Um São João
sem liberdade. (por Antonio Samarone)
Um São João
triste, onde para se evitar aglomerações, as autoridades acabaram com a festa.
Proibiram até o que não precisava. Até as “bandeirinhas”. O povo, com medo de
ser responsabilizado, obedeceu franciscanamente.
Ontem o meu condomínio
quedou-se logo cedo. Um silencio absoluto. Nenhuma radiola tocando. Nenhuma casa
enfeitada. Nenhum chapéu de palha. A vida esmoreceu.
Uma Peste sem
fim, onde não se enxerga saídas. As restrições soam como uma expiação de culpa,
para acalmar a ira da morte. Tudo simbólico.
Cometemos um
erro perigoso. Delegamos poderes imperiais as autoridades, com a justificativa
da necessidade de enfrentarmos a Peste. O medo nos tirou a razão. Essa gente
não tem compromissos com a sociedade.
Muitos estão
se aproveitando do cheque em branco, dado pelo estado de emergência, e estão se
lambuzando. O Rio de janeiro não está sozinho!
Renunciamos à
liberdade por uma segurança que não veio. Pelo contrário, estamos cada vez mais
inseguros. O Poder Público em Sergipe não está à altura da crise sanitária.
Hoje,
obscuros Prefeitos interferem na vida das pessoas de forma absoluta. Tudo em
nome do combate à Peste. O exagero é explícito. E o mais grave, com resultados discutíveis.
O mundo
chegou a 9 milhões de infectados e 470 mil mortes, pela Pandemia. EUA e Brasil
somam 3,3 milhões, 37% dos casos. O Brasil chegou a 1,1 milhão de casos e
51.400 óbitos. A pequena Província de Sergipe d’ El Rey, alcançou a espantosa
marca dos 20 mil casos e 511 óbitos.
Como essa
epidemia não tem prazo para terminar, até quando essas sub autoridades se imiscuirão
em nossas vidas?
São tanto os
desmandos que a gente termina esquecendo coisas importantes. A rede hospitalar
precisa de regulação, isto é fato. Precisa de um centro de comando que coordene
os encaminhamentos dos pacientes para as unidades de saúde adequadas. Onde existam
a vaga e o serviço demandado.
Essa
regulação existe para facilitar a vida dos pacientes. Em Sergipe, a burocracia
regula visando atender as comodidades dos serviços. A situação dos pacientes
não conta. A exigência das UTIs de só receberem os pacientes com covid já diagnosticada
laboratorialmente, beira ao sadismo. Os resultados dos exames demoram, e a Peste
não espera.
Ontem em
Itabaiana, o SAMU ficou numa residência, com um idoso grave, na maca, com
imensa dificuldade respiratória, por mais de 4 horas, aguardando um comando da
regulação. Para onde encaminhar aquele sofredor? A regulação em Sergipe ignora
as necessidades dos pacientes.
A Saúde
Estadual continua acéfala, sem comando.
Cheguei a
elogiar a indicação de uma técnica, mas foi um erro. Não vejo melhoras. Se com
o comando de um candidato as coisas não andavam, com um técnico também não.
Governador, deixe os profissionais administrarem. A sua interferência está
atrapalhando.
Em Aracaju a
trapalhada é maior. A gestão da crise sanitária é eleitoreira. Acintosamente
política, sem cerimonias. Tudo a luz do dia, sem subterfúgios, sem controles. Saudades
dos antigos órgãos de fiscalização. A Peste é inibidora.
As duas
principais deficiências de Aracaju são a falta de testagem em volume adequado e
a ausência de um programa de rastreamento dos contactantes daqueles que foram
infectados. São erros imperdoáveis, que infelizmente continuam.
A Prefeitura
de Aracaju joga para a plateia, com ações vistosas, ineficazes e efêmeras, num
oba-oba sem fim. Aposta na força do marketing, na desatenção da opinião pública
e numa imprensa amiga.
Antonio
Samarone. (médico sanitarista)
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