segunda-feira, 27 de abril de 2020

A PANDEMIA EM ARACAJU



A Pandemia em Aracaju.
(por Antonio Samarone)
Como anda a Pandemia em Aracaju, me perguntou por telefone um colega médico de Pernambuco. Sei lá! Aqui só se sabe das coisas pela boca do Prefeito. Só ele fala. E só conta o que for da sua conveniência.
E os boletins epidemiológicos? Ele insistiu.
Os boletins aqui são estéreis. Bonitinhos, arrumadinhos, coloridos, mas com muito pouca informações. Não tem uma nota explicativa. Nada! Tudo feito por aplicativos. Uma faz de conta que informa.
Fiquei sabendo que tinha gente contaminada na zona de expansão, perto de onde estou de quarentena.
fui investigar.
Lembrei-me das aulas de João Cardoso Nascimento Junior: “vá à campo, epidemia não se combate em gabinetes.” O Comitê Científico do Nordeste tem razão quando propõe criar as brigadas.
Botei os velhos trajes de sanitarista, treinado pela SUCAM, discípulo dos doutores Alexandre, Leite Primo e Cleovansóstenes, e fui a campo.Fui procurar os infectados.
Encontrei o primeiro!
Sardão testou positivo, mas já ficou bom. “Já estou são psíquico”, disse-me ele.
Sardão é um sertanejo agalegado do Povoado Guaxuma, trabalhador, pai de família, carroceiro nas horas vagas, mora com uma família de 13 pessoas. Como isolar Sardão em casa? Só a misericórdia de Deus, para evitar uma tragédia.
A casa de Sardão é um pequeno zoológico. Ao lado da Casa tem uma pocilga, com três porcas e sete bacorinhos. Convive em casa com os animais domésticos. Gatos, cachorros, galinhas, patos, saguis, passarinhos, cágados, habitando o mesmo espaço, as camas, sofás e as redes. A proliferação de insetos de todas as espécies, principalmente baratas, moscas e rato.
A esposa de Sardão, Dona Lourdes, faz comida para vender, especializada em beijus, mingaus, pirão e farofa. E ainda bota os meninos para vender cocada puxa num tabuleiro. Não chega para quem quer.
Dona Lourdes estava dando um banho de gamela num filho pequeno. Uma gamela funda, parecendo um ofurô japonês. O menino todo arrepiado, com a água fria. Me deu saudade dos banhos de cuia no Beco Novo.
Sardão não alisa a molecada. “Eu não crio filho na malandragem. Todos trabalham. Quem não faz nada, pega carrego na Feira do Augusto Franco.” Sardão ainda não recebeu a esmola do Governo (os seiscentos reais).
A desigualdade social é extrema na Guaxuma. Tentei teorizar: Sardão, dessa vez o capitalismo se acaba! “Que capitalismo, doutor, quem está se acabando é o mundo.” Sardão acha mais fácil o mundo se acabar que o capitalismo.
Ele pode ter razão.
Para onde está indo a Peste em Sergipe, não sei dizer. Os dados são insuficientes até agora.
Antonio Samarone.

SETE PALMOS DE TERRA E UM CAIXÃO



Sete Palmos de Terra e um Caixão.
(por Antonio Samarone)
A Vala Comum é medieval, lembra a Peste Negra. Foi em Vala Comum que se sepultaram os náufragos do Aracaju, na Segunda Guerra. São lembranças históricas.
A Vala Comum já era metáfora!
Humano vem de inumar (enterrar, sepultar). Seres humanos são os que enterram os seus mortos. O cuidado com os mortos é anterior ao Homo sapiens.
As vítimas do Cólera de 1855, no Aracaju, tiveram covas individuais, em jazigos perpétuos no Cemitério São Benedito.
A Peste do comunavírus trouxe a Vala Comum de volta. Eu vi pela TV, em Manaus e em Nova York, a metrópole do capitalismo.
Confesso o meu espanto com a imagem da Vala Comum.
Não foi a fila de veículos militares transportando defuntos na Itália, nem os caminhões frigoríficos nas portas dos hospitais, são imagens fortes, mas nada próximo a Vala Comum.
O meu cérebro é analógico e guardou atavicamente a imagem da Vala Comum e do sepultamento às pressas, sem ritual, sem despedida.
Esse é meu medo maior do Comunavirus. Não é o medo da morte (essa não tem jeito), um dia chega. É o medo da Vala Comum.
Eu quero velório, mesmo com todos desatentos, cortejo, exéquias, cerimonia fúnebre, ofício de corpo presente, missa de réquiem, o sino tocando o dobres a finados, honras fúnebres, ambitus funeris, mortalha comum (nada de saco plástico) e lamentações.
Eu quero que sobre pelos menos os restos mortais, para quem quiser ir visitar no dia de finados, colocar flores e acender velas.
Exijo o direito de descansar em paz.
Comungo com o desejo do poeta Pedro Nava:
“Eu quero a morte com mau gosto!
Dêem-me coroas de pano.
Dêem-me as flores de roxo pano,
angustiosas flores de pano,
enormes coroas maciças,
como enormes salva-vidas,
com fitas negras pendentes.”
A primeira reivindicação das Ligas Camponesas no Nordeste era Sete Palmos de Terra e um Caixão. “Não era uma cova grande, era uma cova medida, era a terra que queria ver dividida.”
O direito a uma morte Severina.
O medo é que além da perda dos “sete palmos”, se perca o direito ao caixão, e se volte a sepultar os trabalhadores numa rede.
Antonio Samarone.

