domingo, 5 de julho de 2020

UM ISOLAMENTO SOCIAL SEM FIM


Um isolamento social sem fim.
(por Antonio Samarone)
“As Pestes minam permanente, sorrateira e progressivamente a coletividade, corrompem o sangue e o caráter, abatem o organismo e obliteram a inteligência e a consciência.” Belisário Penna – 1918.
Fugi em 17 de março. Estou me escondendo de um vírus. Sou um foragido da morte. O medo atávico dos horrores das Pestes, me empurrou para o confinamento voluntário.
A prevenção da covid-19 deve ser feita pelo distanciamento físico, evitando-se aglomerações. Decretaram o isolamento social, que são coisas distintas, e aceitamos. As autoridades assumiram o arbítrio.
A vida cotidiana passou a ser regrada pelo poder político!
A rotina, o medo e o isolamento social naturalizaram a virtualidade da vida. Perdi a noção histórica do tempo, que está andando muito rápido. A tábua de vida do IBGE me informou que terei mais 18 anos de vida. Tecnicamente, é a expectativa de vida aos 65 anos.
A certeza da finitude está datada, 18 anos.
O que fazer com 18 anos?
Cometemos um erro, por falta de experiencia. Delegamos poderes absolutos as autoridades, para conduzirem a travessia na Peste. Isso não podia dar certo, como não deu.
Renunciamos à liberdade, e ela começa a fazer falta.
O isolamento social começou a mostrar as suas mazelas, e não sabemos como superá-las.
O confinamento teve um ponto positivo: senti pela primeira vez o vazio dos livros. Por que eu comprei tantos livros inúteis, sem novidades, repetitivos? Por puro exibicionismo consumista.
Ressalvando-se uma meia dúzia de clássicos, que concentram a nata do espírito humano, o resto é lixo.
O livro é um caminho fácil para a imortalidade, mesmos relativa, por poucos tempo. Evitando-se que o esquecimento anteceda ao luto. Nem para isso servem.
O que sobrou da biblioteca da Alexandria? Talvez mereça ser reeditado.
Para quem só conta com 18 anos (e olhe lá), é tempo de relê os mesmos livros. Nada de novo!
A medicina já disse tudo o que pensava sobre a prevenção das doenças, no poema: “REGIME SANITATIS SALERNITANUM”, da escola de medicina de Salerno (século IX, d.C.).
Em tempos de cólera, além do distanciamento físico.
“Se quereis conservar-vos incólume e sadio,
evitai os cuidados ansiosos, guardai-vos da ira.
Poupai o vinho, sede parco na ceia; não julgueis inútil
o levantar-vos após a refeição e fugi da sesta ao meio dia.
Reter as urinas ou a defecação seja-vos interdito.
Guardando estes conselhos, longo tempo hei de viver.
Caso vos faltem médicos, três coisas suprirão suas vezes:
hilaridade, repouso e dieta moderada.”
Antonio Samarone (médico sanitarista).

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