A marcha da estupidez...
(por Antonio Samarone)
Ingressei, por concurso, na Universidade Federal de Sergipe no longínquo 1985. Estou com 68 anos de idade e 38 de serviços prestados. Resolvi me aposentar. A idade me trouxe uma impaciência metafísica, inadequada ao exercício do magistério.
Só que, a minha pretensão de exercer um direito é vista pela UFS como uma regalia, uma benesse, um favor. A burocracia da Universidade vem me fazendo exigências grotescas, e essa via crucis vem se arrastando.
Exige uma declaração de bens, suspeitando que eu deva ter enriquecido como professor. A minha declaração de bens é prestada anualmente, durante a declaração do Imposto de renda.
Só que a UFS quer também a cópia da minha declaração de imposto de renda, onde já se encontra a declaração de bens, e com recibo.
A UFS quer uma comprovação de minha contribuição previdenciária. Como assim? A previdência é descontada em contracheque, pela própria Universidade.
A averbação é necessária quando se precisa juntar o tempo de contribuição de outros empregadores. No caso, são 38 anos de contribuição da própria UFS.
Basta a UFS comprovar que depositou a minha contribuição no INSS, que a exigência de tempo de contribuição será atendida.
Não para por aí. A UFS exige a cópia do meu último contracheque, se são eles mesmo que fornecem. A burocracia exige que eu vá na sala ao lado, pedir o contracheque.
Não imaginem que eu estou exagerando.
A UFS que uma prova que eu nasci, exige a minha certidão de nascimento autenticada. Só faltaram me pedir uma prova da minha existência, que eu não saberia como comprovar.
A UFS também quer uma certidão da Comissão Permanente de Processo Administrativo Disciplinar que não tenho pendências com a própria UFS. Gente, eles não têm acesso a uma informação que eles produzem?
A UFS quer um comprovante que eu não acumulo cargos públicos indevidamente. Como assim, depois de 38 anos de serviço. O poder público vem fiscalizando isso há 30 anos, e eu não fui identificado em nenhuma checagem. Não existem indícios de acumulo irregular. Na hora da aposentadoria, eu preciso provar que sou inocente?
Para ser mais simples, eu nem sei qual é o órgão que pode fornecer essa certidão de que eu não acumulo sigilosamente cargos indevidos. Se a burocracia sabe, por que não me denunciou?
A zelosa UFS ainda exige cópia da identidade e do CPF, inclusive dos meus dependentes. Não entendi como estou na instituição a 38 anos, e eles não possuem a cópia de minha identidade, nem do meu CPF.
Tudo autenticado em cartório ou no original.
Gente, isso é lei, decreto, portaria, norma interna da UFS? Ou trata-se de uma pegadinha, para azucrinar a minha impaciência metafísica?
Tem mais, isso tudo é exigido com uma narrativa de zelo e defesa da coisa pública.
Desisto de me aposentar!
Sei que muitos vão achar besteira, as exigências são de documentos óbvios, que com paciência se consegue. Besteira! Não é bem assim, a coisa é mais complicada, além de um grande desaforo.
Um exemplo: fui ao INSS pedir uma declaração do meu tempo de contribuição, eles me deram um documento que não consta a contribuição da UFS. Como assim, se a UFS descontou mensalmente, em meu contracheque, durante 38 anos. Descontam até hoje.
A UFS quer que eu me vire para comprovar, que eles mesmos descontaram e depositaram no INSS a minha contribuição previdenciária. Não seria a UFS que deveria comprovar que depositou?
Como eu posso comprovar que a UFS depositou, se o INSS não reconhece oficialmente?
Vou morrer em sala de aula!
Antonio Samarone (médico sanitarista)
sexta-feira, 10 de março de 2023
A MARCHA DA ESTUPIDEZ
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