NO BRASIL, A PANDEMIA CONTINUA SOBERANA


No Brasil, a Pandemia continua soberana.
(por Antonio Samarone).
A filosofa alemã Carolin Emcke fez um alerta: “A pandemia é uma tentação autoritária que convida à repressão, à vigilância totalitária baseada em dados digitais, à regressão nacionalista. Ou ao cálculo darwinista que coloca um preço na perda dos corpos mais velhos, mais frágeis e menos treinados.”
O bate-boca entre o Presidente da República e o seu Ministro foi repugnante. Realçou a força do autoritarismo no Brasil. Acusações mútuas. E o mais grave, os dois pareciam falar a verdade. Para completar, a oposição não disse nada de relevante, até agora.
Não vejo o pós Pandemia no Brasil com esperança.
No cenário da fala do Presidente, duas imagens intrigantes: Guedes era o único mascarado. Logo ele, o Posto Ipiranga, o pai da destruição do estado brasileiro e dos seus programas sociais. Por que só ele escondeu a face, a cara do mercado?
Não me venham com a bobagem que a máscara de Guedes era por causa do coronavírus.
O Comando Militar do Governo apresentou recentemente uma proposta keynesiana de investimentos públicos, requentaram o PAC da Dilma. O famoso mercado já reagiu. O PAC de Bolsonaro (ou de Dilma) é incompatível com neoliberalismo radical de Guedes.
A segunda imagem foi a do Ministro da Saúde, ao fundo da cena: sonolento, distante, macabro, parecia um fantasma de circo. A face é o espelho da alma. Nelson Teich é uma assombração.
Perdi até a esperança na recuperação do SUS, Bolsonaro nomeou um carrasco.
O Observatório Covid-19 BR, que reúne especialistas de 7 instituições e mede 'velocidade' da doença no país, informou que Curva de mortes no Brasil está mais rápida que a da Espanha, e que sem medidas de isolamento, as cidades brasileiras correm risco de repetir a situação da Europa e dos EUA.
O Brasil está perdendo a guerra para a Peste.
O Prefeito de São Paulo, Bruno Covas, anunciou em entrevista coletiva: a abertura de 13 mil covas, a contratação de 220 coveiros, a aquisição de 32 carros para a frota do Serviço Funerário, a compra 38 mil novas urnas funerárias (caixão), de 15 mil sacos reforçados para transporte dos corpos e de 3 mil equipamentos de proteção para os funcionários dos cemitérios.
Enquanto isso, em Sergipe, os negacionistas continuam minimizando os estragos da Peste.
Uma liderança provinciana do movimento disse-me com uma certa arrogância: “até agora só morreram 8 pessoas em Sergipe, isso não é nada, morrem mais de acidente de moto num final de semana.”
Verdade: a estupidez não tem limites!
Antonio Samarone.

A PANDEMIA DOS VELHOS


A Pandemia dos Velhos.
(por Antonio Samarone).
Seu Tutu foi encontrado morto. Artur José do Nascimento, 82 anos, estava isolado, com medo da Peste. Morava só! Ainda mexia com uma pequena bodega, recentemente fechada, por razões óbvias. Foi velado e sepultado com o ritual cristão, no cemitério local.
Depois da morte da esposa, há três anos, os filhos insistiam para seu Tutu vir para Aracaju, morar com eles. Ele sempre reagiu: “a solidão é a minha dignidade. Não quero ser manobrado por filhos”.
Seu Tutu, começou apresentar os sintomas segunda-feira, tosse e falta de ar. Morreu em três dias. Não procurou assistência médica, ele não acreditava. Ele não aceitou ser internado, tinha mais medo da intubação do que da morte.
Ele achava que tinha contraído a Peste na fila do Banco, quando foi receber a aposentadoria. Seu Tutu não merecia ser enterrado numa Vala Comum.
Eu conheci Seu Tuta na histórica reunião no Cinema de Zeca Mesquita, quando da primeira visita de Lula à Itabaiana. Desde o mensalão, Seu Tutu criou desgosto com o PT. Deixou de votar. Em sua bodega tinha um retrato de Luiz Carlos Prestes na parede, presente do amigo Zeca Cego.
A gripe espanhola matou mais jovens saudáveis, a Covid – 19 prefere os idosos. O Coronavírus por enquanto está vencendo e ceifando vidas preciosas.
Uma outra vitória do Coronavírus no Brasil: a epidemia está criando mais desunião e desconfiança. Faltam confiança entre as pessoas, confiança nos especialistas científicos e confiança nas autoridades. É a Torre de Babel.
Tinha lido em uma pesquisa do Departamento de Epidemiologia da Faculdade de Saúde Pública – USP, que “Na capital paulista vivem 1,8 milhão de idosos e quase 300 mil moram sozinhos. Desses, mais de 20 mil estão com mais de 90 anos de idade e mais de 8 mil não têm rede de apoio, ou seja, contatos sociais ou familiares aos quais poderiam pedir ajuda nesse momento crítico.
Me lembrei de Seu Tutu. Ele tinha a quem pedir ajuda, mas preferiu não incomodar. Os velhos aprendem isso, é parte do desapego. “Nasci só e vou morrer só”, dizia ele.
Qual é a realidade dos Idosos em Aracaju, quantos moram sozinhos? Por aqui, eu não conheço estudos sobre o tema.
Em 2019, o IBGE estimou para Aracaju uma população de 657.013 habitantes, com 65.700 idosos, aproximadamente. Usando a proporção de dez por cento. Quantos moram só, e não possuem apoio familiar?
Temos uma autoridade que não saí das mídias, ele é o arauto da Pandemia. Um sujeito que até tem passado, militante do movimento estudantil, mas se diluiu na gosma geral da politicagem.
O poder molda os que a ele se assujeitam!
Pensei em sugerir: cuide dos idosos de Aracaju. Coloque a máquina que você comanda para assistir aos idosos, nesse momento de medo. Ainda deve existir os grupos de idosos nos CRAS e nas Unidades de Saúde.
Mas não tive coragem...
Se nada mudar no pós Pandemia, pelo menos, Eu vou tratar mais da questão do idoso. Quantos somos e como estamos vivendo, os 65.700 idosos do Aracaju?
Antonio Samarone.

OS MÉDICOS E AS PANDEMIAS NO BRASIL


Os Médicos e as Pandemias no Brasil.
(por Antonio Samarone)

É assustador o número de profissionais de saúde infectados e mortos pela Peste da Covid – 19. O fato está sendo naturalizado pelas autoridades. Como se fosse inerente ao exercício profissional se morrer em combate. Não é verdade! Os riscos podem e devem ser prevenidos. Estamos morrendo por falta de EPI adequados.

Não entendo o silencio. Não queremos heróis mortos!

