de problematização. Por exemplo: a desumanização da medicina pública, da assistência do SUS, onde a transformação do cuidado médico em mercadoria não faz sentido. Neste caso, o que levou à desumanização?

No caso brasileiro, a medicina pública assimilou o mesmo modelo assistencial da medicina privada, hegemônica desde o final do Século XX. A medicina suplementar por lei, virou a principal. O Sistema Único de Saúde (SUS) transformou-se num Sistema Único de Doenças (SUD).  Mas, cabe aqui, uma discussão à parte.

A humanização da medicina consiste no retorno à medicina voltada para os pacientes e no esforço em manter o “cuidado” como principal característica do ato médico. Os cuidados paliativos podem servir de exemplo ao caminho apontado. É a volta na ênfase da relação médico/paciente. A humanização é o retorno da relação homem/homem, como eixo da prática médica.

A contradição é como realizar esse retorno ao paciente numa medicina de mercado. As novas formas de organização do trabalho médico, guiadas por novas tecnologias, sobretudo no campo da tecnologia da informação (TI), novos aplicativos, automação, robótica, inteligência artificial, evoluem para uma medicina personalizada, dentro do paradigma molecular. Mas aqui já entramos na futurologia.

Antônio Samarone.

quinta-feira, 30 de maio de 2019

O FIM DAS UNIVERSIDADES PÚBLICAS?



Sem liberdade de pensamento, não existe Universidade... (por Antônio Samarone)

Assustou a opinião pública os cortes de recursos para as Universidades Públicas. Mas os ataques do Governo Bolsonaro ao ensino e a pesquisa não se limitaram a redução dos recursos.

O Decreto nº 9.794 tirou a autonomia dos Reitores em nomear os seus colaboradores, em montar a sua equipe. As nomeações passarão pelo crivo político do Planalto. Como implementar um projeto se a equipe pensa diferente. Os Reitores passaram a ser cargos decorativos.

O ministro Osmar Terra censurou pesquisa da Fiocruz. O ministro é autor de um projeto de Lei que institui a internação compulsória dos usuários de drogas ilícitas, e defende a volta dos manicômios. Ele discordou ideologicamente dos resultados da pesquisa sobre drogas da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Instituto de renome internacional, e disse que não aceita, mandou engavetar. O Governo Bolsonaro já havia rejeitado os dados do IBGE, sobre o desemprego.

O Governo Bolsonaro demitiu o presidente do (Inep), Elmer Vicenzi, órgão responsável pela elaboração do ENEM, por ter sido negado o acesso aos dados sigilosos dos alunos, pois o Governo pretende fazer uma carteira de estudante governamental.

Drástica redução das bolsas de mestrado e doutorado, suspensão de novas bolsas do programa Ciência sem fronteiras. Segundo a Capes, serão reforçadas as parcerias com o setor empresarial, para que possam ser ampliados os investimentos em pesquisa. Durma-se com uma zoada dessa...

Como se não bastasse, o advogado-geral da União, André Mendonça, solicitou ao Supremo Tribunal Federal (STF) autorização para que sejam realizadas operações policiais dentro de universidades por uma posição "técnica". Segundo Mendonça, a iniciativa visa coibir "viés ideológico" de professores em ambientes públicos. Precisa explicar, que isso é o fim da liberdade de pensamento nas Universidades.

Surge uma grande dúvida: até quando, assistiremos “bestializados” a destruição de valores fundantes de uma sociedade democrática? Qual será a próxima conquista a ser atacada?

Antônio Samarone.

segunda-feira, 27 de maio de 2019

ACABARAM A RUA DO FATO


Acabaram a Rua do Fato (por Antônio Samarone)

Acabo de saber que a Rua do Fato vai ser asfaltada e iluminada com LED. Tomei um choque! Em Itabaiana os pobres moravam em três ruas faladas: Beco Novo, Rua Nova e Rua do Fato. Eu morei em duas. A mais pobre era a Rua do Fato.

Quando me mudei, rapazinho, saindo do Beco Novo, a Rua do Fato era de chão batido. Para entrar em casa, eu precisava fazer uma volta, pois o esgoto a céu aberto tinha mais de metro de largura. O mato tomava conta do resto. No final da rua, que só tinha dois trechos, num beco, moravam as fateiras e os magarefes, que davam nome ao logradouro. Não é Fato de "acontecimentos" é Fato de "tripas."

A memória é sempre seletiva. A casa que eu morei está lá: Rua do Fato, 60. Na vizinhança, Dona Tereza do hospital, Neuzete e seus filhos, Genaro carroceiro, Dona Dezira, com um lote de meninos (Roberto, Pitu, Dejo e Zé de Pila); e um moça muito bonita (Rosa de Dezira). Os ricos tudo de olho em Rosa.

