domingo, 30 de junho de 2024

A MELHOR IDADE


 A melhor idade?
(por Antonio Samarone)

“Para conhecermos os amigos é necessário passar pelo sucesso e pela desgraça.” Confúcio.

Não se sabe onde se chega. Qualquer avaliação previa é precipitada. Romeu está morrendo de favores. Eu explico!

Viver de favores é relativamente frequente. Entretanto, morrer de favores, não ter onde cair morto, é bem mais raro.

Romeu foi um grande causídico de pequenas causas, com trânsito fácil nas delegacias. O seu escritório, na Praça da Feira, era lotado. Um advogado generalista: causas cíveis e criminais. Foi, por 40 anos, o protetor da pobreza injustiçada.

Quase não cobrava, misturava a filantropia, com favores a amigos políticos. Os Vereadores Ventinha, Xeleleu e Deixa que Eu Chuto abusavam da boa vontade do doutor.

O Dr. Romeu, nunca casou. É um borboletão assumido.

Não vamos exagerar, Romeu não enricou com o Direito, mas vivia folgado. Tinha uma meia dúzia de casas, quartos de vilas, pontos comerciais. Tudo alugado. Ele gostava de carros velhos.

A idade vai chegando, as atividades profissionais diminuindo e os amigos desaparecendo. A vida social chega ao fim. O idoso carrega a vida nas costas, penosamente.

Romeu nunca pagou a previdência e não pôde se aposentar, nem receber o Benefício de Prestação Continuada – BPC, previsto na Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS, porque tinha a renda dos aluguéis.

Que aluguéis? Os inquilinos deixaram de pagar a muito tempo.

Como quase sempre acontece, aos 82 anos, Romeu apresenta um quadro de Alzheimer, de evolução rápida. Não se reconhece, ao olhar no espelho.

Hoje, vive em condições análogas aos mendigos.

Pela misericórdia de Deus, existe uma Casa de Acolhimento Santa Dulce por perto, onde ele pode morrer, aos cuidados dos favores da caridade.

Romeu não se lembra dos amigos, por conta da demência; nem os amigos lembram-se dele, por conta da natureza humana.

Casos semelhantes serão cada vez mais frequentes, por conta da virada demográfica, com o envelhecimento acelerado da população. O Brasil está envelhecendo pobre, desigual e sem uma assistência pública aos idosos.

A assistência familiar nem sempre é possível. As casas de caridade serão o caminho de muitos.

Antonio Samarone. Médico sanitarista.

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