quinta-feira, 3 de novembro de 2022
CARTAS DO EXILIO
Cartas do exílio.
(Por Antonio Samarone)
Eu sou dos tempos das cartas.
Reabri o baú e encontrei um chumaço de cartas antigas, que enviava para mamãe, quando estava estudando no Sul maravilha.
Transcrevo uma delas:
“Alô Mamãe...
Pode ficar tranquila que eu sei o que estou fazendo. A minha participação política na luta junto com os oprimidos é a coisa mais importante de minha vida. A senhora que acredita tanto em Jesus Cristo, não esqueça a vida dele.
Nesse fim de semana que passou fui a São Paulo, passear e assistir a Festa dos Trabalhadores, no primeiro de maio. Foi muito bonito.
Eu entendo a preocupação da senhora e de papai. Geralmente as mães pensam que os filhos são crianças o tempo todo. Eu fico contente em saber que a senhora se preocupa comigo, mas acho que não tem necessidade, a senhora já tem muita coisa para se preocupar.
Como eu tinha acertado, estou mandando 20 (vinte mil cruzeiros), dez mil para a casa e dez mil para Antonio Carlos. Acho que a senhora vai receber o dinheiro antes da carta, porque José Augusto trabalha no Banco e avisa logo que o dinheiro chegar.
Quando receber o dinheiro mande dizer.
Eu queria saber como está a escola de Marquinhos, ele está ficando muito de castigo?
Acho que a senhora podia falar com a professora, como no tempo que a senhora não deixava a professora Helena de Branquinha me bater. Aquilo ainda hoje eu agradeço a senhora. Não é para ter vergonha, é ir lá, com jeito e educação, e falar com a professora. Fala para ela que se o menino for castigado atrasa a inteligência.
Quanto a minha ida a São Paulo, fique tranquila. É quase certo a minha volta para Sergipe. Mas com a política, nunca deixarei de mexer.
Por aqui tudo bem, estou com muita saúde e muita disposição para estudar.
Despeço-me mandando um abração para todos aí em Casa.
Rio de Janeiro, 04 de maio de 1982.”
Antonio Samarone. (médico sanitarista)
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