segunda-feira, 31 de agosto de 2020

O FUTURO DE SERGIPE


O Futuro de Sergipe
(por Antonio Samarone)
A economia sergipana desabou. Segundo o IBGE, ao final do segundo trimestres de 2020, existiam em Sergipe, 196 mil desempregados, sem contar os que perderam a esperança e não procuram mais emprego.
Claro, a Pandemia agravou, más não é a causa principal. Em 2010, Sergipe possuía a maior renda per capita do Nordeste, não que seja grande coisa, mas estávamos bem melhor do que agora.
O que ocorreu?
Não tenho dúvidas que a derrocada da economia sergipana só pode ser analisada dentro de um contexto maior. A economia é globalizada. A crise do capitalismo nem nasce nem morre em Sergipe. A opção por um neoliberalismo exacerbado não foi local. Tudo isso se sabe.
Sergipe é um nicho diminuto, com um peso irrelevante na economia nacional. Entretanto, para os 2,2 milhões de sergipanos é esse nicho que importa. O fato de a economia ser globalizada não impede que haja alternativas locais que minimizem os estragos.
Observem no gráfico, que a tragédia do desemprego foi mais profunda em Sergipe.
A crise da economia sergipana tem os agravamentos locais. O que ocorreu em Sergipe na última década, que empurrou a economia para o precipício?
A política local, a inoperância dos últimos governantes, contribuiu para essa queda? Qual é o projeto de desenvolvimento para Sergipe? O que pensam as lideranças políticas?
Uma pergunta meio boba: existem saídas paliativas para Sergipe ou dependemos de uma recuperação nacional da economia? A desgraça é inevitável?
A minha preocupação se acentua com a “inteligente” Aracaju. O que nos espera nos próximos anos? O governo municipal pode ajudar de que forma?
Essa questão irei debater amanhã, dia 01/09, as 18 horas, numa LIVE no Instagram, com o pequeno empresário Alexandre Porto.
O Pós Pandemia nos ameaça com o desmantelamento da vida. A crise não é apenas sanitária, ela vai perpassar pela cultura, educação, relações sociais, esporte e religião. É uma crise da civilização. Nada escapa a contaminação da Peste.
Mas a chamada infraestrutura, a esfera econômica, já está duramente afetada. Resta-nos como alternativa, se o auxílio emergência (Bolsa Brasil) será de trezentos ou seiscentos reais?
É o tiro de misericórdia na esperança.
Antonio Samarone (médico sanitarista)

domingo, 30 de agosto de 2020

O FIM DOS SONHOS


O Fim dos Sonhos.
(por Antonio Samarone)
O homem ocupou a terra, sonhando com utopias. O iluminismo e progresso foram grandes sonhos. O sonho nos permitiu voar.
Na Era digital, o pensamento limita-se as objetividades. Somos os idiotas da objetividade (Nelson Rodrigues). A inteligência artificial não sonha, sua principal limitação. Os algoritmos são binários, não sonham.
Na Bíblia, tal como no pensamento grego, o sonho era considerado uma importante fonte de conhecimento.
No Antigo Testamento, o sonho é uma das vias utilizadas por Deus na sua comunicação ao homem, um meio de revelação, incidindo particularmente sobre o futuro.
Entre os Gregos, merece destaque o corpus hipocrático. No tratado do Regime, IV, dedicado aos sonhos, parte-se da afirmação da influência do sonho sobre todos os aspectos da vida humana.
A significação profunda do sonho reside em que as funções relevantes do corpo, em virtude de este cessar a sua atividade durante o sono, passam a ser desempenhadas pela alma.
Liberta do corpo, a alma reforça a sua atividade e manifesta realidades que permanecem ocultas ao olhar vigile, em que a vinculação da alma ao corpo limita a sua visão.
O Renascimento foi o reino da imaginação, o esforço de saltar para lá dos limites da percepção comum, na procura entusiástica das maravilhas escondidas na natureza.
O movimento não era no sentido de abandonar a natureza para se maravilhar com os prodígios, mas no de naturalizar os fenómenos prodigiosos e extraordinários.
Qual a pertinência da utilização do sonho no exercício da medicina?
Freud, numa atitude de grande ousadia, reabilitou o sonho como objeto científico ao reconhecer nele uma estrutura internamente coerente e prenhe de sentido, vendo no estudo dos sonhos a via régia de acesso ao inconsciente, às profundezas da psique.
O naturalismo do Renascimento respondeu ao intento de uma racionalidade que se não satisfaz com a fronteira habitual entre natural e sobrenatural.
Os mirahilia, amplamente descritos na literatura renascentista, atestam a presença de uma ordem mais complexa do que aquela que a ciência comum reconhecia. O conflito entre fé e razão não é a descrença, mas um novo entendimento das relações entre elas.
A crença no milagre e na eficácia das forças sobrenaturais, sejam elas angélicas ou demoníacas, em nada interfere com a procura de explicação para os fenómenos mais insólitos que se apresentam.
A medicina tratava o doente como um ser global, não a doença como entidade nosológica tomada em si mesma. O tratamento da afecção local, para a qual se requer um saber específico, visa restituir a integridade do organismo e do eu que padecem. Por isso os sonhos eram considerados.
É difícil determinar um momento preciso em que tenha ocorrido o descrédito do sonho.
O troca do pensamento analógico por verdades matemáticas, empobreceu as narrativas humanas. A verdade de uma narrativa independe da sua ocorrência. Foi a mente humana que deu sentido a história, deu significados a vida.
O pensamento estatístico fragilizou a arte médica, tornou-a mais difícil. A principal missão da medicina é aliviar o sofrimento humano, por isso as contradições insanáveis da medicina de mercado.
No mundo pós pandêmico, precisamos restituir a centralidade dos sonhos, das fantasias, do ócio e da contemplação. Que renasçam utopias (velhas e novas), que prevaleça as miragens, as crenças no impossível.
Que o milagre produtivo da ciência e das novas tecnologias, nos restitua o tempo tomado pela esfera econômica.
Que a automação, a inteligência artificial, a quarta revolução industrial 4.0, que tornará os processos de produção mais eficientes, autônomos e customizáveis, venham em nosso favor.
Não custa sonhar...
Antonio Samarone (médico sanitarista)

