sexta-feira, 31 de outubro de 2025

VIVA SANTO ANTONIO

Viva Santo Antonio.
(por Antonio Samarone).

A comemoração dos 350 anos da Freguesia de Santo e Almas, reativou a minha memória. Foi nessa matriz que me batizei (1954) e fiz a primeira comunhão, aos sete anos.

Nessa igreja, apreendi o catecismo tridentino, com o padre Everaldo (Bode Cheiroso). Apreendi que o homem é composto de corpo e alma espiritual, que o pecado original se transmite a todos os seus descendentes e que o homem não pode salvar-se a si mesmo.

E mais, que a morte, o juízo final, o inferno e o paraíso, a ressurreição dos mortos e a vinda de Cristo, são verdades eternas, dogmas. Influenciado pelo iluminismo, acreditei na razão e achei que o homem se bastava.

Naveguei por outros mares.

Ontem, lembrei-me da igreja em minha infância, tribuna para os ricos, uma grade de madeira defronte ao altar principal, com dois degraus, onde eu gostava de me sentar, para sentir o cheiro do incenso de perto. Um belo teto de madeira com uma pintura, que não me lembro o nome do pintor. Parecia a Capela Sistina.

Nem tudo eram flores: nunca fui escolhido para o lava pé da semana santa, nem para sair de anjo em procissão.

Lembrei-me do cemitérinho, onde um certo Cônego namorava. Terminou casando e deixando a batina. Em 21 de outubro de 1939, chegou o padre Eraldo Barbosa, e ficou por 15 anos. Gostava da política, e apoiava apaixonadamente a UDN de Leandro Maciel e Euclides Paes Mendonça.

A igreja que conheci, o monsenhor Soares botou abaixo (1975). Inclusive, levou vários Santos para o Museu de Arte Sacra de São Cristóvão. Entre ele, o mais antigo, o único que restou da igreja velha. O “Nosso Senhor da Coluna Verde!”, que queremos de volta.

Só não mudou a devoção a Santo Antonio. O amigo Wagner mandou-me uma mensagem: “Impressionante! O pessoal da sua terra adora Santo Antonio. Era um português e morreu em Pádua, na Itália.”

Esse português, meu colega, chegou à Itabaiana no Período da União Ibérica, quando os holandeses tinham invadido o Nordeste. Santo Antonio participou pessoalmente dos combates, para expulsão dos holandeses. Os colonos precisavam de proteção.

Em Itabaiana, reza a lenda, que Santo Antonio interferiu abertamente na indicação da sede do Arraial. O Tabuleiro de Ayres da Rocha, foi uma escolha de Santo Antonio. Mesmo sendo um local árido, foi a preferência do Santo. O pé de quixabeira foi o seu abrigo.
A atual igreja, de pedra e cal, foi obra do padre Francisco da Silva Lobo. Ele substitui a anterior, de barro e óleo de baleia. Construída, no local da quixabeira.

No início do século XX, o itabaianense Manoel Garangau, construiu o famoso relógio da igreja, hoje parado. Estamos procurando quem saiba consertá-lo.

Tive uma excelente impressão do novo Vigário, Paulo Lima. De longe, já parece um Cônego, dos antigos. Em pouco tempo, dinamizou a centenária Irmandade das Almas (1665), realizou a procissão de São Miguel e mandou fazer uma valiosa peça heráldica, para a Irmandade. Vejam a foto.

A igreja católica está se tornando parceira da história cultural de Itabaiana. Aliás, as comemorações dos 350 anos, foi puxado por ela. A prefeitura chegou junto.

Ontem, na hora dos “VIVAS”, Dom Josafá pediu um “viva” para São Miguel. Uma novidade, o Arcanjo, mesmo sendo um dos fundadores de Itabaiana, andava esquecido.

Viva Santo Antonio. Viva!

Antonio Samarone – Secretário de Cultura de Itabaiana.
 

quarta-feira, 29 de outubro de 2025

PADRE FRANCISCO DA SILVA LOBO

O Padre Francisco da Silva Lobo
(por Antonio Samarone)

O grande terremoto de Lisboa de 1755, começou as 9:40 da manhã, do Dia de Todos os Santos, matando mais de 30 mil pessoas. Os jesuítas afirmaram que a tragédia foi uma punição divina pelos pecados de Portugal. Os jesuítas caíram em desgraça. Em 28 de junho de 1759, os jesuítas foram expulsos do Brasil, por ordem do Marques de Pombal.