Os médicos vieram ao Brasil com Pedro Álvares Cabral. Entre os principais componentes da Armada, estava o médico, cosmógrafo e astrólogo Mestre João.

A partir da terceira década do Século XVI chegaram os cirurgiões barbeiros e os boticários. Esses homens práticos que lancetavam, sangravam, sarjavam e partejavam.

A primeira epidemia de febre amarela no Brasil data do final de 1685, em Recife, onde morreram 600 pessoas em 15 dias, entre eles, o único médico da cidade.

O marques de Montebelo, Capitão General da Província de Pernambuco, determinou as seguintes providencias para enfrentar a Peste de Febre Amarela:

“A purificação dos ares e a limpeza das casas, ruas e praias. Depois de limpas, as casas serão perfumadas com ervas cheirosas, e borrifadas com vinagre.” (só faltou mandar lavar o calçadão da Treze)

Em 1687, o Rei de Portugal, Dom Pedro II, encaminhou para a Capitania de Pernambuco o Dr. João Ferreira da Rosa, formado em Coimbra, recebendo uma pensão de vinte mil reis e uma ajuda de custo de cinquenta mil reis, com a condição de permanecer na Colônia por seis anos.

Estudando a epidemia de febre amarela, o Dr. João Ferreira Rosa publicou o “Tratado Único da Constituição Pestilencial de Pernambuco”, onde a febre amarela foi caracterizada como “Febre pestilenta do gênero dos sínocos podres”.

Em 1691, o Dr. Ferreira Rosa iniciou uma campanha de profilaxia em Recife. Resolveu purificar o ar e determinou que se acendesse fogueiras defronte as casas, e alimentá-las com ervas cheirosas por 30 dias. Usavam-se murta, incenso, almecega, bálsamo, óleo de copaíba, aroeira e erva-cidreira.

Acredita-se que o costume das tradicionais fogueiras juninas no Nordeste, tiveram a sua origem nas medidas adotadas pela Saúde Pública no combate as epidemias.

Apagadas as fogueiras do Recife, a febre amarela só retornou com força em 1849, em Salvador, com a chegada do Navio Brazil, procedente de Nova Orleans, onde grassava a doença.
As divergência no campo da medicina são antigas.

O Presidente da Província da Bahia, Francisco Gonsalves Martins, solicitou o parecer do Conselho de Salubridade Pública, que concluiu pela inexistência de risco de uma epidemia (era uma gripezinha). De imediato, os pesquisadores da Escola Tropicalista Baiana, John Paterson e Otto Wucherer contestaram. Afirmaram tratar-se da temida febre amarela, e que a Peste já estava em andamento.

Em meados de 1849 a epidemia de febre amarela já grassava no Rio de Janeiro.

No tratamento da febre amarela só havia um preceito: não matar o doente. Não se sabia o que fazer... Os comerciantes reagiram as propostas de quarentena.

“A quarentena é um ônus pesadíssimo, obriga despesas extraordinárias, rasga o cálculo dos roteiros, leva a perturbação a todos os interesses, que gemem. Absolviam-se as mercadorias e condenavam-se os amarelentos.” Henrique Cukierman.

Sobre os médicos no Brasil Colônia, nos conta o historiador Lycurgo Santos:

No Brasil enriqueceram os mercadores, os comerciantes, os agricultores e criadores, os traficantes de escravos. Prosperaram, afidalgaram-se e tronaram-se os “Principais”, os homens bons da Governança. O mesmo não sucedeu aos Profissionais da Medicina. Humildes vieram e assim continuaram. Chegaram pobres e tornaram-se remediados.

“Nos primórdios do povoamento, os médicos vestiam-se como o povo: ceroula, camisa e tamanco. Ceroulas de cacheira ou de algodão tinto, com a bainha arregaçada. Camisa de algodão. Um rosário pendente no pescoço, para atestar a devoção.

No momento, os médicos, e todos os profissionais de saúde, estão combatendo a Peste de Covid – 19 sem a devida proteção (EPI). O número de profissionais contaminados e dos que morrem está sendo muito elevado. Os dados são imprecisos e dispersos. Acompanho pela Imprensa.

Procurei nos Portais do Conselho Federal de Medicina (CFM) e da Associação Médica Brasileira (AMB) informações sobre os óbitos dos médicos devido a Peste, e não encontrei nada. O CFM pede que se estabeleça regras para a remuneração dos médicos infectados. Um horror, a monetarização de um risco que pode e deve ser evitado.

Para a minha surpresa, nos Portais das duas entidades médicas estão estampadas Notas de Apoio Político ao novo Ministro Nelson Teich.

E um Silencio sombrio sobre as mortes!

Antonio Samarone.

AS PESTES VIRAIS NA HISTÓRIA


As Pestes Virais na História. (Por Antonio Samarone)
A história humana é a história dos seus parasitas. Oito por cento do genoma humano consiste em pedaços de retrovírus que se fundiram com nossos antepassados ao longo da evolução.
A primeira doença humana atribuída a um agente filtrável foi a Febre Amarela. Em 1898, Friedrich Loeffler e Paul Frosch descreveram o primeiro agente filtrável dos animais (o vírus da febre aftosa). Walter Reed e sua equipe em Cuba reconheceu o primeiro vírus filtrável humano - vírus de febre amarela.
Esse agente filtrável, diferente das bactérias, ainda não se chamava de vírus. Vírus, vem do latim “vírus”, que significa veneno, gosma, excreção viscosa. Os vírus foram descobertos há pouco tempo.
Somente na década de 1930, o agente filtrável foi isolado pelo microbiologista Holandês Martinus Willem Beijerinck, na doença da folha do tabaco, e chamado de vírus filtrável, ou seja uma partícula infectante diferente das bactérias. Os vírus são de 10 a 15 vezes menores que as bactérias.
A descoberta da natureza do vírus filtrável como sendo um segmento de material genético (DNA ou RNA), envolto por uma capa proteica, é muito recente.
Em 1982, Sir Aaron Klug ganhou o Nobel em química por ter desvendado o complexo proteico/ácidos nucleicos (DNA e RNA) na estrutura dos vírus.
Os vírus em geral representam um problema metafísico não resolvido. Ninguém sabe se eles são seres vivos. Na verdade, são e não são. Quando dentro das células são capazes de se multiplicar, fora são inertes.
Os vírus precisam necessariamente de uma célula viva para realizarem o seu ciclo.
Tentei demonstrar de forma resumida que o conhecimento sobre os vírus é muito recente. Contudo, as doenças virais são anteriores ao Homem, e convivem evolutivamente com a nossa espécie.
No Brasil, os relatos da Pestes virais são antigos, datam do século XVI.
Em seu escrito sobre o Frei Gaspar Lourenço, o Padre Aurélio de Vasconcelos nos conta que entre 1562 e 63, surgiu no litoral brasileiro duas grandes Pestes (febre amarela e varíola) que dizimou os gentios, e que no espaço de três meses morreram mais de 30 mil índios.
O Padre José de Anchieta relata como os índios enfrentaram a varíola:
“Mandavam fazer umas covas longas a maneira de sepulturas, e depois de bem quentes com muito fogo, deixando-as cheias de brasas e atravessando paus por cima e muitas ervas, se estendiam ali tão cobertos de ar e tão vestidos como eles andam, e se assavam, os quais comumente depois morriam, e suas carnes, assim com aquele fogo exterior como com o interior da febre, pareciam assadas.”
Os que saravam era pela bondade de Deus.
Antonio Samarone.