sábado, 29 de agosto de 2020

A QUARENTENA DOS INFERNOS


A Quarentena dos Infernos.
(Por Antonio Samarone)
Recebi um telefonema intrigante do Seu Olavo dos Peixes. Olavo Matias de Souza, viúvo, 78 anos, pescador aposentado, morador da Zona de Expansão de Aracaju. Conheço o Seu Olavo há muito tempo.
A conversa começou amena.
“Doutor, até quando vai durar essa quarentena? Acho que o Governador botou a gente de castigo e se esqueceu. Ninguém fala mais nisso. A cantiga do Governo é Fique em Casa!”
“Já abriram até rinha de galo, mas a quarentena não acaba. Pelo contrário, dizem que nem com a vacina os velhos serão liberados. O mal maior é a Peste ou o Confinamento?
Tenha Calma, Seu Olavo, não exagere.”
“Como ter calma? Eu já vinha um pouco esquecido, acho que piorei. Fico o dia todo vendo televisão, sem ter o que fazer. Depois que Madalena faleceu, eu passei a morar só. Sozinho, para cuidar de tudo. A aposentadoria mal dá para os remédios.”
“Graças a Deus eu sei me virar, mas a cada dia fica mais difícil. Ando meio deprimido, com insônia, nervosismo, impaciencia, e sem poder sair de casa. Acho que a quarentena desgraçou a minha vida.”
“A minha diabetes descontrolou. Estou mijando muito. Já pensei em procurar o Dr. Sotero, mas não tenho com quem ir. Fico inseguro. Sem enxergar direito. Tenho medo de pegar a Peste nos ônibus.”
E Eu, ouvindo calado.
Seu Olavo estava com a voz embargada. Um velho pescador morrendo à míngua, afrontando a minha impotência. Eu sei que o sofrimento não tem limites e que sempre derrota a esperança.
Ele continuou.
“Parei de tomar o remédio da próstata. Será câncer? Eu não sei! Doutor, estou pensando em fazer uma besteira. A vida perdeu o sentido. Estou à beira da loucura!”
“Vou me matar! Preciso criar coragem para me matar. Vou pular num buraco de 14 metros de fundura, no Vaza Barris, onde sempre pesquei. Quero morrer afogado, comido pelos peixes, que sempre me serviram de alimento. Quero morrer no Rio que amo e conheço, onde passei a vida pescando.”
Seu Olavo encontrou poesia no desespero!
“Eu não aguento mais ficar confinado. A solidão é uma castigo insuportável para os velhos.”
“Sou contraditório: não tenho medo de morrer, mas tenho medo da Peste. Não quero morrer entubado, de barriga para baixo, numa UTI.”
“Tomei a decisão, vou me matar com dignidade! Pelo menos terei um velório decente e os amigos podem me enterrar, contando a minha história. Em ordem de pobre, eu fui feliz. Não merecia morrer desse jeito!”
Eu vi que ele falava a verdade! Bateu uma aflição, como Eu posso ajudá-lo.
Pensei, a primeira coisa é evitar o suicídio. Liguei para um Padre italiano, meu amigo, que mora nas redondezas e pedi ajuda. Contei a história de Seu Olavo e pedi socorro. Ele, de pronto, me disse: “vou na casa dele amanhã cedo. Eu sei onde fica. A misericórdia de Deus é grande!”
Seu Olavo não é um caso isolado.
Qual o desdobramento? Não sei, isso foi ontem!
Antonio Samarone (médico sanitarista)

quinta-feira, 27 de agosto de 2020

UM PANORAMA DA PANDEMIA


Um Panorama da Pandemia!
(por Antonio Samarone)
Um olhar da Saúde Pública.
O número de óbitos pela Peste é declinante, indicando que a fase epidêmica da covid-19 está passando. A doença evolui para a sua fase endêmica: o vírus permanecerá entre nós, com uma velocidade menor de propagação.
A fase epidêmica da Peste de covid-19, deixou até agora (26/08) um saldo de 118 mil mortos. O Brasil fracassou no enfrentamento da doença.
A assistência, voltar-se-á para a recuperação dos agravos, deixados nos que tiveram a doença em sua forma aguda e sobreviveram. Uma tarefa sobretudo da fisioterapia. A doença deixou sequelas mesmo entre os que a contraíram em sua forma leve.
O vírus permanece no organismo dos infectados em forma latente. Provocará futuras manifestações? A doença se manifestará em sua forma crônica? Só o tempo dirá... Os vírus que se alojaram no cérebro e em outros órgãos, e ali permanecem, será eliminado pelo organismo?
Quanto tempo durará a imunidade adquirida, evitando novas infecções? Não se sabe! Qual a eficácia das futuras vacinas e por quanto tempo imunizarão? Também não se sabe!
Numa esfera mais ampla, quais as consequências da Pandemia?
1. A Peste desmontou a economia e as finanças públicas. Empresas quebraram, o desemprego e as desigualdades sociais aumentaram. A realidade está maquiada pelo auxílio de emergência;
2. O setor educação continua sem saber como retornar em segurança;
3. As pessoas que permanecem em quarentena, sobretudo os idosos, não sabem como retornar a vida normal em segurança;
4. Os governos continuam tratando a transição econômica com medidas autoritárias, num estado de exceção permanente, com a justificativa de proteção sanitária.
Essa última questão é o que debateremos com o sociólogo Rogério Proença, numa live hoje à noite, as 18 horas. O que nos espera no Pós Pandemia?
O filosofo Byung-Chu-Han, manifestou preocupação com a possibilidade de que, devido à pandemia, sejam impostos regimes de vigilância e quarentena biopolíticas, perda de liberdade e que a histeria e o medo coletivo provoquem falta de humanidade.
Sabemos que no Brasil, as restrições são imediatamente burladas. O Governa obriga o uso de máscaras, a sociedade logo as transforma em adereços, sem nenhum critério sanitário. As máscaras no Brasil são fantasias.
Na Coreia do Sul, as máscaras usadas pela população são as mesmas usadas pelos profissionais de saúde na linha de frente do atendimento, ou seja, são equipamentos de proteção.
A vigilância contra as aglomerações no Brasil são espetáculos midiáticos eventuais, cobertos pela imprensa, sem continuidade e de reduzida eficácia. Na Correia do Sul eles usam milhares de câmeras inteligentes e drones para vigiar e punir.
A experiencia da Coreia do Sul, em 2015, com a epidemia de Síndrome Respiratória do Oriente Médio, (Mers-CoV), um coronavírus, levou a população a aceitar a perda da intimidade pessoal e da liberdade em troca da segurança sanitária.
Na Correia do Sul, o estado sabe onde as pessoas estão, com quem se encontram, o que fazem, o que procuram, em que pensam, o que comem e o que compram. O Estado controla também a temperatura corporal, o peso e o nível de açúcar no sangue.
Os apologistas da vigilância digital proclamam que o big data salva vidas humanas.
A Peste Negra pôs fim a Idade Média, o nazifascismo veio na sequência da Gripe Espanhola de 1918, o que sucederá à Peste de Covid-19?
Antonio Samarone (médico sanitarista)

terça-feira, 25 de agosto de 2020

A POLÊMICA DO PARQUE DA SEMENTEIRA.


A Polêmica do Parque da Sementeira.
(por Antonio Samarone)

Como será a reforma do Parque da Sementeira?

Existem dois projetos em disputa:

1. Uma visão ambientalista, que defende a transformação do Parque em um horto, um jardim botânico, uma reserva natural de restinga, uma área verdejante, com fins educativos e de lazer;

2. Uma visão de mercado, que pretende transformar o Parque da Sementeira em área de eventos e feiras, com bons restaurantes, comércio, serviços, entregue à iniciativa privada.

O Prefeito acende duas velas.

Não quer desagradar aos ambientalistas, antes das eleições e não pode contrariar o mercado, a quem representa. Nesse impasse, o projeto continua invisível.

O Prefeito já informou que vai começar pela reforma da cerca externa, pensando que agrada a todos. Uma parte dos urbanistas defendem um Parque público e aberto.

O projeto de privatização prevê a abertura de uma avenida, separando o Parque da Embrapa e da Codevasf, atendendo aos interesses do mercado imobiliário. Seria criada uma vasta área de estacionamentos, semelhante a existente na Av. Sílvio Teixeira.

Nesse período pré-eleitoral, a conjuntura não permite a alternativa privatista. Privatizar o Parque da Sementeira não é defensável antes das eleições.

Na verdade, estamos tratando do futuro de Aracaju, da qualidade de vida, de cidade sustentável e da cidade que queremos construir. As alternativas deveriam tornar-se públicas, submetendo-se a intensos debates, para uma decisão final, com a população esclarecida das opções.

Deveriam!

O poder por muito tempo deforma os seus ocupantes, que passam a sentir-se donos da coisa pública.

Aracaju vem sendo moldada para atender aos interesses da especulação imobiliária. Ruas e calçadas estreitas, praças e espaços de lazer limitados, reduzida arborização e investimentos prioritários na vias de circulação de automóveis.

As forças de mercado se apropriaram da Prefeitura, num processo acelerado de privatização da cidade. Os espaços urbanos foram usurpados pelo mercado imobiliário e de entretenimentos.

Aracaju é uma cidade que odeia os pedestres!

Antonio Samarone (médico sanitarista)

 

segunda-feira, 24 de agosto de 2020

A ARTE E A CULTURA EM TEMPOS DE PANDEMIA.


A Arte e a Cultura em Tempos de Pandemia.
(por Antonio Samarone)

Além do ataque do vírus pandêmico, que impõe o isolamento social, a Cultura sofre o ataque dos vírus da intolerância e do obscurantismo. No dia 11 de março de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou estado de pandemia global.

Antes da Pandemia, as políticas culturais já passavam por um desmonte, uma devastação. O fim do Ministério da Cultura aponta nesse sentido. No Brasil, a Pandemia encontrou a Cultura lutando pela sobrevivência.

As leis de incentivo à Cultura foram criminalizadas. A Petrobras suspendeu os incentivos à Cultura e às Artes.

Com a chegada da Pandemia, a Cultura e as Artes, que poderiam funcionar como canais de escape, fundamentais da solidão, como alimento da alma, como alento e esperança de tempos e vidas sãs, são confinadas nos espaços on-line da internet.

O mundo artístico cultural, foi interditado com a chegada da Peste e precisa sobreviver.

Qual o papel das novas tecnologias digitais na criação, disseminação e fruição de bens culturais, criando formas de consumo e circulação de produtos?

Como essas mudanças afetam os produtores locais de cultura, sem acesso às grandes mídias e aos grandes mercados?

Quem são os trabalhadores da cultura por trás das antigas e das novas criações? Como sobrevivem, ou não, aos tempos de pandemia?

Quais são, ou quais deveriam ser, as ações do Estado, na criação de políticas e programas públicos emergenciais, para o setor da cultura?

Como estão sendo pensadas as ações de futuro? Há algum planejamento de um processo de transição, que permita aos trabalhadores da cultura o retorno gradativo das atividades, no fim do isolamento?

No pós Pandemia, o que espera o mundo da Cultura? Torna-se urgente discutir como a Arte, que respira junto com o povo, vai conviver com o amanhã de máscara?

Como a cultura está sendo vista nesse processo de retomada da economia?

Qual a importância da LEI Nº 14.017, DE 29 DE JUNHO DE 2020, (Lei Aldir Blanc), que dispõe sobre ações emergenciais destinadas ao setor cultural?

Estados e Municípios receberam três bilhões de reais para ações emergenciais no setor da Cultura. Os recursos são destinados a um auxílio emergencial para os trabalhadores da Cultura, aos subsídios para a manutenção de espaços artístico-culturais e aos editais com prêmios e incentivos a manifestações culturais.

Como esses recursos estão sendo empregados em Sergipe? Como andam as políticas culturais em Sergipe? Quais os municípios que se destacam na área cultural?

Qual a realidade do setor artístico-cultural em Sergipe? Quais os setores que se destacam? Qual a inserção desses setores na economia? Quantas pessoas trabalham nas cadeias produtivas culturais?

Na Terça-feira, 25, às 18 horas, no Instagram (@antoniosamaronede), debaterei em live, com Irineu Fontes, um dos grandes pensadores da cultura em Sergipe, sobre essas e outras questões inerentes a Cultura.

Antonio Samarone. (médico sanitarista)

 

domingo, 23 de agosto de 2020

VIGIAR E PUNIR


Vigiar e Punir.
(por Antonio Samarone)

Diante o medo da Peste, entregamos a proteção das nossas vidas ao Estado. Governadores e Prefeitos assumiram poderes imperiais para normatizarem o nosso dia a dia. E eles estão abusando.

Na ilusão de que estão agindo para nos proteger, aceitamos a tutela. A política avançou na esfera privada, nos hábitos e comportamentos pessoais. O receio é que isso perdure no pós pandemia.

Com a desculpa da presença da Peste, vivemos sob um estado de exceção, onde direitos individuais foram suprimidos. O Estado regula o comércio, as igrejas, os bares e as escolas, em mínimos detalhes, impondo um funcionamento extravagante e anormal. Parte das normas não possui relações com a transmissão da covid-19.

O cidadão tornou-se uma ameaça sanitária a ser vigiado e punido. Trocamos a liberdade pela segurança e ninguém se sente seguro. Todos somos prováveis contaminadores, por isso, a regra básica é o distanciamento social. Cada qual em seu canto.

A mudança de hábitos pessoais de higiene, a introdução de cuidados e preocupações com a limpeza e conservação do corpo, em sua intimidade, não se faz por decreto. São mudanças lentas, construídas pela própria sociedade.

O filósofo italiano Agamben, sentenciou: “Se estamos dispostos a sacrificar praticamente tudo – trabalho, amizade, afeto, convicções políticas e religiosas – é porque a vida não têm outro valor que não seja a sobrevivência”.

A vigilância estatal sobre a vida privada durante a Pandemia, pode ser um ensaio para um regime totalitário, onde a vida de cada um passa a ser controlada. Em nome de reduzir o contágio, o estado passou a bisbilhotar e normatizar a vida social e econômica.

A doença, em sua fase aguda atual, epidêmica, está sendo reduzida espontaneamente, pela natureza da enfermidade, por sua história natural. Esses planos de reabertura, com medidas de higiene escalonadas, protocolos, blitz de fiscalização, mapas coloridos são espetáculos midiáticos, manobras ilusionistas maquiadas com um discurso técnico.

