terça-feira, 30 de julho de 2024

VIVA A LIBERDADE


 Viva a liberdade.
(por Antonio Samarone)

Acordei-me ouvindo "bella ciao", cantada por Mercedes Sosa.

O ovo da serpente está germinando. O assanhamento da extrema-direita é ostensivo. Triste, pela impotência, recorri aos sonhos. Enquanto é possível.

A famosa canção anti-fascista “bella ciao”, deposita as esperanças de liberdade nos partigianos, um grupo italiano de resistência ao fascismo, durante a Segunda Guerra. A canção ainda é cantada pela torcida do Livorno.

O que significa partisan, qual a origem? Algumas versões da música em português, traduz como companheiros. Não, o significado é mais profundo.

No tempo de Salomão, o povo judeu era dividido entre fariseus, saduceus, essênios e zelotes. Os essênios (ou partisans, homens do Partido de Deus) conviviam coletivamente, sem a propriedade privada. Os essênios foram eliminados após a destruição de Jerusalém, pela Babilônia.

Partisan vem dos essênios, vem de longe.

O que diz a música, numa tradução aproximada?

“Acordei de manhã, minha querida, Adeus!/ Acordei de manhã e me deparei com o invasor,/ Partigiano, me leve embora/ Minha querida, Adeus/ E se eu morrer como resistente, tu deves me sepultar/ Me sepultes na montanha/ Sob a sombra de uma linda flor/ As pessoas que passarem irão dizer: que linda flor/ É a flor do Partigiano, que morreu pela liberdade.”

Tenho maus pressentimentos, sobre a sobrevivência da democracia no Brasil.

Viva a liberdade.

Antonio Samarone – médico sanitarista.

segunda-feira, 29 de julho de 2024

O DOENTE IMAGINÁRIO

O doente imaginário.
(Por Antonio Samarone)

Tomei o título de Molière.

Romeu, é um filósofo independente. Nunca tomou conhecimento do pensamento filosófico grego. Apreendeu a pensar com Zezito de Dona Bilô, no Beco Novo.

O seu horizonte filosófico é uma passagem do evangelho: “É mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha, que um rico entrar no Reino do Céu.” Romeu divide a humanidade pela riqueza de cada um.

Em sua casuística, Romeu constatou que a canalhice é um privilégio dos ricos. Esse foi o seu maior engano. A canalhice é bem distribuída entre os humanos.

Em estudos recentes, exegetas bíblicos descobriram que alguns oportunistas, embarcaram na Arca de Noé, mesmo sem convites. A canalhice é universal e antiga.

Romeu era coerente com o seu credo e curtia uma bem sucedida velhice estoica. Até o atual transtorno.

Recentemente, Romeu começou a sofrer dos nervos. Após rondar pajés, xamãs, rezadores e curandeiros, terminou quase desenganado. Procurou o Dr. Rondinei, um velho charlatão em medicina natural, que diagnosticou um “destemperamento hipocondríaco”.

Diagnóstico que há muito tempo foi retirado do Código Internacional das Doenças (CID), mas a doença continua existindo.

Presente ou não no CID, o diagnóstico estava dado.

Como bom cristão, Romeu acredita em milagres, sabe que é o caminho mais rápido para a legitimação de santidades. Duvidá-los, é uma forma primária de arrogância. O milagre mais conhecido, a transformação de água em vinho, nas bodas de Canaã, é bem-visto, mesmos entre os hereges.

As leis da natureza são suspensas, pela ação de Jesus Cristo, acredita o filosofo Romeu. O coxo anda, o cego vê, o enfermo é curado, o morto ressuscita e os demônios são expulsos. Se alguém duvida, pergunta ele?

O que parecia fácil, recorrer aos milagres, ficou difícil.

A enfermidade de Romeu só existe como impressão, um transtorno imaginário: “destemperamento hipocondríaco”. Como curar quem de nada sofre? Ele só acha que sofre. Talvez, nesse caso específico, nem a psiquiatria científica de mercado, nem os milagres, resolvam.

Antonio Samarone – médico sanitarista.
 

sexta-feira, 26 de julho de 2024

COM A PALAVRA, VLADIMIR CARVALHO.

 

Com a palavra, Vladimir Carvalho.
(por Antonio Samarone)

Foi a Cultura que tirou o homem da caverna. Luiz Antonio Barreto me ensinou: a Cultura não tem dono. Uma verdade!

