segunda-feira, 11 de maio de 2020

A PANDEMIA E A POLÍTICA



A Pandemia e a Política
(por Antonio Samarone)
A epidemia de coronavírus é uma manifestação global e duradoura que se impôs sobre nós. A primeira reação foi a de descrença. É mais uma virose! Passa logo! Mesmo a gente preferindo acreditar em nossos palpites, com medo do desconhecido, a ciência aponta para uma longa crise.
A Pandemia não é somente um fenômeno biológico. A Peste é complexa, afeta e é afetada pela cultura, economia, comércio, relações sociais, política, religiões, ideologias, medos e pânicos.
Em um grupo de médicos no WhatsApp, um colega famoso sentenciou: “Deixem a Pandemia sob os cuidados da ciência, ela fará o melhor”. Alto lá, doutor! A Ciência faz a sua parte. Nem atua sozinha, nem serve para tudo. Não enxergar o papel da política é cegueira.
Temos dois exemplos divergentes da importância da política, no combate a Pandemia. Um ajudando e o outro atrapalhando, respectivamente: a Premier conservadora alemã, Angela Merkel, e o nosso desnorteado Presidente, Jair Messias Bolsonaro.
No caso brasileiro, a interferência política é tão nefasta, que levou o Conselho Federal de Medicina a autorizar o uso de um medicamento não recomendado pela ciência e, a milhares de brasileiros, alguns bem informados, a negarem até a ocorrência da crise sanitária.
Os países governado por mulheres se saíram melhor no combate a Pandemia.
A Nova Zelândia é um exemplo bem sucedido de combate a Pandemia. O mundo reconhece a importância da ação política da Primeira Ministra Jacinda Ardern, nessa luta. Ela é tida pela população como a Santa Jacinda, da Peste.
Na China, foram utilizados métodos de controle e de vigilância pessoal particularmente rigorosos, com intensivo uso das tecnologias digitais e do big data. É cada vez mais evidente que as medidas foram eficazes. Houve uma vitória do modelo político chinês sobre a Pandemia.
Concordemos ou não com o modelo político chinês.
Os erros e os acertos do mundo político são decisivos e necessários no enfrentamento da Pandemia no Mundo. A política é nociva quando toma decisões de natureza técnica, contrariando as orientações científicas.
Entretanto, reduzir a pandemia aos seus aspectos técnicos, é simplificar demasiadamente a crise sanitária.
Discordamos das decisões políticas contrárias à nossa ideologia, a nossa visão de mundo, aos nossos interesses pessoais, corporativos ou de classe. E não simplesmente por serem políticas.
Muitas vezes criticamos uma decisão acusando-a de “política”, tentando deslegitimá-la por isso, quando a nossa discordância é sobre a natureza da decisão, nociva a nossa política.
A política continua sendo uma forma civilizada de se enfrentar as discordância, sem ela, restará a força, o conflito aberto e a violência. Sem a democracia, resta-nos a ditadura.
E em Sergipe, o comportamento dos políticos está ajudando ou atrapalhando no Combate a Pandemia? Abrindo um parêntese.
Sergipe é estranho!
Primeiro, a doença demorou muito a se manifestar. Segundo, agora, que a Pandemia começou a crescer, duplicou nos últimos três dias, os dados sobre a mortalidade não acompanham o resto do Brasil. A taxa de letalidade em Sergipe é de 1,9%, uma das menores do mundo.
A letalidade média no Brasil é de 6,9%. A letalidade no Amazonas é de 8,5%, na rica São Paulo – 8,3%. no Ceará - 8,1%, em Pernambuco - 7,5%. Em nosso modesto Sergipe, a letalidade é de 1,9%.
Viva Sergipe!
Só existem quatro explicações para esse fenômeno: a) os dados estão errados, b) o vírus sofreu uma mutação em Sergipe c) o nosso sistema de saúde é o melhor do Mundo, d) trata-se de um milagre.
Se alguém sabe outra explicação, nos esclareça.
Voltando a política.
Por que eu não sei se os políticos em Sergipe estão ajudando ou atrapalhando? No que se refere ao isolamento social, eles estão agindo ao sabor dos ventos, guiados pela opinião de quem pressiona. Os decretos são quase diários. Abre e fecha, fecha e abre. Muita fumaça, muita propaganda.
Um autoridade convocou uma entrevista coletiva para anunciar um óbito. Para ter a primazia de dar a notícia.
Se a estrutura montada para o atendimento é ou não suficiente, razoável, ainda é cedo. A Pandemia em Sergipe não chegou a essa fase.
Se está havendo o bom uso do dinheiro público, existe muito "disse-me-disse". Também prefiro aguardar, para uma avaliação mais segura. Não tenho os dados suficientes.
Antonio Samarone.

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