Defronte era Dona Aliete, mãe de Zé Antônio, Cori e Jiva (esse o mais valente). Jiva era afilhado de meu pai, mataram cedo. Jiva era de briga, disposto. Zé Antônio, bom de bola, o craque do Cruzeiro da Rua do Fato. Vizinho a dona Aliete, morava Tonho das Porcas.

Na esquina era Dona São Pedro e seus filhos gordos (Thiago, Tota e Cacau). Eram os gordos da Rua do Fato. Ao lado, o deposito de verdura de Joãozinho de Culino, onde meu irmão trabalhava. Na esquina contrária, Pinico Sem Tampa consertava rádio. Não esqueci de Seu Vicente.

Nas proximidades, a bodega de Zé de Chico, o ponto de encontro da molecada, para se jogar conversa fora. No outro trecho, na esquina, residia o morador mais famoso: Candinho da Rua do Fato. Era em sua residência que a Chegança de Zé de Biné ensaiava. Candinho era alta patente na Chegança. Se dizia que Candinho só calçava sapatos no dia da eleição. E era verdade!

A cidade exalava preconceito contra a rua do Fato, só se dizer morador já era discriminado. Mas de longe, depois desse tempo, afirmo com convicção: era tudo gente do bem. Pessoas generosas na pobreza, de uma rudeza pura. Mamãe dizia por onde andava: a Rua do Fato é uma maravilha, e ainda é perto do Ginásio (Colégio Murilo Braga).

As ruas eram comunidades, com seus jeitos, valores e culturas. As ruas eram locais de encontros e convivências. Nos condôminos de classe média as pessoas mal se cumprimentam nos elevadores.

É essa rua do Fato de minha memória que o Prefeito Valmir de Francisquinho decidiu acabar. Vai asfaltar, canteiro central arborizado (já tá feito) e iluminar com LED. Vai nascer a rua Itaporanga (a rua do Fato acabou). Não sou contra o progresso, mas duvido que na nova comunidade da Rua Itaporanga, as suas crianças, tenham a metade da felicidade que tivemos na esburacada Rua do Fato.

Antônio Samarone. 

sábado, 25 de maio de 2019

GENTE SERGIPANA - JOSE OLINO DE LIMA NETO



Gente Sergipana - José Olino de Lima Neto (1900 – 1985) (Por Antônio Samarone)
Nasceu em 2 de janeiro de 1900, no engenho Tuim, município do Arauá/SE. Filho do Coronel João Neto e de Dona Sinhá. Para facilitar os estudos dos filhos (José Olino, Urbano Neto e João Bosco), o seu Pai foi morar na Estância, em 1908.
José Olino estudou o primário em Estância. Foi o primeiro aluno do Seminário de Aracaju, fundado por Dom José Thomaz. Após sete anos, José Olino descobriu que a vocação de padre era pequena, deixou o seminário e entrou para a Faculdade de Medicina da Bahia.
Formou-se em Medicina em 1929, defendendo a tese “Profilaxia do Sezonismo”. Formou-se também em Farmácia. Retornou à Sergipe em 1930, e exerceu a medicina nas cidades de Itabaianinha, Simão Dias e Lagarto.
Em 1938, fixou residência em Aracaju e começou a dedicar-se integralmente ao magistério. Foram 41 anos de dedicação ao ensino e teria morrido na cátedra se a aposentadoria compulsória não o impedisse de continuar lecionando.
Em 1938 publicou sua segunda tese, “Notas Filológicas à margem das Vinte Horas de Liteira de Camilo Castelo Branco”, através de cuja defesa conquistou a Cátedra de Português no Atheneu Sergipense.
Em 1973, José Olino publicou o primeiro volume das “Fábulas em Versos”.  
No dizer de Cabral Machado, “O nosso fabulista é médico. Cedo abandonou a arte de curar, se engenho ou arte talvez não possuísse, e dedicou-se ao magistério, após memorável concurso público, disputando a cátedra de português, com uma tese apreciando a linguagem de Camilo Castelo Branco... A fábula é uma criação do folclore em quase todas as culturas, depois assumiu a forma literária”.
Jose Olino de Lima Neto ocupou a cadeira nº 30, da Academia Sergipana de Letras, que tem como patrono o poeta José Jorge de Siqueira Filho.
O Dr. José Olino foi casado com Dona Antonina e teve cinco filhos: João Epifânio, Cândido, Antonino, José Olino e Seu Aloísio, da Pisolar.
Faleceu em 27 de fevereiro de 1985, em Aracaju, com 85 anos.
Antônio Samarone.

quinta-feira, 23 de maio de 2019

GENTE SERGIPANA - DONA JOSEITA (PROFESSORA POR VOCAÇÃO)


Gente Sergipana – Dona Joseita (professora por vocação).

