terça-feira, 23 de junho de 2020

DE DECRETO EM DECRETO, O POVO VAI MORRENDO


De decreto em decreto, o povo vai morrendo...
As vítimas fatais da Peste em Sergipe, dobraram nos últimos 15 dias. Em 09/06 tínhamos 252 óbitos, ontem, dia 22/06, chegamos a 491 óbitos. A realidade se naturalizou. A sociedade passou a receber com frieza as informações.
E alguns já recebem as informações com impaciência. Perdemos a empatia pelo próximo!
O Poder Público em Sergipe limita-se a duas providências: assinar decretos, dizendo o que o povo deve e não deve fazer e assistir os casos graves, para que não morram à mingua. O Governo garantiu o direito de se morrer intubado.
O único indicador verdadeiro usado em Sergipe é a taxa de ocupação dos leitos de UTI. O resto é blá-blá-blá.
Em Sergipe não se distingue o Governo Federal de um lado e o Estado e Municípios de outro. Essa é uma falsa polêmica. Não vejo esse conflito. O Poder Público em Sergipe nunca se mostrou à altura para enfrentar a Pandemia.
Jung, o pai da psicologia analítica, dizia que reconhecer publicamente o que fizemos de errado melhora nossa imagem, mas sempre prejudica a nossa reputação. Esse é o dilema das autoridades sergipanas.
O município de Aracaju, só agora, anunciou algumas ações de vigilância epidemiológica. Anunciou! Por enquanto é só discurso, propaganda, nada de efetivo. Tenho receio que a Prefeitura de Aracaju não consiga demonstrar como gastou os fartos recursos que recebeu. Vamos aguardar!
Acho que quando cobro ações de vigilância epidemiológica, estou falando grego para os gestores do SUS, em Aracaju. Talvez seja consequência do fim dos concursos. O pessoal capacitado foi se aposentando e substituído por gente terceirizada ou por protegidos políticos.
O vírus chegou para ficar. A pandemia deve ser encarada não como uma corrida, mas como uma maratona. A Pandemia de Gripe Espanhola durou 4 anos.
Uma pesquisa, publicada no periódico científico Nature Medicine, demonstrou que os níveis de anticorpos encontrados em pacientes recuperados da covid-19, diminuíram rapidamente dois a três meses após a infecção, tanto em pacientes sintomáticos como assintomáticos. Esse estudo criou dúvidas a respeito da duração da imunidade contra o novo coronavírus.
Calma, ainda não é o fim do mundo.
Essa pesquisa lembra o risco de se usar os "passaportes de imunidade" da covid-19, justificando a necessidade do uso prolongado de intervenções de saúde pública, como as ações da vigilância epidemiológica.
A descoberta deste estudo não significa que o céu está desabando. O número de pacientes estudados ainda é pequeno, e existem outras formas de imunidade. A ciência não tem descansado. Nesses seis meses, já foram publicados 22 mil artigos sobre a Pandemia, em revistas científicas ou quase científicas. Está difícil se manter atualizado.
Muita gente me pergunta, essa tragédia vai até quando? Depende! Do ponto de vista médico uma vacina ou um tratamento eficaz põe fim ao problema. Eu penso diferente. A questão é bem mais ampla. A Peste não veio para cobrar mais tecnologia médica, mesmo assim, a prática passará por mudanças profundas.
A Peste veio cobrar uma mudança em nosso modo de vida, para chamar a atenção das questões ambientais. O Planeta chegou ao limite. Se essa questão não for enfrentada, vacina só não resolve. Pois teremos novas pandemias, só que tempos mais curtos.
A mensagem principal da Covid – 19, é que ela não é a última. Teremos as Covids – 20, 21, 22, 23... E assim por diante.
Portanto, o Poder Público precisa apresentar medidas que possam ser sustentadas a longo prazo. Distância social, lavagem frequente das mãos e redução drástica de contatos sociais, uso adequado de máscaras, continuarão necessários.
O confinamento não pode ser eterno. Essa estratégia foi um fuga. Funcionou para evitar a contaminação de uma parte da sociedade. Como esses que estão isolados a mais de cem dias, vão retornar da viagem?
É preciso manter a guarda alta com medidas de distanciamento físico, uso de máscara, medidas higiênicas e reforço da vigilância epidemiológica. E evitar a todo custo as aglomerações e rodinhas. Essa será a nossa convivência com a Pandemia, por muito tempo.
Essa é a opção dos países que escolheram conviver com o vírus, sem apostar na erradicação total. A vigilância epidemiológica precisa estabelecer estratégias para atuar em escolas, transporte, feiras, unidades de saúde, igrejas, eventos, restaurantes, shopping, em suma, onde as aglomerações sejam inevitáveis.
Concordo com Miguel Nicolelis: “O que está correndo no Brasil é uma pandemia, um pandemônio e uma patifaria”.  
Antonio Samarone. (médico sanitarista)

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