Nesse tempo (1745) o padre Francisco da Silva Lobo, português de Coimbra, chegava à Itabaiana, acompanhado de muitos familiares. A família “Lobo”, em Itabaiana, descende do reverendo.

Suspeita-se que o alagoano Mário Jorge Lobo Zagallo, pertencia a essa família.

Pelos escritos deixados “Notícias sobre a Freguesia de Santo Antonio e Almas da Villa da Itabaiana", parece ser o padre Lobo, um clérigo de alta cultura.

Vale a pena transcrever um longo trecho, publicado no Portal Itnet, em 20/11/2010:

“Quando o novo padre assumiu as rédeas da Igreja, substituindo o pároco Antonio da Costa Cerqueira, que conduziu os destinos da freguesia durante os anos de 1741 a 1745, Itabaiana era uma vila com estrutura bastante precária: população exígua, dispersa na imensidão territorial da vila, a esmagadora maioria constituída de homens livres pobres e negros analfabetos.”

“Havia uma câmara e cadeia funcionando num mesmo prédio, um cartório, pequenas casas com telhas nos arredores da Igreja Matriz, etc. O quadro era, para os dias de hoje, desolador."

"A principal instituição era a Igreja Matriz. Havia também, restrita a fina flor da elite serrana, a Irmandade das Santas Almas do Fogo do Purgatório de Itabaiana, criada em 1665."

"Além de guia espiritual, os mais voluntariosos padres, nessa época, faziam os trabalhos de ensinar a ler e escrever os filhos das famílias mais abastardas e das pessoas que tinha maior apreço.”

“Educação era privilégio.”

“Cabe mencionar também a função de grandes "assistentes sociais" que desempenhavam. Eram eles, indubitavelmente, a principal autoridade dos monarcas portugueses para as populações interioranas."

"Os padres gozavam de muito prestígio social. Ser amigo de um padre era a maior sorte que uma pessoa poderia ter. O padre Francisco da Silva Lobo nos 23 anos que esteve em nossa cidade mostrou-se um sacerdote inteligente, entusiasta, progressista.”

Um resumo da contribuição do Padre Francisco da Silva Lobo, para a Villa de Santo Antonio e Almas de Itabaiana;

1- Criação de uma Orquestra Sacra, que se tornou a atual Filarmônica Nossa Senhora da Conceição (280 anos);

2- Escreveu um valioso texto sobre a história de Itabaiana (1757);

3- Reconstruiu a Igreja em pedra e cal (1764). A igreja de Santo Antonio depois foi reformada pelo Cônego Domingos de Melo Resende (segunda metade do Dezenove) e deformada pelo Monsenhor José Curvelo Soares (1967 – 1975).

Existe uma versão oral que a antiga e extinta fonte da Pedreira, foi resultado da retirada das pedras para construir a matriz de Santo Antonio. Faz sentido.

Em 1768, o padre Francisco da Silva Lobo deixou a Paróquia de Santo Antonio, não se sabendo se faleceu ou voltou para Portugal.

Quem for escrever a história da Igreja Católica em Itabaiana (atenção Richelieu), certamente incluirá dois capítulos: Francisco da Silva Lobo e Domingos de Melo Resende.

Antonio Samarone – Secretário de Cultura de Itabaiana.
 

quinta-feira, 23 de outubro de 2025

A BELEZA SALVARÁ O MUNDO

A beleza salvará o mundo.
(por Antonio Samarone)

O tempo está próximo... Hoje, dia 23/10, quinta-feira, as 19:30 (SETE E MEIA), ocorrerá a abertura da Sétima Bienal Internacional do Livro de Itabaiana. Uma festa da Cultura. O final de semana será repleto.

No último meio século, Itabaiana encontrou o caminho do desenvolvimento econômico. O talento comercial do itabaianense, puxado pelos caminhoneiros, abriu portas, gerou riquezas, a população ultrapassou os cem mil.

A gestão pública se modernizou.

Sei que Itabaiana não é um solo fértil para almas ingênuas. Aqui se trabalha. Itabaiana não dorme. Todos querem vencer. A grandeza material, a tradição, a história, a riqueza do seu modo de vida, produziram uma cultura diversificada, uma riqueza imaterial, simbólica e universal.

É essa força cultural que impulsiona a grandeza da nossa Bienal. Não é por acaso, que artistas e intelectuais itabaianenses rompem fronteiras.

