O Pó da Condessa.
(por Antonio Samarone)
(por Antonio Samarone)
A quina é a casca de diversas arvores do gênero Cinchona, da família das Rubiáceas, naturais do Peru.
Em 1638, a Condessa d'El-Cinchon, esposa do vice-rei do Peru, foi acometida de sezões (malária) rebeldes a todos os medicamentos. Um ancião Inca indicou o uso da quina, que curou rapidamente Condessa. A quina foi introduzida na Espanha, com o nome de “pó da condessa”.
Os Jesuítas perceberam as vantagens da quina e criaram a Triaga Brasílica, uma garrafada com 27 espécies vegetais e minerais, onde a quina era a mais importante. Fizeram sucesso por toda a Europa. A fórmula era secreta. Em parte, a Triaga Brasílica está de volta com a cloroquina, uma descendente direta da quina.
A quina era um tônico, empregado para reanimar os órgãos, dar-lhes força e vigor. Era igualmente anti-inflamatório, e associada a outros tônicos, combatia certos estados de atonia e "putridão". Entre todas as propriedades da quina, a mais evidente e a mais preciosa era a antifebril. Especial nas febres intermitentes. Contra as sezões ou maleitas a quina era um remédio heroico.
A quina também era usada nas diarreias e bronquites crônicas, e nas flores brancas (leucorreia). A quina era empregada como tônico nas convalescenças longas e difíceis. Usada no tratamento da opilação.
Externamente, a quina era usada contra a gangrena. Polvilham-se com pós de quina nas úlceras escorbúticas, e nas feridas crônicas.
Em 1820, Pelletier e Caventou, químicos franceses, isolaram da quina uma substância chamada quinina. A quinina (C20H24N2O2) é um alcaloide de gosto amargo, extraído da quina, que tem funções antitérmicas, antimaláricas e analgésicas. O sulfato de quinina é o quinino.
Esta descoberta é uma das mais importantes da medicina, a quinina é um alcaloide onde se encontra o princípio ativo antifebril e antimalárico da quina, que curou muita gente.
Os alcaloides são substâncias vegetais, muito usadas como medicamentos. Os alcaloides mais conhecidos são: morfina, cocaína, nicotina, cafeína, efedrina, atropina e a coniina (componente da cicuta, que envenenou Sócrates).
A cloroquina é uma 4-aminoquinolina, sintetizada em 1934, por Hans Andersag, nos laboratórios da Bayer. A cloroquina foi ignorada por uma década, porque ser considerada muito tóxica para o uso humano. É outra filha da quina.
A cloroquina foi introduzida no uso clínico em 1947, para o tratamento profilático da malária.
A cloroquina é usada atualmente contra a malária (uso secular), amebíase hepática, lúpus eritematoso sistêmico e na artrite reumatoide. A sua ação antirreumática deve-se a um efeito imunossupressor.
A hidroxicloroquina, a filha mais nova da quina, foi sintetizada em 1946, por Surrey e Hammer, e aprovada para uso médico nos Estados Unidos em 1955. Tem a fama de ser menos tóxica que a cloroquina.
Para surpresa do mundo científico, a cloroquina e a hidroxicloroquina se transformaram em objetos de discórdia política no Brasil. Se possuem ou não eficácia contra o Coronavírus. Em caso positivo, em que fase da doença devem ser utilizados.
No fundo, é o retorno da Triaga Brasílica, o medicamento mais importante da farmacopeia jesuítica no Brasil. Eu gostaria que a ciência encontrasse na cloroquina uma ação eficaz contra o Coronavírus. Seria uma vitória dos jesuítas.
Infelizmente, por enquanto fica na vontade e na crença de muita gente. Que os interesses da Industria farmacêutica não atrapalhem a ciência. Que nenhum interesse subalterno atrapalhe a ciência.
Foi essa polêmica bizantina, envolvendo muitos interesses, que acaba de derrubar o Ministro da Saúde.
Antonio Samarone.
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