terça-feira, 25 de junho de 2024

O ASSASSINATO DO SUS.

O Assassinato do SUS.
(por Antonio Samarone)

A reforma sanitária brasileira permitiu um sonho: “A assistência integral à Saúde, universal e gratuita” – prevista constitucionalmente. Criamos o SUS. Após uma longa caminhada, tropeços, resistências, boicotes, o SUS agoniza.

O que está matando o SUS?

O sub financiamento, agravado pela destinação inadequado dos recursos, pelo inversão de prioridades, pela ausência de regulação e por uma gestão caótica. Parte das emendas parlamentares obrigatórias, saem do orçamento do Ministério da Saúde.

Se não bastasse, o Ministro Haddad quer revogar os mínimos constitucionais da saúde e da educação, para acalmar o mercado.

As carências do SUS são agravadas pelo envelhecimento da população, custos crescentes das tecnologias, supremacia das doenças crônica e explosão das doenças mentais.

O uso dos medicamentos não tem relação com as necessidades de saúde. Se consome o que a indústria produz e quer vender. Muitas vezes, de forma iatrogênica. Várias pesquisas confirmam.

A hegemonia absoluta da lógica de mercado. O fim da Saúde Pública.

Na assistência privada, a liberdade dos Planos de Saúde é ilimitada. Cobrem 30% da população, com serviços regulados pelo lucro. Sem referências a realidade epidemiológica. A judicialização tornou-se rotina.

O fim da Saúde Pública, das ações coletivas, da atenção integral. O modelo assistencial do SUS, tornou-se uma cópia precária do modelo da medicina de mercado.

A baixa cobertura e a falta de resolutividade da atenção primária, sobrecarregam as urgências e os hospitais, limitam o acesso à atenção especializada, aos exames e aos procedimentos cirúrgicos. A carência é desumana.

Para complicar, a formação dos profissionais de saúde passou a obedecer exclusivamente à lógica do mercado, sem controle, cada um buscando o seu nicho de atuação. A famosa liberdade econômica. O Brasil possui três vezes mais faculdades de medicina que os Estados Unidos.

As bases da crise são a inadequação da assistência às necessidades de saúde e os custos elevados das tecnologias dominantes. A rede de saúde (pública e privada) oferece serviços em dissonância com as necessidades reais de saúde da população.

Um exemplo simples: a obesidade é um grande problema de saúde pública, nada é feito para a prevenção, esperam-se as consequências, e monta-se uma rede para atender as vítimas do problema. Pelo menos, para atender aos que possam pagar. A quem interessa esse modelo?

Fico à vontade para fazer esse diagnóstico, pois sou formado numa especialidade extinta: médico sanitarista. Com o fim da Saúde Pública, os seus especialistas tornaram-se ociosos.

Numa conversa de mesa de bar, na famosa feira do Augusto Franco, um jovem médico me insultou: “O que fazia um sanitarista em seu tempo, perguntou-me o recém-formado.”

A resposta era longa e não senti nele a vontade de escutar. A pergunta foi apenas uma provocação. Limitei-me a um exemplo: mais ou menos, o que Almir Santana continua fazendo.

“Hum, entendi!” Ironizou o jovem facultativo, com num riso no canto da boca, deixando a entender que achava aquilo uma perda de tempo. Pensei em silêncio: que Deus proteja os pacientes desse doutor.

Precisava contar essa história!

Antonio Samarone – médico sanitarista.
 

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