terça-feira, 11 de junho de 2024

A ARTE DE CURAR

A arte de curar.
(por Antonio Samarone)

O velho médico tisiologista, Alfredo Barreto, músico e poeta, amante das artes e da filosofia, está querendo saber sobre a Inteligência artificial. “Que diabo é isso”?

O doutor Alfredo é filho do iluminismo e um crente apaixonado pela ciência. Sempre acreditou nas promessas do modernismo. Em sua longa e bem sucedida carreira de médico, viu a ciência substituir os cirurgiões por robôs, o genoma ser decifrado, os bebês de proveta, crianças clonadas, os laboratórios passarem a produzir mosquitos, vírus, vacinas de RNA, e outras presepadas.

Alfredo viu a ciência descobrir a cura da tuberculose, e extinguir a sua especialidade. Dois anos perdidos, estudando a peste branca, em Manguinhos.

O Dr. Alfredo Barreto (quase 90 anos), está em dúvidas sobre a tendência da inteligência artificial substituir a clínica. Não entra na cabeça dele.

O doutor Alfredo fundamentou:

“O pensamento é analógica e afetivo (a comoção é anterior aos conceitos). O pensamento escuta as contradições, compara, erra e conserta, tem dúvidas.”

“A inteligência artificial calcula. Ela é surda, apática e sem paixão. Impossível! Como a inteligência vai acolher os pacientes ou aliviar os sofrimentos.”

“O Big Data estabelece correlações. Tudo se torna calculável. Uma forma primitiva de saber. O pensamento humano vai além de resolver problemas, ele clareia e ilumina o mundo.”

“O risco não é da inteligência artificial suplantar o pensamento humano, são coisas distintas. O risco é inverso, a inteligência humana ser rebaixada ao nível da IA.”

Resolvi polemizar.

Professor, a inteligência artificial avança ruidosamente sobre o trabalho médico. A relação dos médicos deixou de ser com os doentes (médico/paciente). A relação atual é com as doenças.

A chamada desumanização é essa mudança: da relação médico/
paciente, para a relação médico/doenças.

Não tenha dúvidas, Dr. Alfredo, na medicina de mercado, a inteligência artificial saberá calcular a melhor conduta, e indicará com rapidez e precisão, o procedimento de menor custo.

Os doutores da medicina mercantil precisam de “evidências”, e a inteligência artificial não tem dúvidas. A IA é inteligente demais para perder tempo.

O mestre Alfredo Barreto, retrucou com a voz firme: “As doenças são cheias de malícias e caprichos. Não tome como pretensão, mas lembrei-me de Hipócrates. “A vida é breve, a arte é longa e a ocasião fugidia.”

Que se dane a inteligência artificial!

Antonio Samarone – médico sanitarista.
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário