A Peste Ocultada.
(por Antonio Samarone).
Quem governa
tem medo da verdade. A atitude do Ministério da Saúde em tentar esconder os óbitos
da Pandemia não foi um fato isolado. Esconder os mortos é uma tarefa
complicada, as sepulturas falam. Existem artifícios mais discretos de ocultação.
O total de
óbitos divulgados em Sergipe é uma parte menor da realidade. Se não houver
testagem laboratorial, várias doenças podem ser confundidas com a covid – 19. Por
exemplo: síndrome respiratória aguda grave (SRAG), pneumonia, insuficiência
respiratória, septicemia (sepse/choque séptico), causas indeterminadas (causas
mortes ligadas a doenças respiratórias, mas não conclusivas).
Entre 16 de março e 21 de junho de 2019, ocorreram apenas cinco óbitos por SRAG em Sergipe. Nesse mesmo período de 2020, ano da Pandemia, já morreram trinta e três pessoas por SRAG. !6 de março ocorreu o 1º óbito pela covid em Sergipe. O que houve? É preciso pesquisar.
O que acontece
quando um paciente com neoplasia (câncer) contrai a covid. Se for a óbito, qual
a causa deve ser preenchida no atestado de óbito? Quem vai para as estatísticas
de mortalidade, a neoplasia ou a covid? Legalmente, só existe uma causa para
cada óbito.
O boletim epidemiológico
publicado diariamente pelo Estado é uma peça de propaganda. Tenta minimizar a
gravidade da Pandemia. Na capa, em letras garrafais, o boletim informa que
6.790 pessoas já foram “curadas”, e 22.585 pessoas foram “negativadas”. Quem
curou e quem negativou essas pessoas? O
leitor é levado a acreditar que foram as ações do Poder Público.
Como se sabe,
a covid – 19 não tem tratamento conhecido. nos casos leves, cuida-se apenas dos
sintomas, e em casa. Como eles curaram esses pacientes? O que eles chamam no
boletim de pessoas negativadas, são as pessoas que testaram negativo, ou seja, simplesmente
as pessoas que não foram infectadas. O governo busca o bônus de ter negativado
essa gente.
O boletim
epidemiológico de Aracaju, que é distribuído pelo Prefeito, em suas redes
sociais, encontrou um subterfugiu original. Divulga que 6.220 pessoas foram
recuperadas. Não sei se “recuperadas” e “curadas” são a mesma coisa. Ou se os
serviços de excelência da prefeitura vão além, além de curar, recuperam.
Essa linguagem
dúbia é parte da propaganda subliminar. Uma pessoa que for infectada pela Covid
em Aracaju tem a oportunidade de sair “recuperada”.
A prefeitura
também informa que 4.317 pessoas estão isoladas e sendo tratadas em seus domicílios.
Portanto, sob o controle da Prefeitura. Mentira! Esse controle é um faz de
conta, feito por telefone. Esse foi o principal erro de Aracaju, não monitorar
corretamente esses infectados, fazendo a testagem dos comunicantes e o necessário
bloqueio.
Foi exatamente
a inexistência de ações de vigilância epidemiológica, que transformou Aracaju
na cidade com a maior taxa de contágio do Brasil (1,96). Mas o boletim informa
que existe.
Vocês abusam
da boa fé do povo!
A informação sobre
a letalidade dos pacientes internados nas UTI, um dado valioso para avaliação
da qualidade do serviço, os boletins omitem.
Quantas pessoas
já foram infectadas, quantas adquiriram imunidade, qual a taxa de contágio,
nada, o que seria importante para o combate à doença é omitido, nada, quase tudo
é omitido. A não ser que o Poder Pública não possua essas informações.
Má fé ou incompetência?
Dos 18.500
mil casos e 448 óbitos notificados em Sergipe, em Aracaju foram notificados 11
mil casos (60%) e 195 óbitos (43%). Uma prova da imprecisão das notificações.
Sergipe continua no escuro.
Somos mal informados
de forma deliberada ou por despreparo da máquina pública. As duas opções são
verdadeiras.
Em Sergipe,
muito menos em Aracaju, existe uma comissão técnica coordenando o combate a Pandemia.
Ou, se existe, é invisível. Não se manifesta, não fala, não opina. A comunicação
com a sociedade é feita diretamente pelos chefes políticos.
Portanto, a
informação é maquiada pelo lógica e interesses da política.
Antonio
Samarone. (médico sanitarista)
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