Sete Palmos de Terra e um Caixão.
(por Antonio Samarone)
(por Antonio Samarone)
A Vala Comum é medieval, lembra a Peste Negra. Foi em Vala Comum que se sepultaram os náufragos do Aracaju, na Segunda Guerra. São lembranças históricas.
A Vala Comum já era metáfora!
Humano vem de inumar (enterrar, sepultar). Seres humanos são os que enterram os seus mortos. O cuidado com os mortos é anterior ao Homo sapiens.
As vítimas do Cólera de 1855, no Aracaju, tiveram covas individuais, em jazigos perpétuos no Cemitério São Benedito.
A Peste do comunavírus trouxe a Vala Comum de volta. Eu vi pela TV, em Manaus e em Nova York, a metrópole do capitalismo.
Confesso o meu espanto com a imagem da Vala Comum.
Não foi a fila de veículos militares transportando defuntos na Itália, nem os caminhões frigoríficos nas portas dos hospitais, são imagens fortes, mas nada próximo a Vala Comum.
O meu cérebro é analógico e guardou atavicamente a imagem da Vala Comum e do sepultamento às pressas, sem ritual, sem despedida.
Esse é meu medo maior do Comunavirus. Não é o medo da morte (essa não tem jeito), um dia chega. É o medo da Vala Comum.
Eu quero velório, mesmo com todos desatentos, cortejo, exéquias, cerimonia fúnebre, ofício de corpo presente, missa de réquiem, o sino tocando o dobres a finados, honras fúnebres, ambitus funeris, mortalha comum (nada de saco plástico) e lamentações.
Eu quero que sobre pelos menos os restos mortais, para quem quiser ir visitar no dia de finados, colocar flores e acender velas.
Exijo o direito de descansar em paz.
Comungo com o desejo do poeta Pedro Nava:
“Eu quero a morte com mau gosto!
Dêem-me coroas de pano.
Dêem-me as flores de roxo pano,
angustiosas flores de pano,
enormes coroas maciças,
como enormes salva-vidas,
com fitas negras pendentes.”
Dêem-me coroas de pano.
Dêem-me as flores de roxo pano,
angustiosas flores de pano,
enormes coroas maciças,
como enormes salva-vidas,
com fitas negras pendentes.”
A primeira reivindicação das Ligas Camponesas no Nordeste era Sete Palmos de Terra e um Caixão. “Não era uma cova grande, era uma cova medida, era a terra que queria ver dividida.”
O direito a uma morte Severina.
O medo é que além da perda dos “sete palmos”, se perca o direito ao caixão, e se volte a sepultar os trabalhadores numa rede.
Antonio Samarone.
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