Hoje, as 19 horas, na Câmara de Vereadores de Itabaiana, a Academia Itabaianense de Letras, em parceria, com a Secretaria da Cultura, irão comemorar os 51 anos do lançamento do livro “Santas Almas de Itabaiana Grande”, de Vladimir de Souza Carvalho.

A historiadora Thetis Nunes apontava a chegada de BR – 235 e a criação do Colégio Murilo Braga, no início da década de 1950, como os pontos de partida do desenvolvimento de Itabaiana.

O progresso econômico em Itabaiana é incontestável. Contudo, a Cultura pede passagem. O papel da educação foi decisivo desse desenvolvimento, gerou pensadores. O Colégio Murilo Braga foi o berço da Academia de Letras.

O lançamento do livro de Vladimir Carvalho, abriu uma nova Era na cidade. Talvez, no interior de Sergipe. Essa iniciativa, estimulou a publicação da história de vários municípios. Hoje, toda comunidade tem a sua história.

A Cultura em Itabaiana, antes centrada na música, religião, fotografia e folclore, iniciava uma fase literária. Vamos prestar uma justa homenagem a Vladimir Carvalho. Tudo começou com ele: o jornal O Serrano, o incentivo a centenas de publicações: literatura, poesia, contos, causos, história, desaguando na Academia de Letras.

Na sessão de hoje, o homenageado, Vladimir Carvalho, fará uma conferência sobre os 350 anos de fundação de Itabaiana. Será o primeiro ato de comemoração dessa data gloriosa.

O aniversário será festejado no próximo ano, em 2025. Será um ano especial. A cidade nasceu no mesmo berço da Freguesia de Santo Antonio e Almas. Um duplo aniversário.

A foto, é significativa, uma amostra dos intelectuais que prestigiaram o lançamento do livro de Vladimir. Da esquerda para direita: Zé Crispim, Jackson da Silva Lima, Alberto Carvalho, Zé Silveira, Vladimir Carvalho, Renato Mazze Lucas e Jubal Carvalho.
Um convite: quem puder, venha!

Antonio Samarone – médico sanitarista.

domingo, 21 de julho de 2024

POR QUE SONHAMOS?

Por que sonhamos?
(por Antonio Samarone)

“O sonho que se sonha só, é loucura”. Sidarta

Realizar os sonhos é um caminho para a felicidade. A razão produz monstros. “O sonho é a imaginação sem freio nem controle, solta para temer, criar, perder e achar.” – Sidarta Ribeiro.

Os sonhos proféticos, de origem divina, já conduziram reinos, declararam guerras, salvou monarcas. Nabucodonosor soube da queda da Babilônia através dos sonhos.

José interpretou o sonho do faraó. Aquela história dos anos de vacas magras e vacas gordas. Hoje, se sonhar com vacas, tornou-se apenas uma dica para se fazer uma fezinha no jogo do Bicho.

Júlio César sonhou com o seu assassinato. César recebeu um presságio para os perigos dos idos de março. “Na noite de 14 de março de 44 a.C., César sonhou que era transportado entre as nuvens, elevado aos céus e recebido por Júpiter.” – Sidarta R.

Calpúrnia, esposa de César, sonhou com o seu assassinato.

Os sonhos estão presentes na Bíblia, Corão, Ilíada e odisseia.

Na Grécia, os doentes procuravam os Templos de Asclépios em busca da cura. Os doentes dormiam nos Templos, esperando a voz os oráculos, que falavam através dos sonhos.

Freud e Jung fizeram da interpretação dos sonhos uma nova ciência da mente, a psicanálise. Os sonhos permitem mergulhar nos subterrâneos da consciência.

A medicina científica reduziu o sonho a uma ativação aleatória de neurônios do córtex cerebral. Nessa visão cientificista, os sonhos são fragmentos da memória montados ao acaso. Ou seja, um fenômeno irrelevante, sem interesse para a compreensão da consciência humana.

O Homo sapiens é anatomicamente o mesmo, há pelo menos 300 mil anos. Saímos das cavernas através da cultura. Não foi a economia! O fogo permitiu as rodas de conversa e os devaneios oníricos. Os sonhos moveram as narrativas humanas.

A inumação intencional antecedeu aos cem mil anos. Nascem as religiões. O sonho é um portal de comunicação com as divindades.

Finalmente, o que é o sonho?

Calma, estou saboreando a leitura do Oráculo da Noite, nos primeiros capítulos. Quando souber, direi a vocês.