Itabaiana é uma sociedade do século XVII. A sua Paróquia completa, no dia 30 de outubro de 2025, trezentos e cinquenta anos. A Igreja organizou uma grande festa.

Essa Bienal está sendo organizada pela Academia Itabaianense de Letras, em parceria com a Prefeitura Municipal, e com os quiseram ajudar. Todos foram procurados.

A Bienal não tem donos. A Bienal é um patrimônio do povo. A Bienal vem de longe. Agradecemos aos que carregaram esse andor até aqui.

Essa é a Bienal do jubileu, dos 350 anos da Freguesia de Santo Antonio e Almas de Itabaiana.

Os amantes da Cultura serão acolhidos fraternalmente e com muita arte. Do cordel a música clássica, poetas e trovadores, literatura e cinema, música e dança, pintura e escultura, hip hop e capoeira.

Itabaiana está de braços abertos.

Antonio Samarone – Secretário de Cultura de Itabaiana.
 

terça-feira, 21 de outubro de 2025

RUA FLORENTINO MENEZES

Rua Florentino Menezes.
(por Antonio Samarone)

O célebre pesquisador Ibarê Dantas, acaba de lançar o seu décimo quarto livro. Os primeiros foram sobre a história de Sergipe, num viés acadêmico. Os quatro últimos foram ensaios. Dois sobre os “Leandros” Maciel (pai e filho), o terceiro sobre Marcelo Déda. Esse último, sobre Florentino Menezes. Imortalizado, por nomear uma rua importante, no Aracaju.

Eu gosto mais dos ensaios.

O professor Dantas esmiuçou muita coisa de Florentino, bebeu na fonte luminosa de Sebrão, sobrinho (com minúscula). Ibarê comentou os escritos de Florentino, suas palestras e as poucas polêmicas. Ia esquecendo, florentino foi membro fundador do Instituto Histórico.

No auge da Revolução de 1930, revolta tenentista, o Brasil em ebulição. Em Sergipe, uma parte dos homens letrados, florentino na vanguarda, discutiam freneticamente a criação de uma cidade veraneio, no topo da Serra de Itabaiana.

O movimento dividia-se em alas irreconciliáveis, quanto ao nome da nova Villa, no domo da Serra: Florentinópolis, para a maioria, ou Vila do Bom Jesus da Serra de Itabaiana, como queria o padre Moises, de Laranjeiras.

Não era um movimento de desocupados, reunia muita gente douta. Quase a mesma gente que ajudou a fundar o Instituto Histórico (1912). Em 1932, um grupo de 14 pessoas chegou ao topo da Serra, de automóvel. Chegaram a fundar um Centro de Propaganda da Serra de Itabaiana.

Senti que o ilustre professor Dantas, não tem simpatia pelos textos de Florentino. Já eu, gostei. O socialismo utópico que Florentino defendia, era o único que cabia em Sergipe. E olhe lá.

Eu gosto dos intelectuais quem metem o bedelho em tudo. Os especialistas geralmente são chatos.

A história de Florentino descambou para a tragédia. Por mais empenho e talento, ele terminou pobre e esquecido. No final, os seus textos eram publicados nos jornais de propaganda dos remédios Phos-Kola e Elixir de Marinheiro.

Florentino foi um bom poeta? Não sei avaliar, vou consultar Jozailto.

Florentino morreu em 1959. No final, ele escreveu uma utopia sobre a velhice. Conselhos de como combatê-la. Tudo ilusão!

Como canta o talentoso poeta João Brasileiro: “A causa mortis/ é só um detalhe/ é mera formalidade/ é uma desculpa esfarrapada/ não tem nada a ver/ não se iluda meu irmão/ se não for isso é aquilo/ o importante é morrer/ e viva a vida/ e morra em paz.”

Afinal, o que achei do ensaio do professor Ibarê? Quem sou eu, um humilde diletante, para avaliar a consistente obra do mestre. Mas, gostei! Li em duas sentadas, quase em um só fôlego.

As utopias não morrem. Vão e voltam...

Soube que a expansão imobiliária em Itabaiana, marcha firmemente em direção à Serra. Já chegaram aos pés, o próximo passo é subir. Aliás, muitos já subiram.

Florentino Menezes estava certo.

Antonio Samarone – Secretário de Cultura de Itabaiana.
 

sábado, 18 de outubro de 2025

A ROMARIA DA BIENAL DE ITABAIANA.


