quarta-feira, 10 de maio de 2023

RETRATO TRÊS POR QUATRO


 Retrato três por quatro.
(por Antonio Samarone)

O Imperador Pedro II foi um amante da fotografia, o seu acervo encontra-se no Museu de Petrópolis.

A historiadora Maria Nely Santos, cita a presença do fotografo João Gaston em Aracaju, por volta de 1873. No início do século XX, existia em Itabaiana um estabelecimento fotográfico na Rua das Flores, realizando fotos profissionalmente.

Historicamente, Itabaiana foi a terra da música e da fotografia.

A fotografia é a expressão da realidade em duas dimensões. As imagens são mediações entre o homem e o mundo. Elas possuem um caráter mágico. O sol nasce pelo cantar dos galos ou os galos cantam comemorando o nascer do sol?

A imagem derrotou a narrativa, a visão ofuscou a audição e a luz superou o som. Vivemos a Era das imagens. Sobretudo, quando a fotografia se tornou digital e a “máquina fotografia” foi anexada aos telefones. Vivemos uma poluição de imagens.

A relação texto/imagem é antiga. Na Idade Média o cristianismo era textual e o paganismo imagético; na Idade Moderna a ciência era textual e a ideologia imagética. Existe uma relação dialética entre os conceitos dos textos e a imaginação da fotografia, onde os textos explicam as imagens e as imagens ilustram os texto.

Vivemos uma crise do texto, as explicações tornaram-se desnecessárias. As imagens substituíram os conceitos.

Na medicina, as imagens técnicas derrotaram a clínica. Aqui, as imagens substituíram os textos, são vistas como evidencias que dispensam as narrativas. A medicina vê as imagens técnicas como janelas, onde se enxerga a realidade do corpo. O sofrimento humano foi objetivado.

Os textos foram inventados no segundo milênio antes de Cristo, a fim de desmitificar as imagens, reduzindo o perigo da idolatria; a fotografia foi inventada no século XIX, visando recolocar as imagens nos textos.

As imagens técnicas são produzidas por máquinas, a primeira delas foi a fotografia.

“Os movimentos de um fotógrafo munido de aparelho (ou de um aparelho munido de fotógrafo) estará a observar um movimento de caça. Repete o antiquíssimo gesto do caçador paleolítico que persegue a caça na tundra, com a diferença de que o fotógrafo não se movimenta na pradaria aberta, mas na floresta densa da cultura.” – Vilém Flusser.

A fotografia é uma invenção francesa, da primeira metade do século XIX.

A história de Itabaiana na primeira metade do século XX, pode ser desvendada pelas fotografias de Miguel Teixeira. O fotografo foi o principal historiador. As imagens podem traduzidas em textos, em conceito.

A fotografia registrou uma memória de Itabaiana.

Além de Miguel Teixeira, o maior, tivemos os registros fotográficos de Percílio Andrade e João Teixeira Lobo (Joãozinho retratista). Vejam a foto dos três.

Joãozinho era uma artista, retocava as suas fotos à lápis com tanta perfeição, que o feio parecia bonito, o velho novo e o burro sabido. O seu acervo é um retrato do seu tempo. (literalmente)

Joãozinho Retratista fotografou as famílias e Miguel Teixeira o ambiente e os eventos culturais. Eu desconheço o acervo de Percílio Andrade.

A partir da década de 1970, tivemos as imagens produzidas por Romeu Alves dos Santos, Ciro Moreira e seu Justo, no Beco Novo. Deve ter existido outros, que eu não me lembro.

A fotografia se popularizou, todo mundo (ou quase) tem em mãos uma máquina fotográfica embutida em seu telefone. Houve uma vulgarização das imagens, onde predomina os “selfies” sem muito significado.

Entretanto, a fotografia não perdeu a sua importância.

Antonio Samarone (médico sanitarista)

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