A PANDEMIA E OS SISTEMAS DE SAÚDE





A Pandemia e os Sistemas de Saúde.
(por Antonio Samarone).
Existem diversos modelos de Sistema de Saúde pelo Mundo.
Os Estados Unidos possui um Sistema privado, centrado na medicina de mercado, com elevada incorporação tecnológica. Essa explosão de óbitos (42.897, até agora), tem surpreendido.
O sistema de saúde americano, o mais caro do mundo, não respondeu bem, não estava preparado para enfrentar a Pandemia.
A medicina de mercado não atendeu as necessidades epidemiológicas. Isso fragilizou a visão sobre a “excelência” da medicina americana.
A Europa possui Sistemas de saúde de inspiração pública, herança do Welfare State. Do famoso “National Health Service” - NHS inglês, ao Sistema Público de Portugal, em todos, a medicina de mercado é secundária.
O que aconteceu na Europa? Como esses Sistema de saúde responderam a Pandemia? Até hoje: Itália, 24 mil óbitos, Espanha e França 20 mil óbito e Inglaterra 16 mil óbitos. A Alemanha escapou, 4.800 óbitos até agora. Todos ressaltam a organização dos serviços de Saúde alemão.
Os Sistemas públicos europeus também não responderam a Pandemia. Eles são públicos quanto ao financiamento, mas a medicina dominante é a mesma dos EUA, a chamada medicina científica.
A grande exceção da Europa foi Portugal. Até agora, 735 óbitos. Não tenho informações suficientes para levantar nenhuma hipótese.
Quem está se saindo bem no enfrentamento da Peste são os países asiáticos. China com 4.632 óbitos, Japão com 263 óbitos, Correia do Sul com 237 óbitos, Singapura com 11 óbitos, Taiwan com 6 óbitos e Hong Kong com 4 óbitos.
Parece que o modo de vida tem mais influência sobre a determinação da saúde, que os sistemas de saúde.
E o Brasil?
O SUS tem se mostrado o nosso maior recurso para enfrentarmos a Pandemia. Talvez o único recurso! Mesmo tendo sofrido várias operações de desmonte, o SUS sobreviveu.
Ninguém houve falar nos Planos de Saúde, estão recolhidos, contabilizando os lucros.
Durante a preparação para a Copa do Mundo, se achava exagero a crítica de que o dinheiro empregado para a construção dos estádios, era mal empregado, deveria ser usado para fortalecer a saúde e a educação. Por ironia, estamos transformando os campo de futebol em hospitais, nesse momento de crise.
As grandes fragilidades brasileira para enfrentamento da Pandemia são a nossa desigualdade social e a profunda divisão política da sociedade. Não existe entendimento nem sobre a morte. A maior preocupação é a chegada do vírus nas comunidades mais pobres.
E Sergipe? Fica para outra oportunidade.
Antonio Samarone.






















































































A CIÊNCIA, A PANDEMIA E O PANDEMÔNIO.



A Ciência, a Pandemia e o Pandemônio.
(por Antonio Samarone)
A Saúde e a Economia não têm a mesma importância. O direito à vida é a base da civilização. O direito à vida é absoluto, não pode ser relativizado.
Os países que seguiram as orientações da ciência estão enfrentando melhor a Pandemia. Quando a política briga com a biologia ela é derrotada.
O Consorcio de Governadores do Nordeste acertou, ao entregar o comando da condução do enfrentamento a Pandemia a um Comitê Científico. Vamos ouvi-los.
Sergipe é uma caso à parte.
O Governador Belivaldo, de boa índole, é um homem sem convicções. Caminha conforme as conveniências políticas. É sujeito a pressões. Ora acerta, ora erra! Sempre bem intencionado. Não sei o que ele pensa do Comitê Científico.
O Prefeito Edvaldo Nogueira agiu até agora de forma voluntarista, sem planejamento. Mais preocupado com a própria imagem do que com a Pandemia. Tomou a frente de tudo, até do Governador. Se alguém sugeria: "mande lavar o calçadão da Treze que é simpático", ele atendia. "Faça isso, faça aquilo", ele atendia. O Prefeito atirou sem direção, sem foco.
Agora Edvaldo Nogueira anunciou uma parceria com os pesquisadores da UFS. Vai sentar-se com quem pensa. Espero que não seja mais uma jogada de marketing. Sendo verdade, palmas para o Prefeito. Esse é o caminho.
O que mais atrapalha o combate a Pandemia em Sergipe é a militância de certas pessoas nas redes sociais. Gente de classe média, movidos por razões diversas, que insiste em negar a Pandemia. Minimizar a tragédia. Mentem, inventam, divulgam fake news, desmobilizando a sociedade para o enfrentamento da doença.
As razões do negacionismo são distintas: solidariedade ao Mito, necessidades econômicas, ignorância, crendices, ganancia, convicções arcaicas e motivações pessoais. Muitos são bem intencionados, não nego, mas o inferno está cheio de gente bem intencionada.
A resistência não é do povo, que muitas vezes não pode seguir os conselhos da Saúde Pública. O povo está ajudando. O povo sabe que vai pagar a conta maior. Se faltar leitos de UTI, quem vai morrer na calçada é o povo. Os negacionistas terão leitos garantidos.
Quem está atrapalhando em Sergipe é a militância do negacionismo, a turma do Pandemônio.
Ontem, os abutres da Pandemia fizeram um buzinaço defronte o Hospital das Clínicas, em São Paulo, onde estão internados os que estão morrendo.
Em Sergipe, eles marcaram uma carreata a semana passada e desistiram. Negociaram antes com o Governador. Sergipe é pequeno, todos se conhecem. Poucos aceitam cumprir publicamente esse papel desmobilizador da sociedade.
O que estou defendendo é simples. Vamos ouvir o que a Ciência tem a dizer, seguir os seus conselhos e orientações. Esse parece ser o melhor caminho.
Antonio Samarone.

