terça-feira, 1 de novembro de 2022

RÉQUIEM PARA AS ESQUERDAS

 Réquiem para as esquerdas.
(Por Antonio Samarone)

A vitória de Lula prorrogou a democracia no Brasil, só não se sabe até quando.

Ficou evidente os avanços eleitorais da extrema direita, com o velho discurso de violência, exclusão, intransigência e o eterno namoro com o fascismo.

Nas democracias, quando os perdedores não reconhecem a legitimidade dos vencedores, os riscos de rupturas são eminentes.

Lula ganhou pelo centro, em aliança com as sobras do desgastado PSDB. A governabilidade, dessa vez será mais difícil. O apoio do congresso para mais um governo de coalizão dependerá de um novo mensalão ou da institucionalização do orçamento secreto?

O Centrão está à espreita!

A direita elegeu os governadores dos principais Estados (São Paulo, Rio e Minas). Perdemos até em Pernambuco, onde uma Arraes foi derrotada, mesmo com o apoio de Lula. Vitória, vitória mesmo, com a marca da esquerda, só na Bahia.

A esquerda abandonou qualquer projeto de mudança estrutural da sociedade, limitando-se a dar uma face humana ao neoliberalismo.

Aliás, qual seria mesmo esse projeto de mudanças?

A esquerda acredita que o capitalismo possa ser domado e parte da renda distribuída. A ideia central é repetir os governos anteriores, acabar com a fome e promover o ressurgimento da famosa “classe C”.

No Brasil, a extrema direita chama tudo o que não gosta de comunismo e propaga princípios do século passado: Deus, pátria e família. O seu maior intelectual, Olavo de Carvalho, falecido recentemente, não é lido. Sabe-se dele o que ele falou em entrevistas.

A vitória de Lula, aos 78 anos, garantiu uma sobrevida à democracia. Ele não disputará a reeleição. Quem fará o necessário processo de conscientização política para o fortalecimento da democracia? São Paulo elegeu para o Senado, um astronauta, com meia dúzia de neurônios, só para não os cansar com outras citações.

A vitória de Lula deveu-se ao calejado povo nordestino, às lembranças do seus governos, ao apoio do mundo da cultura, ao que resta da intelectualidade de esquerda, a Alckmin, um conservador da Opus Dei, a Simone Tebet, candidata do MDB, e tantos outros centristas. Alguns até ajudaram no impeachment de Dilma. Só faltou o Ciro!

A vitória foi de uma frente ampla pela democracia.

O Brasil democrático acordou alegre com a necessária vitória de Lula, mas com inúmeros problemas a resolver, para que a democracia permaneça como o nosso caminho.

Entre as tarefas, precisamos refazer os nossos projetos de esquerda. Apresentarmos propostas que dialoguem com a pós-modernidade, que apontem os caminhos para a superação do neoliberalismo, que tenham saídas viáveis para a crise climática, para a superação das profundas desigualdades sociais, e apresentem alternativas para a transformação do Brasil numa pátria de todos.

Uma esquerda que encontre formas para a repacificação da sociedade! As saídas violentas não interessam aos trabalhadores.

Tenho acompanhado a reação dos derrotados nas redes sociais. Perderam os limites nos impropérios. Nenhum aceno, poucas ideias e muito ódio. Eu sei, estão de cabeça quente.

As divergências podem ser resolvidas sem guerra, sem ódio e sem violência. Claro, tudo isso está longe e não será fácil. Mas precisa ser feito.

Nós que elegemos Lula, fiquemos de plantão cívico. Não será fácil pacificar o país, muito menos reconstruir o que foi destruído. Muita coisa não tem mais jeito.

A democracia dessa vez escapou, por pouco, menos de 1% dos votos. Se não consertarmos as nossas fragilidades, os riscos de rupturas democráticas continuarão crescentes.

Antonio Samarone (médico sanitarista)

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