 A Romaria da Bienal de Itabaiana.
(por Antonio Samarone)

Fomos à Aparecida, convidar a Prefeita Jeane Barreto para trazer o município a Bienal de Itabaiana (23 a 26/10) e para as comemorações dos 350 anos da Freguesia de Santo Antonio e Almas (30/10). O padre Antonio Maria vai rezar, com os seus cânticos.

Achei tudo diferente, em Aparecida. A cidade arrumada, o progresso do milho, roças enormes esperando a colheita e a última romaria de Nossa Senhora, recebeu 200 mil peregrinos. Não sei quem contou, mas ninguém duvida. “As romarias são atos religiosos onde se reza com os pés.”

Recebi um mimo: um livro dos escritores Aparecido, Isabela e Leidivaldo, contando a história do município. Já li. Muito bem escrito e revelador das raízes municipais.

Dos 76 municípios sergipanos, 22 recebem nomes de Santos. Aparecida é mais profunda: a cidade tem uma história religiosa. 

 
A Cruz do Cavalcante, virou Cruz das Graças pelo algodão e pela seca (1963).

As brigas políticas transferiram a sede para o Povoado Maniçoba (1975) e trocou o nome para Nossa Senhora Aparecida.

A região foi desmembrada da Grande Itabaiana em 1933, quando o povoado Saco do Ribeiro passou a ser a Vila de Ribeirópolis. Em 1938, Ribeirópolis virou cidade. Aparecida foi junto.

A visita me permitiu entender a força do agronegócio em Itabaiana. Os plantadores de milho, a maioria, são de lá. Compram ou arrendam propriedades onde tiver. Já chegaram ao Maranhão.

A Bienal de Itabaiana está de braços abertos para o Agreste, aliás, para o mundo. A Bienal é internacional.

Antonio Samarone – Secretário de Cultura de Itabaiana.

quinta-feira, 16 de outubro de 2025

OS ORÁCULOS DA INTELIGENCIA ARTIFICIAL.

Os Oráculos da Inteligência Artificial.
(por Antonio Samarone)

“Viver é perigoso, sempre acaba em morte.” – Pedro Devoto.

A clareza e a erudição de Sidarta Ribeiro, em seu clássico “O Oráculo da Noite”, não são suficientes, o sonho perdeu importância, na atual Sociedade do Cansaço.

O Dr. Péricles Leite de Azevedo, tornou-se celebre em seu consultório psicanalítico. O seu divã é prateado, movido a inteligência artificial. Basta deitar, o divã já faz a anamnese. O paciente preenche um longo questionário, todo de múltipla escolha, semelhante aos aplicados pelas revistas de fofocas, para medir o QI.

O Dr. Péricles desconhece os clássico, Freud e Jung. Não acredita que os sonhos sejam vias de acesso ao inconsciente. Mesmo sem nunca ter lido, ele acha a “Interpretação dos Sonhos”, de Sigmund Freud, uma grande bobagem.

Os atuais critérios de diagnóstico são pretensamente objetivos, dependem de um score previamente estabelecido. A ciência aponta as exigências para o diagnóstico. Por enquanto, cabe ao profissional tomar a decisão.

O Dr. Péricles percebeu a inconsistência desse método, para os transtornos psiquiátricos crônicos. Ele abandonou essas certezas, centradas método estatístico, o mesmo recurso da chamada medicina por evidências.

Ele foi em buscas de outras verdades.

Hoje, ele utiliza a inteligência analítica, acessando aos dados do perfil dos paciente, nos "Big Data". E essa mudança trouxe-lhe fama, prestigio e riqueza. O acesso a esses perfis custa caro.

Usam-se os princípios da autoajuda, auxiliando os padecentes, elevando a sua autoestima, dando-lhes foco, aumentando a produtividade, numa visão centrada no “I Can” (eu posso).

O Dr. Péricles é um coach da psicanálise, um oráculo do desempenho.

Ele não acredita na escrita, considera os livros cansativos, supérfluos e ineficientes. A sua teoria está consolidada em vídeos, cujo acesso, custa uma bagatela. Só a imagem é portadora da verdade, pensa o doutor.

Quem sempre acreditou que José, filho de Jacó, salvou o Egito, interpretando os sonhos do Faraó Potifá, está desapontado com esse desprezo pelos sonhos.

