quinta-feira, 14 de agosto de 2025

O SONHO AMERICANO


 O Sonho Americano.
(por Antonio Samarone)

O historiador francês Alexis de Tocqueville vislumbrou, ainda no século XIX, um futuro democrático para a América (USA). O destino manifesto e o sonho americano eram crenças generalizadas.

O sonho americano é a crença de que qualquer pessoa pode alcançar sucesso e prosperidade por meio do trabalho árduo e determinação, independentemente de sua origem. Hoje, na Era Trump, esse é um sonho quase impossível.

Guardando as devidas proporções, a minha geração em Itabaiana, viveu esse sonho de ascensão social pelo trabalho, com a ajuda do talento. Sem caminhos tortos. A escola pública facilitou, mas não foi a única via. O neoliberalismo se aproveitou e inventou a ideologia do empreendedorismo. São fases distintas do capitalismo.

Um bom exemplo.

José Alves dos Santos (Pombo), nasceu 05/08/1949, no povoado Pedra Preta, vizinho a Matapoã, onde existe o Cemitério dos Negros. Filho de Augustinho Alves dos Santos e Maria da Graça de Oliveira. Pombo ficou órfão de pai, aos noves anos.

A mãe, para sobreviver, arrastando dois filhos menores (Pombo e Quinha, irmão mais novo) mudou-se para um sítio de uma tarefa, ao lado da Rua Miguel Teixeira e da casa do Tenente Baltasar, na periferia da cidade. Pombo, de imediato, foi bater barro na Olaria de Zé Massa Crua.

Pombo só estudou o primário, com a professora Dona Valdice, na Matapoã.

O que esperava da vida, esse menino, fora da escola, tralhando de aprendiz de oleiro, aos 10 anos? A vida é para os fortes.

Pombo, ainda adolescente, foi ajudante de sapateiro nas tendas de Seu Faustino, Firmino de Cândida e Nivinha. Virou mestre, em solar sapato. Aos poucos, virou dono de uma sapataria, produzindo alpargatas. Os artesões do sapato em Itabaiana, já estavam em decadência. Perderam a competição para o sapato industrializado, vindo de fora.

Como quase todo menino pobre daquele tempo, em 1970, aos 21 anos, Pombo, foi tentar a sorte em São Paulo. Passou 2 anos e voltou. São Paulo já não era uma alternativa. O que fazer? As tendas de sapatos não enfrentava as fábricas do Sul.

Pombo se meteu em uma atividade econômica arriscada, foi ser muambeiro. Eu explico. Os aparelhos eletrônicos surgiram com força no mercado de consumo. Gravador, TV, fogão elétrico e a grande novidade: os vídeos cassetes. Foi uma febre. Os vídeos cassetes tinhas tantas cabeças, cada vez mais sofisticado. Todos queriam ter o seu.

Comprar nas lojas, com nota fiscal, só para os ricos. Foi aí que se criou o mercado de muambas do Paraguai. Depois da Zona Franca de Manaus. Em Itabaiana, muita gente ganhou dinheiro com os vídeos cassetes do Paraguai. Que eu me lembro: Tonho de Xanxo, Promotor, Jua de Abiddon, Paulo de Zé de Melinha, Juracy da Serra. Quem mais?

Em Itabaiana, existiu até consorcio para se adquirir as bugigangas do Paraguai.

Passada a febre das muambas, Pombo estava capitalizado. Foi dono de caminhão, caçamba. Um pequeno comerciante do que aparecesse. Vendia e comprova de tudo.

Pombo se casou Dona Zélia, filha de Tonho de Pipiu. Da família brotaram três filhos: Hudson, Karina e Viviana, e quatro netos.

Na juventude, Pombo, flamenguista, ensaiou jogar futebol. Foi um lateral direito esforçado. A sua maior façanha futebolística, foi ter machucado em um treino, o craque do Itabaiana, Horácio, que ficou de fora do jogo contra o Maruinense, onde o Itabaiana foi derrotado.

A cidade só falava nisso, botando a culpa em Pombo.

Hoje, Pombo está com 76 anos, vive de rendas, sem preocupações financeiras. Uma vida pacífica e honrada. Os juros em Itabaiana não seguem a taxa “Selic” do Banco Central, são bem menores. Em Itabaiana, quem pratica agiotagem são os bancos.

Tivemos um sonho passageiro, em Itabaiana, durante a segunda metade do século XX. Criaram-se muitos Pombos, o pombal é grande e vivemos em revoadas. Conheço vários Pombos e Pombas, que saíram de baixo e, por esforço próprio, ganharam a cidadania e o respeito da sociedade.

Antonio Samarone – Secretário de Cultura de Itabaiana.


Um comentário:

  1. Mais uma bela história! Ainda tenho saudades do videocassete, porque me sobraram algumas raridades em VHS, para sempre ocultas dentro de uma caixinha preta de plástico.
    Não se pode tirar o mérito do seu Pombo e outros pombos. O que se pode, e deve, é combater a ideologia da meritocracia, que só serve para manter e justificar desigualdades, que em Itabaiana não são poucas e só aumentam.

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