De decreto em
decreto, o povo vai morrendo...
As vítimas
fatais da Peste em Sergipe, dobraram nos últimos 15 dias. Em 09/06 tínhamos 252
óbitos, ontem, dia 22/06, chegamos a 491 óbitos. A realidade se naturalizou. A
sociedade passou a receber com frieza as informações.
E alguns já recebem
as informações com impaciência. Perdemos a empatia pelo próximo!
O Poder
Público em Sergipe limita-se a duas providências: assinar decretos, dizendo o
que o povo deve e não deve fazer e assistir os casos graves, para que não morram
à mingua. O Governo garantiu o direito de se morrer intubado.
O único
indicador verdadeiro usado em Sergipe é a taxa de ocupação dos leitos de UTI. O resto é blá-blá-blá.
Em Sergipe não
se distingue o Governo Federal de um lado e o Estado e Municípios de outro.
Essa é uma falsa polêmica. Não vejo esse conflito. O Poder Público em Sergipe nunca
se mostrou à altura para enfrentar a Pandemia.
Jung, o pai
da psicologia analítica, dizia que reconhecer publicamente o que fizemos de
errado melhora nossa imagem, mas sempre prejudica a nossa reputação. Esse é o
dilema das autoridades sergipanas.
O município
de Aracaju, só agora, anunciou algumas ações de vigilância epidemiológica.
Anunciou! Por enquanto é só discurso, propaganda, nada de efetivo. Tenho receio
que a Prefeitura de Aracaju não consiga demonstrar como gastou os fartos
recursos que recebeu. Vamos aguardar!
Acho que quando
cobro ações de vigilância epidemiológica, estou falando grego para os gestores
do SUS, em Aracaju. Talvez seja consequência do fim dos concursos. O pessoal
capacitado foi se aposentando e substituído por gente terceirizada ou por
protegidos políticos.
O vírus
chegou para ficar. A pandemia deve ser encarada não como uma corrida, mas como
uma maratona. A Pandemia de Gripe Espanhola durou 4 anos.
Uma pesquisa,
publicada no periódico científico Nature Medicine, demonstrou que os níveis de
anticorpos encontrados em pacientes recuperados da covid-19, diminuíram
rapidamente dois a três meses após a infecção, tanto em pacientes sintomáticos como
assintomáticos. Esse estudo criou dúvidas a respeito da duração da imunidade
contra o novo coronavírus.
Calma, ainda
não é o fim do mundo.
Essa pesquisa
lembra o risco de se usar os "passaportes de imunidade" da covid-19,
justificando a necessidade do uso prolongado de intervenções de saúde pública,
como as ações da vigilância epidemiológica.
A descoberta deste
estudo não significa que o céu está desabando. O número de pacientes estudados ainda
é pequeno, e existem outras formas de imunidade. A ciência não tem descansado. Nesses
seis meses, já foram publicados 22 mil artigos sobre a Pandemia, em revistas
científicas ou quase científicas. Está difícil se manter atualizado.
Muita gente
me pergunta, essa tragédia vai até quando? Depende! Do ponto de vista médico uma
vacina ou um tratamento eficaz põe fim ao problema. Eu penso diferente. A questão
é bem mais ampla. A Peste não veio para cobrar mais tecnologia médica, mesmo
assim, a prática passará por mudanças profundas.
A Peste veio
cobrar uma mudança em nosso modo de vida, para chamar a atenção das questões
ambientais. O Planeta chegou ao limite. Se essa questão não for enfrentada, vacina
só não resolve. Pois teremos novas pandemias, só que tempos mais curtos.
A mensagem
principal da Covid – 19, é que ela não é a última. Teremos as Covids – 20, 21,
22, 23... E assim por diante.
Portanto, o
Poder Público precisa apresentar medidas que possam ser sustentadas a longo
prazo. Distância social, lavagem frequente das mãos e redução drástica de
contatos sociais, uso adequado de máscaras, continuarão necessários.
O confinamento
não pode ser eterno. Essa estratégia foi um fuga. Funcionou para evitar a
contaminação de uma parte da sociedade. Como esses que estão isolados a mais de
cem dias, vão retornar da viagem?
É preciso
manter a guarda alta com medidas de distanciamento físico, uso de máscara,
medidas higiênicas e reforço da vigilância epidemiológica. E evitar a todo
custo as aglomerações e rodinhas. Essa será a nossa convivência com a Pandemia,
por muito tempo.
Essa é a
opção dos países que escolheram conviver com o vírus, sem apostar na
erradicação total. A vigilância epidemiológica precisa estabelecer estratégias
para atuar em escolas, transporte, feiras, unidades de saúde, igrejas, eventos,
restaurantes, shopping, em suma, onde as aglomerações sejam inevitáveis.
Concordo com Miguel
Nicolelis: “O que está correndo no Brasil é uma pandemia, um pandemônio e uma
patifaria”.
Antonio
Samarone. (médico sanitarista)
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