AS NOVIDADES NO COMBATE A PANDEMIA



As Novidades no Combate a Pandemia.
(por Antonio Samarone)
O Brasil está enfrentando a Pandemia dividido, entre os que acham que estamos numa guerra e os que consideram que vivemos uma situação de quase normalidade. Eu me incluo entre os primeiros.
O Consorcio dos Governadores do Nordeste criou um Comitê Científico, coordenado por Miguel Nicolelis e Sérgio Rezende, para orientar as ações contra o coronavírus.
O Comitê acaba de fazer propostas ousadas aos Governadores do Nordeste, e eles aceitaram por unanimidade.
O Comitê Científico do Consórcio de Governadores Nordeste, do qual Belivaldo faz parte, defende a criação de uma Brigada Emergencial de Saúde, para levar os médicos à frente de batalha contra coronavírus e a restrição do tráfego nas rodovias do Nordeste.
Não sei se Belivaldo entendeu direito as propostas, mas concordou.
E o que foi proposto?
A criação de uma “Brigada Emergencial de Saúde”, formada por profissionais de saúde, que vão sair da defensiva, vão trocar os gripários (hospitais da campanha), onde se espera passivamente os doentes, e vão fazer visitas sanitárias. Vão de porta em porta, em busca dos contaminados. Isso em todo o Nordeste.
Os Cientistas do Comitê do Nordeste estão convencidos que esse é o caminho.
Vamos detalhar mais. A Brigada Emergencial de Saúde é uma estratégia nova, que visa acionar o que o SUS tem de mais importante, a sua Rede Básica.
O Prefeito de Aracaju seguiu outro caminho. Fechou a rede básica, e destacou oito Unidades para atender os sintomáticos. Agora está montando um Hospital da Campanha, no campo do Sergipe, para atender os casos de média gravidade e precisem de hospital.
Em Sergipe, os casos graves, que precisem de UTI, ficam sob a responsabilidade da Rede Estadual de Saúde.
A estratégia apontada pelo Comitê Científico muda o modo de atuar do SUS. Nada de ficar esperando a pessoa contrair o vírus, adoecer, e procurar os Serviços de Saúde. Vamos para cima, enfrentar a Peste no campo dela. A ideia de uma Brigada Emergencial de Saúde muda tudo.
Segundo os cientista ainda está em tempo, a Pandemia está se espalhando pelo Nordeste agora.
Fiquei em dúvida se as Brigadas seriam formadas somente pelos atuais profissionais de saúde da rede pública ou se recrutariam voluntários. Como seriam formadas essas Brigadas e por quem?
O Comitê de Cientistas do Nordeste, informou que existem 15 mil médicos brasileiros formados no exterior à espera de uma oportunidade de validar o diploma e atuar no país. A validação desses diplomas seriam viabilizadas para os que aderissem as Brigadas Emergencial de Saúde.
O Governador da Bahia, em nome do Consórcio, já consultou o Governo Federal sobre a possibilidade dessa validação dos diplomas desses médicos.
Na proposta do Comitê de Cientistas os brigadistas cairiam em campo super protegidos, com toda a segurança necessária. Eu fiquei em dúvida. Se não estamos conseguindo fornecer EPI suficientes para os que estão nas UTI, como vão garantir essa segurança aos brigadistas?
Essa proposta seria viável, nesse momento? Não sei...
A outra proposta polêmica dos cientistas é iniciar imediatamente uma Restrição do tráfego nas rodovias do Nordeste. Isso mesmo, só passa caminhão.
Vejam o que está no documento dos cientistas:
“Recomendamos que as medidas de restrição de mobilidade sejam ainda mais rígidas, devendo-se proibir, em todos os Estados do Nordeste, o tráfego intermunicipal e interestadual, garantindo, porém, a segurança dos profissionais de serviços essenciais, com destaque para o transporte de alimentos e materiais de saúde.”
Belivaldo que liberou de Motéis a Agências de Automóveis, vai precisar voltar atrás. Se ele vai proibir a circulação de veículos, para que as lojas de vender automóveis abertas. Não vai ter comprador.
Tudo isso será acompanhado por um aplicativo chamado Monitora Covid-19, já à disposição.
Vamos aguardar. Político é bicho matreiro. Eles podem ter concordado na hora, para não desagradar os cientistas, depois cozinham em banho maria.
Se teremos ou não as Brigadas Emergenciais de Saúde ou se fecharão as rodovias, como quer o Comitê Científico, é preciso esperar.
Em Sergipe, Eu não acredito!
Aqui, a estratégia de combate ao Vírus é orientada por palpites das redes sociais e pressões econômicas.
Antonio Samarone.

