A morte não pede licença.
(por Antonio Samarone)
A minha amiga, professora Marieta Barbosa, se foi. Cheia de planos e esperanças. A morte a selecionou com um câncer de mama.
“Etimologicamente, paciente quer dizer sofredor. O que mais se teme não é o sofrimento em si, mas o sofrimento degradante.” – Sontag.
Entretanto, por causa da impaciência, fomos expulsos do Paraíso.
Os cânceres são várias e a mesma doença. A multiplicação desordenadas e invasivas das células. É o postulado de Virchow, omni cellula ex cellula”, levado ao extremo.
O que leva a essa rebeldia celular? O câncer é sobretudo uma doença genética.
Na história, os primeiros registros do câncer foram de mama.
Num papiro egípcio de 2.625 a.C, Imhopep descreveu uma massa saliente no peito, que não tinha cura. Heródoto, 440 a.C, registrou o caso de Atossa, rainha persa, filha de Ciro e esposa de Dario, que apareceu com um caroço no peito, uma massa vermelha que sangrava.
“A bile negra, sem ser fervida, causa cânceres.” Galeno – 130 d.C.
Nomear uma doença é descrever uma condição de sofrimento.
Hipócrates denominou um tumor com vasos sanguíneos inchados em sua volta de karkinos. Uma imagem parecida a um caranguejo enterrado na areia. No grego, tumor é onkos, onde nasce a palavra oncologia.
Galeno acreditava que os tumores decorriam da bile negra aprisionada, sem circular. A mesma bile negra, que em excesso, provocava a melancolia. Melancolia e câncer derivavam das alterações da bile negra, o mais enigmático dos humores.
O câncer e a melancolia andam juntos, para a medicina dos humores.
Hipócrates disse num aforismo que não se tratando o câncer, o paciente vive mais. Galeno, achava que a extração de um tumor maligno era inútil, pois a doença era sistêmica, a bile negra fluía pelo corpo, e a doença apareceria em outro galho...
A medicina atual segue o paradigma molecular. O câncer é uma doença do DNA.
A esperança de tratamento não está na cirurgia, radioterapia ou quimioterapia, a meta é controlar os comandos do genes.
A vida continua sendo um evento químico, como pensava Paul Ehrlich, mas um evento controlado pelo DNA, pelos hormônios e pelo cérebro.
Individualmente, levar um padrão higiênico de vida, seguindo todas as normas, tomando todos os cuidados, não garantem que a morte não nos surpreenda.
Antonio Samarone (médico sanitarista)
segunda-feira, 20 de março de 2023
A MORTE NÃO PEDE LICENÇA.
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