quarta-feira, 27 de agosto de 2025
28 DE AGOSTO DE 1888.
28 de agosto de 1888.
(por Antonio Samarone)
O que comemoramos nesta data? Não é o aniversário! Itabaiana vem de longe. O Arraial de Santo Antonio e Alma de Itabaiana surgiu por volta de 1609. Em 30 de outubro 1675, já éramos a Freguesia (paróquia) de Santo Antonio e Almas, a segunda de Sergipe. A Freguesia está completando 350 anos.
Não é emancipação, autonomia. Itabaiana já era Villa em 1697, com Câmara Municipal funcionando, ou seja, independente há 328 anos.
Em 28 de agosto, comemoramos a passagem de Villa a Cidade, uma emenda do deputado Guilhermino Bezerra, há 137 anos. Uma mudança cinco meses após o fim da escravidão (Itabaiana possuía 1.683 escravizados), e um anos antes do fim do Império.
À época, a oposição resistiu. O Cônego Domingos de Melo Resende, do Partido Liberal, minimizou, ironizou a iniciativa. Denunciou que a medida só beneficiaria a família de Guilhermino, suas irmãs, passariam ser professoras de cidade, melhorando os seus vencimentos.
Uma simplificação, repetida por alguns historiadores.
O velho Cônego, capelense de família fidalga, filho da Capitão Mor Manuel de Melo Resende, viveu em Itabaiana por 50 anos (1852 – 1902). Domingos de Melo Resende, constituiu um harém, deixando vários filhos, todos registrados.
Cidade é civilidade, cultura, cidadania, onde vivem os praciantes. Villa é habitação de vilões, de artesanato ou de bodegueiros, dominada pelos tabaréus. Dizia Sebrão, sobrinho.
O Cônego pregava poeticamente: “A Villa gosta de ser Villa.”
À época da mudança (1888), viviam na zona urbana da Villa de Itabaiana, três mil habitantes. Um casario modesto, a maioria casas de rancho, com 21 sobrados de taipa. Só existiam dois prédios públicos: a sede da Câmara, num sobrado, que depois virou o bar de Papinha, e a cadeia pública, na rua do Cotovelo.
Itabaiana ainda não possuía um mercado municipal.
Com a derrubada das matas para se plantar algodão, a Villa cresceu, surgiu o comércio, lojas de fazenda, joalherias e a feira passou a ser semanal.
As Praças da Igreja, Santo Antonio e Santa Cruz (rua das tendas dos ferreiros), as ruas do Sol, Flores, Vitória, Futuro, Canto Escuro, Cisco, Beco Novo e início da Rua Nova.
Itabaiana já possuía muitos ourives. Desconheço as razões.
A Villa de Itabaiana era pobre, isolada, sem estradas, sem água, a vida era no campo. Os homens vinham para Villa de celoura, uns calções compridos de pano rústico, camisa de algodão com a frente para dentro da celoura e a parte de trás solta, parecendo fraque.
O último Presidente da Câmara de Vereadores da Villa foi o rico caraibeiro, Cassimiro da Silva Melo, plantador de algodão, grande proprietário de terras nos povoados Chã do Jenipapo, Caraíbas, Flechas e Saco do Ribeiro. Um nome esquecido, aguardando uma homenagem.
Foi o surto do algodão a principal causa da passagem de Itabaiana de Villa a Cidade. Foi o algodão que criou a Villa de Frei Paulo (1890), a primeira a separar-se de Itabaiana, que fortaleceu as povoações de Ribeirópolis, Pedra Mole e Pinhão, que depois viram municípios autônomos.
O algodão criou riqueza para Itabaiana. O comércio estabelecido e a feira regular. O efeito adverso, reduziu o seu território.
Tornar-se cidade não produziu efeitos imediatos. A cidade permaneceu com a alma de Villa. À época, o fato teve pouca relevância. Epifânio Dorea, não cita entre as efemérides do 28 de agosto, a passagem de Itabaiana a cidade. Cita a morte de Fausto Cardoso (28 de agosto de 1906) e o nascimento do itabaianense General José de Calazans. Itabaiana foi a oitava Villa sergipana a virar cidade.
O desenvolvimento só veio meio século depois, mas aí já é outra história.
Nesse período, funcionava em Itabaiana a Filarmônica Eufrosina. Em 1879, o maestro Samuel Pereira de Almeida, transformou a Orquestra Sacra do padre Francisco da Silva Lobo, em Banda Marcial, incorporando a percussão.
Itabaiana passou a ter um médico residente, o lagartense Batista Itajay. Logo cedo, Itajay se casou com uma itabaianense e virou chefe político.
O outro chefe, José Sebrão de Carvalho (Coronel Sebrão), entra na vida pública como delegado de Polícia. Nascem aí os dois grupos políticos (Peba X Cabaús), que vão dominar a vida itabaianense, até a Revolução de 1930.
O cargo de Prefeito (Intendente) foi criado com a República. A primeira eleição para Prefeito de Itabaiana ocorreu em 1892, sendo vitorioso o Capitão José Ferreira Gomes de Melo, do grupo de Itajay.
A tradição tornou o 28 de agosto feriado em Itabaiana e, de certa forma, comemora-se o aniversário da cidade. Mesmo sem ser, continua sendo.
Esse 2025, os 137 anos serão festejados, com ampla programação cívico/religiosa. Missa de ação de graça, foguetório, girândolas e galhardetes, bandeiras hasteadas e discursos comemorativos.
Tudo acompanhados pela Filarmônica 28 de Outubro, e os seus tradicionais dobrados. No final da tarde, abertura da “Micarana”, um carnaval fora de época, que vem de longe.
Itabaiana Grande tem muito a festejar!
Antonio Samarone – Secretário de Cultura de Itabaiana.
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