Podemos continuar a viver juntos?
(por Antonio Samarone)
(por Antonio Samarone)
O isolamento social foi uma medida de emergência, quando não se sabia como enfrentar a Peste. Visava retardar a curva de crescimento da doença, dando tempo para que se montar uma estrutura assistencial, sobretudo as UTIs.
Se dizia que o isolamento social para ser eficaz deveria alcançar uma cobertura em torno de 70% das pessoas.
No Brasil, essa estratégia enfrentou o desentendimento das autoridades, a realidade econômica e a falta de medidas efetivas para torná-la realidade.
Em Sergipe, o isolamento social foi uma grande simulação. O Poder Público não construiu um plano de enfrentamento da Pandemia. A doença avançou livremente, trazendo sofrimento e desgraça, mortes e invalidez. E eles continuam com a cantilena de que o isolamento social é o único caminho.
O essencial para se evitar a contaminação é o distanciamento físico. O isolamento social em Sergipe não garantiu o fim das aglomerações, nem reduziu a velocidade dos contágios.
O não isolamento dos infectados, que continuam transmitindo livremente, foi o principal fator da disseminação do doença em Sergipe..
O isolamento social não garante o distanciamento físico, nem impede o contágio, se não for acompanhado das medidas de higiene (prevenção).
Suspender as interações sociais por muito tempo, afeta profundamente a vida das pessoas. Se sabe que após o grande confinamento teremos uma epidemia de transtornos mentais, uma explosão das doenças crônicas, que interromperam o seu controle.
Não falo do desemprego, do aumento das desigualdades sociais, do retorno da fome, da falência das empresas porque não sou economista. Não posso aprofundar esse tema.
Falo da qualidade de vida, das interações sociais, da saúde e do bem estar.
Sem uma vacina, para se reduzir o contágio, a Saúde Público conhece as medidas de higiene, de isolamento e de vigilância. Vejamos cada uma.
As medidas de higiene prioritárias são: distanciamento físico, uso adequado de máscaras, lavagem das mãos, uso de álcool em gel e a desinfecção de ambientes contaminados.
Temos o isolamento social (confina todos), o isolamento vertical (confina os grupos de risco) e o isolamento sanitário (confina os infectados).
Nesse momento da Pandemia, o confinamento dos infectados teria mais impacto sobre a transmissão da doença. Não é realizado porque os gestores da Peste são movidos pela politicagem e pelas alternativas fáceis. Não se prepararam.
Por último, as medidas de vigilância, que necessitam da testagem em massa, são o rastreamento, a busca ativa, o bloqueio dos focos de transmissão e o acompanhamento dos comunicantes. Nada disso se faz sem informações.
Nesse momento, o governo anda no escuro.
Estou escrevendo um texto chato, cheios de detalhes, para esclarecer que não estamos contestando o combate a pandemia em Sergipe por razões políticas. Não! O erro é técnico. Vocês estão enganando a população, com a colaboração de parte da imprensa.
O isolamento social não garante o distanciamento físico.
Acompanhei uma explosão de testagens positivas num condomínio de 48 apartamentos, onde as pessoas estão socialmente isoladas. Um profissional de saúde infectado, residente nesse prédio, deixou os rastros do vírus no elevador. Como o elevador é único acesso para todos, a transmissão ocorreu.
Não basta isolamento social, sem as medidas de higiene.
O uso inadequado das máscaras pode funcionar como veículo de transmissão. Muita gente passa dias com a mesma máscara, usa, contamina e leva para casa. Deixa a máscara em cima do sofá para usar no outro dia.
Por fim, precisamos discutir novas formas de convivência social, para sairmos do confinamento em segurança. Como será a vida? Volta tudo ao “normal” e a gente continua se contaminando?
A redução da velocidade da Pandemia vai ocorrer naturalmente, faz parte da história natural das epidemias. Entretanto, não significa o fim do problema. O vírus se tornará endêmico, permanecerá entre nós, sempre ameaçando com surtos ou com uma nova rodada.
Como iremos conviver com essa realidade? Quem vai definir as novas formas de convivência, são os decretos dementes das autoridades? Não! Claro que não.
Não podemos ficar em casa esperando o pior. Como sairemos do grande confinamento em segurança? Defendo o imediato envolvimento da sociedade na discussão.
Como disse o Papa Francisco, “Ninguém se salva sozinho”.
Antonio Samarone (médico sanitarista)
Muito bom!
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