A PROPOSTA DO NOVO MINISTRO DA SAÚDE




A Proposta do Novo Ministro da Saúde.
(por Antonio Samarone)
O Ministro Nelson Teich publicou no último 03 de abril, a semana passada, em seu Linkedin: COVID -19: “Como conduzir o Sistema de Saúde e o Brasil.
Qual é a proposta central de Nelson Teich?
Nada de Isolamento Horizontal, esse nosso, que Belivaldo afrouxou. Onde só abre as atividades econômicas essenciais e quem puder fique em casa. Foi o caminho seguido pelos governadores até agora.
Nada de Isolamento Vertical, onde tudo funciona e segrega-se os velhos e os doentes com baixa imunidade. O que defende aquela gente da passeata de Curitiba.
Não, o Ministro está propondo o que ele chama de Isolamento Estratégico ou Inteligente. O doutor Nelson Teich é um “técnico”, apoiado pela Associação Médica Brasileira (AMB).
Vamos saber do que se trata. Segundo o novo Ministro:
“Testes em massa para a Covid -19 são necessários para o entendimento do comportamento da doença e para definir as melhores estratégias e ações. Se os dados preliminares estiverem corretos, 80% dos pacientes com a Covid -19 não apresentam sintomas ou são pouco sintomáticos.”
“Estamos falando aqui do uso de testes em massa para Covid-19 e de estratégias de rastreamento e monitorização, algo que poderia ser rapidamente feito com o auxílio das operadoras de telefonia celular.”
O Ministro quer fazer um isolamento personalizado.
O Ministro quer isolar somente os contaminados e os seus contatos. Segundo ele, seria um isolamento Inteligente, como foi feito na Correia do Sul.
Entenderam? Se saí fazendo exames em massa e, identificando-se contaminados, com ou sem sintomas, se determinaria o isolamento obrigatório dessas pessoas.
O doutor Nelson não fez as contas. Se 80% da população pode se contaminar, como ele afirma, só não estaria sujeito ao isolamento os 20% restante.
Semelhante a proposta do Dr. Simão Bacamarte, no conto “O Alienista”, de Machado de Assis, que internou toda a população de Itaguaí na Casa Verde.
É isso que o doutor Nelson Teich, apoiado pela AMB, está propondo.
O novo Ministro “técnico” não conhece o Brasil!
Como sair examinando obrigatoriamente todo mundo, principalmente quando as pessoas souberem que se testarem positivos serão isolados?
Imaginem o estigma sobre esses oficialmente contaminados. Na idade média, os leprosos andavam com um chocalho, para não pegar ninguém de surpresa.
Vai acontecer o que já acontece com os pacientes graves internados, onde ninguém pode visitar. O estigma vai se estender para todos os contaminados, no Isolamento Inteligente do Ministro Teich.
A Prefeitura inteligente pode realizar essa cruzada de exames em massa para identificar os isoláveis, pelo sistema Dreive Thru. Aracaju pode ainda aproveitar o Hospital da Campanha, no campo do Sergipe, para rastrear os contaminados sujeitos ao isolamento.
Onde essas pessoas contaminadas seriam isoladas? Como fazer o controle para que esse isolamento seja obedecido?
Tornozeleira eletrônica nos contaminados? Espalhar drones fazendo o reconhecimento facial e medindo a temperatura?
O Brasil ainda não possui o sistema de controle “personalizado” da China.
Na Saúde Pública, essa estratégia do Ministro Teich chama-se Modelo da Lepra. O problema é enfrentado afastando-se os contaminados da Sociedade. Com a Lepra era assim: saia-se examinando todo mundo, encontrando-se um contaminado, segregava-se no Leprosário. Ainda alcancei...
As primeiras consequências óbvias dessa bobagem ministerial: os prováveis contaminados sem sintomas evitariam os exames e os com a síndrome gripal leve evitariam procurar os serviços de saúde, com medo do isolamento obrigatório.
Independente da eficácia duvidosa, esse Isolamento Estratégico do Ministro Teich não tem a menor viabilidade no Brasil.
Espero que o novo Ministro esqueça o que escreveu a semana passada. O medo é que o Presidente Bolsonaro acredite nisso e queira colocar em prática.
Antonio Samarone.

AS PESTES E OS SEUS SIGNIFICADOS


As Pestes e os seus Significados. (por Antonio Samarone)
Segundo Fiori, “Os germes e as grandes epidemias têm vida própria, e reaparecem através da história com uma frequência cada vez maior, apesar de que o reaparecimento periódico não obedeça a nenhum tipo de regra ou de ciclo conhecido e previsível.”
A Covid – 19 é a primeira grande Peste do Século XXI.
Uma afirmativa que já virou clichê: o Mundo não será o mesmo após essa Pandemia. As Pestes sempre trazem grandes mudanças. Já ouvi uma afirmativa consistente, o Covid – 19 está pondo fim ao século XX.
Podemos comparar as grandes Pestes com as guerras?
Existem razões históricas para essa crença em grandes mudanças?
As Pragas do Egito desencadearam o Êxodo do Povo Hebreu, a Peste de Atenas (428 a.C.) ajudou a vitória de Esparta, na guerra do Peloponeso. A Peste de Justiniano consolidou a queda do Império Romano, a Peste Negra do século XIV levou ao fim da Idade Média e a Gripe Espanhola de 1918, nos trouxe o Nazifascismo.
“O historiador inglês da Universidade de Oxford, Mark Harrison, sustenta inclusive a tese de que foi a Peste Negra que provocou a centralização do poder dos estados e sua delimitação territorial, como forma de controlar e limitar o contágio, difundindo novas práticas higiênicas entre as populações que ainda viviam sob a servidão feudal.” José Luís Fiori
São teses defensáveis.
Quais serão as grandes mudanças no pós Covid – 19?
O médico homeopata Átalo Crispim de Souza fez uma reflexão interessante:
“Está pandemia parece propor uma mudança no modo de agir, ou seja, na ética. O que virá como reação e resistência ainda não sabemos, mas não será coisa boa, pelo menos no início. Esperemos que a reação não dure tanto como a da gripe.”
“A pandemia da gripe espanhola criou o fascismo, o nazismo, o franquismo como reação contra as mudanças propostas pela virose, a transformação total do modo de pensar da humanidade que somente se consolidou após a segunda guerra: Emancipação dos povos, direitos humanos, respeito às minorias etc. Apesar da precariedade destas conquistas havia, pelo menos, o discurso.”
Existe um consenso, ao final dessa Peste não haverá vencedores, todos perdem. Por isso é um equívoco querer tirar dividendos políticos do flagelo.
As disputas pelas narrativas, pela reconstrução do novo mundo serão posteriores. As transformações já em andamento serão aceleradas. Os enfrentamentos serão acirrados. Não existirá espaço para a covardia.
É obvio que a disputa pelo domínio do mundo entre os Impérios americano e chinês será intensificada. Acha-se que o Brasil está no eixo central dessa disputa. Quando nasce um Império outro morre. A tal revolução científica e tecnológica é parte decisiva dessa guerra.
“A disputa dos EUA com a China e a Rússia já colocou a luta pelo controle da Amazônia Sul-Americana dentro do mapa geopolítico e econômico da competição entre as grandes potências econômicas e militares do sistema mundial, e este parece ser um processo irreversível.” Fiori
Dessa vez o capitalismo está enfrentando um inimigo que usa as suas armas. O duelo principal é no campo econômico, mas a peleja é global. Da cultura a política, da religião a ciência, da filosofia a guerra. Na pós Pandemia o mundo será outro.
E o Brasil, como fica nisso? Essa é uma pergunta muito difícil... A derrocada econômica parece inevitável. Quais os caminhos imediatos para a superação? Como será a reação das massas frente a morte, a fome e a miséria. O neoliberalismo ofereceu R$ 600,00 por três meses.
E depois?
Antonio Samarone

