O poeta Silveirinha.
(por Antonio Samarone)
Silveirinha envelheceu sem domar o Ego. Bem-sucedido financeiramente, famoso, sempre alojado em cargos públicos. O poder é uma cilada do Satanás.
Mesmo com tudo a favor, Silveirinha não é feliz. Perdeu os amigos, a verve crítica, os sonhos de liberdade, as ilusões e o dom poético. Os bons vinhos, as viagens, a mesa farta, a cannabis selecionada, o conforto do ar-condicionado e o carro do ano não traz a felicidade.
Silveirinha é um Kanallha esclarecido, consegue bons argumentos para qualquer vileza.
Silveirinha era uma promessa poética, esperança de manter a grandeza de Sergipe, “uma terra de muitos poetas e pouca poesia”. A terra de Hermes Fontes. Silveirinha chegou a publicar um livro de poesias. Eu tenho a prova!
O velho Silveirinha desconhece o perdão e a gratidão, necessários a uma velhice suportável. Com os cabelos embranquecidos, continua esperando o reconhecimento literário e a admiração pelo seu talento. Falta-lhe a humildade de Sísifo, descrita por Camus.
Silveirinha teve a ambição prejudicada pela preguiça.
Silveirinha entrou numa enrascada moral. Há anos, rompeu com o próprio filho. Nenhum contato, nem por telefone. O filho é menino rebelde, inteligente, cheio de sonhos e ideias, pensa como o pai quando era jovem. O velho Silveirinha nunca aceitou a liberdade do filho, e quis impor-lhe rédeas.
Além da genética, herda-se também o caráter. Silveirinha
desconhece a culpa e o remorso.
Silveirinha soube, com um toque de rotina, que a sua próstata está estragada. Sentiu a presença de um caroço endurecido. Perdeu o controle do mijo e outros achaques. Bateu o medo. Começou a inculcar: “e se for aquilo, que eu nunca chamo pelo nome?”
Silveirinha teme o fim de Ivan Ilitch, personagem de um conhecido conto de Tolstói, e não quer morrer brigado com o filho. Silveirinha, depois de tudo, quer a paz. O filho aceita.
Chegou-se a um dilema: o filho exige que o pai peça perdão por anos de abandono. Silveirinha não um é homem de perdões, exige que o filho reconheça os erros, e peça desculpas.
Os dois estão com os corações despedaçados, querem o reencontro e estão impedidos pela vaidade.
Sei que os leitores mais sofisticados estão achando um drama de novela mexicana. Só que a vida é mais simples que a boa literatura de Proust e Balzac.
Sou solidário ao sofrimento de Silveirinha e disposto a ajudá-lo.
“A raça humana exagera em tudo: seus heróis, seus inimigos, sua importância.” – Bukowski.
Antonio Samarone (médico sanitarista)
sexta-feira, 10 de março de 2023
O POETA SILVEIRINHA
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