Duas dúvidas permanecem insolúveis: por que os sonhos, mesmo os utópicos, sempre acabam mal, a gente acorda antes. E, com o que sonham os cegos e surdos de nascença?

O Dr. Péricles de Azevedo trouxe a objetividade científica, para o desvendamento da consciência humana. Os psicanalistas deixaram de ser comadres bem paga.

Antonio Samarone – Professor aposentado de História da Medicina.
 

domingo, 12 de outubro de 2025

O CENTENÁRIO DO HOSPITAL DE CIRURGIA (1926 - 2026)

O Centenário do Hospital de Cirurgia (1926 – 2026).
Por Antonio Samarone.

Qual era a situação dos serviços de saúde em Sergipe, antes do Hospital de Cirurgia?

O Diretor de Higiene e Assistência Pública, Dr. Eleyson Cardoso, irmão do Governador Graccho Cardoso, respondeu a essa indagação, no Primeiro Congresso Brasileiro de Higiene, ocorrido no Rio de janeiro, entre 1 e 7 de outubro de 1923.

A delegação sergipana foi composta pelos doutores Antonio Dias de Barros, Theodureto Nascimento, Abreu Fialho e Eleyson Cardoso.

O Primeiro Congresso de Higiene foi presidido pelo Dr. Carlos Chagas.

O relatório do Dr. Eleyson foi assustador: “Os serviços de saúde em Sergipe, por motivos que desapontam a nossa apreciação, não executam suas atribuições, não produzindo os efeitos que deles se poderiam esperar.”

Cumpre a Diretoria de Higiene e Assistência Pública as seguintes atribuições: assistência de urgência, atestar óbitos sem assistência médica, vacinação anti varíola, remoção de doentes para o hospital de caridade (Santa Isabel) e enterrar os cadáveres indigentes.

Não existiam estatísticas demográficas sanitárias organizadas.

O Governo Graccho fez uma reforma sanitária: passou a assistência as urgências para os municípios e a assistência aos mortos para a polícia. Criou os serviços de estatísticas sanitárias, higiene infantil, profilaxia de doenças de notificação compulsória.

Padronizou os atestados de óbitos, com o Departamento Nacional de Saúde Pública.

O Governo construiu o Instituto Parreiras Horta, com um laboratório de análise e pesquisa, setor de preparação da vacina anti varíola e profilaxia específica da lepra.

Nesse período, as principais causas de óbito em Sergipe eram: tuberculose, malária, afecções do aparelho digestivo e a mortalidade infantil.

Realizou o saneamento básico no centro do Aracaju, aos cuidados de Saturnino de Brito, e construiu o Hospital de Cirurgia (1926), entregue ao maior nome da medicina em Sergipe, no século XX, Dr. Augusto Leite. Nesse momento, a medicina científica chegava a Sergipe.

No Primeiro Congresso Brasileiro de Higiene, o diretor da saúde pública, Eleyson Cardoso, além do relatório, fez uma conferência sobre a esquistossomose no estado; e o Dr. Abreu Fialho falou sobre a epidemiologia do tracoma.

Antonio Samarone – professor aposentado de História da Medicina.
 

sábado, 11 de outubro de 2025

O CORDEL NA BIENAL DE ITABAIANA.


 O Cordel na Bienal de Itabaiana.
(por Antonio Samarone)

De onde vem o Cordel? Vamos ouvir Câmara Cascudo:

“É descendente do Aedo da Grécia, do rapsodo ambulante dos Helenos, do Gleeman anglo-saxão, dos Moganis e metris árabes, do velálica da Índia, das runoias da Finlândia, dos bardos armoricanos, dos escaldos da Escandinávia, dos menestréis, trovadores, mestres-cantadores da Idade Média.”

A Bienal de Itabaiana vai homenagear João Firmino Cabral. A roda do cordel será coordenada por Aderaldo Luciano, paraibano, doutor em Ciência da Literatura, poeta, escritor e músico, trabalhando com a poética do nordeste brasileiro.

João Firmino Cabral é filho de Pedro Firmino Cabral e Cecília da Conceição. João Firmino nasceu no dia 1º de janeiro de 1940, em Itabaiana. Para sustentar a família, sua mãe se dedicava à vida roceira, enquanto seu pai, auxiliado pelo som do ganzá, cantava embolada nas feiras.

