A Pandemia em Aracaju.
(por Antonio Samarone)
(por Antonio Samarone)
Como anda a Pandemia em Aracaju, me perguntou por telefone um colega médico de Pernambuco. Sei lá! Aqui só se sabe das coisas pela boca do Prefeito. Só ele fala. E só conta o que for da sua conveniência.
E os boletins epidemiológicos? Ele insistiu.
Os boletins aqui são estéreis. Bonitinhos, arrumadinhos, coloridos, mas com muito pouca informações. Não tem uma nota explicativa. Nada! Tudo feito por aplicativos. Uma faz de conta que informa.
Fiquei sabendo que tinha gente contaminada na zona de expansão, perto de onde estou de quarentena.
fui investigar.
Lembrei-me das aulas de João Cardoso Nascimento Junior: “vá à campo, epidemia não se combate em gabinetes.” O Comitê Científico do Nordeste tem razão quando propõe criar as brigadas.
Botei os velhos trajes de sanitarista, treinado pela SUCAM, discípulo dos doutores Alexandre, Leite Primo e Cleovansóstenes, e fui a campo.Fui procurar os infectados.
Encontrei o primeiro!
Sardão testou positivo, mas já ficou bom. “Já estou são psíquico”, disse-me ele.
Sardão é um sertanejo agalegado do Povoado Guaxuma, trabalhador, pai de família, carroceiro nas horas vagas, mora com uma família de 13 pessoas. Como isolar Sardão em casa? Só a misericórdia de Deus, para evitar uma tragédia.
A casa de Sardão é um pequeno zoológico. Ao lado da Casa tem uma pocilga, com três porcas e sete bacorinhos. Convive em casa com os animais domésticos. Gatos, cachorros, galinhas, patos, saguis, passarinhos, cágados, habitando o mesmo espaço, as camas, sofás e as redes. A proliferação de insetos de todas as espécies, principalmente baratas, moscas e rato.
A esposa de Sardão, Dona Lourdes, faz comida para vender, especializada em beijus, mingaus, pirão e farofa. E ainda bota os meninos para vender cocada puxa num tabuleiro. Não chega para quem quer.
Dona Lourdes estava dando um banho de gamela num filho pequeno. Uma gamela funda, parecendo um ofurô japonês. O menino todo arrepiado, com a água fria. Me deu saudade dos banhos de cuia no Beco Novo.
Sardão não alisa a molecada. “Eu não crio filho na malandragem. Todos trabalham. Quem não faz nada, pega carrego na Feira do Augusto Franco.” Sardão ainda não recebeu a esmola do Governo (os seiscentos reais).
A desigualdade social é extrema na Guaxuma. Tentei teorizar: Sardão, dessa vez o capitalismo se acaba! “Que capitalismo, doutor, quem está se acabando é o mundo.” Sardão acha mais fácil o mundo se acabar que o capitalismo.
Ele pode ter razão.
Para onde está indo a Peste em Sergipe, não sei dizer. Os dados são insuficientes até agora.
Antonio Samarone.
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