Antonio Samarone – médico sanitarista.
 

sexta-feira, 19 de julho de 2024

A QUEDA DO CÉU


 A queda do céu.
(por Antonio Samarone)

A questão ambiental não é prioridade em Aracaju. Uma bandeira solta, à espera de quem a carregue. Talvez, seja um mal de origem. Aracaju foi construída entre manguezais e pântanos.

Luiz Antonio Barreto resumia numa frase: “Aracaju é um aterro embelezado.”

Este aterro avançou no século XX, com aterros de lagoas e riachos e com o desmonte do Morro do Bomfim, onde a areia de uma enorme duna, viabilizou a ocupação da Zona Norte.

Aracaju foi construída sobre os mangues do São José, nas imediações do Batistão, sobre os aterros da Coroa do Meio, mangues do São Conrado, rios, Poxim e do Sal e das salinas do Porto Danta, etc.

Passaria a manhã descrevendo os aterros do Aracaju.

Desde os meados do século XX, Aracaju é comandada pela indústria da construção civil. Diretamente ou mediante prepostos.

Aracaju tem o DNA da especulação imobiliária. Nada mudou.

Na década de 1980, tentaram lotear a Praia 13 julho. Aterrar e construir prédios. A ambição foi freada pela forte resistência da sociedade civil. Hoje, não se daria um pio.

“Aracaju é uma cidade roubada do ecossistema” – poeta Jozailto Lima.

O desprezo pelo meio ambiente em Aracaju é ostensivo, desassombrado e agressivo. As enchentes, a precariedade do saneamento básico, a poluição do Rio de Sergipe, o desprezo pelas árvores, é senso comum.

Estou aguardando os planos de governo, dos candidatos a Prefeito do Aracaju. Não sou otimista!

Antonio Samarone. Médico sanitarista.

quinta-feira, 18 de julho de 2024

O DIREITO DE IR E VIR

O direito de ir e vir.
(por Antonio Samarone)

O artigo V da Constituição Federal garante o direito a locomoção.

Em Itabaiana, resolveram exercer o direito de ir e vir, preferencialmente de moto ou motoneta.

A cidade possui 103 mil habitantes (Censo 2022). Se excluirmos a fração que não usa moto: idosos, com mais de 60 anos (9%), por dificuldades físicas, e os jovens com menos de 16 anos (12%), por proibição legal, se ainda excluirmos os que não usam pôr limitações pessoais, incluindo o medo, restam cerca de 72 mil pessoas aptas.

Os dados oficiais registram 36 mil motos emplacadas em Itabaiana. Fizeram a conta? Um em cada dois habitantes, possui moto. Fica a pergunta: trata-se de um problema ou de uma solução?

Eu sei, o número de veículos por cidade é um indicador do seu desenvolvimento econômico. Façam essa comparação: Itabaiana, com 103 mil hab., possui 74 mil veículos emplacadas; Lagarto, com 101 mil hab., possui 58 mil veículos. Socorro, com 192 mil habitantes, possui 62 mil veículos.

O número de veículos é um dado positivo, mas também é um problema para a mobilidade urbana.

Itabaiana já enfrenta o trânsito como prioridade. A mobilidade é um tema central, no plano da futura administração de Valmir de Francisquinho.

(a foto foi de ontem, numa rua central em Itabaiana)

Antonio Samarone – médico sanitarista.
 

terça-feira, 16 de julho de 2024

O GRANDE INQUISIDOR


 O Grande Inquisidor.
(por Antonio Samarone)

“Se Deus não existe, tudo é permitido.” – Dostoievski.

Compreendendo a falta de tempo para as narrativas encantadas, resolvi postar essa reflexão, de um clássico da literatura. O grande Inquisidor é um capítulo dos Irmãos Karamazov. Fala sobre o vazio da pós-modernidade.

“A ação passa-se em Espanha, em Sevilha, na época mais terrível da Inquisição, quando todos os dias, para glória de Deus, se acendiam as fogueiras e "os medonhos hereges ardiam em soberbos autos-de-fé".

“Na Sua infinita misericórdia, Cristo desceu pelas ruas ardentes da cidade, onde justamente na véspera, em presença do rei, dos cortesãos, dos cavaleiros, dos cardeais e das mais gentis damas da corte, o grande inquisidor mandou queimar uma centena de hereges, ad majorem gloriam Dei.”

“Cristo apareceu suavemente, sem se fazer notar, e, coisa estranha, todos O reconhecem; o povo comprime-se à Sua passagem e segue-Lhe os passos.”