É a “vida nua”, a vida biológica, o valor supremo a orientar a sociedade, o estado de exceção encontra condições adequadas para se perpetuar. Chama a atenção a facilidade com a qual uma sociedade inteira aceitou sentir-se empestada, isolar-se em casa e suspender suas condições normais de vida”.

A estratégia de isolar as pessoas e deixar o vírus livre, foi uma adesão ao modelo chinês de combate a Peste, implementado em Wuhan. A medicina ocidental havia desmontado os antigos serviços de saúde pública, treinados para isolar o vírus. Na urgência, usou-se o modelo chinês do isolamento social, recomendado pela OMS.

O modelo de isolamento social e lockdown funcionou bem nos países asiáticos, mais ou menos nos países europeus e não funcionou nem no Brasil, nem nos EUA. O saldo de 114 mil mortos, até agora, é um indício da falência do isolamento social no Brasil.

No Brasil, o isolamento protegeu os que tiveram condições e vontade de isolar-se, mas pouco contribuiu para a redução da taxa de contágio. Os que estão cumprindo disciplinadamente o isolamento continuam susceptíveis, portanto, sem saber como retornar a vida social de forma segura.

Não existe uma estratégia sanitária segura para se sair do isolamento. Quem baixar a guarda corre riscos. Para não perdermos as esperanças, sonhamos com uma vacina salvadora. Apenas sonhamos, a vacina não vai erradicar a doença.

Vamos sintetizar: o isolamento protegeu individualmente os confinados, mas foi coletivamente ineficaz para reduzir a taxa de propagação da Pandemia. Para que o isolamento reduzisse a taxa de propagação, necessitava-se de uma taxa de isolamento elevada, o que não ocorreu.

Do ponto de vista da saúde pública, a redução do contágio dependia de taxas elevadas de isolamento, da observância das normas pessoais de higiene e de ações de vigilância em saúde. Nada disso funcionou adequadamente.

O contágio está reduzindo espontaneamente, obedecendo a história natural da doença. Como livremente o vírus caminha para a sua etapa endêmica. Não podemos esquecer que o vírus ficou latente em todos os infectados (sintomáticos ou não), não sendo possível saber se ocorrerão e quais serão as manifestações crônicas da doença.

No pós pandemia, os velhos serão vítimas de duras restrições sanitárias. Serão vistos como uma bomba viral, capazes de reanimar uma segunda onda. O velho tornar-se-á um “perigo sanitário” e, nessa condição, será tratado.

Antonio Samarone (médico sanitarista)

 

sexta-feira, 21 de agosto de 2020

O NOVO NORMAL

O Novo Normal!
(por Antonio Samarone)

Fiz parte de uma geração que acreditou na revolução, no progresso e na laicidade. Fomos movidos pelo otimismo tecnológico e científico, acreditamos no fim das injustiças sociais e na criação de um novo mundo.

Fomos derrotados! Só o indivíduo e a sociedade de consumo sobreviveram! Quanto mais a gente se expressa, menos se há o que dizer. Ninguém está interessado.

A pós-modernidade criou uma vida sem sentido, com múltiplas possibilidades, com sentidos provisórios, individuais, grupais ou simplesmente fictícios. Uma sociedade que não tem uma imagem gloriosa de si mesma, um projeto histórico mobilizador.

Hoje é o vazio que nos domina.

“O sujeito contemporâneo é um empreendedor de si mesmo que se auto explora. Ao mesmo tempo é um fiscalizador de si próprio. O sujeito auto explorador traz consigo um campo de trabalhos forçados, no qual é ao mesmo tempo carrasco e vítima.” Byung

É claro que o capitalismo não é eterno. O que não se sabe é o que acontecerá depois. Nada garante um paraíso, nem uma vida melhor.

A ante visão do Pós Pandemia é tenebrosa.

O novo normal é o velho normal maquiado. Com um agravante no Brasil: a sociedade está dividida de forma irreconciliável. O episódio do estrupo da menina de dez anos, por um tio, escancarou essa divisão.

A mensagem da Pandemia não foi entendida: O planeta não suporta a degradação, os recursos naturais são finitos e a questão ambiental não pode ser protelada. A solução não é uma vacina, mas a mudança do modo de vida.

Isso de crise ambiental parece distante, ingênuo, pensamento de estudante sueca (Greta Thunberg). A urgência não é reconhecida, isto é uma dificuldade. Se até agora se deu um jeitinho, pôde-se adiar, poderemos esperar mais um pouco. Os sinais (a Pandemia é um) apontam que não.

O sujeito contemporâneo é um empreendedor de si mesmo que se auto explora. Ao mesmo tempo é um fiscalizador de si próprio. O sujeito auto explorador traz consigo um campo de trabalhos forçados, no qual é ao mesmo tempo carrasco e vítima. Byung

Um segundo obstáculo é a crescente automação. A riqueza passa a ser criada sem o trabalho humano. Para não causar controvérsia desnecessária, com menos trabalho humano. Dizendo de forma mais direta: o desemprego é estrutural.

Qual o destino dessa riqueza produzida pelas novas tecnologias? O que se pode fazer com as pessoas invisíveis, desnecessárias ao capitalismo? Prolongar o auxílio de emergência, criar penitenciárias, vigilância policial e circo?
Quais os projetos da esquerda para o Brasil?

Acabo de ler “O Projeto Nacional de Ciro Gomes”. O que ele propõe? Um capitalismo liberal de faceta humana. Teve o mérito de estudar, fazer o diagnóstico e uma proposta. A viabilidade de criação desse paraíso capitalista é outra discussão.

O Partido dos Trabalhadores insiste em seu projeto de distribuição de renda, sem mudanças estruturais. Como diz Lula, botar um prato de feijão na mesa do pobre. Essa conciliação se tornou inviável no Brasil. O “Natal sem fome” do Betinho acabou.

O mercado está faminto e quer raspar o tacho.

Antonio Samarone (médico sanitarista)

 

BOM APETITE


Bom Apetite.
(por Antonio Samarone)

Em minha infância, Itabaiana não tinha gordos. Lembro-me de Chiquinho Gordo, dos três gordinhos da Rua do Fato e, do mais famoso, Zé Gorducho, um solteirão que vivia às custas da mãe, a doceira Dona Aurelina.

O Beco Novo não tinha gordos!

Tinha muitos meninos inchadinhos, comidos pela verme do amarelão. Gente de bucho grande e perna fina. Comedores de barro.

Menino gordo era difícil. A igreja católica tinha dificuldade em encontrar “anjos”, gordos e rosados, para as procissões de Santo Antonio. Eu fiz o teste e fui reprovado.

A gordura era associada a prosperidade, abundância, riqueza e saúde. A fome era endêmica. Na bíblia, quando José do Egito sonhou com a prosperidade, a imagem onírica foi a de sete vacas gordas.

