Você sabe com quem está falando?
(Por Antonio Samarone)
Romualdo (Ramu) é um liberal bem informado, democrata, tolerante à diversidade, acredita no livre mercado, no empreendedorismo e votou em Simone Tebet, no primeiro turno. No segundo, ele desconversa.
Para os padrões sergipanos, Ramu é um empresário bem sucedido, no ramo de padaria, delicatessen e posto de gasolina. Um crente do capitalismo.
Ramu é liberal na economia e nos costumes. Só teme o comunismo. Não enxerga esse “risco” no Brasil, mas teme o fantasma. “Nunca se sabe”, diz ele precavido.
Para quem gosta de enquadramento: Romualdo compõe o reduzido “centro democrático”. Não confundir com o nocivo “Centrão”. Não vê com simpatia as manifestações bisonhas dos camisas amarelas, muito menos o futuro governo Lula.
Ramu, acha que qualquer governo é um peso para a sociedade, que o poder resume-se em ordenar despesas, prender e soltar, nomear e demitir. “Os governos parasitam a sociedade.”
Em Sergipe, nunca existiu fronteiras entre o público e o privado. O bom governo é o que cisca para fora, ou seja, o que libera uma laminha para os correligionários. O que não come sozinho.
Nesse quadro, a elite provinciana tem mantido os seus interesses e a sua dominação.
A autoridade é demonstrada na carteirada, no jeitinho e no patrimonialismo: “você sabe com quem está falando?”. Para os amigos tudo, para os inimigos a lei.
Romualdo, me indicou um livro do seu conterrâneo, Pascoal Nabuco.
Em Sergipe, temos um capitalismo de compadres. Pascoal Nabuco, que conheceu os “meandros” do poder, destrincha essa realidade em seu livro “Visão Política de Sergipe (1946 a 2016)”. Esse compadrio vem de longe.
“A maior virtude do SUS é tratar igualmente a todos. A vez é de quem chegou primeiro, sem distinção. Em Sergipe, o apadrinhamento invade até os hospitais: sem conhecimentos, a sua vez demora, ou nunca chega.” Diz o irônico Romualdo.
Eu queria acrescentar à descrença no Estado de Ramu, uma inconfidência: em Sergipe, a chamada esquerda não foge desse quadro. O vicio patrimonialista é atávico, ancestral, incrustado na cultura.
Romualdo foi meu aluno, no Arquidiocesano do Padre Carvalho.
Antonio Samarone (médico sanitarista)
quarta-feira, 30 de novembro de 2022
VOCÊ SABE COM QUEM ESTÁ FALANDO
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