sexta-feira, 3 de julho de 2020

A MORTE DE SARDÃO


A Morte de Sardão.
(por Antonio Samarone)
Reginaldo Sardão morreu aos 11 anos, com uma dor abdominal estranha. A medicina não chegou ao diagnóstico. A molecada sabia a causa, mas ninguém dizia. Sardão engoliu a borracha colorida do chiclete bola, e deu nó nas tripas.
Claro, a verdadeira causa da morte de Sardão, a essa altura pouco importa. Morreu do nó nas tripas, por ter engolido chiclete bola mascado.
Sardão era teimoso e gostava de ser do contra. Já existia a fama de que engolir chiclete matava. Sardão discordava. Lourinho de Agripino fez a provocação: “não mata, mas você não engole.” Sardão aceitou o desafio.
Compraram 4 chicletes bola ping-pong, no Bar de João Criano e testaram Sardão. Fizeram aquele coro perverso: Engole! Engole! Engole! E Sardão engoliu.
A gente em Itabaiana, acostumado com as balas de café de Dona Iaiázinha, com o quebra-queixo de Seu Oscar, com a raspadinha de gasosa, a cocada-puxa de Dona Rosita. Trocamos essas delicias pelo chiclete bolas, dos quintos dos infernos.
Na década de 1960, o chicletes bola chegou à Itabaiana. Um quebra-queixo de plástico. Um borracha açucarada que se mastigava por horas, até ficar no ponto de se fazer “bolas de ar”, com sopro e cuspe.
Os riquinhos da praça da Igreja esnobavam fazendo “bolas” de vários tamanhos e formas. A boca ficava cheirando a câmara de ar de pneu de bicicleta, mas era um símbolo da modernidade americana. A moda pegou.
A fábrica de mariola do Beco Novo fechou. Perdeu a clientela.
O chiclete bola, depois de mascado por horas, ainda servia para uma sacanagem. Colocava-se chiclete na cabeça dos outros. Virou uma brincadeira de mau gosto. A chiclete grudava no cabelo, e só saia com a tesoura.
Acho que essa desgraça não existe mais.
Antonio Samarone.

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