quinta-feira, 13 de junho de 2024

A FÉ EM ANTONIO


 A fé em Antonio.
(por Antonio Samarone)

“O homem é naturalmente religioso”. Carl Jung.

Em Itabaiana existem três unanimidades: Santo Antonio, os caminhoneiros e a Associação Olímpica. O arquétipo do milagre está no inconsciente coletivo.

O Santo padroeiro é um demiurgo! “Vocatus atque non vocatus, Deus aderit.” Invocado ou não, Deus estará presente. Inscrição na porta da casa de Jung, em Kusnacht.

Os caminhoneiros trouxeram o capitalismo mercantil. Tiraram Itabaiana dos cem anos de solidão. Eles tomaram Santo Antonio por padroeiro, e passaram a festejar juntos. Uma parte da festa, pagã: músicas, danças e negócios. Outra religiosa: trezenas, rezas e procissões. No fundo, tudo junto e misturado.

Hoje é a procissão (13 de junho), a maior de Sergipe. Vai os devotos e os não devotos. Os penitentes e os renitentes. Até os hereges. Oviedo Teixeira nunca perdeu. Nem eu!

As trezenas são outras. O pároco deixou de ordenar: “fogo Capitulino”! E os meninos danavam-se a se proteger, com medo das flechadas. Também acabaram as bandas de pífano, os oratórios, as promessas para casar. Em Itabaiana, Santo Antonio é maior que São João, sempre foi.

Mamãe, uma devota, fez uma promessa: se o primeiro filho for homem, será Antonio. Eu sou fruto dessa promessa. Aliás, eu e Fernando Pessoa. Isso mesmo, o Poeta.

Nas festas de Santo Antonio, existia o pão dos pobres. Hoje é a bolsa família. As promessas eram pagas na procissão: acompanhar descalço, vestir-se de franciscano, carregar uma pedra na cabeça. Essa crença continua, o que significa que os milagres continuam ocorrendo.

Quem quiser que não acredite. Como canta Caetano: “Quem é ateu e viu milagres como eu/ Sabe que os deuses sem Deus/ Não cessam de brotar.”

Hoje, em Itabaiana, os milagres ganharam uma nova demiurga, uma devota de Santo Antonio: Santa Dulce dos Pobres.

O andor de Santo Antonio está em preparação desde maio. São dezenas de artistas, coordenados por um gênio da decoração, Val de Euclides Barraca. Há mais de 40 anos. O povo fica à espera, desde o meio-dia. Todas às vezes, quando o Santo aparece, seguido pelos dobrados da Filarmônica, o povo se espanta pela beleza. O andor, é um carro alegórico sagrado.

As procissões em Itabaiana são puxadas pela Irmandade das Santas Almas do Purgatório, desde 1665. A Irmandade Vive! São os Irmãos das Almas, com os seus sobretudos verdes, presididos por Zé Bigodinho.

O segredo é conseguir uma flor do andor. Todos querem. E os coroinhas a vigiar: deixem para o final, deixem para o final.

Com ou sem chuva, daqui a pouco eu parto para louvar o Glorioso Antonio, e entoar o mesmo canto, desde menino. “Glorioso Antonio, nosso padroeiro, enchei de alegria o Brasil inteiro.”

O Brasil precisa!

Antonio Samarone. Secretário de Cultura, de Itabaiana.

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