Maria Joseita de Oliveira (79 anos), nascida em 28/04/1940, em Itabaiana, filha de Horácio Cruz e Júlia Dulce dos Santos. Aprendeu as primeiras letras com Dona Candinha, e concluiu o ensino Primário no Grupo Escolar Guilhermino Bezerra.

Como precisava trabalhar para sobreviver, aos 15 anos Joseita já era professora. Botou uma escola particular no Beco Novo. A Escola São Francisco. Uma menina, só com o primário virou uma boa professora. Ensinava de religião a etiqueta. Foi lá que eu aprendi a ceder o lugar aos mais velhos.

Uma escola pobre, sentávamos em bancos (não tinha carteiras), numa sala apertada. Mas respeitávamos a professora. E o que aprendi, sei até hoje. A Escola de Dona Joseita, quando eu estudei, era vizinha a casa de Seu Miguel Fagundes.

O Beco Novo, na década de 1960, possuía cinco escolas primárias: quatro particulares (as escolas de Dona Helena, Maria Augusta e Joseita, e escola do professor Airton Silva; e o GLEI. Para sofisticar o complexo educacional do Beco Novo, tínhamos a Escola de Datilografia de Dona Tota, por onde todos passávamos. Sem saber datilografia (seiscentos toques por minuto, sem olhar), ninguém passava nos concursos do Banco do Brasil.

Na década de 1960, Dona Joseita foi ensinar no Grêmio Literário e Esportivo de Itabaiana (GLEI), escola criada pelo Partido Comunista para os meninos pobres e, depois de 1964, administrada por Chico do Cantagalo. A escola do GLEI recebia o nome de Lourival Batista.

Quando Governador Lourival Batista foi visitar a pequena escola de Dona Joseita, ficou impressionado com a educação da molecada do Beco Novo. O Governador espantou-se, quando soube que a professora Dona Joseita (aos trinta anos), só tinha o primário. Minha amiga, volte a estudar, nunca é tarde, disse o Governador.

Dona Joseita seguiu o conselho. Fez o curso ginasial (madureza) aos 30 anos e o pedagógico aos 32 anos. Quem já era professora por vocação se tornou professora por formação. Fez concurso público e ingressou no Estado, indo lecionar no tradicional Colégio Augusto Ferraz, no Bairro Industrial, onde se aposentou.

Dona Joseita é casada com Francisco Bispo de Oliveira, e tem cinco filhos e vários netos. Continua lúcida e com excelente memória. Ainda hoje, o seu maior divertimento é a leitura. A sua maior alegria é ser reconhecida na rua pelos ex alunos. Quando bati em sua porta achando que não seria reconhecido, ele não deixou eu abri a boca: entre Samarone, seja bem-vindo.

Antônio Samarone. 

domingo, 19 de maio de 2019

A RESPOSTA DA JUVENTUDE



A resposta da juventude... (Por Antônio Samarone)
Recebi a pouco um vídeo da formatura de medicina da UFS, ontem à noite. Para tudo! Foi demais para um velho professor de Saúde Pública, meio descrente.
Logo que assisti, fiquei em dúvida: onde foi essa formatura? Com as vistas fracas, não reconheci ninguém. Liguei para uns, liguei para outros, só perguntando: gente quem é essa menina, essa abençoada?
Mandei o vídeo para os amigos, e tive logo retorno. Você viu a filha de Alvino, me perguntou um ceboleiro orgulhoso? Eu respondi: sério? Claro, é Nathália, filha de Alvino e Claudia. Eita porra, e foi minha aluna e eu não reconheci pelo vídeo. A idade chegou!
Uma menina de 24 anos, (passou no vestibular aos 17), olhos vivos, fronte erguida, levantou as bandeiras dos setores subalternizados da sociedade. A bandeira dos negros, LGBT, movimentos populares, e a grande bandeira da Universidade Pública.
A solenidade de formatura em medicina da UFS, virou um protesto unanime contra a destruição da escola pública. Nathalia deu vida a solenidade!
Essa pequena da foto é ela, Nathália de Mattos Santos, uma esperança de uma nova medicina, humanizada, voltada para os pacientes.
Nathália não brotou por geração espontânea. Ela é filha da enfermeira Claudia, cidadã que luta pela saúde pública desde estudante; e do doutor Alvino, esse mesmo, o Dr. Alvino de Itabaiana, professor de direito e advogado estabelecido em toda a Província. A quem a fama não distorceu os princípios. Nathália teve a quem puxar, como se dizia...
Nathália tem o sangue do povo de Simão Dias e de Itabaiana e fez parte, enquanto estudante, do Levante Popular da Juventude e da Consulta Popular.
Viva a juventude, parabéns Nathália!
Antônio Samarone.

sábado, 18 de maio de 2019

CARTA DE BOLSONARO


A Carta de Bolsonaro. (por Antônio Samarone)

Falo com a responsabilidade de quem não quer o caos e nem acha que o quanto pior melhor. Não gosto de pescadores de águas turvas.

