A Sorte continua existindo.
(por Antonio Samarone)
Uma divindade do paganismo romano que ainda sobrevive é o destino. Chamada por eles de Fortuna, uma deusa que distribui aletoriamente a sorte e os infortúnios entre os humanos.
A deusa romana Fortuna tem os olhos vendados, para evitar preferencias. A sorte continua sendo distribuída ao acaso, aleatoriamente.
Os esforços milenares do cristianismo, da ciência e da razão para eliminarem a importância da sorte na vida humana, não foram suficientes. A sorte (e o azar) continuam vivos e fogosos.
Quando alguém se dar mal na vida, botamos o carimbo: “esse sujeito nasceu sem sorte.”
Cada um é para o que nasce. “Nossos destinos foram traçados na maternidade”, canta Cazuza.
Em Itabaiana existia a crença na roda da Fortuna (rota fortunae), uma referência à natureza caprichosa do destino. Quem hoje está em cima, amanhã desce. A roda gira aleatoriamente, mudando assim a posição dos homens que se encontram sobre a roda e dando-lhes boa ou má sorte.
O homem não pode fugir ao seu destino. Temos uma linha da sorte na mão, que pode ser lida.
Na Idade Moderna, o iluminismo deu superpoderes ao homem, ele tornou-se livre, dono do seu destino. O humanismo, fundado na razão, prometeu a libertação do homem dos deuses e da natureza. O livre arbítrio tornou-se absoluto.
Hoje sabemos que a modernidade não cumpriu o prometido.
Maquiavel libertou os Príncipes dos caprichos da deusa fortuna, ao atribuir a “Virtu” (dotes e talentos), a capacidade de superar os infortúnios na luta pelo Poder.
Maquiavel era republicano e criou o pensamento político moderno. Antes o poder vinha dos deuses, hoje o povo acredita que vem dos demônios. Exagero!
Maquiavel não desprezou o papel da Fortuna, apenas relativizou o seu determinismo. O Príncipe precisa de prudência, para enfrentar os desígnios da deusa imprevisível. Prudência são duas virtudes: a cautela e a audácia.
Para os Gregos a coragem era uma dádiva dos deuses, para os Cristãos a dádiva é a graça. Como dizemos: com as graças de Deus.
O Príncipe deve usar ora a cautela ora a audácia, dependendo da necessidade. Em dúvida, use a audácia, ensinou Maquiavel. Ocorre que a natureza humana é limitante. Os de índole audaciosa dificilmente serão cautelosos, e vice-versa.
A disputa pelo Governo de Sergipe em 2022, pode colocar frente a frente dois candidatos a Príncipe, com índoles diversa: um excessivamente audaz e o outro extremamente cauteloso.
Os dois são “malquiavélicos” e usarão os seus dotes. Talvez a deusa Fortuna (as circunstâncias) tenha o papel decisivo no desempate
Entre os grandes filósofos, dois viraram adjetivos: platônico e maquiavélico. Mesmo que o caboclo nunca tenta lido nada de Maquiavel, sabe o que significa ser maquiavélico. E não é coisa boa.
Como se diz em Sergipe: em qual porta o cavalo selado vai passar?
Antonio Samarone (médico sanitarista)
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