Freud e as Pestes. (por Antonio Samarone)
Freud enumerou três fontes de sofrimentos: o poder superior da natureza, a fragilidade dos nossos corpos e a inadequação das regras do relacionamento social. A Idade Moderna vendeu a ilusão de segurança e progresso. A ciência conseguiria controlar esse poder natureza.
Nos últimos cem mil anos, data provável do Homo sapiens, entre os riscos naturais à vida humana, destaca-se a ameaça de outras espécies. Essa forma de violência tem variado na história.
Adaptando a genealogia da inimizade de Baudrillard, podemos apontar quatro períodos.
1. A Era do Lobo – o homem enfrentou tête-à-tête as grandes feras e outras espécies de homos. O nosso período de vida nômade. O risco era ser comido pela onça. Um inimigo externo que atacava. Para defender-se usou o fogo e construiu fortificações;
2. A Era do Rato – O inimigo operava no subsolo, sorrateiro, para enfrentá-lo foi necessário a higiene e as técnicas de limpeza para afastá-lo. A principal ameaça desse período foi a Peste Negra.
3. A Era do Besouro – O inimigo principal passou a ser o mosquito. O enfrentamento foi outro, foi necessário o saneamento. A principal ameaça foi a Febre Amarela. No Brasil, a Era do Besouro continua exuberante. (dengue, zica e chikungunya).
4. A Era do Vírus – Esse inimigo está instalado no coração do sistema vital, de difícil combate. O Vírus é apenas uma mensagem genética que modifica o funcionamento do hospedeiro. A resposta é imunológica. A vacina foi eficaz nos casos da varíola e da gripe espanhola, mas ainda não funcionou para a AIDS.
Os vírus põem em questionamento a segurança dada pela ciência. O Covid -19 é um bom exemplo. A Peste viral deixou a humanidade indefesa. O único recurso é o isolamento. Fujam! Retorna o velho lema medieval: “a melhor arma contra a Peste é um bom par de botas.”
Na Peste de cólera de 1855, em Itabaiana, quem escapou foram os que fugiram para o pé da serra. “Pernas, pra que te quero?”
Concordo com Zygmunt Bauman:
A modernidade retirou as suas promessas, entre elas, a ideia iluminista de segurança e de controle da natureza. A certeza de que a tecnologia seria capaz de controlar as catástrofes naturais desabou. O aquecimento global nos ameaça.
A nossa casa está pegando fogo, como diz Greta Thunberg.
A visão fascinante de um mundo que emergia do fatalismo e do obscurantismo fracassou. A promessa de progresso e desenvolvimento era uma armadilha ideológica.
A modernidade nos prometeu segurança (domínio sobre a natureza) e a melhoria na qualidade de vida (um progresso contínuo). A modernidade criou a ilusão da felicidade como um consumo crescente (ter), relegando o (ser).
A ciência prometeu sufocar o obscurantismo.
Após batalhas seculares alguns direitos sociais foram conquistados. O direito a saúde, educação, renda mínima, trabalho, habitação, proteção na velhice. Todos, em avançada decomposição. O nosso sistema de proteção social está sendo desmontado, peça por peça.
A Peste do Covid – 19 é parte desse cenário.
Por enquanto, a ciência ainda é o maior recurso do homem para esse tipo de ameaça. Não adianta nem acender fogueiras nem buscar soluções mágicas.
Não requer muito estudo para suspeitarmos que após a tempestade, precisaremos refazer o nosso modo de vida.
A modernidade abandonou as suas promessas, mas elas continuam vivas. Isso não é o fim das utopias, apenas as utopias serão outras. Quais? As esquerdas no mundo ainda não possuem essa resposta.
Duas mudanças nas utopias são visíveis: elas não se concentram mais no conjunto da sociedade, mas em suas partes, concentram-se nos indivíduos, em categorias; e são menos radicais, seguem passos, uma coisa de cada vez.
A civilização é uma ordem construída e administrada pelo homem. A civilização é o controle coercitivo dos instintos, um enfrentamento entre segurança e liberdade.
O ódio e o medo da liberdade e da ordem não são inatos à espécie humana.
Como me alertou o velho Armelindo, do Beco Novo: “Vamos cuidar da vida, procurar outros caminhos. Esse vírus não é nada, quem quiser conhecer a bagaceira, espere o Covid – 20.”