Estamos numa encruzilhada tenebrosa: os riscos de retrocesso são evidentes.

Ao divulgar a carta de um “autor desconhecido”, o Presidente Bolsonaro avalizou um diagnóstico sobre o país que só aponta uma saída: “sem poderes absolutos ninguém faz mudanças nesse país.”

Com Congresso e a Justiça funcionando plenamente, os mesmos, que a carta chama de “corporações”, continuarão pendurados nas tetas públicas.

Em bom português: ou Presidente avança para uma ditadura ou renuncia! Esse cenário era previsível, mas não com apenas cinco meses de governo.

Diz a carta: “A hipótese nuclear é uma ruptura institucional irreversível, com desfecho imprevisível.” Alguma dúvida?

Os que votaram contra, os que nunca acreditaram, os que votaram e já se arrependeram, os que foram e continuam omissos formamos a imensa maioria da sociedade; contudo, não podemos subestimar os que acreditam numa saída (mais) autoritária. A hora é de vigilância...

Relembro uma bela passagem de Guimarães Rosa:

“O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem.”

Antônio Samarone.

quarta-feira, 15 de maio de 2019

GENTE SERGIPANA - FAUSTINO ALVES MENEZES (87 ANOS)




Gente Sergipana – Faustino Alves Menezes (87 anos). (Por Antonio Samarone).

Seu Faustino nasceu no Sítio Riacho Doce, em Itabaiana, à 18 de abril de 1932. Filho de Francisco Alves Menezes e Josefa Neves Ferreira. O pai, vaqueiro de seu Germano, sogro de Mozart, faleceu aos 33 anos de uma chifrada de boi.

Órfão aos sete anos, com cinco irmão, Zé de Nenê, Gaspar, Nego, Maria e Navalha. Com a morte do pai, a família vendeu o sítio e se mudou para a cidade, para sobreviver. Seu Faustino virou aprendiz de sapateiro aos oito anos. Foi trabalhar com o mestre Paulo Barros. Era preciso, para a família não passar fome. Aos 12 anos, seu Faustino já era um sapateiro Profissional.

Por conta do trabalho, só estudou as primeiras séries do primário, no Grupo Guilhermino Bezerra. Foi aluno da professora Lenita Porto, irmã do Senador Passos Porto.

Aos 13 anos, entrou para o Partido Comunista. Na década de 1940, chegou à Itabaiana Zé Martins, alagoano de Anadia, sapateiro, e velho comuna dos tempos da Coluna Prestes. Zé Martins foi se esconder em Itabaiana. Em missão revolucionária, organizou o PCB entre os sapateiros e alfaiates, uma vez que em Itabaiana não existia uma classe operária. Eram artesões.

Junto com Zé Martins, um camponês chamado Zeca Cego, que vendia feijão na feira, era o outro que tinha tido contato com a Coluna Preste. Alcancei Zeca Cego, já idoso, passando pela rua de Macambira em cima de uma carroça de burro, cantando a Internacional em russo. Eu não sabia do que se tratava.

A célula comunista de Itabaiana, incorporou Tonho de Dóci, Renato Mazze Lucas, Mané Barraca, Océas relojoeiro (esse já chegou a Itabaiana comunista, veio de São Cristóvão), Nilo Alfaiate, Paulo Barros, e tantos outros simpatizantes, como João Silveira. Era um comunismo cristão, todos devotos de Santo Antônio.

Seu Faustino contou, com lágrimas nos olhos, que o seu primeiro ato subversivo, foi colocar uma faixa no caminhão pau-de-arara, que trouxe os ceboleiros para o comício de Luiz Carlos Preste em Aracaju, em 1946.

Os comunistas de Itabaiana eram poucos, mas lutaram pelo “Petróleo é Nosso”, fundaram um Cine Clube, o Clube do Trabalhador (instituição recreativa) e o GLEI (Grêmio Literário e Esportivo de Itabaiana), que visava alfabetizar o povo. Nunca elegeram um Vereador. Contudo, nas eleições municipais de 1962, apoiaram abertamente Zeca Araújo, prospero comerciante, mais que foi derrotado por José Sizino de Almeida, candidato de Euclides Paes Mendonça.

Quem militou nas hostes comunista até morrer, foi Antônio Oliveira (Tonho de Dóci), comerciante, dono do Rei das Bicicletas e representante dos fogos caramuru. Seu Antônio era muito respeitado na Cidade, intelectual, de família de músicos, exercia grande influência. Além de ter dado grandeza à Associação Olímpica de Itabaiana. Veja a pretensão, não era apenas um time de futebol, mas uma Associação Olímpica. As cores da revolução francesa na camisa, não foi por acaso.