“Silencioso, passa pelo meio da multidão com um sorriso de compaixão infinita. Tem o coração abrasado de amor, dos olhos se Lhe desprendem a Luz, a Ciência, a Força que irradiam e nas almas despertam o amor.”

“Um velho, cego de criança, grita dentre o povo: "Senhor, cura-me e ver-Te-ei"; cai-lhe uma escama dos olhos e o cego vê. O povo derrama lágrimas de alegria e beija o chão que Ele pisa. As crianças deitam-Lhe flores no caminho; todos cantam, todos gritam: hossana! É Ele, deve ser Ele, não pode ser senão Ele!”

“Cristo ainda para no Adro da Catedral de Servilha e ressuscita uma criança de sete anos.”

“Neste instante, passa pela praça o cardeal grande inquisidor. Os taciturnos ajudantes e a guarda do Santo Ofício seguem-no a respeitosa distância. Para diante da multidão e observa-a de longe.”

O inquisidor franze as espessas sobrancelhas e ordena: prenda-o!

Ignoro quem és e nem quero sabê-lo: és Tu ou somente a Sua aparência? Mas amanhã hei-de condenar-Te e serás queimado como o pior dos heréticos e o mesmo povo que hoje Te beijava os pés se precipitará amanhã, a um sinal meu, para deitar lenha na fogueira.

O Inquisidor reconheceu que era Cristo, mesmo assim, ou talvez por isso, decidiu condená-lo a fogueira. Cristo retornava para espalhar a liberdade e amor entre os homens. O inquisidor alertou-O, sem o medo, eles irão tentar construir uma nova babel.

Esse era o risco. O homem odeia a liberdade. Porque não há para o homem que ficou livre cuidado mais constante e mais doloroso do que o de procurar um ser diante do qual se incline.

Os povos forjaram deuses e desafiaram-se uns aos outros:

"Abandona os vossos deuses, adorai os nossos; senão, ai de vós e dos vossos deuses!" E será assim até o fim do mundo, mesmo quando já os deuses tiverem desaparecido; prostrar-se-ão diante dos ídolos.”

“O homem prefere a paz, e até a morte, à liberdade de discernir o Bem e o Mal? Nada há de mais sedutor para o homem do que o livre arbítrio, mas nada há também de mais doloroso.” Na pós-modernidade, o homem deixou de ter importância.

“Há três forças, as únicas que podem subjugar para sempre a consciência destes fracos revoltados: são o milagre, o mistério, a autoridade!”

Para entender o vazio, a falta de sentido da vida na pós-modernidade, para entender o desespero quando se descobre que os homens mataram Deus. E agora? Com Deus, tínhamos um norte, uma narrativa, um sentido para a vida.

O Ser humano precisa de orientação. Quem irá nos oprimir e proteger? A ciência, uma utopia humanista, ou o retorno ao sagrado? O homem busca o milagre!

Trocamos as narrativas pelos dados. A informação não produz significados relevantes para a vida, são efêmeras. Vivemos com pressa, voltados para a ação, para o desempenho. Precisamos de narrativas contemplativas, encantadas, criada em volta da fogueira.

É preciso imaginar Sísifo feliz!

Ao final da fábula acima, o Inquisidor libera Cristo: "ide e não voltes mais."

Antonio Samarone – médico sanitarista.

segunda-feira, 15 de julho de 2024

TRATAMENTO DE CHOQUE

Tratamento de Choque!
(por Antonio Samarone)

A psiquiatria é recente em Sergipe. Somente em fevereiro de 1941, os 45 doentes mentais deixaram as dependências da Penitenciária Modelo, onde até então estavam enclausurados, e foram transferidos para o Hospital Colonia Eronides de Carvalho.

Em outras palavras, somente a partir de 1941, é que as pessoas com doença mental em Sergipe, passaram a receber assistência médica, pois até essa data, eram trancafiados na penitenciária, com os criminosos.

O fato gerou um grande acontecimento em Aracaju, a população saiu às ruas para acompanhar extasiada a novidade. Os doidos foram fotografados, para assinalar esse fato histórico.

O primeiro hospital psiquiátrico em Sergipe, estava localizado no Povoado Sobrado, possuia 102 leitos, com dois pavilhões para os calmos e dois para os agitados (masculino e feminino).

Foi pensado como um hospital moderno, sob a direção do Dr. Luiz da Rocha Cerqueira, discípulo de Ulysses Pernambucano de Melo, da famosa escola psiquiátrica do Recife.

