sexta-feira, 5 de julho de 2024

GOLPES DO DESTINO


 Golpes do Destino.
(por Antonio Samarone)

Não acho que a vida seja um vale de lagrimas, muito menos um paraíso hedonista. Tem de tudo! Em doses desiguais. Cada um não recebe o que merece, nem colhe o que planta. Prevalece a ilusão.

Antes, o sofrimento era parte da redenção. Hoje, perdeu o sentido.

A felicidade depende de que haja uma verdade indiscutível. A pós-modernidade sepultou a verdade, extinguiu as referências. Um aluno, no primeiro dia de aula, já contesta o professor, mesmo sendo um catedrático, às vésperas da aposentadoria.

No judaísmo, a aspiração suprema é o Sabá, sendo a eternidade e o repouso. Deus fez o mundo em seis dias, no sétimo descansou. O descanso sabático.

O velho Freud dizia que a Natureza não tem compromissos com a felicidade humana. Na verdade, a ideia de que a felicidade é um direito, que todos podem alcançá-la, é geradora de revoltas e decepções.

Os infelizes não suportam a exclusão. A inveja é filha dessa frustração. Se exagera a suposta felicidade dos outros. Dessa ilusão, nasce o ressentimento e a inveja. Os escolhidos são poucos!

O capitalismo, sagazmente, condicionou a felicidade ao consumo, sem colocar limites. O que impede a sua realização. A capacidade de consumo é sempre limitada.

No paganismo, existe a deusa fortuna (Tyche, sorte), que distribui a sua proteção de forma aleatória e efêmera. A deusa Fortuna não presta contas. O cristianismo criou a graça, distribuída por merecimentos desconhecidos. A ciência criou a causa objetiva, as coisas chegam para quem está preparado para recebê-las. Para quem faz por onde.

Essa ilusão cientifica, leva aos precavidos realizarem check-ups periódicos, para evitar doenças inesperadas. A saúde não depende da sorte, mas dos cuidados prévios, pensam eles.

Aliás, antecipar o futuro com ciganas, cartomantes, adivinhos, pitonisas, profetas, ninfas e, agora com os médicos, é um sonho antigo do homem.

O futuro agora é com a ciência. Entretanto, nada disso é evidente, exceto em situações especificas. A sorte parece ter os seus caprichos, não obedece às circunstâncias e aos planos.

Mais cedo, ou mais tarde, receberemos os golpes do destino (Moros).

Antonio Samarone. (médico sanitarista)

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