Na década de 1950, existiam quatro times de futebol em Itabaiana: o Fluminense do Dr. Severiano; o Vasco da Gama de seu Edézio, filho de Franscisquinho da saboaria; o Cotinguiba de Colibri e o Flamengo de Paulo Barros. Foi quando Antônio de Dóci começou a organizar a Associação Olímpica de Itabaiana, que já existia de forma intermitente.

Em Itabaiana, só três instituições são unanimidade: o time do Itabaiana, os caminhoneiros e Santo Antônio.

O sapateiro Seu Faustino foi um homem do seu tempo: Campeão pelo Itabaiana em 1959, comunista, e um cidadão apaixonado por sua terra. Foi o primeiro atleta profissional do Itabaiana. Aos 18 anos, ainda tentou a vida em São Paulo e no Rio de Janeiro. Uma ilusão do povo pobre do Nordeste. Foi mais um retirante.

Não deu certo. Retornou à Itabaiana. Em 1960, casou-se com Dona Maria Jacira Menezes, filha de Seu Melquiades, tradicional marchante de Itabaiana, irmã de Zé do Boi. Tiveram três filhos: Chico, Romualdo e Vladimir.

Além de jogador, Seu Faustino foi treinador do Itabaiana. Foi sob o seu comando, que o Tricolor sofreu a maior goleada de sua história. Estádio Sabino Ribeiro, Confiança 10 X 1 Itabaiana. Também, o Confiança de 1962 era uma seleção, me justificou Seu Faustino.

Na década de 1970, os sapateiros foram derrotados pelos sapatos industrializados, eram mais bonitos e bem mais baratos. Seu Faustino, comprou um Taxi e veio morar em Aracaju. Em 1976, foi preso e torturado no 28 BC, na triste operação cajueiro.

Seu Faustino cumpre o ciclo da vida. Aos 87 anos, se mantém atualizado na política. Memória acima do esperado para a idade. Preocupado com o destino do País e acreditando no que sempre acreditou.

Meus respeitos, Seu Faustino.

Antônio Samarone.

terça-feira, 14 de maio de 2019

GENTE SERGIPANA - GUMERCINDO BESSA


Gente Sergipana – Gumercindo Bessa. (por Antônio Samarone)

Sergipe esquecido: “bom à beça” (ou a Bessa)?

Existe uma polêmica se a expressão “bom à beça” tem origem numa tirada do Presidente Rodrigues Alves (1902 – 1906), dirigindo-se ao maior jurista sergipano, Gumercindo Bessa. Acrescente-se, Gumercindo foi famoso nacionalmente, sem nunca ter deixado Sergipe.

Vamos aos fatos:

Quando o território do Acre foi desmembrado da Bolívia e acrescido ao Brasil, criou-se uma polêmica no STF: o estado da Amazônia reivindicou a União o território anexado; e os bravos acreanos, que lutaram na floresta, queriam criar o Acre.

A rica Amazonas (a borracha no apogeu) contratou a peso de ouro o consagrado Ruy Barbosa. Os acreanos, sem dinheiro, tiveram dificuldades em contratar alguém para enfrentar Ruy, que nunca tinha perdido uma causa no Supremo.

Os acreanos apelaram para Gumercindo Bessa, um sábio da pequena província de Sergipe. Gumercindo impôs duas condições para aceitar a causa: não receber remuneração e nem se afastar de Sergipe.

A primeira intervenção de Gumercindo no processo deixou o mundo jurídico nacional aturdido: quem é esse? Era a pregunta da mídia nacional. Rui Barbosa irritado, publicou a sua réplica zangada no Jornal do Comercio. Gumercindo respondeu, e o debate tornou-se público.

Para se ter uma ideia, o debate foi longo, vamos a um exemplo: Gumercindo ao citar Lomanaco, refere-se à segunda edição das Nozioni, atribuindo-lhe a data de 1904. Ruy ironizou: a segunda edição que eu conheço é de 1903, creio que não haverá duas segundas edições; e soltou um riso de vendedor.

Gumercindo foi à tréplica:

“Dizem que águia não apanha mosca. Engano! Em falta de presa maior vulto, nelas faz a chacina para valer.” Ruy emudeceu. O mais grave, é que de fato existiam duas segundas edições das Nozioni.

Noutra passagem brilhante, Gumercindo aponta um erro histórico na peça jurídica de Ruy Barbosa, que atribui a Robespierre, com citação textual, uma fala dita por Danton, em dramática reunião a que Robespierre ao menos compareceu.

Todos sabem quem venceu a peleja. Uma importante rua de Rio Branco, recebe o nome do sergipano Gumercindo Bessa.

