E Agora, eu marcho para onde?
(Por Antonio Samarone)
Em minha posse, na extinta Academia Itabaianense de Letras, fui saudado pelo velho amigo Baldochi: “Faz muito tempo que Samarone partiu em disparada, como um carro desgovernado. Tinha pressa! Pisou e foi pisado. Tropeçava, batia a cabeça, mas não parrava.”
Meu amigo, Eu Parei!
Não tenho claro, se parei sem ter chegado ou se cheguei mais longe do que merecia? O buraco era fundo. As bandeiras que carreguei foram derrotadas.
O certo, citando o poeta, é que “a noite esfriou, o dia não veio, o bonde não veio, o riso não veio, não veio a utopia e tudo acabou e tudo fugiu e tudo mofou.” Drummond enxergava longe. Essa é a minha sensação aos 67 anos.
Com uma discordância ao poeta, a opção da morte não me interessa, por enquanto. Espero que o meu corpo aguente e continue me carregando. Outra coisa, não entregarei o meu corpo à medicina comercial espontaneamente.
Creio que os alquimistas ainda descobrirão o “elixir da longa vida”. A pedra filosofal já é realidade.
Até agora, deu tudo errado?
Quase tudo!
As cabras não deram o leite, o sertão não virou mar, a promessa do profeta Isaias, de rios de mel e ribanceiras de cuscuz, não se cumpriu.
E o insuportável: os fascistas estão mandando, queimando as florestas e agora, querem legalizar até a matança dos bichos.
Acho que Dom Sebastião desistiu, não vem mais..
Chego aos 67 anos sem aquela sensação besta de que a velhice é a melhor idade. Mentira! Talvez o pior da velhice é conhecer bem a natureza dos amigos (e a nossa). A fragilidade humana.
Não fomos feitos à imagem e semelhança de Deus. Conquistamos a terra, por nossos defeitos. A conta está chegando.
Já cruzei a fronteira de Tânato, onde o número de amigos mortos ultrapassou o número dos amigos vivos. Por sorte, acho a minha companhia suportável. Desconheço a solidão!
A família é um oásis.
Daqui para frente espero ventos e tempestades, secas e enchentes, raios e trovões. Reais e metafóricos.
“Devemos amar mais a vida do que o sentido da vida” – Dostoiévski.
Que venha o dilúvio!
Antonio Samarone. (médico sanitarista)
👏👏👏👏
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