sexta-feira, 22 de maio de 2020

LOCKDOWN E CONTROLE SOCIAL


Lockdown e Controle Social
(por Antonio Samarone)
Duas controvérsias: o isolamento social e o lockdown são necessários para o enfrentamento da Pandemia? O abalo econômico é decorrência desse isolamento social? Vamos continuar discutindo isso por muito tempo.
Defendeu recentemente o filosofo italiano Giorgio Agamben:
A epidemia está permitindo que o Estado de Exceção se torne natural, até desejado, e que ressurja a força imperial do poder político. O mais humilde Prefeito ganhou poderes discricionários, com a Peste. Por decreto, ele pode suprimir todos os direitos individuais, fechar igrejas e mercados. Limitar o direito de ir e vir. Os Tribunais estão fechados e Estado de Direito suspenso.
A economia já havia submetido a política aos ditames do capitalismo financeiro. Agora a economia está sendo absorvida pelo “novo paradigma de biossegurança ao qual todos os outros imperativos devem ser sacrificados”. Ressuscitamos Foucualt?
A biopolítica já deu lugar a psicopolítica. (Byung-Chul Han)
O receio é que as medidas de exceção se prolonguem no pós Pandemia, que o controle social se naturalize e se transforme em modo de vida.
O Italiano Agamben acredita que as razões sanitárias do isolamento social são de fundo ideológico, e que não existe comprovação cientifica dessa necessidade:
“A Pandemia, pelos dados epidemiológicos disponíveis, causa sintomas leves/moderados (um tipo de gripe) em 80-90% dos casos. Em 10-15%, pode se desenvolver uma pneumonia, cujo decurso é benigno na maioria absoluta. Estima-se que apenas 4% dos pacientes necessitem de hospitalização em terapia intensiva.”
Por outros lado, mais de vinte mil óbitos só no Brasil, até ontem (21/05), é muita gente, muito sofrimento.
Agamben defende que, exaurido o terrorismo como causa de medidas de exceção, a invenção de uma epidemia pode oferecer o pretexto ideal para ampliá-la muito além de todos os limites.
Eu acrescento, mesmo que as medidas de exceção tenham justificativas epidemiológicas, são reais os riscos de contaminação do nosso modo de vida. O distanciamento social pode se tornar um comportamento valorizado.
Na tese de Agamben, o medo da Pandemia será difundindo nas consciências dos indivíduos e que se traduz em um verdadeiro de estados de pânico coletivo. A Pandemia oferece o pretexto ideal.
Giorgio Agamben adverte sobre o fato de os meios de comunicação bombardeiam a população com notícias sobre a Pandemia, utilizando-se da velha tática de difusão de um clima de pânico, provocando um verdadeiro estado de exceção, com gravosas medidas de restrição das liberdades.
Assim, em um perverso círculo vicioso, a limitação da liberdade imposta pelos governos, em nome da Pandemia, é aceita pelo desejo de segurança. Os Governos se apresentam para satisfazê-lo.
A utopia de Slavoj Žižek é ilusória: a Pandemia não está trazendo os ventos da revolução, da justiça social e da liberdade.
Pelo contrário, teremos um fortalecimento do autoritarismo.
O pôs Pandemia trará o fim do contato pessoal, do barzinho, do abraço, do beijinho na face, do aperto de mão. Seremos uma sociedade de mascarados. O medo do outro será um sinal de prudência. O isolamento social se tornará permanente e festejado.
Ou pode ocorrer exatamente o inverso.
O fim da Gripe Espanhola transformou o carnaval brasileiro numa festa orgiástica. O pôs Pandemia do covid – 19, pode ensejar uma onda de liberdade, justiça e tolerância.
Esse meu desejo em querer imaginar um destino para a sociedade humana, deve-se a herança religiosa, inspirado pela ideia apocalíptica do fim do mundo.
Uma das restrições mais perversas imposta pela Pandemia foi a proibição de se velar os mortos. Recentemente perdi alguns amigos, por morte natural, mas o medo me impediu de comparecer aos seus sepultamentos. Fiquei envergonhado com a minha covardia.
Sou de uma tradição cultural onde o único evento cuja ausência é indesculpável é o enterro de uma amigo. Justifica-se a ausência em aniversários, casamentos, batizados, formaturas, iremos aos próximos. Os sepultamentos são eventos únicos, não se pode perder.
A Pandemia apressará a tendência a atomização social e a virtualização das relações. A rede social será a nossa ágora! O mundo digital imporá uma relação binária, sem criatividade.
Dado a sua plasticidade, o nosso cérebro analógico, em pouco tempo será transformado em digital. A seleção natural se encarregará da mudança. É a vitória da inteligência artificial.
Continuo defendendo o isolamento social temporário, por acreditar que ele reduza a velocidade de propagação da Pandemia. Só por isso!
Não faço defesa ideológica do distanciamento social. Pelo contrário, defendo a confraternização, a vida comunitária e os laços coletivos. Não quero um cérebro binário, digital.
Gosto de feiras, procissões, romarias, comícios e passeatas. Gosto das peregrinações. As minhas raízes provincianas são antigas e sólidas.
Antonio Samarone.

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