Conta-se, que no dia da inauguração, para se comprovar o moderno uso da laborterapia, um tipo de terapia por meio do trabalho, os malucos foram orientados a desfilarem empurrando um carrinho de mão, para simbolizar o novo método terapêutico.

Na hora combinada, os malucos, em protesto, saíram pelo pátio empurrando os carrinhos de mão com as caçambas emborcados, voltadas para baixo. O Governado se surpreendeu e perguntou: por que vocês emborcaram os carrinhos? Eles responderam: para evitar que alguém botasse pedra ou areia para a gente carregar.

A moderna laborterapia começo mal, na Colonia Eronides Carvalho. Os pacientes podiam até ser doidos, mas eram inteligentes.

O Jornal Correio de Aracaju, edição de 23 de fevereiro de 1943, divulgou com grande ênfase uma carta do Dr. Garcia Moreno, então Diretor da Colônia de Psicopatas, anunciando importantes incorporações tecnológicas da psiquiatria sergipana:

“Comunico que desde outubro de 1942 o nosso Hospital Colônia de Psicopatas inclui em seus trabalhos rotineiro, ao lado da aplicação mais antiga dos métodos de Sakel e Meduna (insulina e cardiazol), a convulsoterapia de Cerletti e Bini”.

“Possuímos um aparelho de eletrochoque terapia fabricado pela Offener Electronies, dos Estados Unidos, do tipo mais moderno e portador das mais recentes inovações técnicas, de notáveis vantagens práticas (máquina de curar louco). Custou ao Governo Estado perto de treze mil cruzeiros e chegou a Aracaju por via aérea, o aparelho pesa menos de oito quilos”.

“Quase quarenta pacientes já foram, entre nós, submetido ao método de Cerletti, num total de crises convulsivas que andam perto de novecentas”.

“Aqui, como em outras partes, duas a três aplicações semanais de uma corrente elétrica de 450 miliampere, durante 0,2 segundos através do cérebro, tem em pouco mais de um mês reconduzido a vida psíquica normal homens e mulheres”.

Como se vê, a psiquiatria não era mais uma especialidade médica de literatos e filósofos.

O Censo do IBGE de 1950, encontrou atuando em Sergipe: 85 médicos, sendo uma mulher; 86 dentistas, sendo 13 mulheres; 123 enfermeiras e auxiliares, 45 parteiras e 7 veterinários.

A Colonia foi uma construção mal feita. Em pouco tempo, as paredes racharam e o piso afundou. Os pacientes foram transferidos para o Adauto Botelho. Aí já é outra história;

Antonio Samarone – médico sanitarista.
 

sábado, 13 de julho de 2024

A CIDADE DOS MILAGRES

A Cidade dos Milagres.
(por Antonio Samarone).

No próximo ano (2025), a Paróquia de Santo Antonio e Almas de Itabaiana completa 350 anos. São três séculos e meio de religiosidade, típica de uma sociedade rural. Depois de São Cristóvão, foi a segunda paróquia de Sergipe.

O arquétipo religioso se manifesta nas profundezas da vida social. A crença no sobrenatural, na transcendência, na graça e no milagre são realidades em Itabaiana.

Claro, na atualidade mercantil, a presença religiosa não é a mesma. Os valores profanos, acompanham as sociedades de mercado. Nos últimos 70 anos, Itabaiana foi bem sucedida na esfera econômica, se transformou no principal polo de desenvolvimento de Sergipe.
A religiosidade refugiou-se no coração.

Fui prescrutar o Censo do IBGE, de 1950, sobre a religiosidade em Itabaiana, na primeira metade do século XX. Itabaiana possuía 35.987 habitantes. Viviam na Zona Urbana menos de 5 mil pessoas. A imensa maioria vivia no campo, na Zona Rural.

No Censo de 1950, quase todos itabaianenses se declararam católicos. Com a modesta exceção de: 85 evangélicos, 5 espiritas, 17 ateus, 26 de outras religiões e 59 que não declararam a religião. Somando a dissidência, apenas 192 pessoas se declararam não católicos.

Não há dúvidas, os números são evidentes. Até a metade do século XX, Itabaiana era mais católica que Roma. Tudo em Itabaiana passava pela igreja. Da cultura à política.

O padre Eraldo vestia a camisa da UDN, de Euclides Paes Mendonça. O padre Arthur era oposição. No começo do século, houve mortes na porta das trezenas, por conta das paixões políticas.

Não sei os atuais resultados da religiosidade em Itabaiana, no último Censo, de 2022. Entretanto, tenho a impressão que essas raízes centenárias estão vivas.