Aos 11 anos, em 1951, Cabral perdeu seu pai e, em 1954, mudou-se para a cidade de São Cristóvão. Aos 17 anos escreveu seu primeiro folheto - Uma profecia do Padre Cícero, com forte influência do poeta Manoel D'Almeida Filho, que viveu em Aracaju desde 1940.

João Firmino viveu exclusivamente da literatura de cordel, com uma banca fixa de folhetos cordelistas, na passarela das flores, no Mercado Antônio Franco. Lugar que também recebia outros poetas, estudantes, professores e turistas.

João Firmino é patrono da cadeira 23, da Academia Itabaianense de Letras, ocupada pela professora Neide Sobral e membro da Academia Brasileira de Literatura de Cordel (ABLC), na cadeira 36.

A poesia de João Firmino recebeu influência do padre Felismino da Costa Fontes (1848-1919) – natural da Vila de Santo Antônio e Almas de Itabaiana, líder espiritual dos Caipiras, seita sergipana que pregava o fim do mundo.

“O ano de OITENTA E DOIS/ Traz um martírio profundo/ Sofre rico, sofre pobre/ Sofre sábio e vagabundo/ A crise é de derreter/ Aí começa se ver/ Os sinais do fim do mundo.” João Firmino.

João Firmino morreu em decorrência de problemas causados por leucemia, em 1º de fevereiro de 2013, em Aracaju.

Eu aprendi a ler nos cordéis do meu avô, Totonho de Bernadinho. Quando cheguei a escola, já lia de carreirinha. Não precisei soletrar.

“A leitura é um farol/ que clareia a consciência,/ ilumina a educação,/ desdobra a inteligência,/ abre os caminhos da vida/ para a porta da ciência.” João Firmino.

Antonio Samarone – Secretário de Cultura de Itabaiana.

sexta-feira, 10 de outubro de 2025

FALANDO POR CIENCIA PRÓPRIA.


 Falando por ciência própria...
(por Antonio Samarone)

“Para que o mais banal dos acontecimentos se torne uma aventura, é preciso e basta que nos ponhamos a narrá-los!” – Jean-Paul Sartre.

Cabia aos velhos a retransmissão da cultura, dos modos de vida, dos valores e das crenças. A mídia era o “tête-à-tête”, as rodas de conversas. No Beco Novo, fui ouvinte dessas assembleias de anciões.

O caminho das narrativas foi fechado. A vida foi fragmentada. Cada um segue o seu caminho e a sua verdade. A vida contada tornou-se efêmera, imediata, voltada para o espetáculo.

Ocorre, que o Ser humano não existe de um instante para outro, não somos seres momentâneos. A nossa existência, no mínimo, abrange um período entre o nascimento e a morte.

A minha geração é anterior a Internet, ao smartphone e a Inteligência artificial.

Ontem, aos setenta anos, fiquei maravilhado com o dia das crianças, em Itabaiana. Passou um filme em minha cabeça. A Praça era a mesma que joguei bola na infância.

As crianças eram outras: todo menino é um Rei, eu também já fui Rei, mas quá, despertei!”

Um amigo, organizador da festa, sentindo o meu espanto, sugeriu a um jornalista que cobria o evento, que me ouvisse, que se gravasse um vídeo, talvez o secretário de cultura tivesse algo a dizer.

O espanto do jornalista foi visível. “Ele pensou: como assim, gravar um velho, sobre uma festa de criança?” O meu amigo, talvez pela amizade, insistiu: grave, ele tem o que dizer. O espanto do profissional em mídias modernas, cresceu, levando-o a impaciência.

Sem prestar muito a atenção, o jovem repórter minimizou: “pode ser, colocaremos ele no Story.”

Eita, vão me colocar no Story! Claro, sair pela tangente. Fui saber primeiro o significado de story. “Um breve relato, fictício ou não. Conteúdo temporário das redes sociais, com prazo de desaparecimento programado.

Senti o drama! As informações precisam circular em estágio pré-reflexivo, controladas pelo big data. Esses espaços não me interessam.

Não importa, vou narrar o que sinto, assim mesmo, em outra mídia. E não vou disputar audiência nas redes sociais, não farei um perfil no YouTube, nem podcast, nem vídeos, nada disso. Escrevi um livro de 600 páginas, contando uma “História Cultural do Povo Itabaianense”.

Lançarei o livro na Bienal Internacional de Itabaiana. Já fui advertido: é perda de tempo, ninguém lê seiscentas páginas, nem sob tortura. Tá certo, ninguém é obrigado.