A Gula, um pecado capital, era tolerada com simpatia e às vezes com admiração. “Deus benza, fulano come que é uma beleza”. A gulodice era quase uma virtude.

Claro, o prestígio de ser gordo não chegava ao muito gordo, ao disforme. Nesses casos, a patologia era incontestável. Ainda tinha os portadores de hidropisia, os edemaciados.

Em um mundo de escassez, saúde é barriga cheia! “Fulano está gordo, parecendo um Major”. “Já sicrano é magro de ruim”.

A obesidade tornou-se um problema de saúde pública, decorrente da mudança do padrão alimentar, do sedentarismo e do modo de vida. A obesidade é uma patologia social. Contudo, os gordos continuam recebendo sansões morais. O que era admirado hoje é rejeitado.

Atualmente a gordura é vista como um descuido, lerdeza, preguiça, falta de vontade e amor-próprio. O gordo tornou-se vítima de bullying, preconceitos, insultos e discriminações.

Só os gordos, os velhos e os feios são objetos do humor grosseiro, sem que o palhaço possa ser punido juridicamente.

Os feios não buscam defender-se, pois acham o insulto indevido. Ninguém se acha feio! Já os gordos, esses não tem a quem recorrer.

Botar apelido em gordo é passatempo dos medíocres. Aliás, os gordos ainda carregam a fama de serem bem humorados.

Não me lembro de nenhum gordo “caga raiva”.

Antonio Samarone. (médico sanitarista)



 

quarta-feira, 19 de agosto de 2020

MÃOS LIMPAS


Mãos Limpas.
(por Antonio Samarone)
Segundo pesquisas, apenas 11% das pessoas conseguem lavar as mãos oito vezes ao dia como recomenda a OMS. Por que é tão difícil cumprir esse ritual sanitário? Muitos preferem lambuzar as mãos com álcool em gel.
Por que ao invés de uma pia com água e sabão, as empresas são obrigadas a fornecer álcool em gel? Habituar-se em lavar as mãos como rotina traria vantagens permanentes, para se evitar novas doenças.
Essa dificuldade com a higiene pessoal vem de longe.
Segundo Gilberto Freyre:
“O contraste de higiene verdadeiramente felina dos maometanos com a imundice dos cristãos, seus vencedores, é traço que aqui se impõe destacar. Os cristãos peninsulares (Portugal e Espanha) dos séculos VIII e IX eram indivíduos que nunca tomavam banho, nem lavavam a roupa, nem a tiravam do corpo senão podre, largando os pedaços.”
O horror a água, o desleixo pela higiene do corpo e do vestuário permaneceu no Brasil até meados do século XX.
Sem contar que o sabonete foi um luxo até pouco tempo. O povo fabricava o seu sabão em casa. (sebo de boi, hidróxido de sódio - NaOH - soda cáustica, água). O sabão de soda ainda é vendido na feira de Itabaiana. O sabão de coco era uma novidade.
A higiene pessoal se manteve em grande atraso no Brasil, até meados do século XX. Foi o discurso sanitário levado as escolas pelas professoras, que introduziu noções e hábitos de higiene nas crianças.
O medo da vistoria nas escolas, a inspeção das unhas sujas, orelhas e pescoços com os “trios de lodo”, levou às mães a adotarem cuidados higiênicos com os filhos.
As crianças reagiam com choro a alarido a rotina do banho frio matinal. Muitas vezes era um banho de sopapo ou um banho de cuia, onde água descia lentamente pelas costas, gerando arrepios na vítima. Muitos passavam apenas uma água no rosto, para tirar a remela e maquiar a cara de sono.
Foi a escola pública que introduziu a higiene pessoal no Brasil. As crianças ensinaram as mães, para não passassem vergonha na inspeção da higiene escolar. Isso foi ontem!
Sem contar que a maioria dos domicílios não possuía instalações sanitárias. As pessoas defecavam no mato, no pé da bananeira, nas praias, nos fundos de quintais, ao pé dos murros e até nas praças. Lugares que estavam sempre melados de excrementos ainda frescos.
Isto sem falarmos no hábito dos homens de urinarem nas ruas; e de nas ruas se jogar a urina choca das casas, acumuladas durante a noite.
A tecnologia dos “walter closet” WC, inglês e do bidet francês chegaram ao Brasil no final do século XIX. O povo demorou a ter acesso a esses avanços sanitários.
As mãos são ferramentas fabulosas de comunicação. O Brasil inventou uma língua de sinais (Libras). “Dar uma mão” é uma ajuda fraterna. Quando uma coisa é muito boa, dizemos que é de “mão cheia”. A mão serve de medida com o palmo e a polegada. Uma mão de milho são cinquenta espigas.
Na tradição bíblica, “lavar as mãos” não simboliza limpeza, mas indiferença e omissão. “Pilatos lavou as mãos” quanto a condenação de Cristo. Ser alcançado pela mão de Deus é receber a manifestação do seu espírito.
A imposição das mãos é uma transferência de energia e poder, um ritual de cura, própria dos iluminados. As ciganas leem as mãos. As mãos postas é um sinal de humildade e devoção.
A mão fechada é o punho, sinal de luta e resistência.
Os pintores dão uma mão de tinta. No trânsito, a mão é o caminho certo. Estar nas mãos dos outros é entregar-se.
Mão cheia é fartura, mão de figa é somiticaria, mão de ferro é rigor, mão boba é saliência, mão grande é força e mão aberta é desperdício.
O capitalismo chama o trabalhador de mão de obra.
Foi a mão humana, com o seu polegar oponível, que permitiu a produção de ferramentas e a evolução do Homo sapiens. Foi a particularidade da mão que nos fez bípedes e nos tirou da selva.
Contudo, a mão que afaga é a mesma que apedreja, a mão que alimenta e protege é a mesma que transmite as doenças.
Com tantas serventias e simbolismos, por que tanta resistência em lavarmos as mãos?
Na reabertura das escolas, eu proponho uma pia com água e sabão em cada sala de aula, com toalhas limpas ou descartáveis. Uma verdadeira operação mãos limpas.
Antonio Samarone. (médico sanitarista)



