A Fome e as Pestes em Aracaju (por Antonio Samarone)
Início do Século XX
Se a Pandemia do Covid -19 seguir o prognóstico dos especialistas, teremos risco de desabastecimento, por mais que se negue.
A fome sempre acompanhou as Pestes. Não foi diferente durante a Peste de disenteria em Aracaju, em 1908.
Sobre a Peste de disenteria, a primeira dificuldade era descobrir as causas. Quanto ao diagnóstico da Peste de “Câmara de Sangue” (disenteria), não houve possibilidade de se chegar a um consenso.
Suspeitaram de que o “morbus”, como era chamada a moléstia pelos médicos, provavelmente estava sendo transmitido pela água. Outros achavam que poderia ser a farinha que estávamos trazendo de fora, ou mesmo que o bacilo já estaria presente no intestino das pessoas, e que a situação de penúria e miséria, agravadas pela seca, tinham desencadeado a citada Peste.
Como se percebe, ignorava-se a etiologia, a causa, e patinavam quanto sua transmissão.
O Dr. Helvécio Andrade, sustentava:
“A promiscuidade em que vivem as classes menos favorecidas, as necessidades que as obrigam a percorrer as estradas, Vilas e Cidades, mendigando o pão, enfim todas as consequências da fome, da nudez e do frio, são causas poderosas da pertinência e da intensidade do mal, que é preciso combater em suas origens”.
Os meios de resistência e de combate a empregar são sociais, higiênicos e médicos. As medidas higiênicas, preventivas, são indispensáveis à defesa do organismo.
A Saúde Pública em Sergipe (1908):
“A nossa situação relativa à saúde pública é melindrosa, basta à disenteria de forma grave em grande número de casos, para comprová-la, mas ao lado da disenteria está aí a fazer vítimas, a febre de mau caráter, o sarampo, as doenças de olhos a atormentar a população infantil; será para Sergipe uma grande desgraça se a varíola conseguir implantar-se, para completar, no que diz respeito à saúde pública, o cortejo de nossos males”. Helvécio Andrade
Os migrantes pobres são vistos como um grande perigo (classes perigosas), justificando uma urgente e necessária intervenção sanitária. No caso da Peste do Covid – 19, “as classes perigosas são os turistas.
A descoberta do contágio e de que as enfermidades podiam transmitir-se de pessoa a pessoa, principalmente, dos pobres para os ricos, alertou o poder público para a necessidade de uma ação imediata.
Onde antes a ameaça eram os miasmas, agora eram os pobres os portadores da desgraça: “As levas de imigrantes começam a infestar as nossas cidades... Urge, portanto, medidas que previnam e desviem o espectro que nos ameaça, e que já iniciou a sua missão sacrificando vidas”.
Voltando à Peste de 1908, em Aracaju:
“Para facilitar a marcha e tornar-se permanente o fantasma disentérico entre nós, só faltava o que está a suceder-nos, as levas de imigrantes que nos chegam todos os dias dos sertões, trazendo em torno de si todos os sintomas da mais extrema miséria, e que vão se aglomerando em uma progressão assombrosa e fatídica, dentro das cidades transformadas em lúgubre necrópoles”.
“Mais do que a própria Peste, que mata as dezenas, é a fome que aí está, coveiro sinistro, a eliminar as centenas, e ameaça, inexorável e fatídica, devorar os milhares”.
A Fome em Sergipe, em 1908:
“Em Sergipe, é o grito que fazemos a partir dessa coluna, aos quatro pontos da Nação, como uma súplica desoladora e funesta dirigida ao coração da Pátria: morre-se de fome nos leitos das estradas, à margem dos rios, à sombra das árvores, na pocilga dos mercados, nas lajes das calçadas, à porta dos cemitérios, por todas as partes onde os sobejos da miséria só encontra por abrigo a cúpula do céu”. Helvécio Andrade.
A situação era muito grave. Como o Estado não possuía condições financeiras para enfrentar o problema da Peste e da fome, buscar auxílio da União.
A Fome grassava intensamente em Sergipe.
Alguma coisa precisava ser feita. Os médicos e educadores tinham consciência da complexidade do problema. Do número de questões envolvidas: aspectos econômicos, de justiça social, de saneamento, nutricionais etc.
Entretanto, era indiscutível que o baixo padrão de higiene corporal, de asseio pessoal, de modos, hábitos, comportamentos, vícios, também interferiam na contração e propagação das enfermidades.
Pelos menos nessa esfera da higiene pessoal, se podia fazer alguma coisa. E foi feita.
Os higienistas usaram como principal estratégia para difundir os seus princípios civilizatórios a Escola. Principalmente a partir da década de 1930, quando as escolas começaram a expandir-se com maior velocidade e alcançar o povo mais pobre, objeto central da intervenção sanitária.
A desigualdade social continua jogando o risco maior nos pobres.
Até para vacinar-se o pobre corre um risco maior. A vacinação no sistema drive-thru é uma beleza para quem tem carro. A pessoa sai para comprar um “McLanche Feliz”, aproveita, e na passagem, toma a vacina contra a gripe.
Quantos idosos possuem carro? A imensa maioria que não possui, submete-se a um risco maior de contrair a Peste do Covid – 19. Até nisso!
