terça-feira, 4 de junho de 2024

O PANDELÓ DE DONA GRAÇA


 O Pandeló de Dona Graça.
(Por Antonio Samarone)

Não havia dúvidas: o pão-de-ló de Dona Graça era o melhor de Itabaiana.

O pandeló é um bolo feito com farinha-do-reino, açúcar e ovos batidos, assado no forno, numa lata. Usado em sobremesas e em dietas de convalescente e valetudinários. Um bolo tradicional de doentes e famílias enlutadas.

Um bolo inocente, fofo e corado, que não faz mal a ninguém. O pandeló era o bolo dos enforcados. O bolo, coberto com um lenço de seda preta, já foi presente de pêsames. Muito consumido em velórios.

Pão de ló é um bolo que não rende, não é comida de pobre. Ló significa um tecido muito fino, fofo e brando.

Conta a lenda, que Seu Rosendo, marido de Dona Graça, já idoso, padecia de uma doença incurável. Mais dia, menos dia, passaria dessa para uma melhor. Bateria as botas.

Numa véspera de São João, logo cedo, Seu Rosendo acordou piorado e dona Graça começou a assar uma porção de pandeló. O cheiro invadiu a casa e a vizinhança. Era um cheiro conhecido de Rosendo. A água na boca jorrava.

Rosendo, num esforço de moribundo, apelou: ”Graça, quando tiver pronto, me traga uma fatia desse pandeló.”

Graça que não tinha papa na língua, respondeu: era bom, Rosendo, e o que eu dou ao povo, a noite, na hora velório. Seu Rosendo se conformou, não queria que em seu velório, não se tivesse nada a oferecer.

Em Itabaiana, hoje, o pão-de-ló é o bolachão de João Patola.

Antonio Samarone – médico sanitarista.

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