Os milagres continuam acontecendo. Não me peçam provas materiais, os milagres pertencem à metafísica.

No próximo 04 de agosto, teremos uma nova peregrinação de Santa Dulce. Da Maternidade São José, local do primeiro milagre da Santa, até a Ermida, no pé da Serra de Itabaiana. Ao lado do Parque dos Falcões. São 13 km, de caminhada. Movida pela fé.

Essa fé coletiva invade até mesmo os ateus e os hereges, aqueles convictos que a consciência humana é uma propriedade físico-química da matéria. Não importa: a energia é contagiante.

“Sem a liberdade de criticar, o elogio não vale nada”. (Esqueci a autoria)

Antonio Samarone (médico sanitarista)
 

quinta-feira, 11 de julho de 2024

NA SOMBRA DA JAQUEIRA


 Na Sombra da Jaqueira.
(Por Antonio Samarone)

Fico triste, com derrubada das Jaqueiras seculares de Sergipe, para se fazer mesas e tamboretes. Eu mesmo, tenho um pilão e meia dúzia de mesas de jaqueira. Já me arrependi, se pudesse, plantaria o pilão de volta.

Virou moda! A madeira é bonita, resistente, rústica, e tem um preço mais ou menos.

Como compensação ambiental pelo pilão, eu plantei e estou aguando três Jaqueiras.

Procurei saber se não existia lei, decreto, portaria, ou alguma resolução desses órgãos ambientais, que regulamentasse o corte indiscriminado das Jaqueiras. Me disseram que não.

A lei no Brasil protege quase todos os viventes: Gafanhoto, Lava cu, Caranguejo, Sapo Cururu, Pau Brasil, Sucupira, Catingueira e Jurema, tudo, menos as Jaqueiras.

Meu tio Homero, das Flechas, me ensinou que as jaqueiras precisam de solo de boa qualidade. Tenho isso como verdade, até hoje. Quando vejo uma jaqueira frondosa, carregada de jacas, sentencio: essa terra é boa.

Uma jaqueira secular, dessas da foto (uma raiz), vale um bom dinheiro. O dono do sítio não tem como resistir. Vende na hora. Não existe reflorestamento com jaqueiras. O que se derruba sem replantar, tende a extinção.

Nesse batido, em pouco tempo estaremos importando Jaca da China.

Um amigo de infância, hoje empresário no ramo de padaria, nos bons tempos, comia uma jaca das moles, em pé. Levantava uma perna, com o pé encostado na parede, apoiava a jaca na coxa e, em menos de 20 minutos, só restava um monte de caroços, a casca e o bagaço. O bago da jaca mole entrava por um lado da boca e o caroço era expelido pelo outro. Uma máquina de comer jaca.

Da jaca, tudo se aproveita, do caroço ao visgo. Existe uma lenda que as mesas de jaqueira aguentam sol e chuva, até maresia. É só lenda!

O título, “Na Sombra da Jaqueira”, foi uma lembrança do maior sucesso de Josa, o Vaqueiro do Sertão.

Quem tiver como e puder: vamos plantar novas jaqueiras!

Antonio Samarone. Médico sanitarista.

terça-feira, 9 de julho de 2024

UMA FESTA PRESENCIAL


 Uma Festa presencial.
(por Antonio Samarone)

No feriadão, saí um pouco da vida virtual das redes e organizamos, aqui em casa, um sarau com os amigos. O que se conhecia antigamente, por festinha familiar.

Uma festa à moda antiga!

Muitos perguntaram, vamos festejar o quê? Eu respondia: a Vida! Somos sobreviventes. O tempo é curto e passa rápido. Lembrei-me do célebre aforismo de Hipócrates: "Ars longa, vita brevis".

Um bom papo, música ao vivo, bebidas regradas, iguarias domesticas e calor humano. Obrigado, aos que aceitaram o convite.

A banda foi um show a parte: Valério, voz e violão, a voz de Camila, Elifas no bandolim, Felipe no violino e Álvaro no cajón.

Com destaque para o bandolim de Elifas.

Elifas é famoso como luthier. Contudo, o que mais me encanta é o seu talento musical. Ele, em sua simplicidade, contamina o ambiente com o esplendor dos grandes concertos. Boa música e simpatia.

Com a velhice, os amigos vão desaparecendo, inclusive os velhos amigos. Até mesmo os de infância. Pessoalmente, eu não tenho queixas. A festinha recebeu uma parte deles. Obrigado a todos.

