sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

GENTE SERGIPANA - FRANCISCO ROLLEMBERG



Gente Sergipana – Francisco Guimarães Rollemberg

(por Antonio Samarone)

Francisco Rollemberg nasceu em Laranjeiras, em 07 de abril de 1935, um domingo de ramos. Filho de Antonio Valença Rollemberg e Maria das Dores Guimarães Rollemberg. Chico desfrutou da infância interiorana em Laranjeiras, jogando bola, tomando banho de rio, vadiando livremente, sem medos ou sustos.

O pai de Chico Rollemberg foi proprietário do Cinema Iris, em Laranjeiras. Chico era quem fazia a projeção. O carro chefe da programação era “A vida, paixão e morte de Jesus Cristo”. Todas as vezes que entrava em cartaz, era casa cheia.

Logo cedo entrou na escola da professora Zizinha Guimarães, educadora conceituada, e logo se destacou como o melhor aluno. O filho de Seu Antonio era estudioso! Com o tempo, a professora botou Chico para ensinar outros alunos. Com 11 anos não tinha mais o que apreender em Laranjeiras. Fez um teste, e foi considerado apto para entrar no ginásio.

O menino Chico, além de traquino, era muito religioso, puxador do terço na igreja, mostrando uma forte vocação para padre.  Só que de onde ele morava, avistava-se a entrada hospital, a entrada e saída dos doentes. Aquele movimento, fez o menino mudar a cabeça para a medicina. Ali, Chico decidiu que seria médico. O pai adorou, a mãe nem tanto, preferia o filho padre.

Chico Rollemberg veio fazer o ginásio em Aracaju, no Colégio Tobias Barreto, do professor Alcebíades Melo Vilas Boas. Chico foi aluno interno do Colégio, absorvendo toda a disciplina. Ainda de calças curtas, com 11 anos, Chico Rollemberg chegou no Aracaju. Fez o curso ginasial com maestria. Concluído, migrou para o Atheneu, onde fez os dois primeiros anos do científico. No último ano, para se preparar melhor para o vestibular, concluiu o científico no Colégio Central da Bahia.

Em 1954, Chico Rollemberg ingressou na Faculdade medicina da Bahia. Vocacionado para a medicina, estudioso, Chico entrou de corpo e alma no curso. Chico não saia do hospital, tudo que era plantão, final de semana, feriado, lá estava Chico para aprender. Logo percebeu que tinha habilidades cirúrgica, e decidiu seguir a urologia. Uma decisão pragmática, pois em Sergipe só existia um urologista, o Dr. Costa Pinto.

Durante o curso de medicina, Chico participou do movimento estudantil na Bahia, sob a orientação ideológica do Velho Partidão. Ainda em Aracaju, na juventude, Chico tinha contato com os grupos clandestinos do Partido Comunista, em Aracaju. Calma, Chico não é comunista, daqui a pouco eu conto a participação dele na política.

Formado em 1959, Chico Rollemberg retornou à Sergipe. Bem formado, habilidoso e como muita disposição para trabalhar. Ele começou exercer a medicina em Laranjeiras. Foi um sucesso, quando o filho do Seu Antonio, chegava era um rebuliço, o povo corria para o hospital. Logo, com as ciumeiras locais, o diretor do hospital dispensou os serviços de Chico, e ele veio para a Aracaju.

Começou a operar na Capital nos dois hospitais existentes (Santa Izabel e Cirurgia), clinicar no Serigy, no IPASE, no Pronto Socorro Municipal, que funcionava nos fundos da antiga Prefeitura. Chico operava cinco a seis pacientes por dia. Constitui uma clientela imensa, gente com quem ele criou amizade, e que até hoje visita. Chico Rollemberg ficou famoso como bom médico, muitos favores, muito serviço prestado. Chico Rollemberg foi o primeiro sergipano a ingressar no Colégio Brasileiro de Cirurgiões. Antes só Augusto leite, como membro honorário.

Esse prestigio despertou os chefes políticos: olha aí quem pode trazer votos para as nossas legendas. Não se elege, mas ajudará a nossa chapa. Dito e feito. Nas eleições de novembro de 1970, Chico foi convidado a compor a Chapa da ARENA para deputado federal. Era só para ajudar. Resultado, foi o deputado federal mais votado de Sergipe, com 19 mil votos. Para se ter uma ideia da disputa, os outros federais eleitos foram Luiz Garcia, Raimundo Diniz, Passos Porto e Eraldo Lemos, todos da ARENA.

