Os Oráculos da Inteligência Artificial.
(por Antonio Samarone)
“Viver é perigoso, sempre acaba em morte.” – Pedro Devoto.
A clareza e a erudição de Sidarta Ribeiro, em seu clássico “O Oráculo da Noite”, não são suficientes, o sonho perdeu importância, na atual Sociedade do Cansaço.
O Dr. Péricles Leite de Azevedo, tornou-se celebre em seu consultório psicanalítico. O seu divã é prateado, movido a inteligência artificial. Basta deitar, o divã já faz a anamnese. O paciente preenche um longo questionário, todo de múltipla escolha, semelhante aos aplicados pelas revistas de fofocas, para medir o QI.
O Dr. Péricles desconhece os clássico, Freud e Jung. Não acredita que os sonhos sejam vias de acesso ao inconsciente. Mesmo sem nunca ter lido, ele acha a “Interpretação dos Sonhos”, de Sigmund Freud, uma grande bobagem.
Os atuais critérios de diagnóstico são pretensamente objetivos, dependem de um score previamente estabelecido. A ciência aponta as exigências para o diagnóstico. Por enquanto, cabe ao profissional tomar a decisão.
O Dr. Péricles percebeu a inconsistência desse método, para os transtornos psiquiátricos crônicos. Ele abandonou essas certezas, centradas método estatístico, o mesmo recurso da chamada medicina por evidências.
Ele foi em buscas de outras verdades.
Hoje, ele utiliza a inteligência analítica, acessando aos dados do perfil dos paciente, nos "Big Data". E essa mudança trouxe-lhe fama, prestigio e riqueza. O acesso a esses perfis custa caro.
Usam-se os princípios da autoajuda, auxiliando os padecentes, elevando a sua autoestima, dando-lhes foco, aumentando a produtividade, numa visão centrada no “I Can” (eu posso).
O Dr. Péricles é um coach da psicanálise, um oráculo do desempenho.
Ele não acredita na escrita, considera os livros cansativos, supérfluos e ineficientes. A sua teoria está consolidada em vídeos, cujo acesso, custa uma bagatela. Só a imagem é portadora da verdade, pensa o doutor.
Quem sempre acreditou que José, filho de Jacó, salvou o Egito, interpretando os sonhos do Faraó Potifá, está desapontado com esse desprezo pelos sonhos.
Duas dúvidas permanecem insolúveis: por que os sonhos, mesmo os utópicos, sempre acabam mal, a gente acorda antes. E, com o que sonham os cegos e surdos de nascença?
O Dr. Péricles de Azevedo trouxe a objetividade científica, para o desvendamento da consciência humana. Os psicanalistas deixaram de ser comadres bem paga.
Antonio Samarone – Professor aposentado de História da Medicina.

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