Na condição de idoso (70 anos), resolvi exercer um direito tradicional dos velhos: contar histórias. Quem não quiser ouvir, não ouça. Farei a minha narrativa!

O resgate do passado é uma tarefa dos narradores. A Inteligência artificial que conte a sua história. Não me interessa.

Antonio Samarone – Secretário de Cultura de Itabaiana.

terça-feira, 7 de outubro de 2025

O DIREITO DE MIJAR

O Direito de Mijar.
(por Antonio Samarone)

Uma situação constrangedora: encontrei com seu Raimundo, um velho conhecido da Barra dos Coqueiros, sentado num banco de praça, encharcado de mijo até as meias.

Não precisei perguntar: os idosos, em especial os diabéticos, urinam com frequência.

Ele já desceu do ônibus apertado, a bexiga querendo explodir. Urinar na rua não pode, é um ilícito penal, tipificado como ato obsceno. Sem contar, a inibição moral do velho pescador. Eu tinha me virado.

Raimundo disparou, em busca de um sanitário público. Lembrou-se que existia na Praça Almirante Barroso. Aliás, reformado há 16 anos, pelo governador Marcelo Déda, conforme a placa. Para o seu desespero, o local estava lacrado (veja a foto).

Os populares disseram que na travessa Deusdedith Fontes tinha outro. Mas não dava tempo. E ainda podia ser uma viagem perdida.

A desgraça aconteceu: o líquido quente escorreu pelas pernas.

Fiquei pensando, sanitários são serviços públicos? Antigamente eram. Sempre foram serviços de manutenção complicada. Conviviam com a sujeira e a depredação.

Em Itabaiana, a Prefeitura enfrentou, usando alta tecnologia. Instalou nas praças, sanitários auto laváveis. Ou seja, terminada a necessidade, o sistema se encarrega da limpeza, sozinho. Até o papel já cai no buraco certo. O próximo, já entra em um ambiente totalmente higienizado. E podem fazer fila...

Contei a novidade ao amigo mijado, mas não lhe serviu de consolo. Ele continuou sem saber o que fazer, para voltar a casa. O jeito, foi esperar o mijo secar.

Vou legislar em causa própria, aos 70 anos, considero: mijar a qualquer hora, um direito! Por mais prosaico que possa parecer.

Só é vedado mijar na cova do inimigo...

Antonio Samarone.
 

sábado, 4 de outubro de 2025

GENTE SERGIPANA - TONHO TORTO.

Gente Sergipana – Tonho Torto (61 anos).
(por Antonio Samarone)

Quem pensa que as redes sociais são absolutas, que as big techs dominam as informações, que a inteligência artificial vai controlar o mundo, precisa conhecer o talento, a inteligência e a sabedoria de Tonho Torto, um gênio da propaganda e marketing.

Nada se torna conhecido em Itabaiana sem a presença da “Ideal Publicidade”. Eventos, casamentos, batizados de bonecas, leilão, mesa de sorte, bingos, saraus, festas religiosas, corridas de rua, seresta, missa de sétimo dia e sepultamentos.

Sobretudo, sepultamentos. Não adianta o defunto ser rico e famoso, sem a divulgação da “Ideal Publicidade”, o velório será esvaziado. Nem os parentes comparecem.

Em que consiste essa máquina de publicidade? São seis azeitados carros de som e um trio elétrico.

Morreu alguém, os carros percorrem os sete cantos da cidade, rodando uma gravação com o anúncio do óbito, na voz própria de Tonho. Uma voz metálica, pausada, cheia de entonações fúnebres, que não deixa dúvidas: morreu alguém! Entre um aviso e outro, só muda o nome do defunto.

Itabaiana se informa, pelas bocas de auto falante de Tonho Torto.

José Antonio de Andrade Oliveira (Tonho Torto), nasceu em 02 de março de 1964, trinta dias antes da ditadura militar. Natural de Chã do Jenipapo (atual Frei Paulo). Filho de Seu Gideão Barbosa de Oliveira e Dona Terezinha Matos de Andrade Oliveira. Uma família pobre, com nove filhos.

Quando se mudaram para Itabaiana, Tonho Torto tinha nove anos. Aqui estudou, trabalhou e sobreviveu.