A partir dessa estreia, Chico Rollemberg elegeu-se deputado federal por 4 legislaturas, permanecendo na Câmara dos Deputados até 1987. Exerceu os mandatos no bloco de sustentação aos militares, numa bancada conservadora. Participou do movimento de apoio a Sílvio Frota e votou em Paulo Maluf, no Colégio Eleitora. Em 1973, fez o curso da Escola Superior de Guerra, destinado a pessoas de prestígio.

Vejam como são as coisas: o médico Chico Rollemberg, conservador, sempre deu assistência e visita até hoje, a família de Walter Ribeiro, um comunista de carteirinha. Ouvi um depoimento de um velho camarada: Chico Rollemberg sempre prestou a assistência aos camaradas, ia nas casas se precisasse, e nunca dedurou ninguém. Somando-se a uma postura ilibada na vida pública! Não é a ideologia que define o caráter. 

Durante o exercício dos mandatos, Chico Rollemberg nunca abandonou a medicina, continuou trabalhando. Todo o final de semana, a partir da sexta, ele retornava à Aracaju para realizar as suas cirurgias. Aliás, até hoje, aos 84 anos, ele continua trabalhando no Hospital de Riachuelo. Ele sempre brinca, enquanto a mão não tremer, eu continuo operando. E para provar que está bem, mostra as mãos espalmadas, sem nenhuma tremedeira.

Mesmo sendo um médico operador, voltado para a prática, Chico Rollemberg não fechou os livros depois de formado. Continuou estudando, para se manter atualizado. Publicou Gangrena de Fournier, tratamento cirúrgico com enxertos livres (1961); Lesão cirúrgica do ureter (1969); Saneamento básico do Nordeste, Cocene, estudo nº.1 (1971); A problemática de saúde do Nordeste, Cocene, estudo nº.1 (1971); O potássio em Sergipe; Desenvolvimento e população e Osvaldo Cruz, centenário de nascimento.

Além de uma publicação sobre Fausto Cardoso, que se tornou referência aos pesquisadores sobre o ilustre sergipano. ROLLEMBERG, Francisco.  Introdução.  In: CARDOSO, Fausto.  Discursos parlamentares.  Brasília: Câmara dos Deputados, 1987.  p. 19-112.  (Perfis parlamentares, 31). Chico Rollemberg é membro da Academia Sergipana de Letras, ocupando a cadeira nº 15.

Em 1986, Francisco Rollemberg se elege Senador pelo PMDB, numa eleição disputadíssima. Em 2002, Chico Rollemberg se despede da política disputando o Governo do Estado, numa coligação confusa e heterogênea, sendo derrotado por João Alves Filho.

Chico Rollemberg casou em julho de 1959, com a colega de turma, Dra. Elcy Vianna Rollemberg. Chico é pai de cinco filhos: Francisco, Gustavo, Paula, Carlos Eduardo e Rodrigo Otávio. Com a morte da primeira esposa, Chico casa com Maria Helenita Santos Rolemberg, com quem convive até hoje.

Cheguei a conclusão que Chico Rollemberg, apesar de ser mais conhecido como político, tem a alma de médico, do antigo médico humanistas, que adora o que faz, que faz amizade com os doentes, que lembra do nome e das histórias.

Chico tem a mania de visitar os amigos, semanalmente. Quis saber o motivo, ele brincou: “os meus amigos estão velhos, quase todos doentes. Na verdade, cumpro uma obrigação cristã de visitar os enfermos.” Chico ainda viaja para o interior, só para visitar os amigos.

Chico Rollemberg é um homem fino, cuidadoso no trato, cheio de histórias interessantes. Chico tem a alma dos médicos antigos, voltada para o alívio do sofrimento humano. Não amealhou fortuna com a medicina (nem com a política).

Antonio Samarone.

2 comentários:

  1. Conheci o Dr. Francisco em uma viagem para Frankfurt em 2011. Não sabia quem era, apenas se apresentou como médico cirurgião. Conversamos várias horas sobre diversos assuntos e fiquei impressionado com a sua cultura e histórias. Descobri sua trajetória por esta matéria e posso dizer que me sinto orgulhoso de ter conhecido o Dr. Francisco. A vida é feita de encontros e ele me impressionou positivamente. Que seja feliz. Prof. Claudio Costa, cirurgião-dentista, professor da Faculdade de Odontologia da USP, São Paulo.

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  2. Dr. Francisco Rolemberg , é um orgulho 3 Sergipe, um Homem raro, um médico de verdade 👏😀😀😀

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