Confesso que a grande anfitriã é Betânia, minha esposa. Eu sou coadjuvante.

Antonio Samarone. Um boêmio sazonal.

domingo, 7 de julho de 2024

ALEGRAI-VOS, SERGIPANOS. 08 DE MARÇO.


 Alegrai-vos, Sergipanos. 08 de julho.
(por Antonio Samarone)

Celebramos a independência de Sergipe, da tutela da Bahia. O hino, classifica-o como um áureo e jucundo dia, que a Sergipe, honra e decora.

Será?

O hino de Sergipe, ouvi dizer, que o Frei plagiou uma música de Rossini, e a letra, de Manoel Joaquim, é de uma absoluta falta de inspiração. Cada dia mais esquecido.

A independência de Sergipe foi um mimo de gratidão de D. João VI, pela colaboração de Sergipe, no esmagamento da Insurreição Pernambucana de 1917.

Isso nos honra e decora?

Burlamaqui, nomeado para administrar Sergipe, só chegou em fevereiro de 1821. A conjuntura já era outra. A Bahia anulou o Decreto, prendeu Burlamaqui e nomeou para governar Sergipe, o obscuro Pedro Vieira de Melo.

Nada feito!

Entre 01º de outubro de 1921 e 05 de março de 1824, Sergipe foi governado por uma Junta, presidida por José Mateus da Graça Leite Sampaio, de Itabaiana.

Até onde eu entendi, a autonomia da Província de Sergipe, só ocorreu mesmo com a posse, do presidente Manoel Fernandes da Silveira, em 05 de março de 1824.

Quando a Bahia sentiu que não tinha mais jeito, tratou de surrupiar boa parte do território da antiga Capitania de Sergipe d” El Rey. Sobrou esse pedacinho, 21 mil km², que somos nós.

Existia uma polêmica histórica, se a data da independência de Sergipe era 08 de julho, ou 24 de outubro. Uma história cumprida. A dúvida foi resolvida com um jeitinho, transformaram o 24 de outubro, em dia da sergipanidade.

Contudo, o hino de Sergipe manda que devemos festejar, festejar e festejar o 8 de julho.

Não sei se o Poder Público fará alguma comemoração no feriado. Entrega de medalhas, hasteamento das bandeiras (Brasil e Sergipe) e, se ainda sabem, cantar o hino de Sergipe.

Quem souber, me avise.

Viva a independência de Sergipe e a sergipanidade!

Antonio Samarone. Médico sanitarista.

sábado, 6 de julho de 2024

SERGIPE PROFUNDO


 Sergipe Profundo.
(por Antonio Samarone)

Dona Artêmia Santiago, 82 anos, povoado Pariporé, mantendo a tradição dos Tupinambás, com o seu delicioso Aratu defumado na Palha. O melhor do Nordeste.

Ela, apreendeu com a avó.

O Aratu vai ao fogo três vezes: primeiro, para o minucioso processo de catação. Depois, o catado volta ao fogo, para um bem temperado refogado. Para os apressados, poderia ser servido. Porém, Dona Artêmia envolve o refogado em palha de Oroba, outra palha não serve, e leva-o ao forno a lenha, para defumá-lo.

Uma pena que Sergipe ignore a sua culinária ancestral.

Os turistas, sairiam falando maravilhas.

Antonio Samarone – médico sanitarista.

sexta-feira, 5 de julho de 2024

GOLPES DO DESTINO


 Golpes do Destino.
(por Antonio Samarone)

Não acho que a vida seja um vale de lagrimas, muito menos um paraíso hedonista. Tem de tudo! Em doses desiguais. Cada um não recebe o que merece, nem colhe o que planta. Prevalece a ilusão.

Antes, o sofrimento era parte da redenção. Hoje, perdeu o sentido.

A felicidade depende de que haja uma verdade indiscutível. A pós-modernidade sepultou a verdade, extinguiu as referências. Um aluno, no primeiro dia de aula, já contesta o professor, mesmo sendo um catedrático, às vésperas da aposentadoria.

No judaísmo, a aspiração suprema é o Sabá, sendo a eternidade e o repouso. Deus fez o mundo em seis dias, no sétimo descansou. O descanso sabático.

O velho Freud dizia que a Natureza não tem compromissos com a felicidade humana. Na verdade, a ideia de que a felicidade é um direito, que todos podem alcançá-la, é geradora de revoltas e decepções.