terça-feira, 18 de agosto de 2020

AS PRIMEIRAS PESTES EM SERGIPE


As Primeiras Pestes em Sergipe.
(por Antonio Samarone)
A primeira referência a uma epidemia de varíola (bexiga) no Brasil, encontra-se numa carta de José de Anchieta à Diogo Laínez, segundo superior geral da Companhia de Jesus. São Vicente, 08 de janeiro de 1556.
Entre 1562 e 63, surgiram no litoral brasileiro duas grandes pestes (febre amarela e varíola), que dizimaram os gentios. No espaço de três meses morreram mais de 30 mil índios.
A febre amarela é descrita como uma febre alta, com hemorragias, que matava em poucos dias. A varíola como um pipocar de bexigas, asquerosas e pútridas, que em poucos dias estavam infestadas de bicho de mosca.
Segundo o padre Aurélio Vasconcelos, em 1564, após cessadas as Pestes, as aldeias de Sergipe ficaram muito despovoadas, pois os que escaparam da morte e da escravidão, fugiram sertão adentro em busca da sobrevivência.
Nesse período das Pestes e de muita fome (1562), os portugueses aproveitaram a desgraça e estenderam a sua missão genocida contra os Tupinambás do território sergipano, entre os rios Real e São Francisco, tornando-os escravos.
Como se observa, a primeira escravização dos índios em Sergipe começou bem antes de 1575. A famosa expedição organizada por Luiz de Brito, que a historiografia sergipana descreve romanticamente, como uma ação evangelizadora do Frei Gaspar Lourenço.
A aldeia de Aracaen era a última de Itapicuru, onde viviam os índios subjugados. Adiante, ficavam os temíveis e guerreiros Tupinambás, as 28 aldeias de Sergipe, onde as tropas de Garcia d’Ávila não se atreviam em penetrar. Guerreiros temidos pela fama de terem comido o Bispo Sardinha.
Os Tupinambás do território sergipano, escravizados durante as duas Pestes, promoviam frequentes escaramuças. Muitos deles fugiam retornando às suas aldeias de origem.
Existia um clima de beligerância permanente entre colonos e índios subjugados da Bahia, com os tupinambás do território sergipano.
A varíola cobria-os todo o corpo, dos pés à cabeça, como uma lepra mortal, parecendo couro de cação. Ocupava logo a garganta por dentro e a língua, levando-os a morte em três a quatro dias.
Os que escapavam, a peste quebrava-lhes a carne, pedaço a pedaço, com tanta podridão de matéria, que saia deles um terrível fedor. Eram infestados de moscas, que devoravam a carne morta e apodrecida e lhes depositavam os gusanos (bicho de mosca).
Os índios desesperados, apelavam para uma forma agressiva de tratamento: mandavam fazer covas longas à maneira de sepulturas e depois de bem quentes com muito fogo, quando cheias de brasas, atravessavam paus por cima, com muitas ervas. Os bexiguentos eram ali estendidos até se assarem.
A medicina portuguesa, praticada pelos jesuítas, recomendava a sangria como a melhor conduta no tratamento da varíola.
Os índios desconfiavam que sangrar o bexiguento (doente com varíola), não era um bom socorro.
José de Anchieta descreve a sua medicina contra a varíola:
“A outros que daquele pestilencial mal estavam mui mal eu esfolei parte das pernas e quase todos os pés, cortando-lhes a pele corrupta com uma tesoura, ficando em carne viva, coisa lastimosa de ver, e lavando aquela corrupção com água quente, com o que pela bondade do Senhor sararam."
A Peste de 1562, foi a primeira vitória portuguesa, facilitando a sanha assassina das expedições seguintes, até a conquista definitiva de Sergipe, em 1591.
Antonio Samarone (médico sanitarista)

QUAL A VOCAÇÃO ECONÔMICA DE ARACAJU?


Qual a vocação econômica de Aracaju?
(por Antonio Samarone)
O fim da Era Petrobrás (com o fechamento do Tecarmos, da sede na Rua Acre e o desmonte das plataformas), obriga Aracaju repensar a sua economia. A suposta reserva em águas profundas será leiloada.
Qual o nosso futuro?
O primeiro poço de petróleo em Sergipe, o 1-CP-1-SE, teve a perfuração iniciada a 1º de agosto de 1963. Quinze dias depois, viria a confirmação: a bacia de Carmópolis era um dos maiores campos petrolíferos da América Latina, com um volume total de óleo no reservatório de 1 bilhão 300 milhões de barris.
Era o caminho sergipano para o desenvolvimento.
Em fevereiro de 1965, ocorreu o primeiro embarque do petróleo sergipano para a refinaria Landulpho Alves, na Bahia. Os vagões-tanque da Viação Leste Brasileiro, partindo de Carmópolis, percorriam 57 quilômetros até Aracaju, em duas composições de cinco vagões cada, puxadas por máquinas a vapor.
Em Aracaju, uma possante máquina a diesel substituía as duas a vapor, transportando a composição até o campo de Catu, na Bahia, a cerca de 400 quilômetros de distância.
Em 1968, foi descoberto o campo de Guaricema e Sergipe se tornou o primeiro Estado a produzir petróleo no mar, no Brasil.
Em 15 de maio de 1968, foi criada a Universidade Federal de Sergipe. A Petrobrás e a UFS foram os alicerces do desenvolvimento de Sergipe.
Saímos de uma economia rural, centrada no açúcar, para uma economia moderna, fundada na exploração estatal de minérios.
É importante fazer justiça ao Governador Luiz Garcia (1959 – 1962). Foi um modernizador, que preparou Sergipe para um salto econômico. O JK sergipano.
Luiz Garcia (foto) criou o Condese, o Banese, a Energipe, a Secretaria de Educação, Cultura e Saúde; a Estação Rodoviária, o Hotel Palace de Aracaju, o Centro de Reabilitação Ninota Garcia, o Museu Histórico de Sergipe, a Faculdade de Medicina e o IPES.
No início da década de 1960, Aracaju era uma bucólica capital, com apenas 112 mil habitantes. Essa metrópole, com 657 mil habitantes, eivada de arranha-céus, rios poluídos, trânsito engarrafado é, em boa parte, decorrência da força da Petrobrás em Sergipe.
A Petrobrás foi embora. Qual o destino econômico de Aracaju?
Agricultura e indústria são geograficamente inviáveis. A área de serviço (comércio, educação e saúde), falta-nos escala, para uma concorrência exitosa com Pernambuco e Bahia. Um parque de alta tecnologia, seria uma pretensão desmedida.
A nossa vocação é o turismo ecológico. Com a despoluição dos nossos rios Sergipe, Vaza-barris, Poxim e do Sal, com a criação de áreas verdes, limpeza e preservação dos manguezais e recuperação de dunas e restingas. Aracaju estaria pronta para um desenvolvimento sustentável.
Por isso, defendo que a área do Tecarmo seja imediatamente incorporado ao patrimônio natural de Aracaju, como uma reserva de restinga.
Claro, são ideias para submeter-se ao debate com gente mais qualificada em meio-ambiente, urbanismo e economia.
Se esse caminho for viável, não poderemos aceitar que a prefeitura privatize o Parque da Sementeira, transformando-o em área de eventos, como está previsto.
Antonio Samarone. (médico sanitarista)