Tonho nasceu com uma incapacidade física, não anda. Isso não lhe abateu. Terminou o ginásio no Murilo Braga e, logo cedo, foi aprender um ofício. Foi ajudante do famoso marceneiro Antonio Campeão e discípulo do mestre Cabaú, exímio artesão dos tamancos.

Há mais de 40 anos, Tonho Torto entrou no ramo da publicidade. Não enriqueceu, mas vive bem. Os clientes lhe dão a preferência.

Acho que seja um dos últimos publicitários com carro de som. Uma mídia analógica e sem imagens.

Tonho é casado com Dona Josefa, e possuem três filhos: Jane Clay, Jadson e Gladston.

Tonho Torto possui o espirito itabaianense: empreendedor, astuto, espirituoso e inteligente. Trouxe uma herança de Frei Paulo: torce pelo Sergipe.

Odeia pegadinhas!

Tonho Torto é um cidadão que engrandece Itabaiana, com o seu trabalho.

Antonio Samarone – Secretário de Cultura de Itabaiana.
 

sexta-feira, 3 de outubro de 2025

MEMÓRIA E CIVILIZAÇÃO.


 Memória e Civilização.
(por Antonio Samarone)

Itabaiana nasceu na Praça da Igreja. É o nosso marco zero. O Prefeito Valmir decidiu transformar a praça em polo cultural. Já existe o museu da Filarmônica Nossa Senhora da Conceição.

A gestão municipal vai construir um museu da cidade, a sede da Academia Itabaianense e Letras e o memorial do caminhoneiro.

Tudo a seu tempo.

Vejam essa foto, de um trecho da Praça.

Da esquerda para a direita: a primeira, foi a casa de Seu Jeconias e Dona Derzi, onde era armado o maior presépio da cidade.

Em sequência: a casa de Adalula, onde as filhas permanecem; a casa de Dona Didi, irmã de Zé Bezerra, onde funcionou, desde 1949, o Serviço de Auto Falante Popular, de Zé Silveira. Hoje, é o palacete do Grão Mestre Zé Oliveira.

E mais, o Fórum da Cidade, onde a Prefeitura vai construir a Sede da Academia Itabaianense de Letras; o Cartório de Serapião e a casa de Maria Guilhermina (Mãe Dona), onde viveram por muitos anos as suas duas filhas, Pepinha e Porcina; tias do célebre Cibalena.

Essas duas casas foram desapropriadas para a construção do museu.

E por fim, a Casa de Euclides Paes Mendonça, o político que iniciou a preparação de Itabaiana para o progresso. Acho, que ele merece um monumento, ao lado.

Quanto ao memorial do caminhão, é preciso aguardar a construção do Centro Administrativo, para usar-se a sede do Paço Municipal.

Com tudo pronto, a centenária Praça, herança da União Ibérica, com desenho árabe, se transformará num polo de cultura, com saraus, serestas e exibições artísticas. Literatura, história, música, dança e poesia.

Vamos reabrir o Fã Clube de Francisco Alves, o Rei da voz.

O projeto é generoso!

Antonio Samarone – Secretário Municipal de Cultura.

quarta-feira, 1 de outubro de 2025

PROFESSOR VILDER SANTOS.

Professor Vilder Santos.

Ontem, após muitos anos, reencontrei um velho amigo. Uma surpresa! Um mal-assombrado tinha me contado: Vilder "bateu as botas" na Covid. Cheguei a rezar por sua alma.

Engano!

O professor Vilder, formado em letras vernáculas e em direito, chegou aos oitenta. A mesma dignidade, a mesma altivez.

Quando ainda existia opinião pública, o professor Vilder participava dos debates radiofônicos. Era uma voz acreditada. Participou da equipe esportiva da rádio Cultura, comandada por Raimundo Luiz e comandou o programa “a voz do magistério”.

O pai de Vilder, foi vereador por sete mandatos e dono do lendário “Carrossel do Tobias”. Hoje, nomeia o mercado do Augusto Franco.

Vilder é adventista e poeta (triversos). Ensinou moral e cívica no Atheneu e EPB na UFS, nos tempos sombrios.

Em uma entrevista a Osmário, em 2005, Vilder afirmou ser: “legalmente solteiro, mas sonha aprender a tocar um instrumento musical. Comprei o pandeiro e, se aparecer alguma pandeirista para me ensinar, eu topo”(risos).”

Não sei dizer se a pandeirista apareceu.

Longa vida ao professor Vilder, rumo ao centenário.

Antonio Samarone.