Antonio Samarone.
Freud enumerou três fontes de sofrimentos: o poder superior da natureza, a fragilidade dos nossos corpos e a inadequação das regras do relacionamento social. A Idade Moderna vendeu a ilusão de segurança e progresso. A ciência conseguiria controlar esse poder natureza.
Nos últimos cem mil anos, data provável do Homo sapiens, entre os riscos naturais à vida humana, destaca-se a ameaça de outras espécies. Essa forma de violência tem variado na história.
Adaptando a genealogia da inimizade de Baudrillard, podemos apontar quatro períodos.
1. A Era do Lobo – o homem enfrentou tête-à-tête as grandes feras e outras espécies de homos. O nosso período de vida nômade. O risco era ser comido pela onça. Um inimigo externo que atacava. Para defender-se usou o fogo e construiu fortificações;
2. A Era do Rato – O inimigo operava no subsolo, sorrateiro, para enfrentá-lo foi necessário a higiene e as técnicas de limpeza para afastá-lo. A principal ameaça desse período foi a Peste Negra.
3. A Era do Besouro – O inimigo principal passou a ser o mosquito. O enfrentamento foi outro, foi necessário o saneamento. A principal ameaça foi a Febre Amarela. No Brasil, a Era do Besouro continua exuberante. (dengue, zica e chikungunya).
4. A Era do Vírus – Esse inimigo está instalado no coração do sistema vital, de difícil combate. O Vírus é apenas uma mensagem genética que modifica o funcionamento do hospedeiro. A resposta é imunológica. A vacina foi eficaz nos casos da varíola e da gripe espanhola, mas ainda não funcionou para a AIDS.
Os vírus põem em questionamento a segurança dada pela ciência. O Covid -19 é um bom exemplo. A Peste viral deixou a humanidade indefesa. O único recurso é o isolamento. Fujam! Retorna o velho lema medieval: “a melhor arma contra a Peste é um bom par de botas.”
Na Peste de cólera de 1855, em Itabaiana, quem escapou foram os que fugiram para o pé da serra. “Pernas, pra que te quero?”
Concordo com Zygmunt Bauman:
A modernidade retirou as suas promessas, entre elas, a ideia iluminista de segurança e de controle da natureza. A certeza de que a tecnologia seria capaz de controlar as catástrofes naturais desabou. O aquecimento global nos ameaça.
A nossa casa está pegando fogo, como diz Greta Thunberg.
A visão fascinante de um mundo que emergia do fatalismo e do obscurantismo fracassou. A promessa de progresso e desenvolvimento era uma armadilha ideológica.
A modernidade nos prometeu segurança (domínio sobre a natureza) e a melhoria na qualidade de vida (um progresso contínuo). A modernidade criou a ilusão da felicidade como um consumo crescente (ter), relegando o (ser).
A ciência prometeu sufocar o obscurantismo.
Após batalhas seculares alguns direitos sociais foram conquistados. O direito a saúde, educação, renda mínima, trabalho, habitação, proteção na velhice. Todos, em avançada decomposição. O nosso sistema de proteção social está sendo desmontado, peça por peça.
A Peste do Covid – 19 é parte desse cenário.
Por enquanto, a ciência ainda é o maior recurso do homem para esse tipo de ameaça. Não adianta nem acender fogueiras nem buscar soluções mágicas.
Não requer muito estudo para suspeitarmos que após a tempestade, precisaremos refazer o nosso modo de vida.
A modernidade abandonou as suas promessas, mas elas continuam vivas. Isso não é o fim das utopias, apenas as utopias serão outras. Quais? As esquerdas no mundo ainda não possuem essa resposta.
Duas mudanças nas utopias são visíveis: elas não se concentram mais no conjunto da sociedade, mas em suas partes, concentram-se nos indivíduos, em categorias; e são menos radicais, seguem passos, uma coisa de cada vez.
A civilização é uma ordem construída e administrada pelo homem. A civilização é o controle coercitivo dos instintos, um enfrentamento entre segurança e liberdade.
O ódio e o medo da liberdade e da ordem não são inatos à espécie humana.
Como me alertou o velho Armelindo, do Beco Novo: “Vamos cuidar da vida, procurar outros caminhos. Esse vírus não é nada, quem quiser conhecer a bagaceira, espere o Covid – 20.”
Antonio Samarone.
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