sábado, 15 de agosto de 2020

O FUTURO DO TECARMO


O futuro do Tecarmo.
(por Antonio Samarone).
Os políticos governistas em Sergipe, assistem silenciosos e omissos o desmonte do Terminal Aquaviário de Aracaju, no Tecarmo. Mais um desastre para a economia sergipana.
É o fim de uma Era, onde a Petrobrás alavancou a economia sergipana. O Processamento de gás hidrocarboneto no Tecarno acabou. As plataformas marinhas de Sergipe serão desmontadas.
E agora? Nada! Ninguém diz nada...
Sergipe é uma terra sem líderes. Todos caladinhos, esperando migalhas compensatórias. Os novos campos descobertos serão privatizados.
Qual o destino da área física do Tecarmo? Uma reserva de restinga pronta. Aracaju é carente de áreas verdes. Vamos transformar o Tecarmo numa reserva ambiental?
Por onde andam a bancada federal, a bancada estadual, os vereadores de Aracaju, os senadores, o prefeito da capital, o governador do Estado?
Aracaju possui dois Parques abandonados (Parques da Cidade e dos Cajueiros). O Parque da Sementeira está sendo preparado para a privatização, para a transformação numa área de eventos.
A prefeitura tem os recursos, mas falta-lhe as ideias. O projeto da Sementeira é escondido a sete capas. A Sementeira é uma área cobiçada pela especulação imobiliária.
O Tecarmo está pronto para se transformar numa reserva de restinga, uma área verde, para fortalecer a qualidade de vida.
Aracaju tem uma vocação turística, infelizmente não aproveitada pela cegueira dos dirigentes políticos.
O Presidente Bolsonaro vem a Sergipe no dia 17, segunda-feira. Vamos reivindicar a área do Tecarmo para a cidade de Aracaju. Seria uma compensação da Petrobrás, que tanta riqueza tirou do subsolo sergipano.
Aracaju precisa resolver a sua principal pendência ambiental, a contaminação dos seus rios pelo esgoto sanitário. O saneamento em Sergipe é uma balcão de negócios políticos.
A economia sergipana afunda velozmente. As causas da decadência são múltiplas. Contudo, é gritante a falta de ideias dos nosso governantes.
Um deserto!
Sergipe foi ocupado por uma safra de políticos menores, politiqueiros, gente voltada para interesses imediatos, e as vezes pessoais.
Senhores governantes, a transformação do Tecarmo numa reserva ambiental, será de grande importância para o futuro de Aracaju.
Só um estadista nos tira do atoleiro econômico. Está difícil...
Antonio Samarone. (médico sanitarista)

SERGIPE DO CONDE

 


Sergipe do Conde.
(por Antonio Samarone)

Mem de Sá governou o Brasil por 15 anos.

Mem de Sá partiu de Lisboa em 30 de abril de 1557, só chegando ao Brasil nos últimos dias de 1557, numa penosa viagem de oito meses. Mem de Sá tomou posse em 03 de janeiro de 1558.

Mem de Sá chegou ao Brasil viúvo, a sua esposa Dona Guiomar de Faria, faleceu em Lisboa no ano de 1542. Tiveram cinco filhos: João Rodrigues de Sá, morto em Celta, pelos Mouros; Fernão de Sá, morto no Espírito Santo, pelos Tamoios; Breatis de Sá, que faleceu em Lisboa. Padre Francisco de Sá, que morreu poucos meses após o pai, sem deixar descendentes; restando como única herdeira Felipa de Sá (Condessa de Linhares).

Mem de Sá foi o dono do engenho Sergipe do Conde, o maior da Bahia. O engenho Sergipe é anterior a Província de Sergipe.

O engenho Sergipe do Conde foi instalado em 1563 nas terras de uma grande sesmaria, que ia de “Marapé até a ponta de Saubara”. O engenho ficava entre os atuais municípios de São Francisco do Conde, Santo Amaro da Purificação e Saubara.

Em testamento Mem de Sá afirmou: “tenho na Capitania da Bahia do Salvador três léguas e meia de costa e quatro para o sertão com duas ilhas, e Sergipe onde fiz um engenho de açúcar, com quinhentas e tanta vacas parideiras e roças de mandioca.”

No século XVII, o engenho Sergipe ficou conhecido como a Rainha do Recôncavo.

Sua localização estratégica, imponência arquitetônica e força produtiva o colocavam na liderança da produção no Recôncavo. Além de ter a maior casa de moenda da região, dispunha de grande contingente de escravos, cerca de 300, quando a média de um engenho de grande porte era de 100 escravizados por propriedade.

Mem de Sá, senhor dos engenhos (Sergipe do Conde e Santana), exportador de açúcar e pau brasil, importador dos produtos do Reino e de outras localidades, criador de gado, proprietário de terras além das necessárias aos currais e engenhos, e participante no resgate dos escravos da terra (índios).

O engenho de Santana ficava na Capitania de Ilhéus, duas léguas e meia de terra, tocado pelos escravos da terra (índios) e uns poucos de Guiné.

O engenho Sergipe pertenceu a Mem de Sá, ao Genro, D. Fernando de Noronha, (Conde de Linhares) e, finalmente aos jesuítas. O engenho chamava-se Sergipe do Conde, exatamente por ter pertencido ao Conde de Linhares, genro e herdeiro do governador.

Em testamento, Mem de Sá deixou para o médico Afonso Mendes, hum mil e seiscentos reis. O mestre Afonso Mendes foi o médico particular de Mem de Sá e da sua família desde a sua chegada ao Brasil, até o falecimento.

Em 1557, com a chegada de Mem de Sá, chegou a Bahia o Mestre Afonso, Cirurgião-Mor das partes do Brasil, com um ordenado de 18 mil reis anuais; aumentados depois em 6 mil reis, pela administração da Botica Real.

O mestre Afonso Mendes morreu pobre em Salvador, sem deixar cabedais. Mestre Afonso era cristão novo, dizia-se que todas as sextas-feiras, ele e a família, açoitavam o crucifixo.

Os primeiros médicos que chegaram ao Brasil eram judeus.

Antonio Samarone (médico sanitarista)

O DELIRIUM DA QUARENTENA


O Delirium da Quarentena.
(por Antonio Samarone)

A demora ficou rápida. O tempo do confinamento é uma sequência de instantes fragmentados, indistinguíveis, sem rumo e sem destino. O tempo atomizado perde a profundidade.

A quarentena ultrapassou o tempo bíblico dos 40 dias (número da espera, da preparação, da provação e do castigo). O tempo perdeu a narrativa!

A realidade digital é enfadonha, repetitiva, objetiva e sem novidades. A realidade analógica é imaginada, imprecisa, inesperada, subjetiva e cheia de erros. Não tenho interesse nessa troca. Continuo analógico. Entre o erro humano e o acerto da máquina, fico com o primeiro.

As redes sociais criaram uma vida paralela que, aos poucos, substitui a vida presencial. Uma modesta reunião de condomínio consumia uma energia insuportável. Virtualmente, os tempos são encurtados. As pautas são cumpridas com objetividade, sem arrodeio e sem divagações.

Uma violonista itabaianense foi convidada a fazer parte de uma orquestra sinfônica mundial. Cada músico em sua casa, em países diferentes, com o maestro em Berlim. A tecnologia juntou e harmonizou tudo. O concerto foi assistido pela internet, no Pé do Veado, na bodega de Galeguinho.