O DIA-A-DIA DA PESTE



O dia-a-dia da Peste. (por Antonio Samarone)
O que já parece uma eternidade, completou apenas três meses e meio.
Em 31 de dezembro de 2019, a China notificou a OMS o surgimento de 40 casos de uma nova doença, na cidade de Wuhan.
Em 07 de janeiro, os cientista chineses identificaram ser uma nova cepa dos coronavírus.
Em 11 de janeiro de 2020, a China anunciou a primeira morte, um homem de 61 anos.
Até 20 de janeiro, três pessoas tinham morrido e mais de duzentas infectadas. Foi descoberto que o vírus era transmitido de pessoa a pessoa.
Em 23 de janeiro, Wuhan foi colocada em quarentena. O número de mortos subiu para 26 e 830 pessoas infectadas. A OMS achava muito cedo para se determinar uma emergência global.
Em 24 de janeiro apareceram os primeiros casos na França e na Austrália.
Em 28 de janeiro, o número de mortos ultrapassou 100 e o de infectados chegou a quase 4,5 mil.
Em 02 de fevereiro, a primeira morte fora da China. As Filipinas informaram a morte de um homem de 44 anos.
Em 9 de fevereiro, o número de mortes havia chegado a 811, ultrapassando as 774 vítimas do surto (SARS), também causada por um coronavírus, entre 2002 e 2003. Chegam ao Brasil 34 brasileiros repatriados da China.
Em 17 de fevereiro, o número de mortos chegou a 1.770. Fora da China, os casos passam de 500, e o número de mortes confirmadas chega a cinco.
Em 23 de fevereiro, o comércio e repartições públicas foram fechadas nas regiões de Lombardia e Vêneto. Itália se torna o primeiro país fora da Ásia a isolar populações inteiras.
Em 26 de fevereiro, o governo brasileiro confirmou o primeiro caso no país: um homem de 61 anos, que viajou à Itália a trabalho.
Em 28 de fevereiro, a (OMS) elevou o alerta de risco do coronavírus de "alto" para "muito alto".
Em 04 de março, a Itália registrou 107 mortes.
Em 11 de março, a OMS considerou a disseminação de covid-19 como uma pandemia.
Em 14 de março a Espanha declarou estado de emergência.
Em 19 de março, o número de mortos pelo coronavírus na Itália superou o de mortos na China.
Em 24 de março os Jogos Olímpicos de Tóquio foram adiados. São Paulo e a cidade do Rio de Janeiro começaram quarentena obrigatória.
Em 02 de abril, o número de casos confirmados ultrapassou 1 milhão, com mais de 50 mil mortos. O país com o maior número de casos eram os EUA, com mais de 240 mil, seguidos da Itália, com 115 mil, e da Espanha, com 112 mil. A metade da humanidade estava confinada.
Em 11 de abril, os EUA somava 19.602 óbitos, enquanto a Itália tinha 19.468 óbitos.
Em 13 de abril, ontem, o mundo possuía 1.917.320 casos confirmados e 119.483 mortos. O Brasil chegou a 1.328 mortes e 23.430 casos confirmados. Sergipe é um caso estrando, sob suspeita, possui 44 casos confirmados e quatro óbitos.
Estamos em 14 de abril, há apenas três meses do primeiro óbito por Covid - 19. A Peste em plena atividade. É a partir dessa realidade, que qualquer discussão séria pode começar.
Antonio Samarone.