Os infelizes não suportam a exclusão. A inveja é filha dessa frustração. Se exagera a suposta felicidade dos outros. Dessa ilusão, nasce o ressentimento e a inveja. Os escolhidos são poucos!

O capitalismo, sagazmente, condicionou a felicidade ao consumo, sem colocar limites. O que impede a sua realização. A capacidade de consumo é sempre limitada.

No paganismo, existe a deusa fortuna (Tyche, sorte), que distribui a sua proteção de forma aleatória e efêmera. A deusa Fortuna não presta contas. O cristianismo criou a graça, distribuída por merecimentos desconhecidos. A ciência criou a causa objetiva, as coisas chegam para quem está preparado para recebê-las. Para quem faz por onde.

Essa ilusão cientifica, leva aos precavidos realizarem check-ups periódicos, para evitar doenças inesperadas. A saúde não depende da sorte, mas dos cuidados prévios, pensam eles.

Aliás, antecipar o futuro com ciganas, cartomantes, adivinhos, pitonisas, profetas, ninfas e, agora com os médicos, é um sonho antigo do homem.

O futuro agora é com a ciência. Entretanto, nada disso é evidente, exceto em situações especificas. A sorte parece ter os seus caprichos, não obedece às circunstâncias e aos planos.

Mais cedo, ou mais tarde, receberemos os golpes do destino (Moros).

Antonio Samarone. (médico sanitarista)

quinta-feira, 4 de julho de 2024

SÓ A ANTROPOFAGIA NOS UNE


 Só a Antropofagia nos une!
(por Antonio Samarone)

As doenças contagiosas, em sua forma pestilencial, emergem com o advento da vida sedentária, promovida pelo início da agricultura e da domesticação de animais (cerca de 10 mil anos).

As grandes epidemias (Pestes), manifestam-se em momentos de desestruturação da vida social e de crises do modo de vida. As Pestes são fenômenos históricos.

O fim da Idade Média, foi apressado pela Peste Negra do final do Século XIV, na Europa. A Peste foi tida como um castigo divino, pelo desregramento da vida social. Foi seguida da revolta dos camponeses e da crise do feudalismo.

A Gripe Espanhola de 1917, foi um sinal que a crise do liberalismo europeu, que gerou a Primeira Guerra, não estava resolvida. A Segunda Guerra estava em marcha.

O alerta da Peste de Covid-19 sobre a crise ambiental e o esgotamento do capitalismo financeiro, fortalecido pelo neoliberalismo, foi o prenúncio da atual crise, onde os fatos demonstram quem estamos à beira da Terceira Guerra, dessa vez nuclear.

Será o Armageddon?

Tenho lido com atenção sobre a Teologia do Domínio, dos neopentecostais. Não tenho como conceituá-la aqui e mostrar as suas origens nesse espaço. Não sei avaliar, se caminhamos para esse fascismo teocrático. Mas faz muito sentido.

A provável eleição de Trump, aponta na mesma direção. A América Latina caminha para ser um grande El Salvador?

A Guerra entre OTAN (Império (USA) e Europa) e o mundo multipolar (Rússia e China), não haverá vencedores. E o nosso maltratado Brasil, onde entra?

Não haverá essa Guerra, é só uma crise conjuntural, dizem os otimistas. Não é! A guerra já começou. Só que o campo de baralha é geral, econômico, tecnológico, midiático e cultural.

O enfrentamento militar direto, declarado, está em andamento. Velozmente!

Não existem soluções diplomáticas para os conflitos da Ucrânia, Oriente Médio e Taiwan.

O Brasil será disputado compulsivamente, pelo seu papel geopolítico.

Nada unifica o Brasil! O nosso arquétipo antropofágico é uma herança ancestral. Foi um engano de Oswald de Andrade, em seu manifesto, vê-lo como um arquétipo de salvação. É um sinal de perdição.

Nada nos une, nem temos a tradição de guerra civil. Aqui, os de baixo sempre foram tratados a pauladas. As revoltas populares foram todas massacradas. Nesse sentido, nada mudou.

Eu sei, ele está falando simbolicamente. Eu também!

Não será o fim do Homo sapiens, muito menos da Terra. Sobrarão alguns. Mas haverá uma baixa significativa. Quero estar entre os embarcados, na Nova Arca de Noé, para ajudar na reconstrução.

A sentença do Beato Conselheiro vai ser cumprida: primeiro acabamos pelo dilúvio, dessa vez será pelo fogo radiativo.

Antonio Samarone (médico sanitarista).