Os filhos de Caetano acabam de emocionar uma multidão, sem saírem de casa. As antigas turnês pelo Brasil, perderam o sentido.

Ontem eu visitei a Chapada Diamantina, num sobrevoo de 30 minutos, assistindo ao “Brasil Visto de Cima”. Fiquei encantado com a cidade de Lençóis. Esse ano a romaria do meu ”Padin Padre Ciço” será virtual. Já comprei o chapéu de palha e a imagem do Santo pela Amazon. Tudo made in China.

Impressionante como os chineses fabricam chapéu de palha, iguais aos vendidos no Mercado Thales Ferraz. Passei a acreditar que aqueles ovos das Kombis (cem ovos por dez reais), são mesmo fabricados lá. Galinha saiu de moda.

Não tenho visto encontros virtuais (lives) para conversar “miolo de pote”, jogar conversa fora, ter momentos de divagações. Tudo parece muito produtivo. É chato!

Estou sentindo falta de alguns amigos! Das reuniões da confraria da cebola, todas as quintas-feiras, na Praça Luciano Barreto. Ouvir as mesmas lorotas, as mesmas piadas, as mesmas estórias. As antigas novidades são necessárias, reforçam os laços sociais, aprofundam as raízes e sustentam a cultura.

A solidão atrai as demências. Voltamos à caverna de Platão. As imagens do mundo chegam pela internet, sempre distorcidas.

Estou com saudade das feiras livres, do cuscuz com carne de bode, em Zé Buraqueiro, do mingau de puba, das castanhas do Carrilho, do coco mole, de saber as notícias das Flechas, trazida pelo caraibeiro que vende farinha, feita em forno de barro.

Saudade dos papos de feira, “museu de grandes novidades”, com dizia Raul.

Saudade dos feirantes das Palmeiras, para saber as estórias do Zanguê e do Pé da Serra de Itabaiana. Saber as notícias do Bom Jardim e da Cova da Onça. Saber se a Igreja do Barro Preto, que o Padre Edvaldo estava construindo, já acabou.

Me recuso a assistir as missas do Bom Jardim, pela Internet. Na Igreja tem um anjo serafim, aquele de seis asas: duas para cobrir os olhos e não ver Deus; duas para cobrir o sexo e duas para voar. A câmara virtual não capta o anjo.

Por outro lado, a pandemia tornou a vida fora de casa muito chata. Sob o comando das autoridades, a vida se tornou insuportável. O que abre ou não abre, o que pode ou não pode, depende deles.

O cafezinho do Shopping perdeu o sentido! O governador só permite uma pessoa por vez, em pé, e numa distância de três metros e setenta centímetros entre as pessoas.

Tenho a sensação de que estou sendo governado por Faraós, no antigo Egito. Ontem, no calçadão da João Pessoa, tinha um bando de burocratas bisbilhotando a vida dos outros. Sob o comando do Procon. Isso mesmo, do Procon!

Até o bate papo foi criminalizado, sujeito a multas. O governo lacrou as livrarias. Em Sergipe, o livro foi considerado um transmissor da Peste. Tudo para nos proteger.

Para acabar com esses decretos governamentais, tomo até a vacina russa! A pressa é amiga da perfeição.

Antonio Samarone (médico sanitarista)

 

quarta-feira, 12 de agosto de 2020

A PESTE MASCARADA


A Peste Mascarada.
(por Antonio Samarone)

As máscaras protegem, evitando o contágio da covid-19?

Na ausência de medidas sanitárias de bloqueio dos contágios (isolamento dos infectado, testagem dos contactantes, bloqueio dos casos, rastreamento e busca ativa), o Poder Público torna o uso de máscaras obrigatório, sob pena de sanções.

São conhecidas três tipos de máscaras.

1. As máscaras cirúrgicas.

As máscaras cirúrgicas, que cobre a boca e o nariz, são usadas por médicos e assistentes para não infectar os pacientes na mesa de operação. Essas máscaras precisam ser trocadas regularmente e descartada de forma higiênica e segura. Na sala de cirurgia, a máscara deve ser trocada pelo menos a cada duas horas.

Essas máscaras não podem ser manuseadas e exigem cuidados ao retirá-las após o uso, evitando-se a contaminação das mãos.

Está claro, que esse tipo de máscaras, usadas e descartadas adequadamente, reduz a emissão de gotículas e aerossóis por quem está expelindo. Se o vírus já está circulando, elas pouco impedem que os seus usuários se contaminem.

Em resumo, a máscara cirúrgica serve mais para proteger as pessoas ao redor de quem a está usando do que propriamente quem está de máscara. O uso das máscaras cirúrgicas traz um benefício indireto, serve de aleta, para que não se leve as mãos sujas ao rosto e evite-se aglomerações.

Essas máscaras cirúrgicas não protegem o usuário de uma possível infecção através de gotículas e secreções que saem da boca de uma pessoa infectada, quando ela espirra ou tosse. Geralmente, o vírus entra no corpo pela boca, o nariz ou pelos olhos.

2. As máscaras de pano.

Essas padecem das mesmas limitações das máscaras cirúrgicas, agravadas pela necessidade de higienizações frequentes. As máscaras de tecido também devem ser trocadas com frequência e lavadas com água quente, ou com detergentes adequados, para que os vírus não sobrevivam.

Essas máscaras de pano, mesmo reutilizáveis, devem ser trocadas com frequência, para funcionarem com equipamento de proteção. As pessoas desinformadas não tomam os cuidados necessários com essas máscaras após o uso.

Na prática, essas máscaras de pano se transformaram em adereços do vestuário, com marcas famosas, personalizações, símbolos, estilos e sutilezas. São burcas ocidentais.

3. As máscaras de proteção (EPIs)

São máscaras que filtram o ar – tanto na versão descartável, feita a partir de fibra de celulose com um elemento filtrante e uma válvula expiratória, quanto de material sintético, à qual é acoplado um filtro.

As máscaras EPI são usadas em hospitais quando profissionais de saúde entram em contato com pacientes de doenças altamente infecciosas. São usadas juntamente com outros EPIs (Equipamentos de Proteção Individual), como protetor ocular, luvas, aventais e macacões descartáveis.

As máscaras EPI são usados pelos profissionais de saúde que estão na linha de frente no atendimento da covid-19. No Brasil, essas máscaras seguem a regulamentação da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e precisam de CA (certificado de aprovação). São os tipos N95, N99, R95 ou PFF2.

Não é aconselhável, nem viável, o uso dessa máscaras (EPI) pelo público em geral. Elas são reservadas para os trabalhadores expostos a riscos extremos.

Portanto, as máscaras em geral ajudam na redução do contágio da covid-19, quando usadas de forma adequada e somadas a outras medidas de higiene e vigilância. As máscaras usadas de forma incorreta podem tornar-se em um veículos de transmissão do vírus.

Portanto, leis obrigando o uso de máscaras, sem o devido esclarecimento e treinamento, são apenas jogadas de marketing.

Antonio Samarone (médico sanitarista)