O MEU HERÓI



O Meu Herói (por Antonio Samarone)
A manifestação de pessoas razoáveis minimizando a Pandemia tem me incomodado. O que se passa na cabeça dessa gente?
A cobertura intensiva da imprensa tem naturalizado a tragédia? Essas pessoas foram contaminadas pela paixão política e seguem o seu Mito, que acha o Covid – 19 uma gripezinha?
A gravidade da Peste parece indiscutível, mas essa gente continua minimizando.
Essa conversa que o Covid – 19 mata todo mundo, ricos e pobres, é uma meia verdade. Mata bem mais os pobres e remediados. A classe média e os ricos estão confortavelmente isolados. O risco maior é para quem precisa ganhar o pão-de-cada-dia e para os que moram apinhados em comunidades carentes.
Uma parte dos que minimizam a gravidade da Peste, estão seguros.
Ontem à noite resolvi entrar em contacto com um amigo médico, que está na linha de frente do atendimento em São Paulo. Procurei saber a verdade sobre a Peste. Busquei um humanista, que fez medicina inspirado em Dr. Pedro Garcia Moreno.
O que eu ouvi foi comovente. Perguntei-lhe se podia publicar. Ele condicionou, “desde que não divulgue o meu nome. Não quero ser herói.”
Ele estava de plantão e me relatou"
“Trabalho em dois hospitais da periferia de São Paulo. Um na Zona Leste e outro na Zona Norte, onde estou agora."
"Também sou médico do Hospital das Clínicas, no serviço de coloproctologia e no departamento de gastroenterologia, onde ensino residentes a fazer retossigmoidoscopias.”
“Estou fora de casa, desde quinta-feira, dobrando plantões. Estou vendo um colega de 24 anos de Pronto Socorro, ser entubado e levado para a UTI”. Estamos dentro de um caos lento, que deve chegar ao pico em duas semanas.”
“Eu sou cirurgião de emergência, que opero do pescoço ao calcanhar. Sou intensivista a 24 anos.""
"Declarei que não sou diabético nem hipertenso. Eu não vou fugir! Não tenho o direito de fugir. Eu conheço o meu passado.”
“A minha esposa, ginecologista, e a minha filha ficam preocupadas. Eu as protejo, não conto tudo. Meus irmãos em Aracaju estão com medo, eles me conhecem, sabem que eu não me escondo.”
“Eu não tenho medo, me preparei espiritualmente desde fevereiro. Nada vai me abalar. Entubei diversos pacientes com Covid – 19, drenei tórax. Tive óbitos, mas também tirei pacientes graves da UTI.”
“Quando o quadro é desesperador, sem muita esperança, eu prescrevo a hidroxicloroquina. É uma medicação que conhecemos a décadas. Chega de preciosismos. É guerra mesmo!”
“Querido professor, a terceira guerra mundial chegou. Precisamos de equilíbrio. Muitos colegas choram, outros entram em pânico. E não nos deixa abraçá-los, com medo da contaminação.”
“E quem resiste? Os que tem espiritualidade e confiança no Deus de Abrahão.” É indescritível o que começamos a ver dentro dos hospitais. Lá fora, a população não tem a mínima ideia.”
“Esse hospital onde estou de plantão, tem cinco favelas em seu entorno. Tínhamos sete leitos de UTI, agora temos vinte e vamos para trinta. O gripário, enfermaria onde se coloca os pacientes menos graves, possui trinta leitos.”
“Meu coração não cabe no peito do sentimento do dever cumprido. Cuido de muita gente nos gripários, onde ficam os casos mais leves, que não precisam de UTI.”
“Acolho as pessoas e famílias que não podem entrar nas UTI para visitar os seus ente queridos, muitos há mais de 20 dias internados. Sem direito a visitas.”
“O hospital de Tatuapé virou um inferno. Não é momento para covardia. Médicos aposentados estão voltando, estudantes de medicina estão sendo convocados.”
“Tenho tristeza pelo povo desempregado. Mas eles vão se ajudando. As igrejas e as comunidades dividem o que tem. São Paulo possui 96 distritos, o vírus já chegou a 95.”
“Como ficar de quarentena num barraco que há divisão de horário para dormir. Não cabe todos. Donde vem o pão, o leite. É muito sofrimento.”
“O mundo jamais será o mesmo. Será o fim da arrogância. Para mim, amar, dividir, acolher e zelar pelo homem e por todas as formas de vida.”
Vou parar por aqui, mas ele me contou bem mais.
Meu amigo, sei que você não quer ser herói.
Eu lhe conheci de calças curtas. Você ficou órfão cedo. Seu pai tinha uma bodega sortida, que a gente chamava de mercadinho. Sei o que você e os seu irmãos passaram.
Você foi meu aluno. Sei que você estudou medicina custeado pelo ex patrão, um homem rico, dono de caminhões e posto de gasolina em Itabaiana. Sei também que esse senhor nunca revelou esse custeio. Não era um rico avarento, com diz a bíblia.
Não podia ser diferente, eu já esperava isso. Você sempre foi um menino de princípios. O seu isolamento para meditação na Serra de Itabaiana, forjou um homem forte.
E vou lhe dizer o porquê você é o meu herói, mesmo contra a sua vontade. Eu invejo os bons, os que andam por caminhos que eu não consigo andar.
Deus nos proteja!
Antonio Samarone.

domingo, 12 de abril de 2020

SUPOSITÓRIO DE CLOROQUINA



Supositório de Cloroquina. (por Antonio Samarone)

No Brasil, politizaram a Peste. A postura do Presidente dividiu a Direita. Caiado, Maia, Dória e Witzel, roeram a corda. A esquerda nem fede nem cheira, está calada, esperando o reconhecimento. Em resumo, o mundo político não está à altura.

Nas Pestes antigas não se sabia do que se tratava. A morte devastava livremente. A humanidade buscava socorro na religião. Buscava-se a misericórdia de Deus.

Nesse momento as igrejas estão fechadas.

No século XXI, as Pestes são conhecidas. Busca-se socorro na ciência, que sabe cada vez mais sobre minúcias, e cada vez menos sobre o principal. Podem saber o “que” e o “como”, mas ignoram o “porquê”. A impotência é quase a mesma.

As redes sociais estão infestadas de vídeos de pesquisadores, cientistas, médicos, especialistas de todos os gêneros, todos qualificados, cada um com a sua novidade sobre o Covid – 19. Uma Torre de Babel.

Existem teses e opiniões científicas sobre a Pandemia para todos os gostos, facilitando a mediocridade dos políticos. Existem cientistas que acham a cloroquina um veneno, e os que a consideram um santo remédio. Todos baseados em evidências. Todos convictos.

Assisti no WhatsApp, num grupo de esclarecidos, a defesa emocionada de que a pandemia não existe, é uma cilada, não passa mesmo é de uma gripezinha. Fui acusado de sabotador, por discordar dessa estupidez.

Não subestimem a força da estupidez!

A Peste do Covid – 19 me acentuou o sentimento de profunda nulidade, a sensação de não ser mais do que uma criatura, de ser o “pó” bíblico: “Pulvis es et in pulverem reverteris” - Gênesis 3:19.

Sinto esmaecer a esperança de um mundo melhor no pós Pandemia.

Byung-Chul Han, filosofo sul coreano, pode estar certo, ao traçar um quadro sombrio para o pós Pandemia: “Teremos um avanço das forças autoritárias, do neoliberalismo, o aumento das desigualdades e da intolerância. Os Vírus não fazem revoluções.”

O que nos resta é um supositório de cloroquina.

Antonio Samarone.