Depois da vitória, conta-se que o Presidente Rodrigues Alves ao encontrar com o sergipano Gumercindo Bessa, fez um trocadilho: “o senhor tem argumentos a Bessa”.

Nota de repúdio: o grande dicionário de Antônio Houaiss, refere-se a Gumercindo como sendo alagoano.

Gumercindo Bessa nasceu em janeiro de 1859, na bela Estância. Estudou no seminário na Bahia, mas formou-se em direito em Recife, em 1855. Voltou para Sergipe.

Ao celebrar o cinquentenário do Aracaju (1905), Gumercindo fez uma singular homenagem a capital dos sergipanos:

“boemiazinha pobretona e presumida, filha de Inácio Barbosa e da malária, vulgo sezões... Nunca teve juízo. Sempre a vida de pândegas, de jogatinas, de serenatas... Tabaréia sacudida... Sempre que voltas de cada romaria, traz mais um namoro, mais uma dívida, mais um dente cariado... Exibe-se adorável nos salões e cata piolhos, escondida na alcova...”

Viva a Sergipanidade, pouco conhecida.

Antônio Samarone.

domingo, 12 de maio de 2019

LAVAGEM CEREBRAL



Lavagem Cerebral (por Antônio Samarone)

Na nova regulamentação da atenção psicossocial do SUS, do Governo Bolsonaro, estão previstos um retorno a atenção manicomial, o fim da estratégia de redução de danos e a oficialização do eletrochoque como procedimento usual no Sistema Público de Saúde.

Claro, o eletrochoque (ECT) atual é realizado com mais cuidados. As Associações de Psiquiatria e o Conselho Federal de Medicina autorizam, avalizando a legitimidade da conduta. O ECT continua dividindo opiniões. Os defensores usam o nome da ciência como escudo e os que não aceitam valem-se da experiencia histórica. Os mais críticos, asseguram que a psiquiatria é uma medicina baseada em aparências.

No início da década de 1950, começo da guerra fria, a CIA financiou experiencias de lavagem cerebral, usando eletroconvulsive therapy (ECT), com os pacientes do Dr. Ewen Cameron, no AlIan Memorial Institute da Universidade McGill, em Montreal. O experimento era uma tentativa de apagar a mente dos pacientes, para reconstruir um novo indivíduo.

A CIA, por sua vez, experimentava novos métodos interrogatório! As pesquisas do Dr. Cameron foram financiadas pela CIA até 1961. Na década de 1970 as pesquisas foram denunciadas no Senado Americano. Várias vidas foram despedaçadas, até se provar que lavagem cerebral não funciona, foi um mito da guerra fria.

O psiquiatra Ewen Cameron (1901 – 1967), foi Presidente da Associação Americana de Psiquiatria e da Associação Mundial de Psiquiatria. Um médico poderoso. Cameron acreditava que o único caminho para ensinar aos pacientes novos comportamentos saudáveis, era entrar em suas mentes para destruir os moldes patológicos.

Cameron usava a técnica de Page-Russel, e administrava seis descargas elétricas seguidas, quatro vezes ao dia, durante trinta dias, num total criminoso de 720 eletrochoques por paciente/mês. O massacre visava apagar a memória do paciente e regredi-lo à idade infantil. Aos eletrochoques eram associadas drogas psicotrópicas.]

Quando os pacientes estavam reduzidos a pó, deitados em posição fetal, com incontinência urinária, chupando dedo, chamando o médico de mamãe; Cameron colocava uma fita com mensagens edificantes, para que os pacientes assimilassem uma nova personalidade. A fita era tocada continuamente por mais de cem dias. Era uma visão behaviorista.

Em 1988, a CIA foi condenada a pagar 750 mil dólares de indenização a nove pacientes que sobreviveram a essa experiencia de lavagem cerebral do Dr. Cameron. Existem evidências que o mesmo método foi usado em Guantánamo e com os prisioneiros do Iraque.

Quem tiver interesse em aprofundar o tema ou apenas conhecer a “fonte” dos fatos narrados, veja o livro “A Doutrina do Choque: ascensão do capitalismo de desastres”, de Naomi Klein, Editora Nova Fronteira.

Antônio Samarone.

sábado, 11 de maio de 2019

O SOFRIMENTO DE SEU HOMERO.



O Sofrimento de Seu Homero. (por Antônio Samarone)

A idade está agravando a minha impaciência. Para evitar aborrecimentos dirigindo, estou indo para a UFS de Uber. A semana passada peguei o carro de um conhecido de infância: Carlos Homero, contemporâneo do Colégio Murilo Braga.

