quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

E Agora, Eu marcho para onde?


E Agora, eu marcho para onde?
(Por Antonio Samarone)

Em minha posse, na extinta Academia Itabaianense de Letras, fui saudado pelo velho amigo Baldochi: “Faz muito tempo que Samarone partiu em disparada, como um carro desgovernado. Tinha pressa! Pisou e foi pisado. Tropeçava, batia a cabeça, mas não parrava.”

Meu amigo, Eu Parei!

Não tenho claro, se parei sem ter chegado ou se cheguei mais longe do que merecia? O buraco era fundo. As bandeiras que carreguei foram derrotadas.

O certo, citando o poeta, é que “a noite esfriou, o dia não veio, o bonde não veio, o riso não veio, não veio a utopia e tudo acabou e tudo fugiu e tudo mofou.” Drummond enxergava longe. Essa é a minha sensação aos 67 anos.

Com uma discordância ao poeta, a opção da morte não me interessa, por enquanto. Espero que o meu corpo aguente e continue me carregando. Outra coisa, não entregarei o meu corpo à medicina comercial espontaneamente.

Creio que os alquimistas ainda descobrirão o “elixir da longa vida”. A pedra filosofal já é realidade.

Até agora, deu tudo errado?

Quase tudo!

As cabras não deram o leite, o sertão não virou mar, a promessa do profeta Isaias, de rios de mel e ribanceiras de cuscuz, não se cumpriu.

E o insuportável: os fascistas estão mandando, queimando as florestas e agora, querem legalizar até a matança dos bichos.

Acho que Dom Sebastião desistiu, não vem mais..

Chego aos 67 anos sem aquela sensação besta de que a velhice é a melhor idade. Mentira! Talvez o pior da velhice é conhecer bem a natureza dos amigos (e a nossa). A fragilidade humana.

Não fomos feitos à imagem e semelhança de Deus. Conquistamos a terra, por nossos defeitos. A conta está chegando.

Já cruzei a fronteira de Tânato, onde o número de amigos mortos ultrapassou o número dos amigos vivos. Por sorte, acho a minha companhia suportável. Desconheço a solidão!

A família é um oásis.

Daqui para frente espero ventos e tempestades, secas e enchentes, raios e trovões. Reais e metafóricos.

“Devemos amar mais a vida do que o sentido da vida” – Dostoiévski.

Que venha o dilúvio!

Antonio Samarone. (médico sanitarista)


 

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