Antonio Samarone.
Início do Século XX
Se a Pandemia do Covid -19 seguir o prognóstico dos especialistas, teremos risco de desabastecimento, por mais que se negue.
A fome sempre acompanhou as Pestes. Não foi diferente durante a Peste de disenteria em Aracaju, em 1908.
Sobre a Peste de disenteria, a primeira dificuldade era descobrir as causas. Quanto ao diagnóstico da Peste de “Câmara de Sangue” (disenteria), não houve possibilidade de se chegar a um consenso.
Suspeitaram de que o “morbus”, como era chamada a moléstia pelos médicos, provavelmente estava sendo transmitido pela água. Outros achavam que poderia ser a farinha que estávamos trazendo de fora, ou mesmo que o bacilo já estaria presente no intestino das pessoas, e que a situação de penúria e miséria, agravadas pela seca, tinham desencadeado a citada Peste.
Como se percebe, ignorava-se a etiologia, a causa, e patinavam quanto sua transmissão.
O Dr. Helvécio Andrade, sustentava:
“A promiscuidade em que vivem as classes menos favorecidas, as necessidades que as obrigam a percorrer as estradas, Vilas e Cidades, mendigando o pão, enfim todas as consequências da fome, da nudez e do frio, são causas poderosas da pertinência e da intensidade do mal, que é preciso combater em suas origens”.
Os meios de resistência e de combate a empregar são sociais, higiênicos e médicos. As medidas higiênicas, preventivas, são indispensáveis à defesa do organismo.
A Saúde Pública em Sergipe (1908):
“A nossa situação relativa à saúde pública é melindrosa, basta à disenteria de forma grave em grande número de casos, para comprová-la, mas ao lado da disenteria está aí a fazer vítimas, a febre de mau caráter, o sarampo, as doenças de olhos a atormentar a população infantil; será para Sergipe uma grande desgraça se a varíola conseguir implantar-se, para completar, no que diz respeito à saúde pública, o cortejo de nossos males”. Helvécio Andrade
Os migrantes pobres são vistos como um grande perigo (classes perigosas), justificando uma urgente e necessária intervenção sanitária. No caso da Peste do Covid – 19, “as classes perigosas são os turistas.
A descoberta do contágio e de que as enfermidades podiam transmitir-se de pessoa a pessoa, principalmente, dos pobres para os ricos, alertou o poder público para a necessidade de uma ação imediata.
Onde antes a ameaça eram os miasmas, agora eram os pobres os portadores da desgraça: “As levas de imigrantes começam a infestar as nossas cidades... Urge, portanto, medidas que previnam e desviem o espectro que nos ameaça, e que já iniciou a sua missão sacrificando vidas”.
Voltando à Peste de 1908, em Aracaju:
“Para facilitar a marcha e tornar-se permanente o fantasma disentérico entre nós, só faltava o que está a suceder-nos, as levas de imigrantes que nos chegam todos os dias dos sertões, trazendo em torno de si todos os sintomas da mais extrema miséria, e que vão se aglomerando em uma progressão assombrosa e fatídica, dentro das cidades transformadas em lúgubre necrópoles”.
“Mais do que a própria Peste, que mata as dezenas, é a fome que aí está, coveiro sinistro, a eliminar as centenas, e ameaça, inexorável e fatídica, devorar os milhares”.
A Fome em Sergipe, em 1908:
“Em Sergipe, é o grito que fazemos a partir dessa coluna, aos quatro pontos da Nação, como uma súplica desoladora e funesta dirigida ao coração da Pátria: morre-se de fome nos leitos das estradas, à margem dos rios, à sombra das árvores, na pocilga dos mercados, nas lajes das calçadas, à porta dos cemitérios, por todas as partes onde os sobejos da miséria só encontra por abrigo a cúpula do céu”. Helvécio Andrade.
A situação era muito grave. Como o Estado não possuía condições financeiras para enfrentar o problema da Peste e da fome, buscar auxílio da União.
A Fome grassava intensamente em Sergipe.
Alguma coisa precisava ser feita. Os médicos e educadores tinham consciência da complexidade do problema. Do número de questões envolvidas: aspectos econômicos, de justiça social, de saneamento, nutricionais etc.
Entretanto, era indiscutível que o baixo padrão de higiene corporal, de asseio pessoal, de modos, hábitos, comportamentos, vícios, também interferiam na contração e propagação das enfermidades.
Pelos menos nessa esfera da higiene pessoal, se podia fazer alguma coisa. E foi feita.
Os higienistas usaram como principal estratégia para difundir os seus princípios civilizatórios a Escola. Principalmente a partir da década de 1930, quando as escolas começaram a expandir-se com maior velocidade e alcançar o povo mais pobre, objeto central da intervenção sanitária.
A desigualdade social continua jogando o risco maior nos pobres.
Até para vacinar-se o pobre corre um risco maior. A vacinação no sistema drive-thru é uma beleza para quem tem carro. A pessoa sai para comprar um “McLanche Feliz”, aproveita, e na passagem, toma a vacina contra a gripe.
Quantos idosos possuem carro? A imensa maioria que não possui, submete-se a um risco maior de contrair a Peste do Covid – 19. Até nisso!
Antonio Samarone.
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