Fiquei em dúvida, mas arrisquei. Eu lhe conheço! Você não é o filho de seu Alípio, da Lagoa do Forno? Exatamente, disse ele. Puxei logo conversa. E aí, está gostando desse trabalho no Uber? Fazer o quê, não tive saída. E aí ele começou a me contar:

Você lembra que eu sou formado em química industrial? Eu não lembrava! Trabalhei muito tempo em Camaçari, na Bahia, numa firma terceirizada. Fui sindicalista, enfrentei corajosamente a exploração. Odiava os gerentes. Nunca furei greve. Perdi o emprego há dois anos.

Voltei para Aracaju. Tentei botar uma pizzaria para sobreviver, não deu certo. Fui gastando o dinheiro que tinha. Vendi o apartamento na Bahia, e comprei um bem menor aqui em Aracaju. Vendi o carro. E fui fazendo a feira com o dinheiro. Até acabar. Chegou um momento que bateu o desespero.

Eu, para parecer gato mestre, filosofei: as condições sociais do capitalismo global, pós-moderno, produzem indivíduos dispensáveis, sem teto e sem emprego, pessoas excluídas da ordem civilizatória.

Acho que ele nem prestou a atenção ao que eu disse, e voltou com a questão do desemprego.

Precisava pagar as minhas contas. Aluguei esse carro, e me cadastrei no Uber. Pensei, agora vou trabalhar por minha conta, ninguém manda mais em mim. Pensei que era livre, hoje eu sou um morto vivo! Eu concorro comigo mesmo, interiorizei uma necessidade de superação absurda.

Agora que eu descobri que o capitalismo mudou a forma de exploração. Eu virei um empreendedor de mim mesmo, servo e senhor ao mesmo tempo. Trabalho para um aplicativo que eu não sei de onde peste veio. Levo a auto exploração ao extremo, para não me sentir um fracassado. Estou trabalhando 16 horas por dia, para ver se sobra alguma coisa.

A responsabilidade de ser bem-sucedido me escravizou. Não suporto a sensação de não estar dando conta de prover a minha casa, de envergonhar os meus filhos. Do que eu ganho, primeiro pago o aluguel do carro, tiro o da gasolina, o aplicativo tira o dele, o cartão de crédito come uma beirinha; vivo da merreca que sobra.

O meu trabalho é repartido com muita gente. Já me acordo cansado. Comecei a ficar triste, com insônia, ansioso, e ainda tenho que ser muito educado com os passageiros. Depois eles me avaliam. E bem ou mal, foi isso o que me restou. Nem os jogos do Vasco eu tenho mais tempo para assistir. Eu preciso de um remédio para dormir. Será se estou com depressão?

Eu cá comigo, na verdade o senhor precisa é de descanso, qualidade de vida e felicidade. Porra de remédio! Na nova realidade do trabalho das economias neoliberais, o trabalhador se transformou num servo absoluto, na medida que sem um senhor, ele explora voluntariamente a si mesmo. Somos todos dominados por uma ditadura do Capital.

Já estávamos chegando a UFS, e ele ainda tinha muita coisa para me contar. Seu Homero, essa sua ansiedade pode ser o começo da síndrome de Burnout, procure um especialista. Samarone, eu não posso comprar um sonrisal, vou procurar médico?

Vá aos CAPS da Prefeitura, lá por enquanto é de graça. Minha mulher já procurou saber. Os CAPS de Aracaju estão sem psiquiatras desde os tempos de João Alves. Exagero, eu pensei!

Pequei o telefone de Seu Homero, e estou vendo. Na verdade, Psiquiatra no SUS em Aracaju tá difícil mesmo, nem com reza. Já falei com um colega, ele vai atendê-lo em seu consultório particular.

“Por falta de repouso nossa civilização caminha para uma nova barbárie.” – Nietzsche.

Antônio Samarone.

sexta-feira, 10 de maio de 2019

GENTE SERGIPANA - DIDA ARAÚJO


Gente Sergipana - Dida Araújo (por Antonio Samarone)
Dentro do projeto "Sergipanidades", da UFS, assisti a um documentário fabuloso sobre "Josa: o Vaqueiro do Sertão".
Um trabalho de alto nível de Dida Araújo.
Uma relembrada no programa matinal da rádio difusora, "Festa na Casa Grande", apresentado, tocado e cantado por Josa, de Simão Dias. "Hei boiada negra"! Os sergipanos da minha geração sabe do que estou falando...
Ouvir Josa cantando "Na sombra da jaqueira". https://www.youtube.com/watch?v=qqzIXJYIyZk
No documentário, o jornalista Jairo Alves conta um estória magnífica:
O programa Festa na Casa Grande, de Josa, começou a anunciar a presença de Luiz Gonzaga, ao vivo, para certa data.
No dia marcado, o auditório, os corredores, as escada, a rua José do Prado Franco, onde ficava a emissora, tudo super-lotado. Só de sanfoneiros (mais de 30), do estado todo, para assistir o Rei do Baião, no programa de Josa.
O programa era das oito as dez da manhã. E o povo em festa. As dez horas começava um programa da jovem guarda. O diretor avisou para Josa encerrar, pois o apresentador já estava esperando em outro estúdio.
E nada de Josa atender. O povo não deixava. O diretor cortou o som do auditório de Josa, e entrou o som da Jovem Guarda. Luiz Gonzaga se danou, jogou o chapéu no chão e disse: - "eles cortaram o som nas minhas ventas."
Josa disse: vamos embora! Desceram as escadas da rádio Difusora tocando sanfona. Luiz Gonzaga e os outros sanfoneiros na frente, e o povo atrás. Invadiram o calçadão da João Pessoa e fizeram uma festa no meio da rua.
Um dia memorável. Pelos menos em Sergipe, Luiz Gonzaga era o maioral.
Antonio Samarone.

sexta-feira, 3 de maio de 2019

Por que o ministro Onyx atacou a UFS?


Por que o ministro Onyx atacou a UFS? 

O governo Bolsonaro declarou guerras as universidades públicas. Quais as motivações? Eliminar o “marxismo cultural”, como diz Olavo de Carvalho; combater as “balburdias”, como afirmou o inditoso ministro da educação; combater a ineficiência, como insinuou o ministro Onyx? Nada disso!

Por que esses ataques permanentes as universidades públicas?

Se esse corte anunciado de 30% do orçamento for executado, as universidades públicas não sobreviverão. Para não fecharem as portas, vão procurar outras fontes de receita. Entre elas, o pagamento de mensalidade pelos alunos. Com o discurso que irão priorizar o ensino básico e o fundamental, o governo Bolsonaro botará uma pá de cal no ensino gratuito nas universidades.

Essa é a principal motivação!

E por que a UFS foi escolhida como bode expiatório? Por puro preconceito! Sergipe, um estado pequeno, sem expressão econômica, no nordeste, como pode ter uma universidade pública com 1500 doutores, pensou o desinformado ministro. E partiu para desacreditar a UFS!

Só que dessa vez o ministro Onyx se deu mal. Ele não avaliou que a UFS foi construída, a duras penas, pelos sergipanos. Inclusive, com gente da elite provinciana envolvida. O ministro não sabia que a UFS tem raízes na sociedade, tem a alma dos sergipanos. Não é uma simples repartição que o governo federal põe e dispõe.

Depois da agressão do ministro Onyx a UFS, ficou visível o constrangimento dos eleitores de Bolsonaro nas redes sociais. Ninguém saiu em defesa do ministro, nem os mais apaixonados. Alguns ranzinzas ficaram com indiretas, piadinhas, fazendo-se de mal-entendidos: não foi bem isso! Onde ele mentiu, cadê os dados? Todos sem muita convicção...

Quando a UFS emitiu uma nota oficial, repondo a verdade, o silencio dos governistas foi uma confissão.

Mas a resistência está apenas começando! A universidade pública e gratuita é uma conquista do povo, berço de cidadania e liberdade.

Antônio Samarone. 

quarta-feira, 1 de maio de 2019

E OS PARDAIS?



E os Pardais?  

Gosto de fotografar pássaros. Não tenho encontrado muitos Pardais (Passer domesticus) em Aracaju. Em Itabaiana eles dominam. Não sei se a fama deles de exclusivismo ambiental é verdadeira. Onde existem Pardais, os demais pássaros do mesmo porte são eliminados, isso procede?

É visível a sua rusticidade. São namoradores incansáveis (vejam a foto) e reprodutores eficientes.
Em 1903, o prefeito do Rio de Janeiro, Pereira Passos, importou da Europa (França) casais de Pardais para povoar a área urbana, com objetivo de enfeitar a cidade, para que ficasse com "ares parisienses". Esse fato provocou um debate científico.

O naturalista Rodolpho von Ihering combateu duramente a importação dos Pardais. “Não é um pássaro insetívoro, não combate as pragas. É um insulto compará-lo com o nosso bom tico-tico.” O medo era que os pardais eliminassem os pássaros brasileiros.

Dizia o naturalista: “o pardal é briguento e egoísta. Onde eles dominam, não aceitam a convivência com outros pássaros do mesmo porte. Sem cessar, eles eliminam os pretensos rivais, lançando mão de recursos baixos, indo aos ninhos dos outros, destruindo os ovos, matando os filhotes, tomando posse da casa alheia.”

Um século depois, os Pardais invadiram o Brasil, mas não causaram o desastre previsto, e estão convivendo pacificamente com os passarinhos nativos.

O Brasil cabe todo mundo!

Antônio Samarone.